É preciso reconhecer que a ciência, enquanto produto humano, está integrada no processo social e político total. Os cientistas, por uma questão de princípio e método, recusam-se a ditar “normas” à sociedade, pois aspiram a ser supraculturais, mas, paradoxalmente, intervêm cada vez mais na orientação efetiva da sociedade, e com isso influenciam a moral, mas de modo “não moral”. Por detrás da dicotomia ciência/aplicações, oculta-se a idéia de que a “Ciência” tem um estatuto transcendente relativamente à sociedade. Ela seria intemporal, estranha às vicissitudes sócio-culturais. Os pesquisadores elaborariam conhecimentos que não pertenceriam a nenhuma época, a nenhum país. Os cientistas devem ser honestos, não podem trapacear com suas experiências e com os seus resultados. Todavia, trata-se de uma “ética” puramente “interna”, consistindo apenas no respeito às normas em vigor. Só conta a procura da Verdade; e vista desse angulo, a ciência seria autônoma e neutra: ela se dá suas próprias normas, não havendo deontologia impondo aos pesquisadores deveres para com a sociedade. Esta dá a sua ajuda às pesquisas, mas é porque estima que a procura da Verdade deve ser compreendida. Isso não compromete o postulado da autonomia e da neutralidade dos cientistas; em virtude de um contrato implícito, eles têm por missão aumentar os conhecimentos, devendo deixar de lado as questões sociais relativas ao objeto de sua pesquisa. O poder político e as demais forças sociais não interferem na “Ciência Pura”.
(Marcus Moreira Machado)
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