Homem vira lobisomem.
Vira-lata, o cachorro.
Vira bicho o grilo na cabeça que,
sem ela , a mula é mulher feia virando gente,
depois de serpente.
Arroz e feijão, tudo junto, é virado à paulista
-o quê virou o Nordeste no dinheiro da seca
virando cana do coronel, pelo voto
que virou mel do cala-boca no passa-moleque.
Porque o sertanejo, antes de tudo, vira moeda forte
no mercado do 'toma-lá' que 'vira, vira, vira...! vira, vira, vira...! vira, vira, vira... 'virou '
dá-cá' !!!
(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 13 de setembro de 2008
SEXTA-FEIRA, 12 DE SETEMBRO DE 2008: "LUGARES"
A viagem sempre é de volta. Porque é isso que a vida faz, seja lá que vida eu ou você possamos
pretender. Não se vai tanto quanto se vem. Dois tempos são aqueles que aprendemos. Mas, é
certo, feliz ou triste (sabe-se lá!), a partida é regresso, a ida é retorno. Breve a viagem com
destino prévio, embora ignorado do viajante. Eu volto, você volta, como se em verdade jamais
algum de nós quisesse ter partido alguma vez. Ainda que impacientes ante a dúvida eterna do
lugar onde estamos, aonde iremos não será espaço ou tempo permanente. Assim é: um é
residência, o outro, domicílio.
A vida é sempre viagem de volta.
(Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 11 DE SETEMBRO DE 2008:"DISSONÂNCIA".
Batem à porta ecos de tristeza finda. Temeroso, eu resisto: sou humano, ainda.
Insistem do pânico todos os tons, e eu arrisco da minha voz outros sons. Do clamor, a clave do
meu enigma: vai a dor, ela é sempre passageira; fica comigo o amor da vida inteira, a pulsar na
ubíqua presença amiga. Não é infortúnio isso que perpassa. Além da alma, aquém do espírito,
santo é o nome dissonante que, à farta taça, brindamos; pelo sim do certo esperanto.
(Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 10 DE SETEMBRO DE 2008: "CONFIDÊNCIAS".
O quê quer o homem confessar?
Mistério que ele mesmo suspeita mas não conhece;
sensações imprecisas; conhecimento vago dos seus desejos
-tudo o leva à ansiedade e inquietude...
Talvez o preço de sua invulnerabilidade.
Não se corre o risco
no esquecimento da obediência aos ritos.
No cumprimento nunca se espera outra coisa
senão o eco das próprias palavras.
Espera-se do outro jamais uma resposta,
e sim a mesma pergunta.
E tão severo se é
que não há a menor chance de um acontecimento;
tudo é somente fuga ao tempo.
O que seremos?
O que temos é fruto do trabalho;
é criação do pensamento;
obra, muitas vezes, de circunstâncias e oportunidades;
não, absolutamente, efeito do prazer.
No prazer, acabam-se as restrições;
o homem, para o seu bem, torna-se fraco;
e sua fraqueza infunde sonhos.
No sonho, o real significado do seu tamanho;
o valor mais exato da sua dimensão.(Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA, 9 DE SETEMBRO DE 2008: "PRAÇAS".
A praça é do povo como o povo é da polis que não deveria ter dono e ser sempre de ninguém
para que na ágora fôssemos todos uma só gente, avançando, além da civitas esbulhada pelos
donos que da praça ressuscitaram o circo: a arena romana, agora, como outrora em mãos pagãs
as de césares executivos do poder nomeado no título precário do voto da senha de números
memorizados nos brioches dos santos dos últimos dias. Nem Pompeía nem Herculano. A
odisséia, hoje, é do fulano batizado no sufrágio com o suplício de quem é beltrano. Ou quando
muito um cyrano De tal que, ciclano, no círculo, na mandala (limite!) da praça do povo, é o zé
Então, à Drummond... e agora, povinho!?A festa acabou. O quê sobrou do luxo, do fausto do
anfitrião fulano é o lixo de quem, miseravelmente, é tema de tese do graduado em mote no moto
perpétuo do ato oficial contínuo de medidas provisórias; e por decreto, a lei. E por lei o decreto
dos donos da praça do povo.(Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2008:"CIRCUS".
Sorriso branco, mãos e almas brancas. A bandeira é dessa cor -tom de trégua.
Se a paz não fosse incolor, seria arco-íris, porque -tão magnífica- ia querer ser tudo de uma vez.
O céu monocromático é forte azul guachado e tênue aquarela; é pesado, gravíssimo, inchado de
chuva; é mira de maníaco telescópico- se salpicado de vagalumes orbitais. O verde é
rosamarelado; é seca falta d'água que morreu na areia quente; pedregoso e viscoso na beira do
riacho; é marciano dos lunáticos; verde bandeiroso. Habita a galática mansidãoo super-homem-
aranha, elástico, borrachudo; homem-morcego e homem batráquio; náutico e aéreo, dois fôlegos,
sete vidas, invulnerável e analfabeto; selvagem, homem-macaco e cipó-acrobata de coragem
circense, imagem de herói; gatuno, rei das coberturas, temido marginal...!
(Marcus Moreira Machado)
DOMINGO, 7 DE SETEMBRO DE 2008: "CONFORMAÇÃO".
Circunspecto, da ortografia analiso o aspecto do circunflexo: por que morfo não o teme, no seu
inverso, não ter será limitar-se ao contorno, vazio o conteúdo?O que de fato forma um feitio sem
o molde? Tão-somente mera configuração !? Não vociferar: exclamar não será brado e
clamor. Clamar por envolvimento para fora -ex/plicar:eis o indispensável quando se quer da
essência os limites que a circunscrevem ,ainda que a forma não seja circunferência. Saber,
todavia, do círculo o seu real tamanho,
na forma que lhe dá forma, na forja que o aprisiona nas fronteiras
de raios somados ao alcance do diâmetro. Afinal -planificado- cada um de nós pode (deve?)
suspeitar do pouco, da pequenez; e pretender (almejar) feição
que seja efeito e não a causa -forma,
que venha da forma que oculta um circunflexo.
