O mundo não é, como crê o vulgo, uma realidade rígida e válida para todos. Ele varia com os indivíduos, com os povos e as épocas. De fato, há muitas maneiras de percepção e compreensão da existência imersa.
O homem cria o verdadeiro mundo, isto é, o existente para ele, diferenciado conforme os fins propostos por este ou por aquele indivíduo. Afinal, os objetos são para todos nós meros instrumentos. Caso não guardem alguma relação com os nossos desígnios, permanecem no estado de existência bruta. E tudo o que não utilizamos, passado o tempo, perde o seu significado, o seu autêntico ser, retornando à latência.
Consoante a meta individual, o mesmo ser latente recebe diversificadas utilizações. Via de consequência, sua especificidade também é múltipla.
Assim, este mundo, da forma como ele se me afigura, revela-me na existência de uma realidade bruta o meu próprio existir, ou seja, o que eu idealizo para mim enquanto realidade humana a me identificar.
(Caos Markus)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
SÁBADO, 29 DE OUTUBRO DE 2011: "SERES"
SERES
Os seres humanos são de fato criaturas inimagináveis: na con(vivência), aniquilam-se uns aos outros; separados, são capazes de mesuras antes sequer indiciadas.
Talvez, 'respeito' não seja atributo próprio a compartilhamento, mas sim instrumento indispensável a demarcação de território, meio útil à beligerância velada.
(Caos Markus)
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
QUINTA-FEIRA, 27 DE OUTUBRO DE 2011: "SI"
QUARTA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2011: "RESIDUAL"
Eu sou "bipolar". Mas, cauteloso, sempre tenho comigo fita isolante. Eu cuido de manter encapadas as duas extremidades, de modo a evitar curto-circuito. A medida não limita o alto teor de adrenalina que, analogamente ao processamento químico-elétrico das pilhas, conserva energia residual a manter-me desconfortavelmente em vigília. Contudo, esta condição (na madrugada, mal denominada de "insônia") não suprime o meu discernimento. Esclareço: a minha loucura não é contagiante. Lamentavelmente, não é.
(Caos Markus)
TERÇA-FEIRA, 25 DE OUTUBRO DE 2011: "TEM"
TEM
Nada acontece por ocaso
Se for o caso, apetece ao poente, por atraso.
Maiúsculo acaso não há em lusco-fusco crepuscular.
Tudo do futuro apresse, quando o agora
só cresce na noite que logo vai embora,
quando a hora, quem sabe, nada espera
no aquém que nem dia tem
do além aonde vai ninguém
(Caos Markus)
SEGUNDA-FEIRA, 24 DE OUTUBRO DE 2011: "INTERREGNO"
Penso se o quê acontece já é atraso, se não temos conosco sequer um segundo de cada minuto de todas as horas.
Nem causa nem efeito, será defeito doer no peito o tempo a roer meus intantes? Suficiente o bastante para querer do existir apenas ir?
Se "É na escuta que o amor começa", por que -o meu silêncio escreve- não há começo quando amar é sempre um fim em si mesmo?
Triste pedir licença à alma para não deixar o amor fugir...
Amor é decisão. Assim: eu decido amar em alguém o bem que me faz querer ser uma pessoa melhor.
Só à tristeza não se pede coisa alguma. Mal comportada, ela devassa...
(Caos Markus)
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
DOMINGO, 23 DE OUTUBRO DE 2011: "ENSAIADO"
ENSAIADO
Eu preciso escrever para não sofrer.
Do sofrimento que escrevo, faço placebo o ser.
É ressalva; é errata; é nota de rodapé.
Porque existir não basta. Pedras existem.
Prefaciando sentidos, no epílogo emocionar não é qualquer versão de sentimento algum.
Eu sou impreciso no ser que escreve da existência o que nela não há essência.
Nem a razão é visceral, tampouco grandiloquente o mal quando dele se sabe o ideal.
Eu não preciso escrever para evitar dano irreparável: tudo consumido nem por isso é consumação.
Há o círculo no ciclo das alternâncias sem alternativa determinada por (in)tentada prognose.
Sufixos e prefixos indicam escassez apenas reconhecida no antagônico a ver haveres.
Faz tanto faz: tecendo trama de morbidez sem drama do que fez.
É minha a vez.
Talvez seja alheia a dor, quando escrever, preciso, eu reinicio ato ensaiado para ser de fato.
(Caos Markus)
domingo, 2 de outubro de 2011
SÁBADO, 22 DE OUTUBRO DE 2011: "CONSTITUIÇÃO: A VONTADE PRECEDENTE
"Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades de coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão (...). Estes homens, nos tempos de lutas e crises, tomam as velhas armas da Pátria, e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, à neve, à chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que o nosso descanso opulento conservemos. Estes homens são o Povo, e são os que nos defendem (...). E o mundo oficial, opulento, soberano, o que faz a estes homens que o vestem, que o alimentam, que o enriquecem, que o defendem, que o servem? Primeiro, despreza-os ... não lhes dá proteção (...). É por isso que os que têm coração e alma, e amam a justiça, devem lutar e combater pelo Povo (...)".
Oportunamente transcrito, no excerto da crônica intitulada "O Povo", nota-se, o seu autor -Eça de Queirós- (expoente da Literatura Portuguesa Realista -movimento em que a razão e a inteligência reagem contra a imagem e o sentimentalismo dos românticos) utiliza expressões e vocábulos cujos conteúdos encerram alusões muito próprias à melhor compreensão do efetivo conceito de 'Constituição', encetando elementos fuadamentais à sua existência.
Observam-se, com efeito, presentes no contexto do literato, e consolidados no panorama que descreve, "raça", "Pátria", "Povo", "mundo oficial"; e as referências "não lhes dá proteção, "amam a justiça": tudo em clara indicação de verdadeiras noções de 'Nação', 'Estado', 'Governo', 'Soberania', 'Direito', ou 'Justiça', ainda que sob alguma imprecisão, justificada, todavia, em se tratando de pretensão literária não específica à Teoria Geral do Estado.
O mais importante, no caso, é o meu, o seu, o nosso reconhecimento de que, anterior ao ordenamento jurídico constitucional, há sempre, aqui ou alhures uma vontade de constituição. Vontade precedente que por isso mesmo é exigente: não deseja um Estado ou um Governo, somente. Mas quer desse Estado e desse Governo o absoluto respeito ao constituído em nome do Povo.
(Caos Markus)
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