A palavra 'povo' designa, antes, os que são governados, em oposição aos detentores do poder.
Em seguida, é 'povo' os que se opõem aos ricos, aos opulentos, aos possuidores de renda, de capitais. Nesse sentido, o povo é a massa dos pobres contrária aos ricos.
Não sendo o povo uno e um, contudo constituído de elementos heterogêneos e de interesses conflitantes, o exclusivo fator da sua coesão será a "oposição a".
Consequência imediata, o que constitui o povo é a 'hostilidade'.
Por isso, a história das revoluções é sempre a história de um inimigo que jamais será extirpado, porque frequentemente renasce.
Grosso modo, é hoje, tanto quanto em qualquer período da história da "civilização", o 'terror' que faz o povo existir. Ainda que esse terror seja sublimado, mesmo que vigilância e punição se façam presentes mais psicologicamente do que fisicamente.
O 'terror' é prática política. Através dela é que o 'povo' se define.
Assim, diante de eventos indesejáveis à manipulação, deverão os mal denominados "inimigos internos", os "traidores", ser aniquilados. Tudo em nome da preservação da 'identidade revolucionária'.
Aquele que tem uma outra opinião não somente é expulso, mas é alvo das mais severas sanções morais.
O conceito de moral reclama autonomia. Todavia, exatamente aqueles que mais têm a palavra 'moral' na boca, são os que não toleram a autonomia.
Neste contexto, falta atualmente um 'sujeito histórico', enquanto agente transformador da sociedade e da consciência. Essa ausência é efeito da "integração" do proletariado na sociedade da "administração total"; entre nós brasileiros também conhecida como 'orçamento participativo', 'governo dos excluídos', etc., etc.
Trata-se de um modelo de sociedade unidimensional, sem oposição, sem contradição; fruto da sociedade pós-industrial.
Deste contexto, o mais grave desdobramento: sociedades sem oposição, sob o império da MORAL DO SILÊNCIO, desprovidas de sujeito ou indivíduo, fazem com que as esperanças essencialmente revolucionárias sejam preteridas até... até que surja um novo líder/agente revolucionário.
Sob essa moral, a do silêncio, o 'povo' sobrevive de alimentar os mitos revolucionários. Só, nada mais que isto.
Marcus Moreira Machado
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 29 de setembro de 2007
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
LEI E SOMBRA
HISTÓRIA E PODER
O 'autoritarismo' da história é o poder que ela possui de impor ao presente a repetição das formas terroristas que ela própria sempre conheceu.
O que é repetitivo na história é mesmo a violência.
Todos os vencidos são vítimas. O vencedor é, invariavelmente, o vencedor do momento.
Estar no poder, chegar à condição de dominante, é comandar a partir das vítimas prostradas, inertes.
A história que se repete é a história unidimensional do vencedor. É a reedição das catástrofes do passado, na concepção do presente como prosseguimento do pretérito.
Por exemplo, O DIREITO É A LEGITIMAÇÃO DO PODER A PARTIR DA VIOLÊNCIA ESTABELECIDA NA CONTINUIDADE DA HISTÓRIA.
Já se disse, nesse sentido, que a institucionalização do direito é também a do poder, ou seja, um ato de imediata manifestação da violência.
O nome que o vencedor dá ao silêncio dos vencidos é 'a paz criada pelo direito', pretendendo, então, torná-la definitiva.
Assim é que procede o totalitarismo: na unicidade 'povo, sociedade e Estado', o indivíduo é absorvido, numa fusão ideologicamente produzida.
Marcus Moreira Machado
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
MITO E RAZÃO
O impulso para a dominação nasce do medo da perda do próprio "Eu". Temor que se desnuda em qualquer situação em que o sujeito se vê ameaçado ante o desconhecido.
É nessa perspectiva que 'mito' e 'ciência' (ou 'razão') possuem gênese comum. Pois, ambos querem controlar as forças desconhecidas da natureza; desejam equilibrar a multiplicidade incontrolada do 'sensível'.
O mito, no caso, tem o seu peculiar procedimento: é o "sacerdote" da "tribo" que mimetiza gestos de cólera ou de pacificação frente às potências naturais.
Quando da existência única dos mitos, havia um 'diálogo' comunicativo entre a natureza e os homens, que se permitiam estar assustados por forças ignoradas.
A ciência, todavia, transformou toda a natureza em um formidável juízo de valores analíticos, compelindo-a à adoção da linguagem do número. Formalizou a 'potência' natural, limitando-a ao terreno da matemática.
Essa ciência, a do "iluminismo", pretendendo desmistificar a natureza, retirar-lhe o encantamento, isolá-la do "feitiço"; o fez pelo recurso da razão que, a um só tempo, explica e domina os fenômenos naturais.
Por tal processo, a ciência "iluminista" alcançou o resultado de um contra-golpe: a vitória da desventura.
Ora, o mito desejava captar a origem, cabendo ao 'rito' o controle da manifestação dessa origem.
Abolido o mito e a magia, em seu lugar instalou-se a 'racionalidade', sempre de caráter ambíguo, porque "iluminadora" mas "controladora".