(Marcus Moreira Machado)
SÁBADO, 6 DE SETEMBRO DE 2008:"REVERÊNCIAS".
Se a torre é de Babel,que primeiro ouçam o nosso brado.Porque amigos são os que respiram do
mesmo ar.Se o Pai está no céu, não sou filho bastardo de Deus!Então, vocês outros acautelem-se:
respirem fundo...!Contem mais de mil, ainda que aqui sejamos muito menos.Afinal, maioria
quantificada apenas, é o que somos!Assim tem sido: um só povo, uma só voz...Que do povo a voz
é de Deus.Será !? Se Deus é trindade ...Reverenciem a deusa da sua predileção.'Mídia' "vos
espera" !O futuro chegou com vocês famosos, por 15 minutos, todos os dias.Vocês são as velas
desta pós-moderna divindade:luzes que se somam a novíssimas carpideiras.Ó! não chorem por
mim que rio dos que iluminam a sua própria sepultura, imaginando coisa alheia ...Sodoma e
Gomorra, infernais, ainda mais próximasdo primeiro círculo do céu,o quão também com Dante
estamos, uns e outros,sem Beatriz alguma.Mas convictos de que tudo,tudo vai dar certo; mesmo
diante de tantas dúvidasa remeterem-nos ao Paraíso mais imediato,na forja desta crença
ambígua de que 'somos o que podemos'.Podemos !!?
(Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 5 DE SETEMBRO DE 2008: "A VIDA CONJUGADA"
Houve tempo em que, menino, eu nem imaginava que azia ainda seria tormenta no meu
continente digestivo.
Acento, ortografia, gramática -ausentes da minha pueril geografia-, nada afrontava meu resoluto
ideal de crescer, prosseguir.
A idéia era essa: o tempo passar.
Porque tem dia todos os dias; então, natural tudo ir mudando, quisessem ou não as crases, as
reticências; e até mesmo as reminiscências.
E foi isso o que de fato aconteceu.
De grave, só a voz da adolescente indo embora, com a adulta chegando.
A era (anos pareciam eternidade!) ficara para trás; em seu lugar, todos os lugares tão
velozmente visitados, a cada meio-tempo.
E o inteiro engano sobre a certeza futura.
Passado o presente a limpo, ainda creio que na Ásia, ou na América, europeu ou africano, viver
pode ser redundância. Ou relutância do hesitante. Ou hesitação de arrogante. Ou, quem sabe,
temporal indigesto, amenizado a bicarbonato,na queimação de terceiro grau que sempre dá ao
perseguir a luz eterna do santo graal.
Porque, sem dúvida, são ácidos os homens que tornaram a vida "aziática".(Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2008: "ENCONTRO DE DESPEDIDA".
Para você que em mim existe
Eu digo saudoso mas não triste
Que encanta minha vida sua presença
Que a distância não é minha sentença
Com o amor eu vou ao seu encontro
Onde e quando o meu desejo invente
Sou muito feliz, com certeza pronto
Encantado como aos olhos de serpente
Porque não é tempo nem espaço
O que de fato marca esse laçoÉ tudo num dia atrás chegado
E logo o adeus ao bem amado
(Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 3 DE SETEMBRO: "ETERNO"
TERÇA-FEIRA, 2 DE SETEMBRO DE 2008:"FRATER"
Procuro em ti parte esquecida de mim:a que se ocultou em eras passadas.Vaga recordação tráz relato de estranho fato- não conheço ao certo qual traço, perfil em meu retrato.Eu busco na humana idade as tantas que já tive;outras que me escapam ao império dos sentidosTu estás em cada parte minha,em abraço frenético de quem na dúvida encontraimensa realidade, inda não revelada.Mas, redescoberta, da alma vigorosa reflexos enxergo.Eu quero estar em lugares da minha ancestral imagem,encontrando caminho ao momento único,resgatando nos sonhos a divindade dos sonhos.Em ti, ó fraternidade ...! os laços próximos.Meu espírito não me pertence mais do que o teu a mim.Somos frações, fragmentos de uma vida inteira,onde anseiam as partes definitivo encontro;promessa de alvorecer que o infinito encerra.Em mim o quê -adormecido- vem de ti.Então, tu não és mais o quê eu já também não sou.Agora, somos nós: de onde viemos e aonde iremos.(Marcus Moreira Machado)
SEGUNDAFEIRA, 1 DE SETEMBRO DE 2008:"CRÍTICA DA ILUSÃO".
Todo pensamento em conflito com o triunfalismo vigente tem função crítica. A sociedade dominada pela racionalidade da ciência e da técnica, isto é, pela IDEOLOGIA DO PROGRESSO, é arquivamento do passado, perda da memória, procedimento necessário para que o presente em "falso movimento" -movimento de 'mercadorias' e não da 'ação humana'- seja tomado como história enquanto tal. Mundo petrificado, este,no qual as mercadorias "se reconhecem a si mesmas em um mundo em que elas próprias criaram".O INDIVÍDUO AUTÔNOMO, consciente de seus fins, ESTÁ EM EXTINÇÃO, em desaparecimento. E é ele que deve ser recuperado.A idéia de progresso e de história universal constitui a ilusão de que existe uma humanidade idêntica a si mesma e que caminha de maneira unitária e harmônica. Todavia, não se pode esquecer: HÁ O PROGRESSO E, TAMBÉM, AS VÍTIMAS DO PROGRESSO !(Marcus Moreira Machado)
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