Há perguntas reflexivas cujas respostas requerem uma visão objetiva da realidade circundante, ou uma síntese dessa visão, ordenada em correspondente concepção filosófica. É o que se observa nas indagações: "quem sou", "qual o meu valor". Pois, a fim de se obter respostas a tais questionamentos será necessário, antes, perguntar: '-Onde estou?'. E para se conseguir isso é mesmo imprescindível completar as lacunas culturais de cada indivíduo.
Ora, com muita frequência a leitura de um mera nota de página em obra aparentemente sem transcendência -nem sequer a da página inteira ou a do livro todo- é o bastante para assinalar um erro de interpretação, corrigindo um equivocado juízo de valores. E ressalvado esse erro, pode se transformar em concepção de vida e do mundo em que vivemos, a ponto de oferecer a todos novas perspectivas. Assim também, um resultado imediato e de suma importância será alcançado com o conhecimento desta visão do mundo, qual seja, a noção da pequenez e insignificância do individual, do 'um' no 'universo'. Constatação que não impede um outro resultado, não menos importante, observado nessa partícula -o indivíduo- perdida no universo infinito: o de que ainda assim cada um possui valor humano inestimável e não sujeito a comparações, pois dotados, todos, de caráter singular. O 'um' se trata de exemplar humano único, que, por isso mesmo, demanda em seu transcurso existencial de cuidado com responsabilidade igualmente singular, vez que é impossível substituir, compensar ou reparar seus atos. Sem hesitação alguma, não é somente o tempo o que não se recupera; é também a vida, o valor, o amor não atendido, a oportunidade desprezada.(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 19 de abril de 2008
DOMINGO, 20 DE ABRIL DE 2008: "METAFÍSICA DO INCONSCIENTE".
A fim de se ter uma noção lógica do inconsciente, é necessário não o ver onde há apenas o fisiológico. Se deixamos de filosofar sobre a essência da natureza, é indispensável a distinção em dois domínios. Assim, para a psicologia, o fisiológico não poderá ser consciente ou inconsciente. Não se pode, afinal, falar de inconsciente senão se relacionado a estados e atos que possam ser conscientes.
Apesar de tudo, as filosofias do inconsciente têm a sua importância porque valorizam a idéia de uma força inconsciente que governaria a atividade consciente; percebem que o inconsciente regularmente sustenta o consciente, o fazendo a título de instinto ou de tendência; e analisam positivamente o seu papel nas decisões voluntárias, nos sonhos e nos temperamentos.
Por isso tudo, é compreensível a idéia de que a vida subconsciente do espírito possa decorrer explicitamente de produções da metafísica do inconsciente. E, por conseguinte, admissível o entendimento de que abaixo da superfície mais evidente que se oferece à observação interior, prolonga-se uma obscura e despercebida região, plena de fenômenos de ordem psicológica, dos quais somente são assimilados os últimos efeitos, diversamente combinados e alterados. Ou seja, é das raízes do inconsciente que surgem, um a um, cada fato consciente.(Marcus Moreira Machado)
sexta-feira, 18 de abril de 2008
SÁBADO, 19 DE ABRIL DE 2008: "ATITUDE PRIMÁRIA".
Toda vida individual pressupõe constante processo de adaptação entre os desejos e ambições pessoais e as dificuldades externas opostas à sua realização. Enquanto essas limitações são impostas concretamente por pessoas determinadas, o indivíduo se limita a uma certa antipatia contra elas, responsabilizando-as por suas decepções e fracassos. Entretanto, quando tais pessoas se acham ligadas por uma característica social comum; e a este conjunto o indivíduo atribui repetidas agressões ao seu horizonte psíquico, tendendo a refletir e a generalizar os esquemas de motivação de suas próprias atitudes, transcendendo a proximidade pessoal e alcançando planos mais amplos de instituições e estruturas sociais ; é então que este indivíduo encontra condições favoráveis à existência de sua atitude primária -a hostilidade contra a ordem vigente.
Daí, a conduta personalíssima não será mais a de uma reação contra este ou aquele oponente por serem como são. Mas, em evidente inversão, o indivíduo passa a considerá-los assim por integrarem uma determinda organização social. E não raro, dessa conduta de insatisfação pessoal nasce uma posição supostamente revolucionária. Não haverá demora, num passo adiante, para a arregimentação de outros tantos indivíduos insatisfeitos; e todos "juntos", cuidarão de elaborar qualquer desavisado esquema utópico de outra organização social, desde que dirigida ao atendimento de suas exclusividades, jamais confessadas, pois justificadas em nome do coletivo. O mesmo coletivo, porém, contra o qual o indivíduo se insurgiu.(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 16 de abril de 2008
SEXTA-FEIRA, 18 DE ABRIL DE 2008: "SOLIDARIEDADE, IMPOSIÇÃO DO CONFORMISMO".
Perde-se no tempo o confronto, na Ética, da concepção que defende a origem congênita da tendência ou do senso moral e a tese que afirma sua aquisição no decorrer do desenvolvimento da humanidade, decorrente, assim, do contato social.
