Comover-se é início de um percurso?
Caminho da sensibilização à revolta?
O quê abala, pertuba?
O revoltado, sob a eterna emoção, é sempre um amotinado?
Com "mãos de revolta", em "lágrimas de sangue", ainda assim, ou por isso mesmo, impõem-se "mãos de ternura".
(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 15 de dezembro de 2007
DOMINGO, 16 DE DEZEMBRO DE 2007: "ALMA, TRAMA DO DESTINO".
A alma é a forma do corpo, segundo Aristóteles. É o original do movimento desse corpo e a meta ou o propósito final dele.
Como substância dos seres vivos, essa forma chamada 'psique' influencia e, com certeza, comanda o corpo ; é mais autenticamente uma parte do 'animal' do que é o próprio corpo. Mas ambos, alma e corpo têm os mesmos interesses.
A alma, no entanto, ela mesma é sem corpo. Portanto, não pode ser localizada num órgão, numa célula ou num gene, diversamente -por exemplo- de uma meia, cuja forma pode ser encontrada na lã. Por isso, ante a sua intemporalidade, ninguém é privado de compreender que "a beleza da alma é mais difícil de ser vista que a beleza do corpo". Confirmada em sua fulgência, a todos será oportuno considerá-la uma inteligência ativa , formando e 'tramando' o destino de cada um.
Nesse sentido, a 'limitação' reside nos enredos que embaraçam-na, movido adiante o nosso caráter por força dos grandes mitos. Conhecê-los, deles assimilando um senso, é mesmo necessário, a fim de que tenhamos visão dos nossos esforços épicos, das nossas alianças malfeitas, das nossas tragédias.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
SÁBADO, 15 DE DEZEMBRO DE 2007: "CONSTRUINDO O INFINITO".
Apoiando-se uns nos outros, nossos cérebros, em sua complexidade, são construções jamais acabadas, ou, construções universais.
Este infinito situa-nos dentro da criação. Pois, se o ilimitado cosmo nos supera pelas suas dimensões, se o 'nada' nos causa grande temor pelo seu 'vazio', o quê falar desta nova forma de infinito? Em direção a quê, e a quem nos conduz?
Na Antiguidade e na Idade Média, os homens se consideravam reis e o centro da criação; minimizavam extremamente o infinito sideral e relegavam à ignorância os mundos exteriores.
Escapava-lhes ao conhecimento a escala de grandezas na comparação da terra e dos astros. Via de consequência, percebiam a si mesmos no limite da sua típica ilusão de ótica.
Já com o darwinismo, os homens foram vistos como filhos do macaco, desprovidos de interesse, efeito do acaso, sem outro objetivo na terra, senão a igual finalidade dos demais exemplares do reino animal. Inversamente, uma outra ilusão de ótica, resultante da soma de excessivo materialismo com 'simplicidade' inoportuna.
Contemporaneamente, o homem -fundamento e fonte da reflexão- pode colocar-se no centro de qualquer coisa.
Será, todavia, situando-se no universalmente ordenado, que este homem estará de fato construindo o infinito.
(Marcus Moreira Machado)
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
SEXTA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 2007: "LAÇOS DA CAMARADAGEM".
Saindo da mesquinha solidão para se fazer solidário de um grupo, de um país, o homem conhece a salutar experiência da permuta. Então, se transmiga para uma obra que, por mais modesta possa ser, possui a garantia de durar mais que ele próprio.
O intercâmbio, em seu resultado positivo do direito à participação, ensejará, por efeito, a unidade humana, convencidos os co-partícipes desse processo de que a comunidade humana como um todo indivisível deve ser amada. É luta, sim. Mas, luta contra todos os fanatismos que nos impedem de ver que somos 'humanidade'.
Nessa experiência, não surpreenderá o desgosto pela política tal como ordinariamente é praticada, em razão de seu "jogo" muitas vezes imoral, ou mesmo amoral;
sanguinolento, não raro, permeado de polêmicas criminosas.
O ideal de uma cooperação na complementaridade das diferenças tem ressonância de larga amplitude, onde só não há lugar para um implacável inimigo -o totalitarismo que exclui a liberdade das consciências.
Ainda assim, será preciso descobrir , por trás do assecla, o homem verdadeiro que subsiste, para decifrar uma possível comunicação com ele, de maneira a incluí-lo na permuta. Porque do outro lado, onde está instalado o ódio, é lá que necessário se
faz colocar o amor.
Na camaradagem, certamente, o laço humano é constituído pela comunhão da vida, através de valorosos gestos, humildes, que unem os homens uns aos outros, e faz nascer uma sadia e feliz cumplicidade. Não se trata de tolerância mútua, porém, da fraternidade dos homens que vinculam-se no dom comum a algo mais vasto do que o ser pessoal. É o encontro de todos com a semelhança, na idéia do Homem a honrar a si, em cada indivíduo.
(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
QUINTA-FEIRA, 13 DE DEZEMBRO DE 2007: "CONJUGANDO FUTURISMO".
Pelo sim, pelo não, nem sim nem não.
Certamente, isso não significará algum 'talvez'. É convicção: a de não fazer nada, seja ação ou omissão. E se (uma chance entre mil) dúvida pretender causar desconforto -do tipo "é impossível não se considerar omisso quando a escolha é a de sequer ser percebido"-, em caso assim tão atípico, bastará a certeza de que toda atipicidade é mesmo episódio isolado, muito mais chegado a mal-estar agudo do que padecimento crônico a durar ou perdurar eternidade afora.
