Em frenesi, franzi o cenho, buscando a senha dos contatos imediatos do
terceiro grau na equação do primeiro. Porque aritmeticamente falando,
não é fácil a compreensão de enigma fundamentalista com trajetória
numérica em progressão geométrica muito além do duplo sentido.
Saibam os incautos que todos o somos.
Conheçam os sábios que o indubitável é sempre questionável,
segundo o livre convencimento adquirido através de provas refutáveis.
Afinal, ninguém pode afirmar um conceito sem antes ter uma tese.
O que faz de todo tratadista um festejado preconceituoso.
Por isso esse nó na garganta, essa eloquência sempre consentida,
mas jamais admitida se o grito é de alerta.
Aliás, não cabe mais qualquer ingenuidade no trato particular da coisa pública.
Porque é público e notório o alto teor de fumaça no fogo das paixões,
dessas que por si só arrasam sistemas econômicos inteiros,
levando consigo ímpios governantes ao calor abrasador da purgação.
Ora, dos pares sabe-se a contumaz troca de figurinhas!
E terminado o álbum de família, restam as imagens pálidas
em preto e branco extraídas no passado negativo de toda a presente história.
Vã esperança! Vão os homens esperançosos lutando
em vãos alcunhados lacunas, tão próprias às tréguas
meditadas na pré-inflexão do túnel do tempo.
Ide em paz nesta terra de gigantes,que a perfeição é uma meta
na concepção de Davi, na aversão de Golias.
Quem fica já foi num dia mais veloz, menos atroz.
Que a nossa piedade é um outro gigante desumano
fazendo-nos acreditar que de tudo podemos ser redimidos,
ainda que tenhamos cometido falta grave contra os mais
nobres sonhos ante os menores obstáculos.
No dia-a-dia, tudo é noite impedindo a clareza de certeza visionária.
Porque dos sentidos resta o tato adestrado do cego,
muito além dos ouvidos moucos, mesmo aquém dos loucos.
Varonis têm encantos femininos que não residem em genitália alguma
E os seus desejos, não raro, são relativamente
satisfeitos no regozijo do poder na polis.
E não por outro motivo, se mil vidas alguém tivesse, nelas todas
buscaria o prazer na dor, incapacitado à liberdade,
apto à clemência,submisso à indulgência.
Então, eis que, premeditada a dança, quem dança conforme a música
canta desafinado,no bizarro jogo de cintura
desproporcional ao real modelo do dominador.
Porque a minha, a sua, a nossa consciência, não admitem plural,
nesse tamanho sempre singular que cada um pode ter de si mesmo.
'Além fronteiras' é precisa ambição no desdém da pirataria mental.
(Marcus Moreira Machado)