Um estúpido cinismo, uma acintosa hipocrisia e uma indeclinável e irreprimível faculdade de destruição e ódio definem o comportamento da sociedade contemporânea, envolvida em profunda crise de valores morais e combalida por implacável fragilidade intelectual.
A incapacidade de emancipação parece determinar condições favoráveis à existência quase que permanente do extremismo contraditório: convivem, como duas espécies totalmente diferentes entre si da raça humana, os homens de projetos libertários e aqueles cujas construções são as mais ditatoriais imagináveis. A auto-determinação, quer seja individual, quer seja coletiva, está afastada como possibilidade e rejeitada como realidade mais plausível.
Ainda agora, mesmo a caminho do terceiro milênio, o homem continua dando preferência a duas formas dentre as muitas que - como bem definiu Ortega y Gasset - ele tem para se tornar um imbecil, isto é, as militâncias de esquerda ou direita.
Em virtude de tamanha incompreensão, não logramos admitir a impossibilidade de coincidência entre o bom e o justo, confundindo, sempre, o julgamento -como máximo referencial do justo -, com o necessário sacrifício quando o que se pretende é atingir o bom. Pois, reduzidos pela pequena estatura da maior segurança, preterimos a própria justiça, desatentos à exigência superior da transformação de uma parte do nosso direito em sacrifício. De fato, o cérebro e o coração humanos não têm negado a sua escolha para ser "a arena do universo".(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
SÁBADO, 24 DE JANEIRO DE 2008:"RECONHECIMENTO"
Assumir o "reflexo", a "imagem" que somos, é permitir a seqüência da criação de tal forma antes nunca vista, procurando "equivalência" pelo aperfeiçoamento da espécie. E cada consciência humana deverá escolher posição tal que se harmonizem o "individual" e o "coletivo", como maneira exclusiva de compatibilizar a solução "personalizante" com a pressuposta "unanimização".
Reconhecendo a "consciência" e a "inconsciência" como simples qualidades da vida psíquica, é o momento de valorizarmos o conhecimento que o homem possa ter a respeito de si mesmo, penetrando sempre mais profundamente no subterrâneo de sua alma, identificando as forças "obscuras" que o têmdeterminado para o melhor ou para o pior caminho. Para guiar-se no destino a si reservado, haverá o ser humano de adquirir a visão capaz de fazê-lo enxergar -pela reflexão - a quem é semelhante, á imagem de quem foi criado. Pois - energia liberada - não é pela dissipação, mas antes pela concentração que o seu "pensar" verdadeiramente contribuirá com a oportuna intervenção no futuro da humanidade.(Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 23 DE JANEIRO DE 2009:"GENÉRICO"
Dogmas e axiomas definitivos que não observam a “desordem natural” de uma cultura como a nossa, a brasileira, estarão sempre fadados ao desparecimento precoce . Aliás , num período como o atual , marcado por uma profunda crise social e econômica, quando satisfazer os prazeres mais imeatos e fundamentais é a conduta próxima e comum a tantos quantos procurem ocultar a formidável depressão existencial a atingir toda a sociedade , torna-se impossível alguma concepção baseada em conhecimentos cuja profundidade negue o sentido de extensão pelo acúmulo e pela sucessão de instantâneos , pela soma , enfim, de ideologias e representações fragmentadas no tempo, mas reunidas na diversidade própria ao conhecimento inatingível , porque infinito.
Muito provavelmente, a revisão constante será o reconhecimento de que processo ocorre sempre por etapas, em admissão de fatos e circunstâncias supervenientes e imprevisíveis . Daí a sabedoria de quem possa identificar na multiplicidade o valor do conjunto, percebendo e respeitando igualdades , e promovendo diferenças de maneira tal a individualizá-las como característico como determinante de uma dada categoria de pessoas.
Eis, talvez, o maior pecado das elites neste país: generalizar . Porque temos um único idioma em tão vasta extensão territorial que é a nossa, não separados por dialetos regionais nem divididos sustancialmente por disputas étnicas, a falsa idéia de um singular “universalismo” tem sido o substrato para políticas globalizantese inaptas a enxergar o elemento determinante da nossa evolução ,ou seja, a “mestiçagem” e os seus frutos ou as suas expressões aparentemente impregnadas de indensatez - as culturas várias, os múltiplos estilos, a pluralidade da “linguagens” .(Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2009:"INOMINÁVEL"
Todo dia é dia de projetos inacabados, preocupados e preocupantes; a cada dia um novo dia diz que amanhã é daqui a pouco, e que será tudo mais diferente e melhor para quem no presente e no passado jamais pode vislumbrar um novo tempo. E, assim, ninguém diz "não chores por mim…", e todos choram ainda mais um pouco por si mesmos e pelos meninos de rua que não são e nem poderiam ser, mas que gostam de imaginar que poderão ajudar, apenas pelo lamento muito mais conivente do que convincente.
