Contemporaneamente, muito em voga nos círculos intelectuais supostamente politizados, a expressão "cidadania" tem sido como que uma mais recente bandeira de luta, a conferir "status" de 'conscientizado' a todos quantos por ela se debatem. Essa visão ainda um tanto apaixonada dos heróis modernos, resquício, certamente, de outros tantos momentos de um vago "movimento revolucionário", sobejamente forjado na aquisição de valores estranhos à nossa cultura, mas propícios à propaganda de um universalismo político entendido por "inevitável", pauta pela participação direta das massa populares na construção de um eventual modelo de sociedade mais condizente com os seus anseios.
Ora, aqui, como em qualquer lugar do mundo, o ser humano rende-se ao fascínio próprio às novidades, sempre de impacto, no entanto bastante fugazes. A possibilidade de ser um co-partícipe do poder, organizando passeatas ou protestando por reforma agrária, tributaria ou por melhores salários, é uma "ilusão" que faz tão bem ao ego quanto ser a testemunha ocular de uma formidável colisão de veículos em via pública. Afinal, quem não quer poder sair por aí dizendo que a sua existência tem um grande significado, mesmo que essa valoração esteja nos limites do tacanho!
É algo como: "não fotografou, dançou!". Assim, como que a esconder as mais particulares frustrações, o registro da presença individual seria uma maneira de aliviar tensões de outra grandeza, não afeitas necessariamente ao campo político ou à área social; algo, enfim, mais ao gosto da psicologia.
As campanhas, pois, finalizando o nosso resgate para uma terra prometida aqui e agora, "redescobrindo" os cidadãos que somos, encerram, via de regra, muito mais que a "cidadania" em si. Senão, vejamos a origem, o nascimento desses, títulos: nos primeiros dias do mês de outubro de 1774, Beaumarchais, o autor de "O casamento de Fígaro", tendo um processo com um conselheiro, pleiteou em pessoa sua causa ante o Parlamento, apelando pela primeira vez para a opinião pública; e disse ele - "Sou um cidadão, isto é, nem economista, nem abade, nem cortesão, nem favorito, nem nada que se possa chamar "poder"… Sou um cidadão, isto é, alguma coisa de novo, alguma coisa de desconhecido, de inaudito, em França. Sou um cidadão, isto é, o que os senhores deviam ser desde há duzentos anos atrás e hão de ser dentro de vinte, talvez…"
A defesa de Beaumarchais obteve grande êxito. E, a partir desse momento, o título de cidadão foi adotado por todos aqueles que se consideraram espíritos liberais.
Verifica-se, destarte, que cidadania não é representação do "poder", como pretendem agora os postulantes de uma nova e incerta ordem. Exige-se hoje um comprometimento avesso ao significado imediato daquele vocábulo. E, posto dessa forma, como algo novo, ou melhor, como uma novidade, impõe aos incautos uma regra de conduta fundamentada mais no engajamento que na liberalidade.
No mínimo quer-se exclusividade na liderança, com a frágil hipótese da anuência dos liderados, reconhecida na ínfima parcela de poder que esses últimos supõem exercer. No entanto, convém lembrar que outros heróis, de mais ampla magnitude, também privilegiaram o contraditório como estratégia de poder. Assim, o mais célebre herói chinês, Fohi, uma criatura semi-mitológica, ao mesmo tempo em que teria sido o primeiro legislador da sociedade humana, pioneiro também na composição de um calendário e na fundação de um governo com empregados públicos na administração do país e direção do povo, ensinara o tráfico de homens.
Doutrinas alternam-se no tempo e no espaço; o que já foi símbolo da garantia das liberdades individuais, hoje é execrado como marca do retrocesso; o positivismo revolucionário de ontem, um ideal de boa medida para os teóricos da República no Brasil, homens que ocupariam posições de relevo na administração pública do país, após ter encontrado em Spencer um ampliador e em Littré o seu reformador, sucumbiu, limitado a pequeno grupo de estudioso, perdendo a força dinâmica da proposta inicial, quando, então, propugnava pelo aniquilamento da Teologia e destruição da Metafísica, enfatizando a filosofia aplicada aos fenômenos naturais.
Também hoje, o festejo "socialismo real" do início do século, é soterrado sob as pás do Muro de Berlin, ou deriva à bordo de improvisadas naus arquitetadas sobre câmara de ar, procurando, desesperadamente, uma nova rota, dessa vez para o destino menos incerto do capitalismo.
O Liberalismo de outrora é modernamente alcunhado "neoliberalismo", e, assim, interpretado como severa ameaça ao cidadão e aos seus direitos fundamentais. Porém, "liberal" já foi expressão daquele que, tendo idéias avançadas em Sociologia, era favorável à liberdade política e civil. Visto agora apenas sob a ótica da Economia, passou a traduzir-se em não confirmada versão da exploração dos pobres pelos ricos.
Preferível, pela inerente sensatez, considerar, então, a universalidade daquele que, tendo sido consagrado como dramaturgo, o parisiense Beaumarchais, construiu de fato para com o progresso de toda a humanidade, enxergando-a além das fronteiras do poder político ou religioso, para devolver a cada um aquilo que cada um deve procurar em si mesmo - a sua liberdade. (Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sexta-feira, 3 de julho de 2009
TERÇA-FEIRA, 14 DE JULHO DE 2009:"PRESA"
Situada na origem da literatura grega. a epopéia homérica da "Odisséia", inspirada no labor e nos perigos, possui momentos de rara exaltação do ser humano e da dignidade que imagina-se o seu maior atributo. E é na recepção de Ulisses pelos Féaces que essa característica fica registrada, quando Alcino, interrompendo o aedo, ao perceber que Ullisses derramava de suas pálpebras comoventes lágrimas, adverte: ... 'todo homem, nobre ou miserável, possui, desde nascença, um nome, que os pais lhe deram ao vir ao inundo. Dize, pois, qual a tua terra, o teu povo, a tua cidade, para que nossas naus dotadas de inteligência lá te reconduzam.'
Decorridos séculos na história da civilização não apenas Ulisses é um mito, mas também a humanidade parece ser exclusivamente legendária, tendo perdido, ao longo do tempo, o seu real sentido. Hoje, dizimados por milhares de guerra sucessivas, o 'homem' é simultaneamente vítima e algoz da sua própria cupidez.
A 'guerra', um fenômeno político social, como ensina J. B. Magalhães. 'foi outrora fator essencial para impulsionar os progressos da civilização... A partir, porém, do momento em que os progressos da civilização deram à humanidade consciência de que constituía um todo fundamentalmente homogêneo... a guerra deixou de ser fator estimulante da evolução'. Dessa maneira, se a moral na época de Homero esteve reduzida à admiração pela bravura guerreira por um lado, por outro também foi alicerçada na fidelidade à amizade, na reprovação da malidicência, da traição, da covardia e da arrogância.
No entanto, o que dizer da moral contemporânea? O que comentar sobre uma civilização que, a despeito de suas realizações científico-industriais, tem eleito como básico elemento da -sua suposta prosperidade a guerra, e dela, como alvo, o 'homem'?!
