Sob o pretexto de substituir o 'paternalismo' e o 'intervencionismo' do Estado na economia, o neo-liberalismo , mesmo apregoando uma visão pretensamente contemporânea e adequada do Estado mínimo, peca, e muito, diante de afirmações como a de seu maior expoente, o Nobel de Economia, Milton Friedman. Pois, segundo o renomado e laureado economista, a filosofia liberal acredita na liberdade de o indivíduo usar ao máximo suas capacidades e oportunidades, de acordo com suas próprias escolhas.
Neste aspecto, é de se indagar: é sempre possível que o respeito à escolha individual ocorra sem necessidade alguma de garantia pelo Estado? De que maneira alguém, nascido e criado à margem da sociedade, ou à beira da miséria, poderá afirmar ter feito a sua própria escolha?! Como um assalariado, à mercê da terceirização e da automação das indústrias, pode -seguramente- fazer a sua opção?!!
Não é só, entretanto.
Os neo-liberais ainda asseveram que o indivíduo deve ser limitado somente à obrigação de não interferir na liberdade de outros indivíduos poderem fazer também a sua 'própria escolha'.
Aparentemente, jamais se viu tanta democracia! Todavia, todos sabemos, aparências enganam.
De sã consciência, a pergunta que se impõe: de que forma se garante tal 'liberdade', quando mais livre é o que mais fortuna possui?
Se na desigualdade econômica pudesse existir igualdade de condições, a confirmar, por seu turno, a cada um o direito a escolha própria, mais correta seria então a afirmação de que o miserável é miserável por sua livre opção! Contudo, diversamente, dúvida alguma se tem sobre a 'liberdade' dos neo-liberais: privativa, ela é exclusiva deles próprios, de quem pôde escolher o 'melhor' sem interferência do Estado. Um Estado assim ausente porque 'pertencente' a reduzido número de pessoas afortunadas que utilizam-no como proteção dos seus particulares interesses.
Via de consequência, de 'neo', de novo, só conhecemos o velho, o retrógado retocado; aquele que, adornado com sofisticação, só quer a mesma dominação da maioria pela minoria, tornando a conhecidíssima 'pirâmide social' a mais neo-idéia de se repetir os erros do passado.(Marcus Moreira Machado)