Afastada a exclusividade do pensamento como obra de intenso relacionamento entre as pessoas, pela permuta, causa primeira da evolução, ainda assim o indivíduo, unilateralmente, evitando a reciprocidade, tem como obter, pela contemplação e na observação sistematizada, subsídios ao seu próprio crescimento, formulando ideias e, assim, confirmando o seu status de verdadeiro homo-sapiens. Contudo, quando foge da auto-crítica e incrimina a crítica, o ser humano perde essa essência humanistíca, substituindo-a pela singularidade de um 'mutante-social', meio-homem e meio-gusano, vivendo da podridão dos seus semelhantes. Sempre que uma tragédia deixa a humanidade consternada, esta procura no silêncio a expressão máxima de respeito às vítimas. Entretanto, um minuto de silêncio será muito pouco tempo, em se tratando de reverenciar as vítimas da grande "hecatombe" responsável por dizimar não apenas cem, mas milhares de indivíduos contagiados pela parvoíce.
A pequenez dissemina a estupidez como regra primeira na fixação de um padrão social fundamentado no 'poder pelo poder'.
A verdadeira e sincera homenagem à nossa própria espécie será a da promoção do silogismo, compreendido este como recurso da argumentação. A contenda, a controvérsia pura e simples, não são um verdadeiro debate; são reles embate, motivado muito mais pelo instinto, desprezado o intelecto.O grande problema -e talvez o único da humanidade- é o de alguns homens nascerem com atrofiamento de um dos órgãos sensoriais, o da audição. Ouvindo mal, também falam mal.
Se é o cérebro estimulado pelo ouvido, é surpreendente ainda existir gente com a faculdade de pensar.
Não raro, pretende-se impedir a voz, como se as palavras tivessem o poder de ferir uma integridade até então não conhecida. Definitivamente, não é possível ofender a honra de quem não a possui; não se pode afrontar a dignidade de quem jamais a conheceu porque jamais a exercitou. Estes sentimentos adquirem-se potencialmente, porém, somente são desenvolvidos pela disposição ao seu exercício constante.A ejaculação verbal precoce é tão prejudicial quanto a impotência mental. Mas, acostumados às conspirações de alcova, há quem não se dê conta do outro mundo onde vivemos, no qual o objeto do debate não são as pessoas e sim a diversidade de suas concepções a respeito das instituições sociais.
Inaceitável, não se deve confundir cada um de nós com a própria norma elaborada no propósito de um não confirmado consenso.
Divergir não é embate; é acréscimo ao debate necessário à antecipação do futuro.
Quem sabe, fazer a hora é mesmo fazer acontecer?
Ou, contrariamente, o conforto do eterno regresso tem passagem garantida na manutenção da ordem pela conveniência?
(Caos Markus)
Alguma coisa de vulto pesa sobre a sociedade. É uma enorme interrogação. O que fazer? Aonde ir? Como tomar a direção do mundo? Quando há guerra, todos perdem. Na paz ninguém se entende. Olhamos ao nosso redor e descobrimos as ambições de alguns homens, a ignorância de outros e a miséria de muitos, diante da revolução que a técnica tem operado no mundo.O produtor protesta. Aquele que sofre se indigna. Também tem sua doutrina para defender-se. É socialista, comunista ou sindicalista.A própria técnica nova também lança o seu protesto. Avança, cria novos métodos de cultivo, aumenta sem cessar a produção, lança o homem à parada forçada.O homem e a História lutam por separar-se do passado; uma parte se imobiliza estagnada, outra se detém nas perspectivas do futuro, como se temesse entrar no presente.
Contrapõem-se antigas concepções e modernas realizações, gerando a ansiedade da incoerência. E desta contraposição advém os contínuos choques de homens contra homens, quando então suas inconsciências representam a resistência de um passado se negando a perecer diante de um presente querendo irresistivelmente abrir caminho.
O necessário é analisar e investigar o presente para, depois, combinar um método de ação favorável à evolução histórica do nosso tempo.