À imitação (mito) se sobrepôs o 'princípio da identidade': 'somente o que é idêntico na natureza deve ser conhecido'.
Daí o sujeito dotado de "luz natural", iluminado e iluminista, a dominar intelectualmente o mundo.
A razão no Ocidente caracteriza-se, por efeito, como 'razão de dominação'; de absoluto controle da natureza não só exterior, mas também a interior. É marcada ainda pela 'renúncia' e 'devoção'.
O paradoxo se resolve, contudo, quando se confirma que o objeto da renúncia continua a ser desejado. E, afinal, isso determinará o regresso do reprimido na civilização.
A racionalidade que afastou o sujeito do objeto, que separou corpo e alma, que segregou o "Eu" e o mundo, que distanciou a natureza da cultura... acaba por transformar paixões, emoções, sentidos, imaginação e memória em adversários do pensamento.
Cabe então ao sujeito, já sem os seus aspectos empíricos e individuais, ser o mestre e conhecedor da natureza. A fim de compreendê-la, e não mais para -a partir do seu controle- querer dominar o seu semelhante.
Marcus Moreira Machado
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
ESSENCIAL
(...)
E o amor não mais murmura;
há muito, não é insinuação.
Ele já precisa clamar,
exclamar, alto e bom som,
a sua própria virtude.
Sabe o amor da sua natureza,
a qualidade, a distinção.
É ele quem diz "eu te amo":
a certeza de uma declaração.
Porque o amor é
a mim mesmo essencial,
o quanto é em ti,
o tanto é em nós.
E da humanidade toda,
é a própria substância.
Quando ele se ausenta,
em seu lugar,
surge todo o mal
que faz morada no vazio.
Marcus Moreira Machado
terça-feira, 25 de setembro de 2007
ETERNIZADO
Se deixarmos o consciente falar, nada mais ele dirá, certamente, senão a repetição do ligeiro e fugaz de tempo ido.
Lembranças, apenas, que não são parte alguma de nossas vidas.Porque, nem bom nem mau, tudo o que separou cada um de nós de si mesmo (muito além de distanciar-nos um do outro), nada disso será de fato (re) conhecimento do tempo vivido.
Eu busco, então, uma outra dimensão a justificar esta realidade: longe também do inconsciente; afastada das concepções em nível mais interiorizado ou mais à superfície.
Na procura, encontro algo que, por demais simples, faz oportuna pronta rendição: 'O quê foi que não fizemos?'.
Afinal, muito do que qualquer um de nós já tenha feito, percebe-se, ocupou lugar de rupturas, o espaço do inacabado, respostas nunca pretendidas a perguntas sequer ousadas.
Na remota hipótese de existir, agora, tristeza pertencente só ao futuro, resta-me por certo que tempo não há, que tempo não houve, nisso jamais contado em dias, anos.
Assim, é minha a certeza: se foi amor (vago pretérito) o meu sentimento, é amor o que eu sinto.
Nada a fazer com isto que é.
Nenhum beijo dado a pedir um abraço querido.
A imensidão, somente, do eternizado. A que não indaga "quanto tempo", mas que afirma: 'todo o tempo!'.
Marcus Moreira Machado
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
O DESEJO DA VIDA
Ó, vida, que de tão bela
pede sempre mais,
da alegria a devorar!
De cada um de nós,
a ter como sua
a própria alma,
ergue-se em único
e grandioso espírito
-além do meu, além do teu.
Não é tristeza isto que perpassa:
não veio dela, que é bela.
Dela é, sim, toda a beleza
que por isso leva-nos, sem conteúdo,
a imaginar infortúnio presente.
E se de todos, tudo ela quer,
o que se acreditava fosse nosso,
não é mais...
Porque da vida que é bela
sempre foi a minha, a tua,
a nossa felicidade.
Esta, então, a razão de se viver:
eu me olhar em ti.
Pois, a vida, toda ela,
é vida bela!
Marcus Moreira Machado
domingo, 23 de setembro de 2007
SEGUNDA-FEIRA, 24 DE SETEMBRO DE 2007: 'PERMUTA DO REENCONTRO'.
Em ti eu procuro parte esquecida de mim
-aquela perdida em eras passadas.
Tênue reminiscência traz relato de estranho fato:
não conheço ao certo qual o traço, perfil no meu retrato.
Na humana idade eu persigo todas que já tive
-outras, tantas, escapam ao império dos sentidos.
Em cada ínfima fração, é onde estás, por todo o meu corpo.
No abraço frenético de quem encontra na dúvida
imensa realidade ainda não revelada,
percebo reflexos de alma vigorosa, redescoberta.
Em lugares da minha ancestral imagem,eu quero estar:
encontrando caminho ao momento único,
resgatando nos sonhos a divindade da criação.
Em ti eu busco -ó, fraternidade!- os laços
da eternidade, na permuta sempre presente.
Não me pertence o meu espírito
mais que o teu a mim próprio.
Somos juntos o mosaico de única vida:
separados, ansiamos definitivo reencontro,
na promessa do alvorecer que o infinito encerra.
Em mim, parte esquecida de ti;
não és mais o que eu mesmo já fui.
Porque somos: de onde viemos e aonde iremos...!
Marcus Moreira Machado
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