Os orientais, notadamente os chineses, acreditam no ser humano vocacionados para a Paz, atribuindo à supremacia dos seres divinos o destino da humanidade, recomendando, então. os ensinamentos dos seus sábios a resignação como norma de conduta. Essa 'filosofia' um tanto peculiar magistralmente foi ilustrada por Pearl Sydentricker Buck, a primeira mulher no continente americano a ser agraciada com um Nobel, o de Literatura. Em seu romance "A Estirpe do Dragão, narração da história da família de Ling Tan, um humilde lavrador chinês que vê sua terra ser assolada pela guerra, e sem entender a atrocidade, serenamente aceita o acontecimento, Pearl Buck diz, através do personagem: "Os deuses fizeram-nos, os seres humanos, de carne macia que pode ser ferida facilmente, porque eles nos destinaram, para o bem e não para o mal. Se eles fossem capazes de ver o que os homens fariam uns contra os outros, ter-nos-iam dado cascos, corno os das tartarugas, nos quais pudéssemos esconder as nossas cabeças e todas as outras partes macias do corpo."
A sabedoria oriental é antes de tudo uma advertência à estupidez que sistematicamente tem desfigurado a raça humana. Insensatos, preferimos privilegiar a ancestralidade beligerante dos primórdios da civilização humana, decaindo sempre, ao invés de procurarmos apressar o destino a todos nós reservado pela Criação - a comunidade supranacional apartidária, unida no congraçamento de diferenças étnicas, econômicas e culturais.
O sideral espaço por nós já encontrado, por mais grandioso, ainda é exíguo, se comparado à uma outra imensidão em quase nada explorada: a nossa alma. A viagem para o interior da grande morada espiritual vem sendo há muito adiada, pois nenhum ser extraterreno imaginável poderá assemelhar-se à estranha criatura residente no âmago de nós mesmos, o que certamente pressentimos e queremos evitar. Mas, inevitável, aproxima-se o momento da decisão, quando, para não sucumbirmos, necessariamente escolheremos a paz como exclusiva condição da nossa sobrevivência.
"Esperança" tem sido compreendida como um exagerado otimismo de pessoas desprovidas de senso da realidade. E, definitivamente não é isso! Na esperança existe um ponto e um prazo marcado, um lugar e um tempo determinado. Sensatez. então, será aguardarmos o triunfo da única soberania - o governo da equanimidade, a primazia do altruismo e o império da benevolência.
Mas, haverá êxito nesse projeto se existir disposição em construí-lo, ânimo em vê-lo além do mero esboço, vontade em percebê-lo além da nossa humana fragilidade, como um desígnio divinal, traçado por mãos mais habilidosas, num intento superior aos planos débeis dos estratagemas que tão somente tem assegurado a cada um de nós a própria perplexidade diante do que se nos afigura inaudito.
A religião, assim, consagrará o 'homem' como templo do 'homem', em perfeita sincronia com o Deus que quer habitar a sua criação. fecundando toda uma raça que, agora renitente, não é dona de nada a não ser da saga inspirada na presunção da maioridade.
Esperança, deveras, é a ambição de todos quantos crêem na possibilidade como promessa a ser cumprida, porque lúcida, porque consciente, porque sincera. (Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 13 DE JULHO DE 2009:"CRIAÇÃO DA CRIATURA"
A nossa história terminou.
Zoologicamente, nós constituímos uma família - a primeira na ordem dos primatas, e também a primeira na classe dos mamíferos. Mas a nossa família divide-se em grupos, onde a observação encontra diferenças maiores para isolarem as variedades, para dar origem ao que se chama espécies.
Desde que se admita o princípio da transformação evolutiva, a expressão “espécie” designa apenas um momento de individualização relativa mais pronunciada, e não um tipo absoluto imutavelmente constante; e, assim é permitido reconhecer entre os homens diferenças tão graves como as que dividem outras espécies.
As divergências irredutíveis dos mais característicos tipos de homens possibilitam a existência de um homem intermediário, sem fala e sem pensamento.
Quando os homens se dispersaram eram apenas um esboço que, posteriormente, desenvolveu-se em espécies dissemelhantes. Se assim não tivesse sido, seria impossível encontrar nos diversos homens diferença tão profundas a admitirem a sua divisão em espécies.
A irredutibilidade dos vários tipos linguísticos é um argumento capital em favor da dispersão precedente à conformação definitiva das diversas espécies humanas.
Desde que a palavra “espécie” perdeu, com o transformismo, o valor metafísico que possuía; desde que por outro lado o transformismo deu ao homem uma ascendência natural, surgiu a questão de determinar o número exato das espécies humanas atuais.
Formados os primitivos tipos humanos dotados de fala, cada um deles se dividirá em variedades, denominadas “raças históricas”, para cuja formação concorrem, além da ação do clima, (afora os cruzamentos), as próprias instituições e os acasos e condições da existência de cada qual. Cada uma destas raças subdivide-se, por sua vez, em agrupamentos chamados de “povos”, e a que frequentemente corresponde uma organização politicamente autônoma, dando origem às nacionalidades.
Já vivendo o homem em sociedade, a ação das condições do meio ambiente e a dos agentes artificialmente criados pela vida nova que o homem criou para si, não muito mais fortes do que outras quaisquer. Outros caracteres, no caso, subalternizam-se. Não são, portanto caracteres anatômicos que distiguem raças históricas, mas, verdadeiramente, essa classificação ocorre em função dos caracteres morais, das línguas, dos mitos religiosos, dos símbolos jurídicos, das criações poéticas, das tradições nacionais. São nas condições mesológicas, isto é, nas relações entre os seres e o seu meio ambiente, como também nas condições sociais que deve-se buscar as causas dos fenômenos históricos.
Inquestionavelmente, a maior ou menor capacidade intelectual das raças é consequência do grau de sua civilização. Pois, a partir do momento em que se considerem formadas as primeiras raças humanas, a vida posterior da humanidade é norteada pelos motivos sociais que predominam sobre os naturais. São as línguas que assumem, então, o papel de índice característico dessa primeira divisão da humanidade; na sua constituição, vemos a transição da esfera natural para a racional.
Nas nações cultas, a indústria corrige as imposições do meio, e a filosofia modifica a natureza espontânea das manifestações morais. Há uma razão e uma consciência eminente que se traduzem em atos livres, com os quais se alteram os elementos naturais; e a sociedade, com a sua economia, com o seu direito, é um mecanismo animado por uma vontade coletiva mais ou menos consciente. Consideradas todas as formulações feitas até o momento, é de se perguntar: o povo brasileiro já detém uma linguagem própria a permitir-lhe as criações racionais? O povo brasileiro possui o princípio ativo e eminente da existência das sociedades ocultas? Ou, ainda está a situar-se em fase intermediária, na ressonância das vozes do aquém?