Neste sentido, ao pretender revolucionar a infraestrutura, o socialismo tem sido uma cega crença, e sua ação é de ordem puramente emocional. Indispensável mesmo à classe trabalhadora é um método em resposta a visão clara do futuro. E não mais ideias incipientes que imprimam, pela força, a marcha evolutiva dos povos.
Pois, as relações de dependência nascidas no corpo do proletariado, embora fruto de sua própria organização, têm dado origem a novas desigualdades.
Razão esta o suficiente na compreensão do contraditório: ao protestar contra as condições de sua exploração, os trabalhadores devem aproveitar suas mesmas fórmulas, sob a perspectiva do fundamentalmente histórico.
Noutras palavras, antes de ensinar, deve-se aprender. E isso significa não negligenciar a lição de casa, no dever de classe.
(Caos Markus)
Todos merecemos o que de fato queremos, apenas se estivermos dispostos a pesar a prioridade disso que queremos.
Querer é poder!? Não. Por exemplo, querer amar só é poder se temos -acima do próprio amor- a coragem de assumí-lo com a prioridade por ele requerida.
Não é nada complicado. Pelo contrário, é muito fácil entender: muitos desejam um grande amor, deixando ao tempo, contudo, encarregar-se de diminuí-lo, até ele desaparecer.
Não estão dispostos a pagar o preço da independência, indispensável à sobrevivência do amor. Imaginam poder enganá-lo com as bugigangas recebidas em troca de ser matriarca e patriarca jamais ausentes.
Deixar essa condição sugestivamente confortável é abandonar a suposta comodidade de manter-se indefinidamente à disposição da prole e seus descendentes; é não almejar alguém sob espera incondicional nos corridos e imprevisíveis intervalos da vida.
A vida no amor não pode jamais ser compartilhada no improviso.
Não desejar quem não se permite querer a si mesmo é admitir o desinteresse alheio em confirmar a individual existência. É aceitar como opção a realidade de uma solidão não confundida com abandono.
(Caos Markus)
O narcisismo está definitivamente acima do altruísmo. E, por isso, é a egolatria a determinante na vida das pessoas, muito embora confessá-la é tirar um certo brilho da pretendida 'genialidade', perseguida como o maior dos objetivos. Não por outra razão tanta gente quer libertar o mundo de uma tão vaga quanto questionável tirania; ser herói ainda vivo é ter o reconhecimento exterior, uma vez que o interior é por demais inaceitável, por tratar-se de um 'juiz' muito mais impiedoso - a própria (in)consciência.Ocupar-se da liberdade alheia, buscando o que nem sempre esteja de fato faltando a outrem, tem sido uma inadmissível covardia do vampirismo político dos nossos tempos. Na falta da sua própria liberdade, o líder tem alardeado uma 'tirania' merecendo a próxima eliminação, mesmo sendo totalmente desconhecida ou pressentida pelas 'vítimas'. Trata ele de buscar na liderança a 'escravização' de que precisa para ofuscar a sua própria escravidão, presa de si mesmo.
Afinal, muito do que se supõe 'ideologia' nada mais é do que a total ausência de idéias, a conferir aura de humanista àquele que não possui 'lastro próprio'. Entre nós parece não haver gente de carne e osso e sim homens que só acumulam virtudes.O mundo está repleto de pessoas bem intencionadas. E o Brasil mais ainda. É muita gente se achando no dever de nos salvar do perigo iminente que se avizinha e avança sobre nós de forma impiedosa.
Conclui-se, ou de fato ninguém tem os seus próprios problemas, com tanto tempo disponível para ser abnegado e pretender redimir a raça humana na face da terra, ou o mundo já está sensivelmente melhor, dada a enorme quantidade de messiânicos autorizados por si mesmos à mais completa identificação com a humanidade.
Então, entoemos o cântico dos cânticos a tais redentoristas: "-Amém, também!"
(Caos Markus)