Não se pode ignorar que essa presunção de intimidade entre o rei e a Providência Divina continha vestígio oriental, numa acepção primitiva, assírio-judaica, da autoridade histórica. Por isso a teoria providencialista, doutrinando que Deus não interfere na escolha ou no apoio aos governos, que o poder em si, este sim é sagrado; sublime é apenas a organização coercitiva, a boa ordem. Esta doutrina determina, pois, que o Estado resulta da bondade de Deus, que socorre os homens, e não através de determinada forma política, pessoa ou regime, mas do poder como ordem jurídica que efetua um benefício moral, a par da justiça, na sociedade. Assim, conforme a concepção, evidentemente, o Estado, divino na sua essência, deve ser governado pelo poder tradicional, legítimo porque antigo.Na conceituação do Estado moderno faz-se imprescindível, antes, a constatação, na análise histórica da formação do Estado, de maneira geral, da complexidade de fatores que, em diversas épocas, são elementos vitais, não só para a compreensão do fenômeno estatal, como também a da sua evolução. Pois, ante o surgimento de novas realidades do conjunto social, novas concepções dos homens surgem igualmente, com tendências voltadas à procura de um conceito uniforme e universal, que, por sua vez, acabam por gerar uma multiplicidade de outras concepções, sendo muitas ligadas por diversos aspectos, e outras se apresentando contraditórias e opostas. Por isso, verifica-se imenso manancial de conceitos e entendimentos, contudo, a ser questionado, visto que os indivíduos, sendo diferentes entre si, não podem ser totalmente absorvidos pelo Estado, nem este ser confundido com a sociedade. E, ainda, resta o fato dessa teoria se apresentar como uma concepção baseada tão-somente em aspectos sociológicos, em vários pontos configurando-se como modernizadora da teoria de Hegel, no que tange em fundamentos relevados pela escola histórica, para a qual o Estado, enquanto fato perenemente em evolução, cuja causa primária está nele mesmo, tem por finalidade a perfeição, através do tempo.
(Marcus Moreira Machado)
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