Responder a estas indagações seria determinar se o povo brasileiro já fez o longo percurso - em sucessivas manifestações - do movimento até a fala, e desta ao pensamento articulado.(Marcus Moreira Machado)
DOMINGO, 12 DE JULHO DE 2009:"VISÃO PAR DO PARAÍSO"
Reunidos em superior conselho, homens ditos de boa vontade deliberaram a redenção da singularidade racial do seu povo pela rendição dos não poucos bárbaros que antes, mas muito antes mesmo, decidiram o extermínio lento e gradual dos seus conterrâneos. Firmes em seus propósitos, a decisão, irrevogável, apontara as causas intrínsecas, as extrínsecas, as análogas e as metafóricas, e, obviamente (sempre obviamente) as soluções urgentes, a curto prazo, inadiáveis e irreversíveis (além de irretratáveis). Extinguiriam-se departamentos ociosos e instituiriam-se divisões fundamentais à consecução de diretrizes elaboradas na meta prioritária do desenvolvimento sócio-econômico, com a eficaz retração do consumo e a efetiva majoração nos ajustes fiscais nos patamares compatíveis com o progresso auto-sustentável e desvinculado de reformas drásticas e típicas da heterodoxia.
Dúvidas não pairaram nas privilegiadas mentes acadêmicas dos profetas aquinhoados com a superioridade intelectual atípica nacional. Cônscios, eles compreendiam mais que todos o papel missionário que o destino, a sorte e os desígnios históricos lhes reservaram. Tratava-se mesmo da mais pura identificação dos dotes naturais e circunstanciais mais próprios aos impróprios, isto é, nada é como nada foi, e como nada será além do que essencialmente encerra toda a possibilidade de ser e, por isso, tão somente por isso, sempre deveria ter sido, e se não foi é porque o caos tomava assento no trono da fecundidade, aniquilando, quase, as probabilidades.
Se o lema maior era o consagrado à veracidade do adágio popular "não conte com o ovo antes da galinha" eis que certamente a extensiva e ostensiva criação dos galináceos garantiria, enfim, a suculenta gemada de que precisava a moribunda nação eleita sobre a terra; eis que um dia alquem assumiu definitivamente a sua porção divina e derradeiramente proclamou: "Ainda que tardia, ay que endurecer-se mas sin perder a independência das minorias étnicas que constituem as massas populares de todos os trabalhadores de todo o mundo, unidos, porque quem sabe faz a hora ou a morte".
Comida vitaminada e proteica do fast-food no anglicismo que fez do cheese-bacon-salada o melhor pão com mortadela da rede nacional de botecos pelo país afora, eis o que faltava ao povo imberbe, eis do que carecia a prosopopéia pátria, eivada de talento no mais inimitável estilo da Lavoisier: nada se cria, nada se perde; o lixo é reciclável em comida que a gente não quer só, a gente também quer diversão, a gente "queremos" mais culturas, bienais nos museus vivos do Ipiranga, do Rebouças e da Praça da Sé. E por que não? Afinal, diploma nunca vestiu a camisa de todo o mundo: e já que uns poucos (não mais que dois por cento) da população planetária possuem além dos 132 de Q.I., o caso e o jeito é a imensa, a esmagadora maioria preexistir na contingência dos profetas conselheiros que - se lá estão - é porque ultrapassaram a barreira dos sons guturais da nossa subespécie.
Quem mais de sã consciência se atravessaria a falar mais alto em tradução bilíngüe contra os poliglotas da incilização que triunfara no caos?! Obviamente (sempre obviamente). Zoroastro esteve sempre muito convicto da certeza insofismável, incontestavelmente e inelutável (?): depois da tempestade vem a inundação; e que então, aqui e agora mutirões de frentes de trabalho reordenariam os mandamentos e as normas, os preceitos e os conceitos, os cânones e os ícones, reorganizando a idiossincrasia nacional, em golpe fatal, duro e presto, na reaproximação das hordas delirantes e dispersas, confinadas todas nos limites do território inexpugnável dos meridianos, restritas à clausura das reservas limitadas pelos trópicos.
Os anciãos rejuvenesceram, diplomados no saber universal dos mestrados existencialistas, educados na mais alta corte dos mais renomados mecenas. Ainda havia gente de bem; os que enxergavam pelo estímulo da terceira visão ainda podiam vislumbrar os ensinamentos superiores da antiga profecia, requintando-a, transformando-a, em adaptação ou mutação imprescindíveis ao serviço público. E por isso, obviamente (sempre obviamente) a vaca sagrada era outra vez banida, por profana, por ultrapassada, por. . .
Por que foi mesmo que se reuniu o superior conselho? Para acertos na economia doméstica dos seus pares? Para estipular o salário-base do mercado informal da mão-de-obra? Por que, Zara?! Por que é que o caos é mesmo necessário? Purgação?! Sobrevivência das espécies?! Mas, não foi, obviamente ( é sempre necessário um obviamente), Charles Darwin quem discursou daquela maneira quase mesquinha?
Com tantas dúvidas, só mesmo quem não tem mais nenhuma, e possui o dom inalienável de alienar duplamente a sua própria consciência, conclamando fênix a renascer das cinzas de um país de um país caótico!! (Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 30 de junho de 2009
SÁBADO, 11 DE JULHO DE 2009: "AGULHA MAGNÉTICA"
Ao som de um bolero vienense , valsavam todos um maxixe na corte do rei na barriga. No frenesi, ninguém suspeitava que a seca já não era mais nordestina, castigando agora toda a democracia racial irmanada o projeto de redenção do ser desumano. E chovia tanto lá fora, mas chovia tanto, a ponto de não perceberem, que os tempos eram outros, não mais os bons tempos da felicidade geral da nação; se dançavam conforme a música, bailavam sem melodia, pois a orquestra cochilava, exausta e repetir economicamente as mesma seleções.
Eis que a voz do Brasil emudece. Geleia geral. Afinal, por que silenciara o brado? E o bardo porque não trovava as canções à formosura feminina das tropas entrincheiradas no golfo da baía da Guanabara? Estácio de Sá e São Sebastião bem que serviram de exemplo aos incautos sobre o pouco ou nenhum valor das flechas de cupido. Somente um motim explicaria aquelas naus à deriva, sem socorro algum, perdidas no triângulo de vértice apontado para baía dos porcos latinos!
Desesperadamente, ao alerta estrondoso acorreu a multidão para o abrigo anti-eleição evitando ser torpedeada pelos napalms de gases paralisantes. Os sobreviventes lembrando Orwell, revolucionaram em perfeita coalizão com um admirável mundo novo, todo cheio de expectativas, prometedor e cumpridor dos básicos direitos dos sem-ticket-refeição. Era a aurora de um novo mundo, e o crepúsculo dos machos da egologia gabeira de tantos clamores do deserto. Vaticinavam o plausível, proclamando crime de guerra a idolatria e a comunhão universal de bens. Ótimo, acreditavam. Excelente, imaginavam.
Então com explicar o surto de febre verde-amarela contagiando de progresso a desordem na plantação de bananas da república? Obra de acaso? Não, definitivamente não. Não se permitiam interpretações doutrinárias, ainda que alicerçadas em decisões jurisprudênciais; o retrocesso seria expurgado a todo custo, exilado aos confins da reduzida mata atlântica, sem direito a verde, sem passagem na ponte aérea dos zepelins. A própria lei da gravidade, bem como a sua irmã siamesa, a da oferta e procura, foram abolidas, para coibir os que levitavam na demanda. Aquela enfermidade, certamente, aparentava ser um resquício da ditaduras, ou melhor, de todas as ditadura adormecidas no extinto vulcão da cordilheira do planalto do centro-oeste, leste-sul do Trópico por onde morreram na praia tantos projetos faraônicos.
