A mesma razão que se exerce na ciência se traduz também na política, no mercado e na história. A matriz é a mesma, quer dizer, prevalece o princípio da identidade. Noutras palavras, o pensamento de uma revolução (com destaque, aqui, à socialista de cunho marxista) integra a tradicional teoria identitária, mecanicista, causal. Assim, pode-se considerar o marxismo como herdeiro dos dogmas da Revolução Francesa, quais sejam, o iluminismo e sua fé no progresso, em comprometimento com a defesa dos atributos da razão. Entretanto, exatamente a partir do esforço humano na elaboração da solidariedade proletária (considerado de início o sofrimento que as diferenças sociais produzem, suscitando o desejo de uma vida melhor e mais justa, de 'igualdade, liberdade e fraternidade'), a resultante não é a sociedade justa, mas sim o seu oposto, isto é, uma comunidade popular.
Ora, a teoria marxista limitou-se ao plano abstrato descrevendo o proletariado em termos gerais e, desse modo, sucumbindo ao poder autoritário da história. Pois, o "autoritarismo" da história é o poder que ela tem de se repetir, de impor ao presente a repetição das formas terroristas que ela própria sempre conheceu. Porque, sem dúvida, o quê na história se repete é a violência, onde todos os vencidos são vítimas, e o vencedor é, de hábito, o vencedor do momento. Estar no poder, alcançar a condição de dominante é comandar a partir da prostração dos dominados. A história que se repete é a história de dimensão única, a do vencedor.(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
SÁBADO, 16 DE FEVEREIRO DE 2008: "TRADIÇÃO INCONFORMADA".
Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo tal como 'de fato foi'.Traduz-se muito mais em apropriação de uma reminiscência, da maneira como ela se destaca no momento de uma ameaça. É papel do materialismo histórico fixar uma imagem do passado -como ela se apresenta, no instante do perigo- ao sujeito histórico, sem que este tenha consciência disso.
O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. A ambos, o mesmo risco: entregar-se às classes dominantes, como seu instrumento.
Em cada época é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer dela apoderar-se. Pois as intervenções messiânicas não vêm somente como salvação, mas ainda como a vitoriosa na luta contra o Anticristo.
O dom de despertar no passado a centelha da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que igualmente os mortos não estarão em segurança se o mal triunfar. Ainda que esse inimigo tenha triunfado sucessivamente.(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
SEXTA-FEIRA, 15 DE FEVEREIRO DE 2008: "A FELICIDADE QUE ENVERGONHA".
Única felicidade a admissível pelo insubmisso: a que possa ser realizada. Esta 'realização' se dará, então, com a vitória ou na luta.
Nessa compreensão, a ninguém é dado o direito de ignorar a dor alheia. Porque não pode haver felicidade quando os demais sofrem.
Da contemplação do sofrimento, pensam alguns, advém uma certa sabedoria. No entanto, não existe 'saber' onde impõe-se a vergonha em ser feliz sozinho.
Por isso, nas palavras de solidariedade deve-se encontrar a razão da revolta necessária.
Afinal, a vergonha em ser feliz sozinho é uma atitude de amor aos homens, e gesto de luta em todas as dimensões. É ainda o eixo de uma recusa à eternidade bem-aventurada e distante da comunhão com toda a humanidade.(Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 14 DE FEVEREIRO DE 2008: "PRODUZINDO EDUCAÇÃO"
Com o atual aprimoramento dos métodos e técnicas de ensinar, muitos educadores, deslumbrados com sua eficácia no processo de apredizagem, renunciam à tarefa propriamente educativa, limitando-se então a 'transmitir' as informações e conhecimentos técnicos usuais, aceitos ou, de certa forma, 'impostos'.
