O poder é um 'meio' simbolicamente generalizado de 'comunicação'. Não depende nem da submissão concreta nem imediatamente do efeito obtido por seu detentor. Porque o 'poder', entendido como o 'código' que ele representa, realiza uma redução de complexidade (de ambos os lados, ou seja, nos pólos ativo e passivo; do detentor e do submetido) ao nível da ação também bilateral. Equivale dizer que igualmente o detentor do poder tem de ser movido para usar o "seu poder"; o que gera sucessivas dificuldades. Efeito disso é que o poder não é o instrumento de uma vontade sobre a outra; mas, como 'meio' de 'comunicação', ele instrumentaliza, não uma vontade já dada, e sim uma vontade por ele produzida, enquanto 'meio', vinculando-a, sujeitando-a, conduzindo-a ao sucesso na absorção de riscos e levando-a ao fracasso.
Nessa situação, nota-se que o poder é meio para a transmissão de seleções de 'ações', no qual ambos os comunicadores são sistemas aos quais se imputam seleções como suas ações. Assim, o submetido -o sujeito passivo do poder- é alguém de quem se espera que escolha sua própria ação, daí inferindo-se a possibilidade de auto-determinação. No entanto, é neste pressuposto que são dirigidos contra ele elementos de poder, através de ameaças, no sentido de regulá-lo nesta escolha por ele realizada.E de igual modo, o detentor do poder se auto-determina. Com isso, na relação entre ambos fica postulada a possibilidade de uma previsível e identificável divergência. Pois, confirma-se, a ambiguidade prevalece: de uma lado, força e rendição; de outro, controle e submissão.(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
TERÇA-FEIRA, 5 DE FEVEREIRO DE 2008: "PODER, UMA GRANDEZA HUMANA".
No fundo da essência do poder surgem conotações um tanto contraditórias. De uma lado, o Poder deve assegurar uma ordem pacífica de convivência, mediante a aplicação de uma norma justa. Por outro, o afã desmedido pela conservação do poder pode levar a atitudes e condutas em que a finalidade prioritária do bem coletivo acha-se abalada por interesses pessoais. Eis, com efeito, o paradoxo do poder: a dupla circunstância de que, simultaneamente, a existência política do homem desenvolve uma racionalidade original que torna o poder uma contribuição inseparável para a humanidade, e, em outra extremidade, o poder é uma grandeza humana eminentemente sujeita ao mal, é a origem mesmo de grandes males. De modo que concorrem no poder racionalidade e maldade. Eis a sua surpreendente bipolaridade.
Assim, a natureza que se atribua ao poder muito dependerá tanto do momento em que se estime que ele deve surgir, como do mecanismo mediante o qual possa ser apresentado por quem o detenha.(Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 4 DE FEVEREIRO DE 2008: "CAPITAL E CULTURA ARTICULADOS".
Ao expressar uma nova composição de forças internas e um novo tipo de articulação do capitalismo brasileiro com o mercado mundial, o regime pós-64 trouxe para o processo cultural uma série de implicações . A busca da integração com a produção industrial moderna, a transferência de capitais externos, a importação de novas técnicas e esquemas de organização produtiva passaram a exigir um reaparelhamento da produção cultural. Novas imposições do mercado, novos padrões técnicos. Por outro lado e por circunstâncias particulares, a forma de dominação política que acompanhou essas transformações no Brasil favoreceu as interferências do Estado no processo cultural. Interferências nada desprezíveis que hoje são notadas nos caminhos contraditórios do agenciamento da cultura e no rigoroso controle político da veiculação de mensagens. Atrelada a cultura às "normas" do capital, impõe-se à intelectualidade sucessivas redefinições, recolocando em novas bases o debate acerca de suas funções e seu lugar social, a composição de novas alianças e o estabelecimento de novas estratégias, em direção a prioridades determinadas por artistas, artesãos e intelectuais, relacionadas aos canais privilegiados para sua atuação, além da escolha de esquemas formais e de linguagem, como tática frente à necessidade primeira de combate às multinacionais do setor.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
DOMINGO, 3 DE FEVEREIRO DE 2008: "SOCIALISMO TEOCRÁTICO".
