Ao considerar a aprendizagem como um processo articulado com o momento do aprendiz, a sua história e as suas possibilidades sob o aspecto cognitivo, afetivo e social, a Psicopedagogia rompe a ligação ensino-aprendizagem, porque, tanto o ‘aprender como processo’ quanto o ‘processo de construção do conhecimento’ não têm relação necessária com o ‘ensinar’ e, finalmente, em razão de ambos antecederem e ultrapassarem o ‘ensinar’.
Sob este ponto de vista, passa a existir a necessidade de o psicopedagogo investigar com profundidade os contextos desse aprendiz, procurando reuni-los em uma síntese, a retratar a sua situação, enquanto viabiliza a aprendizagem.
Para aprender, o aluno precisa estar apto a fazer um investimento pessoal no sentido de renovar-se com o conhecimento. Implica um agir a envolver tanto a utilização dos recursos cognitivos mesclados com os processos internos, quanto com suas possibilidades sócio-afetivas. Vale dizer, a aprendizagem tem seu curso correlacionado à construção, pelo educando, de uma série de significados, resultados das suas interações (as já feitas e as em execução) em seu contexto social.
Popularizou-se a visão de que não basta e nem é garantia de sucesso escolar um ambiente doméstico favorável materialmente aos estudos, somado a um docente interessado e competente, voltados, ambos, para o bom desempenho da aprendizagem. Desta forma, trabalha-se com a possibilidade do modelo de aprendizagem não se caracterizar como algo de cunho somente individual, mas também como um padrão desenvolvido em uma rede de vínculos estabelecidos em família.
À família caberá dar noções de poder, autoridade e hierarquia, funções com diferentes níveis de poder e onde são aprendidas habilidades diversas: adaptação a diferentes circunstâncias, flexibilizar, negociar. Enfim, estimulará o pertencimento da criança ao seu núcleo familiar. Com a criança vivendo em família e se submetendo aos seus rituais, enquanto processo dirigido ao seu desenvolvimento, ela vai se individualizando, diferenciando-se em seu próprio núcleo familiar. Quanto mais as fronteiras entre os membros da família estiverem nítidas, mais possibilidade de individualizar-se a criança terá. Se tiver irmãos, será a oportunidade de experimentar relações com iguais.
Neste cenário, a criança constrói a sua referência de aprendiz e a forma como ela se relaciona com o conhecimento. Para a família do aluno, a escola tem uma simbologia e um significado presentes na forma de ‘ser aluno’ em sua maneira de participação nas atividades institucionais da educação. O modo pela qual a criança ‘se integra’ e ‘se entrega’ ao seu sistema de aprendizado está diretamente relacionado à capacidade desenvolvida em família de viver o coletivo compactuado.
Para a escola do aprendiz, a família é a matriz indispensável ao trabalho de planejamento desse novo cidadão. Toda a riqueza da sua evolução nela se inicia, fortalecendo durante o estabelecimento da sua rede relacional que, na sequência, acontece na escola e se expande para além dela. É em relação com seus pares e em um contexto democrático que a criança consolida o seu papel social no contexto da cidadania. Porém, de uma forma geral, a escola não vê com bons olhos interferências pedagógicas suscitadas pela entidade familiar, enquanto esta, por sua vez, nem sempre aceita orientações psicopedagógicas de caráter formativo da escola.
Nesse insensato jogo de forças quem perde são os alunos e, obviamente, todos os envolvidos. O sucesso está na unidade e na coerência de atitudes. Eis um desafio constante, sem dúvida a ser perseguido por sua razoabilidade, cujos princípios estão voltados à intervenção pedagógica comum às duas instituições educativas do menor aprendiz.
(Caos Markus)