Ao longe alguém - não se sabe quem - cantarolava despreocupadamente uma nova cantiga de ninar, inspirada, talvez, nos cânticos gregorianos, dos mais modernos papas da mídia eletrônica. Anunciava-se a vinda celestial das ondas sonoras captadas nas antenas de retransmissão dos mais íntimos impulsos passionais, avizinhava-se a salvação pelo sagrado direito que todo homem livre tem que permanecer calado para não aborrecer o seu próximo; direito à defesa, até prova em contrário, seria norma constitucional sempre sujeita à revisão dos salários parlamentares.
Dito e feito. Nunca mais os trocadilhos seriam a máxima expressão da realidade nacional. Canudos fora advertência na guerra peruanos do fim do mundo; Euclides e Vargas assinavam a paz sobre a controvérsia a respeito de Glauber: Deus ou o diabo na terra do sol? Ou um outro; o que não poderia persistir era a dualidade, o dúbio, a flexibilização da agulha magnética desviada do norte para o leste europeu. Daquele momento em diante, Bizâncio e Constantinopla seriam, como de fato muito antes pretenderam ser, uma sé cidade, de cristões e cretenses, de minotauros e dinossauros, apenas jurassicamente falando. Aliás, falando não; escrevendo em braile, porque até cego enxerga um palmo adiante do nariz do pinóquio.
E por falar em boneco, Gepeto, convidado a presidir a instalação fabril de todas as unidades táticas e móveis da barbie, optou, finalmente, pela industrialização da seca, muito mais rentável no mercado de futuros. A notícia fez tremer as bolsas e os valores éticos dos discípulos de Newton. E a mesma maçã do Guilherme Tell foi a que ressuscitou toda uma nova geração em gestação, unida ao passado por ascendentes fidalgos da marquesa do Sapucaí. Tudo sob o olhar crítico dos jurados da televisão em preto e branco contrabandeada do éden fiscal, aquele mesmo à 90 graus de Greenwich, abençoado por Deus e bonito por natureza artificial, porém convincente.
Ora bolas! Quem de sã consciência daria crédito aos inconvenientes sindicalistas, justamente agora que todo mundo percebia salário-máximo e teto salarial em turno de revezamento onde os trabalhadores tinham direito adquirido sobre o torno, a foice e o martelo?! Já não passava de conversa fiada a quase sem voz de comando da companheirada a bordo de um possante G II plus, Light, todos light, brightness!!
Depois não vá dizer que se arrependeu. O tempo passa, o tempo passa, e a poupança também, como tudo além do horizonte perdido vira um dia Xangrilá, e pra lá de Bagdá, com ou sem lâmpada e tapete voador de Aladin. Vira, vira, vira! Vira, vira, vira! Vira, vira… vira/lata não é só cachorro de terceiro mundo, não. Porque noutras dimensões, nos mundos paralelos, muita gente quer ser como a gente; assim meio brega, meio chic, cheio de amor pra dar, um poço sem fundo de esperança uma coisa danada de boa.
Eu vou cantar pra vocês como é que se dança na corda bamba uma ginga de olundum-afoxé; eu vou contar pra vocês esse meu sonho, esse sonho meu de ainda cruzar os mares num bondinho redentor, atravessando a fronteira da imaginação, porque essa é a única que eu, você, todos nós, podemos sempre atravessar sem medo de ser feliz - assim mesmo, no infinitivo, no singular, pois que nada mas ímpar existe além dessa estranha matemática. Ainda bem.
(Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 10 DE JULHO DE 2009:"NADA"
Entre o "nirvana" e o "niilismo", à primeira vista, parece haver diferença fundamental. Contudo, um e outro, em determinados estágios de uma pessoa humana, adquirem conteúdos semelhantes, dada condição que esta última tem de procurar no "vazio" uma resposta para lenir as suas agruras. Pois, da língua clássica indiana - o sânscrito, denominando a beatitude budista operada pela absorção da individualidade extinta no espírito superior período do Universo, e do latim como raiz da doutrina política que postula pela destruição completa das instituições sociais como base para o progresso humano, nirvana e niilismo têm caracterizado o oblívio com que significante parcela (senão mesmo a maioria) de sujeitos se identifica.
O "desligamento", a desvinculação, formas de uma pretensa e vaga “neutralidade”, são mais que isso, são artifícios comumente utilizados para couraçar, evitando-se ouvir a razão e preterindo-se a sensibilidade. Arma poderosa, a "psicologia de massas", trata de condicionar as multidões para o alheamento, fazendo-as crer numa superioridade conquistada apenas do esoterismo alienante e do absenteísmo pusilânime. Liderança políticas e religiosas têm compreendido como imbatível estratégia na conquista e manutenção do poder a disseminação de "filosofias" exóticas a assegurarem um inconformismo desprovido de circunspecção, mais inclinado à volubilidade.
Anular a capacidade de reação, substituindo-a pela sujeição à modelos presunçosamente libertários, modernamente é mais que mera concepção, é antes de tudo instrumento de "condução". Assim é que os excluídos da "felicidade" devem procurar na "auto-ajuda" uma receita para aplacar a angústia, invariavelmente através do método anódinos, de curto alcance. A propaganda, atingindo níveis de superação crescente, cuida de regular a demanda dos necessitados, pela invasão sutil da privacidade, instituindo "linguagens" e "normas" a cada instante, padronizando a individualidade pela sua mais completa neutralização.
A liberdade, assim, não é mais direito, e sim "dever" de "conquista". A deturpação dos conceitos genuínos acarreta, então, o torpor característico do arroubamento do espírito e do desatino mental. Forjado na expugnação da própria alma, o intelecto nada mais engendra, produto que se torna da dissimulação.
O encantamento ou a negação como procedimentos humanos remonta, é certo, aos primórdios da civilização, não obstante existissem exceções sempre prontas a discernir o "ser" essencial. É dessa forma que, pelo testemunho de Platão, na "discussão das Penas" indaga Sócrates aos atenienses: "Que sentença corporal ou pecuniária mereço eu que entendi de não levar uma vida quieta?…não me dediquei àquilo, a que se me dedicasse, haveria de ser completamente inútil para vós e para mim? Eu que me entreguei à procura de cada um de vós em particular… tentando persuadir cada um de vós a cuidar menos do que é seu que de si próprio para vir a ser quanto melhor e mais sensato, menos dos interesses do povo que do próprio povo…?"
A filosofia grega, aliás, demonstra sincera preocupação com a vida como criação, construção, opondo-se à destruição. Assim, os platônicos, chamando ao Demiurgo "o Grande Arquiteto do Universo", atribuindo-lhe a criação do homem Deus, encontram no vocábulo grego "architekton" uma singularíssima orientação, uma vez que "arche" significa "substância primordial" e "tekton" quer dizer "construtor". Sendo a "substância primordial" e "tekton" quer dizer "construtor". Sendo a "substância primordial" algo de misterioso e transcendental, cientificamente equivalente ao átomo primitivo do ensaio cosmogônico de Lamaitre - a origem dinâmica de tudo o que existe, "arquiteto" é "almo" por excelência, é "criador", o construtor da substância primordial". A "Idéia" concretizava-se, então, no plano mental, partindo "do campo sutil das ignotas regiões do pensamento abstrato". A ordenação, a utilização, a manipulação da "substância primordial" é a concretização da "Idéia".