Decisivos e importantíssimos foram os serviços que ao Brasil prestaram , no primeiro século de sua história, os jesuítas. Sua obra podem ser compreendidas em duas principais fases: a da catequese, que teve como efeito a aproximação com os índios; e da didática implementada, com a fundação de colégios, sendo esses clérigos quase que os únicos professores no estágio inicial da "colonização". Em Salvador, através do colégio dos Meninos de Jesus, o primeiro no Brasil, começou a obra educacional desses religiosos.
É notável, entre outros "êxitos", que esses padres
tenham conseguido erradicar os hábitos da antropofagia no espaço, apenas, de uma a duas gerações.
Muitas cidades modernas resultaram de antigas missões jesuíticas, devendo-se aos filhos de de Inácio de Loyola o "desbravamento" de vastas áreas brasileiras. Sua obra, aliás, não conhecia fronteiras, expandindo-se por toda a América Latina, onde alguns países, a exemplo do Paraguai, conheceram, em sua incipiência histórica, formas especiais de socialismo teocrático, com a distribuição da terra, dividida em lotes, a famílias indígenas, que as cultivavam e nelas ainda mantinham primitivas indústrias.
Dificultaram o trabalho dos jesuítas os ambiciosos preadores de indígenas, os bandeirantes e outros aventureiros, que para os escravizar atacavam as missões e aldeias. Na tentada defesa desse socialismo teocrático, os jesuítas dedicaram-se também a atividades guerreiras, levadas a cabo ao máximo possível, na referência de Loyola, místico e homem de armas a um só tempo.
Nota-se, com efeito, que o socialismo na latina América -mesmo que promovido por uma ordenação religiosa- foi fadado ao fracasso, considerando não faltar, já nessa época, os que atualmente são "reconhecidos" dentre os neoliberais, donos de inescrupulosa e desmedida ambição.(Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
SÁBADO, 2 DE FEVEREIRO DE 2008: "CONSTRUINDO DECISÕES".
Em notável velocidade, o mundo está se transformando. Com essa mudança, à sociedade é lançado o desafio de alterações extremas, quer na ciência e tecnologia, quer nas comunicações ou nos relacionamentos sociais. E qualquer modificação não poderá ser efetivada se mantidas as respostas legadas do passado. Diversamente, é imprescindível confiar em processos que conduzam aonde estão os novos problemas. Pois, quanto mais rapidamente ocorre a mudança, tanto mais as respostas, a metodologia e as habilidades, o conhecimento se tornam obsoletos, anacrônicos quase que em concomitância com o momento de sua aquisição.
Esta disposição enseja, para a educação, não apenas técnicas mais modernas, porém, um novo objetivo, o que contemple o desenvolvimento de indivíduos abertos à mudança verificada. Porque somente essas pessoas podem, construtivamente, ir ao encontro das irresoluções deste mundo em que os problemas se propagam mais rapidamente que suas respostas. Pessoas que, pela educação, desenvolvam uma sociedade onde se possa viver de maneira mais suscetível à transformação do que à inflexibilidade. No mundo de um futuro muito próximo, a capacidade de enfrentar adequadamente o novo será mais importante do que a aptidão de conhecer o velho e repetí-lo.
Neste processo, impõem-se, a um só tempo, a manutenção e transmissão de conhecimento e valores fundamentais do passado, bem como a imediata admissão das inovações que se façam necessárias à preparação diante das incertezas futuras. Enfim, construindo decisões, há que se criar meios ao desenvolvimento sem temor a inovações. O quê implica em maior relevância à aprendizagem do que ao ensino, com destaque à criatividade do indivíduo, aberto, então, à totalidade da sua própria experiência, capacitando-se ao processo de mudanças que, ciente, serão contínuas.(Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 1 DE FEVEREIRO DE 2008: "FILOSOFAR A ÉTICA".
Uma só pergunta deve ser formulada pelo homem que, vivendo em sociedade, convive com pluralidade de pessoas, oriundas dos mais variados segmentos. Questão central da Moral e da Ética, cabe-lhe indagar como deverá, ele próprio, agir perante os demais. A resposta não será facilmente encontrada, não obstante a simplicidade da interrogação.