Carpideiras! Não mais que isso é o que realmente somos. Pagos para freqüentar funerais e fingir solidariedade. Em nome de Cristo, em nome de Sidhartha em nome do inominável. E, principalmente, em nome dos bons costumes, acostumados que estamos a uma bondade incerta e não sabida, porém proclamada como participativa para esconder o quão lucrativa é.(Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 21 DE JANEIRO DE 2009: "TRISTEZA DANADA".
Eu morro de dó dos negros; eu morro de dó dos judeus; eu morro de dó de mim mesmo, que não sou nem negro e nem judeu. Eu vivo morrendo de dó de criança pobre e abandonada, jogada nas esquinas dos comerciais de televisão, e sempre prontas para o prato cheio da caridade humana. Que pena eu sinto da tristeza que me fazem sentir a vida mais real de todas as novelas e os seus personagens assim tão cheios de humanidade!
Não sei mesmo o que posso fazer para melhorar o mundo, já pelo que parece ele não existe para ser melhorado; tem-se a impressão que tudo precisa ser do jeito que é, ou da maneira que inventaram de ser. Sentir dor - grande ou pequena, verdadeira ou não / é o que resta para tanta gente que como eu não faz mais nada que sentir.Recheando de indignidade, eu caminho no apocalipse que jamais virá, porque todo dia é um pouco. E nesse recheio o meu espanto é que eu ainda continue tão pasmo com tanta coisa feita só para pasmar. Pois, se esse é o enredo, que eu já conheço de cor, para que aceitar o papel de coadjuvante mal remunerado? Deveríamos, então, decidir pelo decidido e mudar de lado, só para não sofrer o sofrimento alheio? Teríamos, de verdade, essa aparente capacidade de imaginar que o ser humano vale a pena, porque também o somos? (Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA, 20 DE JANEIRO DE 2009:"ANÔNIMO"
Um bolero e um blues, um tango e um minimal music, um hollywood e um free; eu dolente e eu ansioso, querendo o que não há em música alguma, procurando o que a nicotina não tem. Café, muito café quase amargo, que de amargo ainda não basta a vida. Espero. E espero sempre. não por gosto, nem por otimismo de quem acredita que ainda há esperança. É até ótimo saber do pior, imaginá-lo e aguardá-lo. Por que não?
Uma verdade que me soa falsa insiste que eu devo continuar mentindo sempre. Pois ninguém suporta uma realidade imutável. Então, faço de conta que estou completamente sóbrio, só para ser mais um dentre a multidão de abstêmios anônimos. E engulo de cara feia e retorcida o fel da bebida amarga dos agnósticos. A relatividade é a prática dos infratores e dos pecadores e, por isso, vou ao céu para depois voltar ao inferno. A insuportável leveza do meu ser me faz peregrino buscando o norte pela meteórica estrela da minha vida inteira.(Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 19 DE JANEIRO DE 2009:"EDUCAÇÃO QUE CIVILIZA"
Para Häckel eminente discípulo de Darwin, todas as diferenças que hoje distinguem entre si as espécies humanas são originadas de divergências adquiridas pela evolução já isolada de cada uma delas. Segundo a sua teoria, eram os homens ainda um esboço se dispersaram; após, isolados, teriam se desenvolvido em espécies distintas. A pluralidade de tipos lingüísticos será, nesse sentido, um incontroverso argumento da conformação da espécie humana diversificada, imediatamente em seguida à debandada.
Acatar a tese do antropólogo será admitir que a palavra "espécie" designa somente um momento de individualização mais evidente, para aceitar, enfim, o princípio da transformação evolutiva. E, muito embora não se saiba qual seja a determinante das mutações, certo é que o "crescer-reproduzir-morrer" leva à dessemelhança verificada entre gerações, definindo a "individualidade". Por conseqüência, o homem - e de resto cada espécie de coisa viva - está, continuamente, sucedendo-se em muitos novos indivíduos; e, desde que as condições se conservem as mesmas, em cada geração essa ou aquela espécie aprimoram a sua adaptação e essas condições.
A descontinuidade no progresso do ser humano, não obstante essas últimas considerações, não se resolve tão somente pela observação da sua variedade. Senão, como explicar que há vinte e quatro séculos os gregos possuíam um grau de civilização muito superior ao da atual população? Como entender que há apenas três séculos atrás os parisienses esvaziavam os seus vasos noturnos nas ruas, enquanto que há dezenove séculos passados Roma possuía um excelente serviço de esgoto?