Essa tomada de consciência evita qualquer necessidade de posicionamento sobre tudo o que se imagina. Aliás, até impede a imaginação de se manifestar onde não é bem-vinda. E o único efeito desse estado de ausência permanente será o da paz que não reclama existência própria. Ou, que 'pelo sim, pelo não', nem sabe nem jamais saberá desses opostos. Ou ainda, que haveria afirmação e negação em confronto, no objetivo inadequado de provocar conflito existencial.
Porque essa lengalenga de "ser ou não ser", "penso, logo existo", serviria tão-somente para recordar a neurose de, vindo não se sabe de onde, estar agora aqui, desconhecendo aonde cada um irá. Aonde iria, isto sim, se a vida já fosse conjugada no indicativo. Mas, contudo, entretanto, porém e todavia, futurismo ou é coisa de vanguarda ou é ofício de cigana. O passado é para terapia de regressão. O presente não possui tempo a fixá-lo em lugar próprio. Então... nem sim nem não, muito pelo contrário é que... de forma alguma... não!
Pensando bem (excepcionalmente pensando), a fim de se afastar evento casual, que seja suprimida a interjeição. Sem ela, pelo sim ou pelo não, nunca um ponto de exclamação insinuará advérbios ou adjetivos supostamente incontestáveis. Liberta do cativeiro das conjecturas, toda a conjugação terá acesso ao que não poderia sem o modo condicional. Este, bastante valioso na salvaguarda do nosso bem mais precioso -o de em todos os tempos, minimalistas, sempre responder precedido de um 'se'. Assim: "- Eu conjugaria. Se... eu conjugaria".
(Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007: " DEUSES QUE CRIAMOS".
A teoria do eterno retorno, apregoada pelos nihilistas a partir de Nietzsche, não é de toda inaceitável: sem nenhum melhor critério, estamos a voltar à sucessão de episódios que -bem o sabemos- só fizeram difundir a negação da supremacia humana na terra.
Essa 'insustentável leveza do ser' já foi comparada à fragilidade da própria história, que "é tão leve quanto a vida do indivíduo, insustentavelmente leve, leve como uma pluma, como uma poeira que vai desaparecer amanhã", no dizer de Milan Kundera.
A cada novo instante, mais submissos estamos todos, em severa subordinação à nossa espetacular insignificância diante daquela que, ainda hoje, nos é deveras incompreensível -a mente humana.
Buscando reduzir o assombro, projetamo-nos como os deuses que criamos, onipotentes, onipresentes e oniscientes. E não percebemos que 'todo querer não é outra coisa que uma procura de compensação, que um reforço visando sufocar o sentimento de inferioridade'.
A sombra dessa projeção indica exatamente o nosso reduzido tamanho, e a nossa incapacidade à reflexão mais séria acerca da existência da humanidade e do seu destino desde o livre arbítrio e suas atuais nefastas consequências.
(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
TERÇA-FEIRA, 11 DE DEZEMBRO DE 2007: " ANDANDO EM CÍRCULOS".
Se não desejamos que a inquietação e a rebelião da juventude destruam as estruturas sociais contemporâneas, devemos então empreender esforços para que as chamadas 'ciências humanas' se libertem dos grilhões do subjetivismo cartesiano, e se livrem do espírito possessivo da tecnocracia moderna proveniente dessa filosofia.
Só a partir daí, no desenvolvimento dessas ciências, num relacionamento com o mundo absolutamente modificado, livre, humano, elas estarão aptas a colaborar na superação da "alienação-em-si-mesmo" dos homens da atual sociedade industrial.
Enquanto não lograrmos conquistar um relacionamento fundamentalmente livre frente ao espírito tecnocrata -despótico em sua natureza- , os seres humanos, em sua imensa maioria, sempre andarão em círculos.
A idéia de que entre os homens há somente uma possibilidade de relacionamento -a dos vitoriosos em êxtase do poder destrutivo e a dos vencidos em desamparo- é concepção fundada nos conceitos de potência e impotência, baseada na hipótese de transposições de poder ou, quando muito, em diminuição de poder. Insistir na exclusividade dessa via é condenar a si e a todos a percorrer incessantemente e sem sentido algum uma circunferência absurdamente linear.
(Marcus Moreira Machado)
domingo, 9 de dezembro de 2007
SEGUNDA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2007: " LARANJA MECÂNICA".
Há quem goste de dormir com o ruído da água caindo de uma goteira durante a noite.
Há os que entoando mantra quase saem do corpo, em viagem astral.
Há também gente que, ao som repetitivo de uma campainha, quase vira bicho buscando a guloseima nas mãos do seu adestrador.
Enfim, há de tudo nesse mundo de Deus.
Principalmente, há quem enxergue no condicionamento a melhor fórmula de "convencimento" do ser humano, já então reduzido a simples número, no que se convencionou chamar 'psicologia de massas'.
Existe a sabedoria, contudo, dos que ensinam o efeito contrário daquele desejado, sempre que o exagero extrapola a pretensão inicial.
Estes são os que recomendam não se usar muito perfume, sob pena de se exalar mau odor, e não suave fragrância.
No Brasil, ignorando a sabedoria dos mais velhos e apostando no "marketing" da 'laranja mecânica'; investindo "pesado" na alienação do eleitor; partidos políticos usam e abusam do "mantra" dos seus "alto-falantes".
E qual o pingo da goteira varando a madrugada, o eleitor é forçado a ouvir um mote, no compasso de ladainha, ritmado de maneira a condicioná-lo, como quem procura atingir o seu subconsciente.
Repete-se e repete-se o nome do candidato, tudo como se água mole em pedra dura tanto batesse que ainda furaria.
Descascar essa laranja e ver o quê ela tem por dentro é obrigação da consciência, dos que não saem no meio do filme para comprar pipoca, sem conhecer o real motivo dessa inesperada e inadiável vontade.
(Marcus Moreira Machado)
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