O "vazio" e o "nada" não tem lugar na concepção do "ser". Afinal, quer seja pelo Substancialismo Ontológico - fundamentando e explicando a realidade cósmica, servindo de substância permanente e imutável às modificações fenomênicas da natureza -, quer seja pelo Fonomenismo - expressando, contrariamente o incessante devir desse mesmo universo natural-, o "ser" é compreendido como um princípio metafísico. E, se por metafísica devemos entender "o inventário sistemático dos conhecimentos provenientes da razão pura", a "teoria das idéias", abster-se do raciocínio, ou raciocinar pela destruição, é também negar-se enquanto "ser".
Não existirá, sobre maneira, nenhuma concepção de liberdade embasada no pretenso atributo do "não ser" e do "não estar". Não admite-se "neutralidade", quando "liberdade" é comprometimento com a natureza universal, é pertencer, é o engajamento com a vida, pela resolução dos seus problemas moraes e sociais.
A Tragédia do intelectual que não sabe agir, concebida por Shakespeare, em Hamlet, pode dar conta da dualidade no pensamento, porém deve servir como advertência à definição imediato e simplista do "ser essencial". O próprio expoente da literatura e da dramaturgia inglesas - cumpre notar - foi ele mesmo a soma dos seus milhares de personagens, não podendo ser analisado ideologicamente; filosofia e crenças, múltiplas, não encerram nenhuma definição isoladamente, eis porque a identificação se opera individualmente.
Assim como em Shakespeare, "ser" ou não "ser" é pura reflexão, jamais determinação.
(Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 9 DE JULHO DE 2009:"VIRADA"
Não sou apenas um rapaz latino-americano e desespero não é mais moda
em 2009.
Chega de pavão misterioso.
O Brasil não é uma galinha morta que se venda a qualquer preço de
banana tropical.
O capital internacional não dá direito a fazer do país fundo de quintal.
Ninguém quis república alguma, porque nem sabiam o que era aquilo;
e, mesmo assim, “os soldados impunham à vítima um viva à República,
que era poucas vezes satisfeito.
Agarravam-na pelos cabelos, dobrando-lhe a cabeça,
esgargalando-lhe o pescoço;
e francamente exposta a garganta, degolavam-na...
O processo era, então, mais expedito:
varavam-na, prestes, a facão...",
como relata Euclides da Cunha, em “Os Sertões”.
E só por isso foi que o mar que virou sertão.
Pode?
Pôde.
(Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 8 DE JULHO DE 2009:"NA FLAUTA"
O Brasil não precisa de presidente, precisa de um flautista, e de um flautista mágico. Não mentiram quando disseram “um elefante incomoda muita gente...”, mas incomodam muito mais os ratos que põem inerte uma manada de paquidermes. E como temos ratos! Se fossem camundongos adestrados em condicionamento de Pavlov o país ainda estaria sob controle, não importaria a apatia dos proboscídeos estarrecidos. Motivo de grande preocupação, entretanto, e, antes, a profusão de ratoneiros a confirmar o provérbio “a montanha deu à luz um rato”, em sucessão de promessas pomposas com ridículos resultados. Então, precisamos mesmo de um flautista e não de um presidente; não a flauta do “ ‘seu’ Bartôlo tinha uma flauta, a flauta era do ‘seu’ Bartôlo...”, porque dessa já tivemos e até cansamos de cantar “toca a flauta, ‘seu’ Bartôlo”, em desafinada melodia, ainda mais sabendo “que isso em mim provoca imensa dor”. Chega de samba de uma nota só; a garota de Ipanema nem vai mais à praia, nem quer o escurinho do cinema. Trevas nunca mais! Acendam a luz, vamos ouvir a sinfonia de pardais no trinado dos bem-te-vis da praça é nossa como o céu é do avião, gorjeando e caetaneando em puro guarany de Carlos Gomes no A B C de Castro Alves. Aflautemos o hino pátrio na mais pura tradição da mocidade independente de vigários gerais. Afinal, para que “spalla” em coro de atabaques?! Hein, pobres moços? Ah, se soubessem o que eu sei...! Mas, as rosas não falam, e eu cá fico quieto, incapaz que sou de tirar coelho de cartola. Que fale Gregório: “Há coisa como ver um Paiaiá/Mui prezado de ser Caramuru/Descendente do sangue de tatu/cujo torpe idioma é Cobepa?”.
Um tocador de pífaro, em meio ao repentismo congressista, ia bem melhor que um blue. Ou Cleópatra também não ninou ao som de um “aulete”? Pois, não é este um, país da fatalidade? Merece uma fábula, portanto. A raiz grega é a mesma, e dela o “fatum” latino a indicar “brilho”. (a rainha egípcia teve um romano césar a seus pés, eis porque eu acredito em fadas e duendes e lulas).
Hammer ainda virá. Mil uma noites já se passaram; estivemos náufragos como Crusoé, quando um, outro césar buscava em Swift inspiração para as suas viagens em férias ao fantástico primeiro mundo de Júlio Verne; e vieram os vis roedores juntar-se aos nativos. O rato roeu a roupa do rei de Roma; a aranha arranha o jarro, o jarro arranha a aranha. Puro exercício de linguagem. Hammer virá e Andersen será primeiro-ministro a contar histórias para os meninos de rua, ensinando que criança nenhuma nasceu para morar em esgoto, que para lá é que o som do mágico músico levará a podridão planaltina. Que Pasárgada, que nada! Quem me ensinou a nadar foi os peixinhos do mar; Robson que fique e curta a sua ilha-fidel, tocando “charuto bichado” de músico amador... (Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA, 7 DE JULHO DE 2009:"ALADOS"
Eis os limites `a que nos reduziram: externamente, a pressão do neocolonialismo; aqui dentro a evidência do coronelismo por mandato, confundindo lei com ordem-de-serviço.
A aritmética de um e de outro é ficção, é surreal, é ilusionista , Steven Spielberg, Salvador Dali, David Coperfield. Valor nominal e valor real são tratados como uma coisa só, o mesmo número; comemora-se a queda vertiginosa da inflação para percentuais mínimos enquanto a miséria grassa em geométrica. Os indicadores econômicos orientam contribuintes na desorientada bússola da reivindicação social; e o movimento sindical senta no rabo porque não aprendeu a fazer outras contas senão as do patrão .