Uma significativa maioria concorda que o homem, ao nascer, não tem mais moral do que qualquer outro animal. Primitivamente, a criança é amoral, e só começa a exibir uma conduta moral à medida em sobre ela atuam as proibições e coações dos adultos. De fora para dentro, a moral penetra na criança em forma de regras de conduta, impostas.
Nesta compreensão, afirma-se que o desenvolvimento da moral individual passa por diversas fases, sem a menor solução de continuidade entre elas. Nota-se a transformação do conformismo por imposição (presente nas sociedades primitivas) à solidariedade orgânica (observada nas sociedades diferenciadas, as denominadas 'democráticas'), através da diminuição da vigilância da comunidade sobre o indivíduo.
Nessa passagem, a origem de toda moral da evolução -constante dos impulsos destruidores, primitivamente dirigidos contra o meio, depois voltados contra o próprio 'eu', transformando-se em seu mais implacável censor.
A 'solidariedade' hoje tão conclamada não é mais que o fruto da imposição do conformismo. Ou vale dizer: só somos 'civilizados' se 'amestrados'. (Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 15 de abril de 2008
QUINTA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2008: "ÓCIO E NEGÓCIO".
A finalidade do estudo, de suma importância, suscita uma 'ética do estudo'. Infelizmente, todavia, é maioria o número de estudantes a frequentarem aulas apenas com preocupação exclusiva de obter um certificado que os habilite a um 'negócio profissional'. Sacrificam tempo e dinheiro no objetivo de alcançar um ulterior benefício econômico, e nada mais. São os escravos da tirania do dinheiro, que estudam para 'negociar', em vez de se dedicarem ao ócio. Pois o ócio, já entre os gregos da antiguidade, era a atividade espiritual mais pura então conhecida, consagrada à contemplação e ao estudo dos maiores enigmas filosóficos. Por outro lado, empregavam a palavra "nec-ocio" ("na-ócio" ou 'negócio') para designar as atividades diretamente lucrativas, por eles consideradas praticamente desprezíveis.
A nossa civilização perverteu o sentido destes termos de modo a verificar-se uma inversão do seu valor. E por isso hoje entende-se o 'negócio' superior ao ócio, tanto mais quanto este último é compreendido como 'defeito moral' de uma vida parasitária, ao invéz de ser considerado como cristalina meditação na busca de vivências mais dignas.
Ora, o tempo não deve ser avaliado como ouro, mas como saber, isto é, enquanto cultura. Cultura que, por seu turno, não deve ser posta a serviço de interesses mesquinhos, e sim cultivada para a humanidade, que dela se beneficiará, tornando os homens dignos de si próprios.
O interesse da riqueza há que ser subordinado, sempre, ao interesse da verdade. Ou, noutras palavras, o conhecimento, primeiro, para o prazer; e depois, mais tarde, como instrumento útil ao trabalho. O saber em proveito da sociedade; admissível o 'negócio' lícito tão somente na medida em que assegure os meios à atividade do 'ócio' cultural, a verdadeira fonte da aspiração vital. O 'ócio' com o qual se produzirá um valor estético ou científico, jurídico ou religioso, social ou mesmo econômico, porém em seu estado original.
Esta é a maneira única na capacitação do ser humano contra a dominação pela vileza das 'paixões' que envenenam as rivalidades profissionais, notadamente no mundo globalizado atual, onde 'competividade' ganhou status de 'superioridade'. Só assim a paz estará em cada um dos dignos habitantes da provisoriedade temporal.(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 14 de abril de 2008
QUARTA-FEIRA, 16 DE ABRIL DE 2008: "GOVERNO DO INCONSCIENTE".
Distingue-se o inconsciente na vida corporal e no espírito humano. Naquela, ele é a alma que dirige a finalidade orgânica, pois que o organismo é inexplicável como simples mecanismo; há o seu psiquismo, que é o inconsciente. A exemplo, os reflexos são movimentos de reação não esclarecidos tão-somente através das leis gerais da matéria; o princípio interior de um reflexo não pode ser senão espiritual e inconsciente. Igualmente, o instinto apresenta uma finalidade inconsciente; ele é atividade com objetivo definido, contudo, sem possuir consciência disso. Enfim, uma providência individual está presente em cada ser humano, na origem dos próprios fenômenos fisiológicos.
Já no que diz respeito ao espírito humano, ou à vida propriamente dita, são múltiplos os processos inconscientes operando na percepção, na formação dos conceitos, nos raciocínios. Por outro ângulo, o inconsciente governa os sentimentos. Assim, o amor é uma vontade a perseguir sem consciência um fim determinado; e o prazer é o eco das satisfações ou das contrariedades de uma vontade que se ignora (condição irrefutável, constatada a frequência da sensação de prazer em se consumar atitudes antes condenadas e antipatizadas; tudo a indicar claramente que a vontade visava mesmo fins diferentes daqueles apresentados pela consciência).
Toda a vida consciente é influenciada pelo domínio do psiquismo inconsciente -o regente, aquele que realmente governa no império dos sentidos.
Qualquer desejo de unir o inconsciente do corpo e o do espírito exigirá a definição da alma individual como a totalidade inconsciente e uma das funções orgânicas e psíquicas do ser humano.(Marcus Moreira Machado)
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