Pois, Moral e Ética, não raramente, são palavras que sugerem sinonímia no conceito de um e outro vocábulo. E, não por menos, a ambas costuma-se definir como conjunto de princípios ou padrões de conduta. No entanto, Ética encerra ainda o significado de Filosofia da Moral; portanto, um pensamento reflexivo acerca dos valores e das normas que regem as condutas humanas.
Certamente, entendimento mais recente, ética também pode referir-se a um conjunto de princípios e normas, estabelecido por um grupo como diretrizes no exercício profissional.
Não bastasse, Ética é expressão alusiva a uma distinção entre princípios que norteiam o pensar, dispensando a prescrição de formas precisas de comportamento (conduta ética) e regras determinadas e inflexíveis (a moral).
Por outro ângulo, 'moral' é termo que a muitos traduz sentido pejorativo, associado a "moralismo"; razão pela qual muitos preferem vincular à palavra ética os valores e as regras pelos quais têm apreço, no objetivo de se diferenciarem dos "moralistas".
Ante a verificada imprecisão de conceitos e definições, é mesmo indispensável filosofar a ética. Este agir parte do pressuposto que é necessário possuir critérios, valores, e, mais acentudo, estabelecer relações e hierarquias entre esses valores, buscando imprimir rumo às ações em sociedade. Porque, inegável, são muitas as situações onde dilemas, impasses impõem essa necessidade. Com efeito, a moralidade humana, tal qual na Filosofia, deve ser abordada no contexto histórico e social, através de reflexões antropológicas e sociológicas, a permitirem o conhecimento mais real da diversidade de valores presente na sociedade.(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
QUINTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2008: "VIOLÊNCIA CONTEXTUALIZADA".
As mal denominadas "Ciências Humanas" e a Filosofia sempre refletiram sobre os comportamentos agressivos do homem em sociedade -condutas que se manifestam tanto de forma verbal quanto de forma física, observadas em atitudes individuais ou, coletivamente, por atos sociais.
A agressividade em relação ao semelhante é, para alguns, traço natural do ser humano, a "justificar" o entendimento de que uma sociedade onde à convivência seja garantida um mínimo de harmonia e paz somente será possível se efetivadas formas de repressão dessa mesma agressividade. No entanto, para outros, os comportamentos violentos são basicamente consequências de fatores sociais que desencadeiam práticas agressivas.
A despeito do mérito dessas opiniões, de fato, é uma visão demasiadamente romântica do gênero humano pretender que sua inclinação natural possa levá-lo à simpatia recíproca e à mútua solidariedade entre os homens.
A agressividade é, inegavelmente, uma tendência. Todavia não é exclusiva, pois que confirmam-se inatas as tendências para a compaixão, para a reciprocidade.
Assim, uma maior clareza da questão exige abandonar a visão naturalista do homem, ou seja, a 'natureza humana'; e, daí, pensar sobre seus desejos e ações de forma contextualizada. Afinal, a agressividade humana e seus comportamentos violentos dependem muito de fatores sociais, dos contextos culturais, de sistemas morais.
É certo que o ser humano não é hoje o mesmo de ontem. A sua mudança apenas pode ser assimilada considerando-se fatores psicológicos e sociais determinantes dessa modificação. Porque não foi o homem que se tornou menos agressivo, mas tem sido a sociedade a responsável em reservar lugares e valores diferentes à expressão dessa agressividade.
É por demais sabido, por exemplo, que é maior a violência onde também maior é a desigualdade entre os indivíduos, considerada em termos de qualidade de vida. Essa relação de causa e efeito é muito facilmente identificada: a dignidade pessoal será cruelmente ferida quando alguém vir que nada possui, num lugar onde outros desfrutam não só da fartura, mas do mais alto luxo.
Essa situação, frequente no Brasil, explica, sem qualquer
equívoco, porque a violência não pode ser vista como qualidade pessoal , porém, como questão social diretamente relacionada à justiça distributiva.(Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 30 DE JANEIRO DE 2008: "VALIDADE NA VALORAÇÃO".