O país tropical, que tanto se orgulha de não ter terremoto nem morro de ventos uivantes , faz vista grossa ao “abalo sísmico” com “C” de cebola, provoca fendas e grotas na sua sociedade “extratificada” com “X” de “maucon-néx” róliudiano. O que fisiologicamente obriga a nação a ser ‘rép’; falando e escrevendo sem vírgulas , ansiosa por chegar lá , aonde a classe operária vai ao paraíso . Temos visconte - biscoito e chocolate; temos felino - gato siamês, xifópago, sete vidas e um destino; de cinema não temos o novo , ainda que por aqui Deus e o diabo esteja na terra do sol; do italiano temos uma certa inclinação mafiosa para desejar ter nascido na Calábria e comer o espaguete alheio; do francês nem Godard, apenas a vaga lembrança de um 14 bis sobrevoando Paris pelas mãos de um refinado Dumont.
Você já foi à Bahia ? Então não vá .Barra por barra, farol por farol , Rio de Janeiro continua lindo ( Alô, alô, aquele abraço ! Alô, alô, eu me desfaço ! ), tem Teresa da praia que não pode ser minha nem sua também. ( E a garota de Ipanema, mora hoje em Vigário Geral, Lava roupa todo dia, que agonia ? ) .
São Paulo, meu irmão de fé, meu amigo, meu camarada lenitivo ( nada , mas nada mesmo a ver com Lenin), não é mais da garoa, é submersa nas torrentes das paixões políticas que vão para o esgoto entupido da plebe rude. Não fume quando vier para cá. Nem pise na grama do Pacaembu, nem se esqueça, jamais, de fazer aquilo a que já está habituado desde o primeiro plano sazonal da temporada de caça aos famintos: aperte os cintos e sinta “uma-lufada’ de ar oxigenando os seus pulmões ecológicos como a rosa de Nagasáki, sempre que descer na liberdade. Liberdaade, liberdaade... abre as asas sobre nós...nas chuvas, nas tempestades, nas inundações...!! (Marcus Moreira Machado)
domingo, 28 de junho de 2009
SEGUNDA-FEIRA, 6 DE JULHO DE 2009:"TRÓPICOS"
Cá neste rincão rococó, cá nestas plagas barrocas, encontrei noutro dia, em feliz e curiosa coincidência, todos juntos numa mesma praça, um pregador religioso, um sindicalista e um marreteiro.
Bradava o pregador a falência da vida temporal, conclamando os passantes a vicissitude da abundância no reino dos céus; bramia o sindicalista a falência do capitalismo, iniciando os transeuntes à fartura na próxima, nova e igualitária sociedade; proclamava o marreteiro a falência da velha e esfolada faca de cozinha, anunciando à multidão as inigualáveis vantagens de um revolucionário picador de legumes.
No mesmo exaltado tom, rivalizavam os três oradores-profetas de uma nova era, cada um deles querendo ocupar sempre mais espaço entre os fiéis, os proletários e os consumidores. E o povaréu ouvindo:
- “...à César o que é de César... vade retro satanás!!!”
- “... abaixo a burguesia... morte aos gringos imperialistas!!!”
- “... nada de faca, dona Xica... pica, pica, pica tudo... até língua de sogra!!!”
Não é que alguém não entendeu nada, misturou os discursos, e murmurou:
- “... compro a danada da maquininha, pico os tais gringos e me livro do demônio... E vou pro céu...!”
Um outro gajo, enfiado na multidão, acrescentou:
- “... desse jeito, a classe operária vai ao paraíso! “Em seguida, duvidou:
- “... mas isso não é nome de filme?! Fellini, Bergman, Goddard, coisa parecida?! Vai ver é chanchada da Atlântida, da Vera Cruz, ou um filme pornô...”
Insistentes, os suplicantes rogavam atenção de todos, e exibiam a bazófia, tudo em meio ao alarido típico das turbas suburbanas. E clamavam... Clamavam em nome de Deus, em nome da liberdade, em nome da facilidade.
Quão úteis todos eles, eu pensei. Como é bom viver plena democracia, concordei. Que felicidade tropicana, exclamei. Tenho assim assegurado o meu inalienável direito de ir e vir, ainda que seja da terra para o céu (ou seria o contrário?); não mais serei um escravo da miséria, pois que já é chegada a hora da minha tão sonhada emancipação econômica, na final derrocada da opulência alheia; que bom poder ser consumidor em potencial de bugigangas utilitárias!
Nem Fellini, nem Bergman, nem Goddard... eu quero é Mazzaropi! Sou anarquista italiano tropical, e salada é meu favorito hino nacional. Progredi sempre na desordem, sob a luz néon das estrelas do Cruzeiro do Sul; estive no sertão de Canudos, lutando ao lado do monarquista Conselheiro, e sobrevivi; fui o último cangaceiro a procurar, de lampião na mão, um homem honesto no sol do agreste; proclamei a República Juliana no outubro bolchevique, perseguido e foragido com Anita e Garibaldi.
Eu quero ir pro céu! Eu quero ser socialista! Eu quero comprar!!!
Acima de tudo, eu quero ter o imenso prazer de ser um outro artista a discursar intermináveis blás-blás blás nos ouvidos moucos de tantos quantos crêem. E Tomé nem precisa ver, porque nem santo precisa ser; pode ser (é preferível ser) apenas de Sousa, primeiro e último governador-geral do meu Brasil particular. Assim, eu vou ser um Caramuru-sancho-pança, colonizando as formidáveis metrópoles de urbanizadas favelas, espraiadas no Atlântico, guarnecidas nas serras do Tordesilhas.
Eu também serei missionário: vou picar inhame e aipim, picar cana cubana na goela dos loucos de todos os gêneros.
Eu ainda fundarei um sindicato e clamarei justiça social e máquina de lavar roupa para todos!
Comprarei um canal de televisão, e venderei o paraíso em trinta e seis suaves prestações, sem intervalos comerciais para não prejudicar a quimera dos meus parabólicos e incondicionáveis fãs.
Vou virar salada tropical!(Marcus Moreira Machado)
DOMINGO, 5 DE JULHO DE 2009:"EXCEDENTE"
Para melhor compreensão desse que, notável feito, alcança hoje função mais ampla, não mais restrito a mero indicador de valores, tendo adquirido mesmo qualidade de mercadorias, de um valor comercial internacionalmente reconhecido e, por isso mesmo, sujeito também às mudanças cambiais e as variações nas leis da oferta e procura; contribuindo com o esclarecimento sobre o originário atributo desse que atualmente já não é mais um simples meio auxiliar no intercâmbio comercial - o dinheiro; cumpre observar Aristóteles, resumindo para a sua época a idéia a respeito de moeda: "Tudo que é trocado deve ser comparável. O dinheiro serve a tal finalidade, tendo se tornado verdadeiro mediador. O dinheiro avalia e compara se e como um objeto é superior a outro valor".
Da mesma maneira pela adoção da Escolástica - uma filosofia fundamentada em Aristóteles -, a Igreja Católica entende que do dinheiro não pode surgir a criação de uma utilidade, combatendo duramente tanto a usura quanto o comércio, no que reabilitou o trabalho não mais como mercadoria e sim como dignidade. Como que a refletir preocupação com as conseqüências de um desequilíbrio, a instituição parece concordar com a descrição de Lísias, fabricante de armas e advogado, por volta de 100 e a.C., em Atenas, expressando-se sobre os grande comerciantes de então: "Apenas pelo nascimento são habitantes de nosso Estado. Segundo sua concepção, todo país que lhes confere vantagens é a sua pátria, por que consideram pátria não o lugar onde nasceram, mas onde conseguem aumentar as suas posses".
