O aprendizado não é adquirido somente na escola, é construído pela criança em contato com o social, junto com sua família e nos ambientes a envolvê-la. À família é creditado o primeiro vínculo da criança, inserindo-a no mundo cultural, simbólico, onde começará a construir seus saberes. Na realidade atual, as famílias estão despersonalizadas, situando-se em plano inferiorizado na sociedade, não sabendo lidar com situações novas: pais trabalhando, ausentes por tempo demasiado; ou em conflitos constantes nos escassos momentos de presença no lar; ou desempregados (além de, não raro, alheios e alienados face os vícios de natureza variada); ou com parca ou nenhuma alfabetização. Pela desagregação, transferem seus dilemas aos filhos, vitimados num processo permanente de diversificada gama de carências. No entanto, com muita frequência, toda a responsabilidade, e principalmente os efeitos deste conflito, são atribuídos à instituição escolar. Em decorrência, é crescente a quantidade de gerações cada vez mais dependentes, desviando a escola de suas reais funções para poder suprir outras competências, exteriores às suas originárias funções. Cabe aí ao psicopedagogo intervir junto às famílias desses alunos. A ação psicopedagógica ocorre por meio de uma entrevista focada na anammese, ou seja, trazendo à tona o histórico dos antecedentes, uma reaquisição da memória do núcleo familiar, adquirindo-se, então, informações sobre sua vida orgânica, cognitiva, social e emocional.
Estar atento ao pensamento, seus anseios, seus objetivos e expectativas relacionadas ao desenvolvimento do filho é de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico provisório. Pois, essa análise comporta investigações compreendidas em solução de continuidade, sempre sujeitas a revisões, durante todo o trabalho na própria ingerência, preservando o objetivo de sistematicamente aferir o seu prosseguimento, a fim de corretamente acompanhar a evolução do sujeito discente.
Quando o fracasso escolar não está associado a desordens neurológicas, na família são localizadas as suas causas. Na percepção dos problemas, verificam-se as razões da lentidão de raciocínio, da desatenção, do desinteresse. E tais aspectos precisam ser trabalhados para se obter rendimento intelectual.
Familiares geralmente não querem enxergar nessa criança as suas dificuldades, que muitas vezes está silenciosamente clamando por socorro, manifestado num pedido de carinho, a fim de chamar atenção às suas carências. Este vínculo afetivo é decisivo para o seu progressivo crescimento de ordem moral e intelectual. Afinal, a criança só aprende se tem o desejo de aprender, anseio sempre dependente da efetiva participação paterna nesse processo.
É cobrado da criança o seu sucesso. Porém, quando isso não se realiza, surge a frustração e a ira, desvalorizando-a, num círculo vicioso.
Por isso, a interferência psicopedagógica precisa incluir os pais na ocupação de um novo espaço no contexto do trabalho, opinando, participando de reuniões periódicas, de maneira a viabilizar assistência junto aos professores.
Nesta perspectiva, a Psicopedagogia contribui significativamente com todos os múltiplos envolvidos no processo de aprendizagem, exercendo seu trabalho de forma multidisciplinar numa visão sistêmica.
(Caos Markus)