A maioria da clientela da escola pública pertence às classes populares, mas o currículo escolar é determinado pela classe dominante. Neste caso, a avaliação terá a função de verificar se este, o aluno, incorporou os novos conhecimentos, a cultura da classe dominante, qual sua posição em relação aos colegas da classe e em relação ao que foi ensinado.
O conceito de avaliação da aprendizagem, tradicionalmente tendo como alvo o julgamento e a classificação do aluno, resulta, em última instância, da competência ou incompetência da escola, não podendo, portanto, restringir-se a um de seus elementos de forma isolada.
Dependendo do resultado, o aluno é classificado como inferior, médio ou superior quanto ao seu desempenho, e este conceito pode ficar intrínseco à sua personalidade, impossibilitando aflorar o seu potencial.
Há fatores externos ao aprendiz interferentes no sistema de aferição do conhecimento: ‘quem faz’, ‘quando faz’ e ‘como faz’. É quando muitos preconceitos do professor em relação ao aluno, ao ensino e á própria concepção de homem vêm à tona.
O aluno bem comportado é preferido ao mal comportado.
A estética dos trabalhos, das provas, dos cadernos, do próprio aluno (em se tratando de cuidados pessoais) são analisados, e muitas vezes tem um peso maior que o teor.
Existem duas tendências quanto à análise do desempenho escolar. Alguns julgam insuficiente o desenvolvimento do discente sem levar em consideração suas condições sociais e econômicas, optando pela reprovação. Outros propõem a adaptação dos parâmetros dos conteúdos escolares ao ritmo da clientela e adoção de critérios que evitem a reprovação.
Em ambos os casos, os procedimentos mostram-se discriminatórios. Reprovar os alunos sem levar em conta suas diferenças culturais, é desprezar as desigualdades sociais, ignorando sua existência e atribuir a culpa pelo fracasso escolar, às diferenças individuais. Adequar o currículo escolar às condições individuais, é reduzir o saber quantitativa e qualitativamente; é considerar o aluno pobre um ser incapaz. Evitar a repetência dessa forma equivale a condená-lo pela sua incapacidade, à qual ficará subjugado, pois quando se defrontar com uma situação onde dele seja exigido o conhecimento negado, ele fracassará.
Canalizam-se, controlam-se e limitam-se as possibilidades do indivíduo, na ilusão de que isto está sendo feito em seu beneficio e em função de suas capacidades naturais, quando na verdade, se está limitando irremediavelmente o indivíduo à posição desfavorável na hierarquia social.
Na verdade, adaptar a educação às possibilidades circunstanciais do aluno é acomodá-lo às desigualdades sociais. É tirar-lhe o direito de luta pela melhoria de sua vida e de sua classe. É negar-lhe o direito ao saber.
Toda e qualquer instituição necessita de análise para determinar a sua atuação. Mas, o resultado do julgamento na instituição escolar deveria ser utilizado como subsídio à sua reestruturação, buscando o verdadeiro, o correto, o real. Caso contrário, serve apenas para distinguir, selecionar e classificar os aprendizes em ‘mais capazes’ e ‘menos capazes’, reforçando as desigualdades sociais, econômicas e culturais.
(Caos Markus)