Já contrariamente a Aristótoles, defensor da propriedade privada e para quem o "valor" é uma "relação", não havendo valor intrínseco, sendo este então a utilidade atribuída individualmente a uma determinada coisa, originando-se da necessidade do comprador, outro sábio, Platão, condena com veemência a individualidade sob esse aspecto, pregando a excelência da propriedade coletiva; afigura-se, por esse prisma, aos modernos socialistas, devendo ser considerado precursor de tal doutrina, quando combate, ainda, o próprio comércio.
Na defesa do primeiro acode a sua seguidora, a Igreja Católica, entendendo a propriedade privada como a base da sociedade, um estado de civilização e de progresso mais avançado do que a coletiva. E, para tanto argumenta: em virtude do trabalho do homem surge a propriedade, naturalmente privada, como o seu resultado mais imediato. No entanto, recomenda não dever essa ser usada contra o interesse público, primando o social sobre o privado.
Curiosamente, no ano de 486 a.C., os plebeus, que tinham em Mercúrio o deus do comércio, liderados em Roma por Spurios Cassio, um representante bastante popular, promoveram a Lei Agrária, tudo no intuito de assegurarem para si o domínio sobre a terra pública, como espetacular fonte do comércio. Mas, a sua lei jamais entrou em vigor, considerando a condenação e morte de Cássio pela realeza, sentindo-se visada.
Não obstante, pouco depois, em data de 440 a.C., sob o pretexto das injustiças para como o povo, fez-se uma segunda tentativa para a fundação de uma tirania popular, frustrada também, com o assassinio do seu líder e promotor, Spurius Melius, por sinal um rico plebeu. As lutas entre os plebeus e os patrícios pela posse da terra não terminaria aí.
Mais adiante, já em 376 a.C., um dos dez tribunos do povo, Licinio, iniciou uma prolongada luta lançando determinadas propostas de lei - as Rogações Licinias - no objetivo de estabelecer um limite a quantidade de terra pública atribuída a cada cidadão, forma escolhida para favorecer uma distribuição mais ampla e eqüitativa.
É de se notar que com o aparecimento do dinheiro e o seu desdobramento mais próximo - a propriedade privada - o homem esteve motivado a produzir sempre mais do que o estritamento necessário para seu próprio consumo, substituindo, trocando a sobra, o excedente por poder e garantia de poder no futuro. Que tal situação modificasse constantemente as suas relações, consagrando ou privilégios, ou desvantagens com o surgimento de classe sociais, isso seria inevitável, ainda que instituições de grande poder, como é o caso da Igreja, proclamassem a necessidade de disciplina para evitar desarmonia entre ricos e pobres.
Assim, a expressão "proletário", contemporaneamente utilizada para designação totalmente diversa da sua verdadeira origem, significou no passado, por volta de 264 a.C., em Roma, quando conhecida por "proletarii", a divisão de eleitores perfeitamente qualificados como cidadãos, e cuja propriedade individual fosse inferior a 10.000 "asses" de cobre.
Agora, em fins do século XX da era cristã, decorridas muitas etapas do desenvolvimento econômico da civilização humana, obviamente não há que se admitir qualquer ingenuidade imaginável no trato do dinheiro como mercadoria que é, independente da sua função primordial, quando então não passava de veículo intermediário das necessidades de sobrevivência do homem na terra.
Avaliar hoje todo e qualquer projeto norteado exclusivamente nos aspectos econômicos, pela propriedade privada ou coletiva, desprezando-se a destinação social do dinheiro e não considerando outras culturais necessidades do ser humano, será flagrante desatenção aos erros do passado e descaso para com efetivas exigências da vida moderna, voltada para o homem em sua integridade, e não reduzida exclusivamente às frágeis garantias de felicidade pela estabilização financeira de um país. (Marcus Moreira Machado)
SÁBADO, 4 DE JULHO DE 2009:"MÁSCARAS"
Se você não faz acontecer acontece com você. Então, cresça e apareça; não fique choramingando pelo poder miúdo e consagrando a máxima de que " a vingança do anão é pisar na sombra do gigante ". Mesmo que você não saiba, faça a hora e não espere lhe acontecer; o resto você aprende no caminho. Não seja Sancho Pança e nem Dom Quixote, procure ser o próprio Cervantes. Mas... Cautela! Não vá fazer como Narciso e condenar-se ao amor impossível, desprezando a todos, e descobrir muito mais tarde que a linda imagem era a sua própria, desfazendo-se em círculos quando você tentasse acariciá-la nas plácidas águas do lago.
Não haverá jamais soldados dispostos a lutarem ao seu lado se a causa não for justa. Pois, invente uma justa causa, qualquer uma, porque não vai fazer diferença a diferença de ideologia; o que importa é convencer o batalhão de que a nobreza dos ideais a ele pertence. Todo mundo quer muito mais ser nobre do que idealista, ainda que por nobreza se entenda o apoio emprestado ao líder. É mais ou menos assim: ser ascensorista no Othon Palace Hotel é ser peão cinco estrelas, e o resto não interessa e nem tem pressa.
Por isso tudo e mais um pouco, repita mil vezes o seu nome, como se fosse propaganda da Coca Cola ou da Bom Bril. Crie a sua marca, o seu logotipo. Diga sempre "nós", com a prudência de usá-la no plural majestático; o "nós" iremos construir isso e mais aquilo... o " nós " dividiremos tanto para tantos... Mas sempre esse " nós " que na verdade significa você e só você mesmo, dando a impressão de que você está com todo mundo, porém tendo a certeza de que todo mundo é que estará com você.
Complicado? Nem um pouco. Só requer disposição, garra, vontade de vencer, ou melhor, muita vontade de derrotar sem que ninguém se dê conta disso. É necessário apenas não 'ter medo de ser feliz', mesmo que isso custe a infelicidade alheia. Aliás, 'mesmo' não é a expressão mais correta nesse caso; seja feliz 'por isso mesmo', pela infelicidade dos outros, mas não a sua.
Não é difícil entender como proceder. Mais ou menos como pastor que para expulsar o demônio tem antes que evocá-lo (e pouco interessa se lúcifer exista ou não, importante é que alguém seja 'tomado' por ele para que possa, então, ser expulso, glorificando o 'exorcista'), você também deverá fazer com que outros e mais outros a- creditem em seus particulares poderes. Uma vez dependentes de você, uma legião de fanáticos o seguirão, todos bastantes felizes por isso. Entretanto, evoque, também um demónio qualquer e coloque-o na cabeça (ou na falta de cabeça, seria mais apropriado) dos tementes. Não venha com historinhas pacifistas, que essas duram pouco. Pinte um quadro de horror, de holocausto, de miséria e aniquilação. Todos preferem ser salvos porque sabem que são vocacionados para a maldade e não para o bem. Assim, 'salve-os' antes que alguém queira convencer-lhe de que você é que está em perigo; se isso ocorrer... bláu, bláu, nunca mais; você acaba tornando-se um discípulo.