Hoje, é intensa a preocupação com a questão dos valores. Em variados países, nota-se uma juventude profundamente incerta em relação aos valores que, supõe-se, deveriam orientá-la. Os valores associados a incontáveis religiões perderam muito da sua influência; pessoas sofisticadas, de várias culturas, denotam sua insegurança e inquietude correspondentes aos objetivos já insustentáveis e desconsiderados. As causas da desprezada validade na valoração de princípios antes pretendidos estáveis são aparentes, isto é, de fácil identificação.
A cultura mundial, na sua pluralidade de aspectos, assume feição sempre mais científica e relativa. E os primados rígidos, absolutos que outrora nortearam pontos de vista acerca dos valores, mostram-se anacrônicos, atualmente. Por outro vértice, o homem contemporâneo é frequentemente assediado por reivindicações de valores antagônicos e eivados de contradição. Vê-se a impossibilidade de mais fácil adaptação ao sistema dos valores respeitados -num passado recente- como os maiores da comunidade, na coletividade. Agora, a natureza e os pressupostos desse sistema são constantemente examinados e, muitas vezes, rejeitados.
Diante deste quadro -o da desintegração ou colapso dos valores que por longo tempo sinalizaram o caminho de muitas gerações- indaga-se se existem, ou podem existir, valores universais. O quê se percebe é a perda bastante avançada de qualquer possibilidade de uma base geral ou intercultural de valores. Daí, a perplexidade, a natural incerteza a tornar crescente o interesse em uma busca de acesso seguro e significativo de valores que se possam defender como adequados à contemporaneidade.(Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA, 29 DE JANEIRO DE 2008: "AMOR OBJETIVO, PRAZER RESSONANTE".
Vários são os processos inconscientes (no que diz respeito à vida propriamente espiritual) operando na percepção e na formação dos conceitos, nos raciocínios. Mas, por outro lado, é o inconsciente que governa os sentimentos. Assim, o amor é uma vontade que persegue, sem o perceber, um objetivo, isto é, um fim determinado. Já o prazer é eco das satisfações ou das contrariedades de um desejo que se ignora.
Sem comportar questionamentos extremistas, resta confirmado que em todas as questões referentes à vida, o inconsciente sugere a solução adequada e verdadeira, mas somente depois é que as razões são procuradas pela consciência, quando então já realizamos o nosso 'julgamento'.
Enfim, se quisermos unir o inconsciente do corpo e o inconsciente do espírito, será necessário identificar a alma individual enquanto inconsciente integral, dotada de função orgânica e psíquica individualizada.
Nesta individualização, amor e prazer se manifestam diversamente, tanto quanto diversificados são os indivíduos.(Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 28 DE JANEIRO DE 2008: "PERMANÊNCIA PRECEDENTE".
A infelicidade atual, generalizada, é a melhor e extraordinariamente importante prova de que (para a visão de outros relacionamentos sociais possíveis, além dos repressivos; e para um poder envolver-se em procedimento co-humano criativo) é preciso a completa libertação do vínculo com o mundo subjetivista, cartesiano, técnico, capitalista ou marxista. Entretanto, esse panorama abolutamente diverso, apto a resgatar o ser, não será adquirido apenas através dos livros. E, também, não poderá ser derivado de deduções lógicas de conceitos anteriores. Para se alcançar esta nova e salutar compreensão é indispensável a superação radical. O 'pensar', 'sentir' e 'enxergar' dos homens terá que saltar, do subjetivismo e psicologismo abstrato e possessivo das anteriores ciências humanas, para a dimensão concreta na qual já existimos em permanência precedente, ainda que sem o saber.
O que se passa neste salto a um novo relacionamento com o mundo é o desaparecimento absoluto do subjetivismo presunçoso, possessivo. Porque algo só pode tornar-se presente -e com isso "ser"- , quando possível fazer isso para dentro de um ambiente de 'claridade', resgatado então o essencial nesse novo relacionamento, que permite mostrar-se com significados muito mais ricos e fartos.(Marcus Moreira Machado)
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