Pré-potência é confinar-se no que 'pode vir a ser' mas não 'virá'; é perpetuar-se na latência do promissor postergado. Não é essa a minha vocação. Eu espero que discordem de mim, sempre. Mas não porque eu use cuecas, jamais porque eu desacate com o meu impudor a "Liga das Senhoras Católicas" (ou o quê restou dela), representada por uma imprensa banal e fofoqueira, a vasculhar escândalos nas rampas palacianas da mesma maneira como o faz com rampeiras de passarelas.
Eu prefiro ser totalmente desacreditado por toda uma 'nação', se ela der nota zero à espalhafatosa alegoria dos meus inebriantes discursos, e desclassificar o meu samba-enredo de "pé-quebrado".
Se presidente eu fosse (e não quero ser presidente nem de clube da esquina), logo renunciaria, imediatamente após a divulgação do pleito, somente para poder, em derradeira oportunidade, advertir os meus eleitores, avisando-lhes que eles são auto-governáveis, desde que saibam distinguir "archein" de "krátos". Quem sabe o Brasil ficasse curado de tanta insânia, a gerada na ficção política nacional. E, quem sabe, cessasse de imediato essa renitente ejaculação verbal precoce pelo país afora. E, quem sabe, quem sabe... o brasileiro ouvisse mais frequentemente a sua própria razão, que já nem sei se está irremediavelmente enclausurada em prosaicos atos libidinosos.
Enquanto não renuncio, porque também não me candidato (o povo está, sim, preparado para votar, só não está para renunciar), eu me cansei de 'não ouvir'. Vocês, contudo, façam-me apenas uma gentileza (afinal, vocês são deveras pródigos em gentilezas). Ouçam-me uma única vez: -Tchau e benção!(Marcus Moreira Machado)