E não é isso o que você quer, não é mesmo? Você não quer ter sucesso na vida, triunfar? admita que é impossível a vitória sem o correspondente fracasso, motivo pelo qual alguém terá que ser o perdedor; então, que esse não seja você e sim o outro que você jurará defender pela convicção que possui na justiça, na fraternidade, etc., etc.
Acredite em você mesmo. Quer dizer, acredite na sua imensurável capacidade de mentir e achar que é esse mesmo o melhor procedimento que pode ter um homem honrado e promissor. Nunca caia na tentação de resignar-se com as usas próprias necessidades financeiras; resigne-se com a miséria ao seu redor, porque você não pode salvar o mundo dos outros, embora viva prometendo que o fará, mas não só pode como deve fazer de tudo para salvar o seu mundo, aquele que às duras penas de terceiros, conquistou para si.
E, aceite um bom conselho, se algum engraçadinho quiser se meter no seu caminho e dizer que vai lhe desmascarar, tire você mesmo a máscara que está usando e troque-a por uma outra. Com certeza essa sua atitude vai conseguir desmascarar muito antes aquele que - ingênuo - pretendeu o absurdo de ser o seu adversário. No fim de tudo, também ele perceberá o quão útil é ficar do seu lado, como seu braço direito.
Essa receita do sucesso, para falar a verdade, eu ainda não testei. Estou fazendo isso agora, com você. Pelo jeito deu certo, pois ingênuo, acreditando em fórmulas mágicas de como viver no paraíso, você prestou atenção tim-tim por tim-tim nesse amontoado de baboseira; afinal, você foi 'educado' e condicionado a crer em qualquer um, menos em você próprio. Não é assim?
Se não for dessa maneira, prove-me o contrário, demonstre que você é forte e que vai me desmascarar. Contudo, todo cuidado é pouco. Observe antes se eu já não troquei de máscara, senão eu é que tiro a sua, e você logo logo acaba sendo meu discípulo, ovacionando-me pelo discurso que eu não fiz e que jamais irei fazer, mas que você acha lindo e faz questão danada de aplaudir.
Vem, vem comigo! (Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 3 DE JULHO DE 2009:"CADÊNCIA"
Não faz muito tempo, quase que êxtase, ao som magnífico das belíssimas canções Andrew Lloyd Webber, eu exclamava ao meu irmão, músico por sinal: não há outra genialidade comparável à dos músicos...esse poder de contágio, essa gratuidade no convencimento...a linguagem que rompe os limites dos discursos a da retórica política da simples sobrevivência para alçar vôo à infinitude da existência.
É disso que o mundo precisa, eu disse. A vida em plenitude é toda a essência revelada em poesia;aliás Drummond confessara ter procurado nos versos o rítmo que não conseguira na música, por falta de vocação, talvez. E o que é o verso senão cadência , harmonia, em ruptura à inércia do sentimento não experimentado ? Stravinsky compõe, de certa forma, versos em sua exótica melodia “A Sagração da Primavera”, quando, em harmonia constrangedora e com ritmos violentos, retrata pela música meio dissonante um sacrifício humano para celebrar a renovação da Terra. Nele moços e moças dançam, jovens como a primavera, para no fim um deles morrer. Igor Stravinsky tem esse dom, a ambigüidade do poeta que pela música enlouquece, mas também é capaz de erguer o ouvinte aos céus.
Quando Alfonsin assumiu o poder na argentina, eu chorei. Mas não chorei apenas porque me comoveram as lágrimas das “locas da plaza de maio”, as mães do desaparecidos durante o governo militar daquele país. Chorei por que a notícia foi dada ao som de “Dont” cry for me Argentina”, do Webber. Naquele dia eu não era mais brasileiro ou portenho ou latino, somente eu ganhava nova identidade, um cidadão do mundo, com lenço e documento - um passaporte para a viagem do espírito peregrino.
No entanto, por quem os sinos dobram nesse miserável cotidiano de tribos urbanas ? Por que esse lamento, essa lamúria pelo leite derramado ? Afinal numa terra em que se plantando tudo dá, por que deixar a erva daninha vingar dona desse imenso latifúndio ?
Eu até gostaria de ser mais sensível aos males que afligem essa página de sangue do livro em que escreve o história do Brasil, ou melhor, que retratam a triste condição de alienados - na mais pura acepção da palavra - em que se tornou a imensa maioria dos brasileiros; contudo, já não sou mais capaz da lidar com os mesmíssimos problemas de quando,eu ainda eu adolescente, era chamado “um revoltado”.Não é a maturidade propriamente dita, pois que se fosse isso eu seria agora forçado a concluir que, ao contrário de mim, muita gente voltou à puberdade, entendida essa como aquela fase em que todos são revoltados. Ou hoje a grita não é geral ? Ou hoje quarentões ou cincoentões não se queixam de tudo e todos, resumindo um país exclusivamente pelo que ele tem de ruim ?
O masoquismo, esse sim já não me convém; o altruísmo e o estoicismo , esses sim já não fazem mas parte de minha ideologia, se é que ainda tenho uma, se é que mundo necessita verdadeiramente de alguma . Se não canto - por não apropriado - Zé Rodrix , e nem penso mais em carneiros e cabras solenes em meu jardim, definitivamente eu sempre acreditei na mágica força das artes. Não por menos, Cândido Portinari retratara o flagelo das secas nordestinas muito antes da instituição de uma equivocada SUDENE; e na música, o forró, o baião, o maxixe, de um excepcional Gonzagão choraram na sanfona a miséria e o sofrimento do seu povo.
Se é para chorar eu choro ao som sincero e comovente dos músicos e dos artistas, sempre pioneiros em antecipar o sentimento maior da solidariedade, a ela consagrando a sinfonia que merece. (Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 2 DE JULHO DE 2009:"AVERSÃO"
Se é para chorar eu não desperdiço lágrimas: me arrepio todo e, passional como um latino autêntico, mergulho em pranto com “Perhaps Love”, no vozeirão hispânico de Plácido Domingo , mui bem temperado com veludo country do sussurro romântico de John Denver. E, por mais que queira dar ouvidos à mensagem da “folhinha”, advertindo-me com brandura - “Não se apegue ao passado. O importante é de agora em diante” -, eu sei é que Piazzola me faz lembrar uma outra época de um outro lugar onde jamais estive; “Adios Nonino” é comovente “Verano Porteño” faz de mim um estrangeiro, quase que à maneira de um Camus; o bandoneon do argentino enleva minh’alma, assim mesmo, com direito à apóstrofo parnasiano sem modernismo algum, mais Bilac que Raul Bopp.
Misantropo, ou quase isso tenho alguma aversão ao lugar-comum vulgar e erroneamente denominado “sociedade”. Essa paúra ,esse desespero de gentes hostis, essa maldade reinante...isso tudo jamais me faria chorar. Sou mesmo um sentimental e acho isso bastante natural, porém, sou avesso às lágrimas de crocodilo desse bicho-homem, besta-fera que quis inventar um mundo difícil e cruel só para justificar a piedade e a justiça; ora, não haverá nada mais justo que a exata noção de equilíbrio, de harmonia, atributo que da divina criação parece apenas humano ser não mais conservar. (Marcus Moreira Machado)
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