Ao se transformarem em 'mediadores tecnológicos' das informações que lhes foram comunicadas e das técnicas que lhes serviram de condução, esses educadores correm o grave risco de em breve tempo se tornarem absolutamente dispensáveis. Mais que isso, serão vistos como inutilidade que pode ser substituída por 'máquinas de ensinar', ou por 'monitores' especializados na "arte" de distribuição de conhecimentos programados, formatados, já elaborados numa 'matriz tecnológica' do saber. Todavia, o educador não pode esquecer que o seu compromisso é com a formação daqueles que, por seu turno, irão formar as gerações posteriores. E nesse sentido, os educandos possuem uma indispensável necessidade, a do 'contato vivo' com um educador apto a 'produzir' o que em tempo algum máquina qualquer conseguiria fazer, pois no relacionamento humano há tarefas que nunca poderão ser 'programadas'. Somente o educador pode (e deve) concatenar todas as informações fragmentárias recebidas ou 'impostas' dentro de um contexto sócio-cultural mais amplo; e, por conseguinte, mostrar as relações, as mediações, o momento da história, as condições sociais e psicológicas que explicam o aparecimento do saber, tanto quanto os métodos científicos que tornaram possível sua descoberta, e as incidências que decorrerão, destinadas às futuras pesquisas e à prática social.(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
QUARTA-FEIRA, 13 DE FEVEREIRO DE 2008: "SUPERAÇÃO DA HUMANIDADE, NEGAÇÃO DO HOMEM".
A sensibilidade ensina: negar a inocência é negar o homem mesmo. Culpá-lo é compactuar com a injustiça.
A pretensão de superar a própria humanidade está sempre presente nos que julgam. Ao decretar a culpa de uma pessoa, toma-se a imagem de uma vil divindade que, castigando, se julga portadora da verdade. E a verdade, sendo o Absoluto, não é atributo humano.
No ato de julgar, o que se vê é um violento 'sim' ao mundo da injustiça e da morte. Trata-se de conduta de quem é contra o ser humano. Afinal, a revolta sensível leva à história, porém, não exclui o mundo. A negação do indivíduo revoltado é proferida no mundo dos homens. É consumada no binômio da inteligência e da ação. A sua lucidez e racionalidade contrapõem-se ao irracional da condição em que se mantém. À injustiça fundamental de que é vítima, esse indivíduo irá contrapor a atividade apaixonada de justiça e amor. Exigência da sensibilidade, será norma da inteligência e da ação, imprimindo o sentido de luta, que reflete o sentido da vida. Combaterá o que pode ser mudado, lutará por qualquer ideal de felicidade que, mesmo distante, assemelhando-se a utopia, possa fazer justiça ao homem. O retorno ao mundo da felicidade indicará a medida da autenticidade de todos os seres humanos.(Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA,12 DE FEVEREIRO DE 2008: "A NEGAÇÃO QUE AFIRMA".
O filosofar das certezas alcançadas pela razão é mesmo tradição histórica na filosofia. Constituindo o que Albert Camus chamou de "pensamento humilhado", são muitos os que têm por início do 'pensar' as evidências da razão. Ao invés do irracionalismo que tudo explica, um compromisso de sinceridade, a aceitação dos múltiplos da absurda tensão.
Sabe-se que clareza e realidade ordenada nunca serão alcançadas. Porém, questiona-se como viver neste embaraço, qual a possibilidade de se viver ciente de todas as negações que a todos são feitas.
Por conseguinte, o trabalho filosófico adquire um 'status' decisivo, uma natureza vital. Deixa de ser um devaneio próprio à ociosidade de algumas pessoas, a fim de se dignificar pelo que se lhe é destinado, a filosofia.
Viver, sabendo da temporalidade, a aproximação permanente do fim; viver, na obrigação de renunciar a todo absoluto e unidade; são tarefas que requerem uma condição. E a razão firmou, na ruptura, esse pressuposto -a condição da filosofia, porque premissa do homem consciente. É a negação que afirma.
A admissão de tais certezas é fruto do exercício da lucidez, pois, mesmo marcadas pela sensação de angústia, são a única fonte de luz com que se pode contar num mundo fora do controle humano.
Por isso, a filosofia há de ser vista como ampliação do ponto de partida.(Marcus Moreira Machado)
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