A doutrina fundamental de Gautama é clara, simples e em íntima harmonia com as idéias contemporâneas. É indiscutivelmente a conquista de uma das mais profícuas inteligências de todos os tempos.
Há pontos capitais no seu discurso que consubstanciam a essência de seu sistema. Todas as misérias e descontentamentos da vida, ele os vincula ao egoísmo insaciável. O sofrimento, ensina Gautama, é efeito da ambição do indivíduo ao tormento do desejo imoderado. Enquanto um homem não vence toda espécie de ambição pessoal, a sua vida é pertubação e, o seu fim, tristeza. Existem três formas principais que assumem as ambições da vida, todas elas más. A primeira é o desejo de satisfazer os sentidos, a sensualidade. A segunda é o desejo de pessoal imortalidade. A terceira é o desejo de prosperidade, o mundanismo. Tudo isso deve ser vencido -quer dizer, o homem deve deixar de viver para si mesmo- a fim de que a vida seja serena. E quando forem vencidos e não mais governarem a vida de cada um de nós, quando o pronome da primeira pessoa desaparecer dos nossos pensamentos íntimos, então atingiremos a mais alta sabedoria -a serenidade da alma, ou, o "Nirvana".
Ora, o "Nirvana" não significava, como ainda se pensa, equivocadamente, extinção e aniquilamento, senão dos fúteis objetivos pessoais que tornam, inevitavelmente, a vida mesquinha, lastimável.
Em Gautama, a mais completa análise do problema da paz da alma. Toda filosofia nos avisa e nos ensina que devemos nos perder a nós mesmos em qualquer coisa maior que nós próprios. "Todo aquele que salvar a sua vida, perder-la-á": é, com exatidão, a mesma lição.
Não há nem ordem social, nem segurança, nem paz ou felicidade, nem justiça, a não ser que os homens se percam a si mesmos no que é maior que eles mesmos.
Esquecer-se de si mesmo é escapar da prisão.(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 19 de janeiro de 2008
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
DOMINGO, 20 DE JANEIRO DE 2008: "A MEDIDA DA CONSCIÊNCIA".
A consciência dá grandeza à insubordinação. Enfrentar uma realidade que oprime, sabendo que não poderá alcançar a vitória, é mesmo grandioso. É a própria medida do valor do homem. Saber-se finito e viver.Ter plena consciência do sem-sentido e ainda assim viver. Limitar-se ao relativo e abandonar o absoluto, agir, lutar, empenhar-se, sem nada esperar de definitivo, nem ao menos perguntar para que.
Assim pode o homem orgulhar-se de sua condição, de seu estar no mundo. Vivendo, ele então despreza uma criação que não é a sua medida. Aquilo que é derrota constitui-se ao mesmo tempo em seu triunfo.
Desprovido de esperanças, sem verdades absolutas, esse homem é livre.(Marcus Moreira Machado)
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
SÁBADO,19 DE JANEIRO DE 2008: "NEGAR PARA AFIRMAR".
A opressão tem origem na própria condição humana. Da circunstância onde morte e dor co-existem. Opor-se ao opressor é opor-se a estes dois fatos. Porém, daí, a pergunta: defrontar-se com o opressor baseado em quê?
O oprimido afirma um valor frente ao opressor: aqueles limites que não podem ser ultrapassados. O insubmisso transcendente afirmará um princípio de justiça, o direito a uma unidade feliz.
Sob o sentimento de frustração, o sublevado transcende porque tem consciência de sua dignidade e das exigências que emanam de seu ser. A sua lucidez indica que a criação não corresponde ao que ele é. E ele decepciona-se pela confrontação entre o que é exigência sua e o que é realidade. A ordem que obriga é a da vida e a da felicidade. Para afirmá-las, vê-se compelido a negar uma realidade que contrapõe sofrimento e morte.
Não aceitar o injusto, recusar a criação, contestá-la sempre; afirmar o homem, confirmar o direito ; eis a sua missão.
Esse homem não é necessariamente um ateu.
Repelir uma determinação não implica na rejeição da existência de um ordenador.
Esse homem é, sobretudo, alguém que blasfema. Porque não aceita, porque recusa a inumanidade da ordem.
Então, mais do que negar a existência de um criador, a insubordinação institui um processo de julgamento. E todo julgamento nivela: nenhuma superioridade pode ser reconhecida naquele que é réu. Ao julgar, o insurrecto se proclama, definitivamente, 'igual'.(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
SEXTA-FEIRA, 18 DE JANEIRO DE 2008: "COMERCIALIZANDO SONHOS".
No contexto da globalização, uma grande fonte do poder das empresas nos países pobres é o controle da ideologia , quer dizer, dos valores que condicionam a maneira como vive um povo. Elas reunem condições que as tornam hábeis em determinar a maior parte daquilo que esse mesmo povo vê na televisão ou no cinema (e na Net, mais recentemente) , ouve no rádio ou lê nas revistas.
O papel que um governo desempenha na formação de valores, gostos e atitudes, através do que se conhece também como "sociedades fechadas", as empresas globalizadas o fazem em muitas áreas do chamado mundo livre. Por meio da TV, comerciais nos cinemas, revistas em quadrinhos e anúncios em variadas publicações, empresas estrangeiras exercem, sem dúvida, influência ainda mais contínua sobre a mente de povos diversos, superando em muito o sistema educacional desse ou daquele país.
