Em toda a história da educação há muito se tem procurado atender ao ensino de alguns, mas pouco se fez pela educação de muitos. A igual oportunidade para todos, sem segregação de alunos em escolas à parte, só é possível se observada como regra a função democrática da escola. Havendo separação dos poucos favorecidos com uma educação especial, prejudicada fica a solidariedade do corpo social. Ao contrário, evitando-se a segregação, o processo educacional alcançará a socialização e a humanização dos futuros membros da sociedade, ao tempo em que todos estejam aprendendo juntos, podendo, também, aprender a viver juntos pela convivência direta na mesma instituição. Aliás, um sistema educacional de caráter verdadeiramente democrático é aquele que reconhece a educação como direto natural de todos, dando a cada indivíduo a oportunidade de progredir no sistema, limitado apenas pela sua habilidade e pela sua operosidade. A escola , enquanto instituição intelectual, não deve, jamais, distrair-se de sua função precípua nos seus esforços de suplementar outras instituições. Para tanto, necessita considerar três aspectos do pensamento: o material, o espiritual e o humano. Adestrar é uma coisa, educar é outra. Como educação entende-se a soma da experiência individual com a experiência social. Um país que faz uso apenas do conhecimento instrumental, em detrimento da formação, está, quando muito preparando mão-de-obra, sem, contudo, iniciar seu povo no exercício da cidadania. E como falar em civilização, levando-se em conta somente o adestramento? Já alguém afirmou que “toda educação é auto-educação” e que o estudante aprende por meio “das suas próprias atividades”. Se este princípio for posto em prática nas leituras, nas observações e nas reflexões sobre elas, o estudante terá a oportunidade de experimentar essa “auto-educação”, pois conhecimento é algo mais do que uma recepção passiva de informações minuciosas. A própria personalidade é forjada no desenvolvimento de atividades e idéias adquiridos com a auto-educação. O ser humano, vivendo em sociedade organizada, sob a responsabilidade do Estado, tem, pelo próprio progresso a que está destinado, o direito natural à educação formal na escola, uma vez que não é outra a compreensão de sociedade civilizada. E a escola, como instituição formal de educação, tem um importante papel a desempenhar no desenvolvimento social do aluno; nela o ideal a atingir é a busca do conhecimento, entendida como comunidade que deve ser, e privilegiando, sempre, o crescimento mental do estudante. O que é preciso, inegavelmente, é redefinir a palavra “intelectual”, apropriando-se do amplo sentido que tem, para que, finalmente, a escola assuma o seu papel de instituição intelectual. (Marcus Moreira Machado)