O progresso humano, assim, não só lento, é também interrompido muitas vezes pela ignorância. Quatro ramos de parentes de uma única árvore genealógica racial, a superioridade ou a inferioridade de determinarmos grupos humanos devem-se exclusivamente à permuta de idéias e experiências no primeiro caso, e ao isolamento, no segundo. O encaminhamento, por exemplo, de muitos povos de partes diferentes do mundo para o vale do Rio Nilo, como passagem obrigatória nas viagens das raças primitivas de uma região para outra, sempre à procura de alimentos e abrigo, propiciou, pela concentração de grande massa humana, constituída por homens vindos de lugares tão frios como os das geleiras ou tão quentes como os do mar, um acréscimo às idéias individuais, pela troca de hábitos diferentes em culturas distintas.
Da mesma forma como a superação da barbárie pelo advento da pré-civilização se operou através da incessante aproximação dos povos, e assim sucessivamente, o processo humano tem sido retardado pelos membros mais ambiciosos da família humana que, inconscientes, supostamente promovendo a modificação e a diferenciação das espécies, em processo de seleção natural. atrasa em milhares de anos o processo civilizatório, pelo confinamento oriundo de sucessivas guerras.
A desintegração e o conflito têm, ao que parece, acompanhado o processo das modificações fundamentais dos períodos revolucionários da raça humana. Reconhecer e preparar-se para advento de uma nova época, evitando a análise superficial, pela adoção de critérios de identificação das causas mais profundas e impessoais, será não escolher a alternativa mais pobre de resistir às mudanças.
Como a maior parte da população não herda a cultura conseqüente do acúmulo das experiências da civilização humana, impõe-se o reconhecimento dos malefícios causados pela ignorância, como percepção de uma nova educação norteada para a compreensão da atualidade. O desprezo por essa educação significará perpetuar a ignorância, já considerada como endêmica em nossa civilização.(Marcus Moreira Machado)
DOMINGO, 18 DE JANEIRO DE 2009: "REVOLUÇÃO E CARÁTER"
A insatisfação e a hostilidade determinam a reação contra as dificuldades impostas ao indivíduo pela existência de um processo de adaptação entre ambições pessoais e a pressão psicológica do meio externo.
Da antipatia, fruto de decepção e fracassos pessoais, das feridas morais advindas de setores coletivos é que se forja a atitude revolucionária, isto é, a rejeição ao “modo de viver” em voga. Assim, o revolucionário nasce no enfrentamento às instituições sociais, por serem estas a extensão de um problema anterior ainda não resolvido. Atacar os militares, enfurecer-se contra o Judiciário, condenar o Governo e sua “política corrupta”, são formas estabelecidas de um confronto unilateral, onde o militar, o juiz, o Presidente não invadirão a privacidade do ressentimento revolucionário.
Já resguardado, o caráter revolucionário adota, agora, fórmulas de salvação que, entende, erradicará os males que permeiam a sociedade. Mas, convencido do seu fracasso na aplicação prática de tais métodos, sabendo impossível a sua realização pelas atitudes isoladas e em respeito à lei, declara um novo mundo a partir do comportamento sugerido em protesto a experiências individuais, somado a idéias mais abstratas alcançadas por leituras, assembléias ou propagandas político-filosóficas. Dessa forma, na fase inicial da formação revolucionária, coexistem medidas de ordem geral - sempre utópicas - e medidas de cunho pessoal.
Diferenças essenciais, separam o indivíduo insatisfeito do rebelde, e este do revolucionário. O primeiro tem a característica do constante mau humor, criticando a tudo e a todos; o segundo vive para protestar as convenções; o terceiro não convive com nenhum regime social, por julgar-se condenado ao martírio, pela redenção da humanidade, enfim, por seu caráter universalista, onde acredita-se um mensageiro divino. Ao revolucionário não basta reformar a sociedade; quer ele ser o criador de uma outra, para o que precisa demolir as estruturas da anterior. Como um “Deus”, tem o destino traçado para a humanidade, ainda que nem todos queiram o beneplácito das suas inumanas concepções. Mais que obstinado, o revolucionário é escravo da necessidade de se fazer justiça. Aliás, injusto é, para ele, tudo aquilo que se contrapõe ao seu particular ideal de justiça.
Quando, porém, esse indivíduo se dá conta de suas limitações, corre ao encontro de um grupo com o qual possa partilhar seus magnânimos propósitos. É nesse momento que trai os seus princípios, adotando, então, dentro de uma hierarquia organizacional, normas de conduta que nada diferem das observadas em instituições convencionais, objeto permanente de sua ação devastadora. Esse ordenamento próprio possibilita-lhe a manutenção de sua qualidade de “libertador”, resguardado de quaisquer opiniões adversas à sua nobre causa, pois que conquistou o ápice de seu magnificente projeto, e, agora, na posição de “líder”, fala em nome da emancipação do povo oprimido. O “iluminado” passa então a ser o máximo representante das massas, contraditoriamente fortalecido e protegido pelo prestígio do seu clã.(Marcus Moreira Machado)
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