Não raro, apenas uma pequena parcela da população vai à escola depois do terceiro ano do ensino fundamental (atualmente assim 'classificado', no Brasil).
Nesses países, dominados ideologicamente antes de tudo, para a vasta maioria da população o contato com a escola é passageiro, mas perdura a vida inteira o contato com a TV e o rádio principalmente. Afinal de contas, não é preciso saber ler para assimilar uma "mensagem" qualquer!
A propaganda governamental não se iguala ao poder da publicidade. Brasileiros orgulham-se dos sucessivos prêmios conferidos a agências de propaganda nacionais; e não se dão conta de que essas premiações são, no reverso, a prova da nossa submissão à ideologia empresarial. Assim, filmes publicitários institucionais exortando a população à preservação do meio ambiente, por exemplo, concorrem pela atenção com toda sorte de anúncios -de cervejas, cosméticos, vestuário 'da moda' e tantos outros símbolos do que passa a ser considerado 'boa vida'. Veiculados sob múltiplas formas, sempre preparados com requintadas técnicas publicitárias, tais anúncios oferecem fantasias de luxo, amor e poder que nenhuma mensagem de um Ministério da Saúde conseguiráde semelhante influência.
Pelo mundo subdesenvolvido afora, as empresas multinacionais estão comercializando, com muito sucesso, os mesmos sonhos que vendem nos países industrializados.
E não seria diferente, uma vez que estimular o consumo em países de baixa renda e adaptar os gostos locais a produtos mundialmente distribuídos é crucial no desenvolvimento de um shopping center global sempre maior.
Naturalmente, aqueles que conquistam seu "bem-estar" mediante o sistema de prestações, quaisquer que sejam os impulsos revolucionários que trazem dentro de si, não gostam de pensar em justiça social, em nada contribuindo, via de consequência, para a indispensável transformação da sociedade, deixando-se contagiar, então, pelos mercadores da sua própria alma.(Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
QUINTA-FEIRA, 17 DE JANEIRO DE 2008: "TERRA QUE DIVIDE, TERRA QUE MULTIPLICA".
Considerando que o homem só pode viver na terra, uma vez que nela está a reserva da matéria e da energia que constituem o próprio corpo humano, pois dela deve retirar o que se lhe é indispensável para produzir; conclui-se que destinar essa mesma terra a alguns -como propriedade absoluta- e negá-la aos outros é dividir a humanidade em privilegiados e miseráveis. Pois, aqueles que hoje não possuem direito à terra só podem viver vendendo o seu trabalho aos que o têm.
Com efeito, é evidente que a "lei de bronze dos salários" (como assim chamada pelos socialistas) ou a "tendência dos salários para um mínimo" (na denominação de economistas) arranca às massas despojadas da terra, isto é, aos trabalhadores comuns que não podem produzir por conta própria, os benefícios de qualquer progresso social, por manter intacta essa injusta distribuição.
Afinal, não detendo meios para empregar, eles mesmos, o seu trabalho; ou noutras palavras, a fim de serem os seus próprios patrões; esses trabalhadores são forçados , seja como vendedores de mão-de-obra, seja como rendeiros da terra, a competir uns com os outros pela permissão para trabalhar. Então, a terra que deveria multiplicar, é terra que divide até mesmo os miseráveis.
Essa disputa não conhece outro limite senão a fome, forçando os salários ao mínimo, quer dizer, ao nível mais baixo em que se pode manter e reproduzir a vida.(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
QUARTA-FEIRA, 16 DE JANEIRO DE 2008: "UNIVERSALIDADE NA DESORDEM".
Valorizando ao extremo a 'harmonia' e a 'ordem' da sociedade, nem sempre percebemos o quanto essas 'funções' são dirigidas exclusivamente a estabilizá-la, defendendo-a e justificando-a, mesmo contra os efetivos interesses da maioria na qual estamos incluídos.
Diversamente, na proposta de uma transformação estrutural e radical dessa sociedade, o maior objetivo será destruir a pretensa legitimidade do sistema de valores 'funcionais' que a mantem estável e estagnada, demonstrando que muitas de suas hipóteses essenciais não possuem caráter humano universal, mas, sim, constituem expressão das necessidades de segmentos determinados.
Ora, a defesa incondicional dos interesses desses grupos é incompatível com a objetividade e com a universalidade do saber, notadamente em se tratando do saber científico. Enquanto indivíduos, os cientistas pertencem a uma cultura e a um país localizados, restritos.
Precisam, todavia, ultrapassar esses horizontes regionais, a fim de compreenderem que a ciência deve ser vista como um produto humano universal.
Para tanto, essa universalidade somente será alcançada na desordem, isto é, na negação da 'ordem' como fundamento valorativo da sociedade.(Marcus Moreira Machado)
domingo, 13 de janeiro de 2008
TERÇA-FEIRA, 15 DE JANEIRO DE 2008: "ASCENDENTE AO SUSCETÍVEL".
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