Anular a capacidade de reação, substituindo-a pela sujeição à modelos presunçosamente libertários, modernamente é mais que mera concepção, é antes de tudo instrumento de "condução". Assim é que os excluídos da "felicidade" devem procurar na "auto-ajuda" uma receita para aplacar a angústia, invariavelmente através do método anódinos, de curto alcance. A propaganda, atingindo níveis de superação crescente, cuida de regular a demanda dos necessitados, pela invasão sutil da privacidade, instituindo "linguagens" e "normas" a cada instante, padronizando a individualidade pela sua mais completa neutralização.
A liberdade, assim, não é mais direito, e sim "dever" de "conquista". A deturpação dos conceitos genuínos acarreta, então, o torpor característico do arroubamento do espírito e do desatino mental. Forjado na expugnação da própria alma, o intelecto nada mais engendra, produto que se torna da dissimulação. (Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2009:"JOGADORES"
Ando meio em dúvida se abro uma empresa de consultoria para assuntos estratégicos paragovernamentais, ou se monto um boteco. Pois, os grandes problemas do país encontram solução sempre mais simples em qualquer boteco mais ordinário. Não é preciso ser mais que um sujeito mediano, é totalmente desnecessário um intelecto privilegiado para entender de economia, a cada instante em que ela é reduzida a um mero cassino de roletas e bacará. Truco!!
Tal qual um jogo de azar, o blefe na - política econômica brasileira - é sinônimo da astúcia dos seus apostadores. Criar expectativa é um ótimo negocio. Para o parceiro, logicamente. E quem não tem cacife não pode jogar.
Ingenuidade seria exigir comportamento diferente dos dirigentes nacionais. Afinal, o brasileiro não está preparado para ser eleito, muito mais do que está para votar.
(Marcus Moreira Machado)
SÁBADO, 1 DE AGOSTO DE 2009:"A HISTORICIDADE DAS FÓRMULAS"
Lutam a idéia antiga com a realização moderna. E, desta luta advém os contínuos choques de homens contra homens que, em sua inconsciência não são mais que a resistência de um passado que se nega a perecer e de um presente que luta irresistivelmente para abrir caminho.
O interessante é analisar e investigar o presente, para, depois, combinar um método de ação que seja favorável à evolução histórica do nosso tempo. E, se este método encontrar resistência, será dos que resistem ao progresso. Necessário é construir, a medida que se destrói, para, num determinado momento, recolher todos os escombros que impedem o crescimento. Ao revolucionar a infraestrutura, o socialismo tem sido uma crença, e sua ação é de ordem puramente emocional. O que necessita a classe trabalhadora é um método que responda a uma visão clara do futuro. E não mais idéias que imprimam, pela força, a marcha evolutiva dos povos. Pretende o sindicalismo evitar as contradições econômicas do nosso tempo, através da superação do processo político. Entretanto a História registra que todas as ditaduras democráticas ou proletárias sempre têm conduzido a iniquidades sociais. Mesmo Marx afirma que nem na sociedade comunista se poderia dar ao operário o produto total de seu trabalho. E as relações de dependência nascidas no corpo do proletariado, embora fruto de sua própria organização, têm dado origem a novas desigualdades. Aconselhável, pois, que ao protestar contra as condições de sua exploração, os trabalhadores aproveitem suas mesmas fórmulas, no que possuem de fundamental e histórico. (Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 31 DE JULHO DE 2009:"PADRONIZAÇÃO"
Tudo o que acreditamos ser para nosso regozijo deverá, também, nos pertencer essencialmente; e como é bastante frequente o nosso amor aos prazeres materiais, por expressão do indomável instinto, o mundo todo se nos a figura luxuriante e disponível. Não por razão diferente, produzimos esse formidável “strip-tease”, expondo à mais absoluta nudez os atributos sujeitos à nossa ganância. Vorazes, aclamamos a propriedade com apanágio da vida. Porém, como o domínio se opera pela beligerância, será a morte declarada por necessária à manutenção da vida, no paradoxo de que os fins justificam os meios.
Já despidos da ética e moral, abjuramos a doutrinas convenientes à pragmática, em deliberada apostasia. Pois, a sociedade é condicionada e reduzida a um imenso cabaré, orientada apenas para a profusão da selecionada clientela. Leões-de-chácaras cuidam, no caso, de aliciar os fregueses, prometendo-lhes a segurança contra eventuais molestamentos.
A licenciosidade desse repreensível festim reveste-se de incerta normalidade, adotada mesmo como não-cogente, possibilitando à vontade particular sobrepujar-se à norma coletiva, em reconhecimento do individualismo com índole. Assim, a excentricidade é padronizada adquirindo status de verdade definida no tempo. Mas, convém lembrar, nada é definitivo. E, como observou o sábio do mundo islâmico, Al-Biruni, o tempo não tem limites, e gerações sucessivas são apenas estágios; cada uma passa para a outra a sua herança, que é então desenvolvida e enriquecida, em verdadeira metempsicose. (Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 30 DE JULHO DE 2009:"SIMILITUDE"
Sempre que uma tragédia deixa a humanidade consternada, essa procura no silêncio a expressão máxima do respeito às vítimas. Pois, um minuto de silêncio deverá ser muito pouco tempo para reverenciar as vítimas da grande "hecatombe" que tem dizimado não apenas cem, mas milhares de indivíduos contagiados pela parvoíce. A síndrome de peter pan dissemina a estupidez como regra primeira na fixação de um padrão social fundamentado no poder pelo poder. A verdadeira e sincera homenagem que poderíamos render à nossa própria espécie será a da promoção do silogismo, compreendido este como recurso que é da argumentação. A contenda, a controvérsia pura e simples, não são um verdadeiro discurso; antes, são reles discussão, motivada muito mais pelo instinto pelo que intelecto.
Reconhecendo na discreta similitude entre discordância e discórdia as substanciais diferenças entre divergência de opinião e desarmonia própria da desinteligência, teremos todos identificado no homem a sua superioridade real. Porém, conduzido este tão apenas pelo instinto, como disposição natural que é, observa-se não mais que a sua volta a um passado distante, em que ações e reações desencadeavam-se independentemente de senso, norteadas somente por primitivos impulsos. (Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2009:"O CRIME DA CRÍTICA"
Afastada a exclusividade do pensamento como obra de intenso relacionamento entre as pessoas, pela permuta, causa primeira da evolução, ainda assim o indivíduo unilateralmente, evitando a reciprocidade, tem como obter, pela contemplação e na observação sistematizada, subsídios ao seu crescimento pessoal. formulando, então, as idéias que lhe confiram o o status de verdadeiro homo-sapiens. Contudo, quando foge da auto-crítica e incrimina a crítica, o ser humano perde essa essência humanistíca para adquirir a singularidade de um mutante-social, meio-homem e meio-gusano, vivendo da podridão dos seus semelhantes.
(Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA, 28 DE JULHO DE 2009:"MORAL E CRITÉRIO"
O amor, como base da instituição familiar atual, é algo muito recente e, talvez por isso mesmo, muito de acordo com a hipocrisia vigente, quando se chama felicidade ao aborrecimento sofrido em comun. Instituída mais para a conservação e transmissão dos bens de fortuna, a monogamia tem sido, de fato, a pedra angular de uma "família" caracterizada pela conveniência. E se agora ela está desestruturando-se é porque não há mais razão de ser, uma vez que a imensa maioria da população quase nada mais possui que a justifique como intermediária das riquezas entre as gerações. O que resta é, por assim dizer, a família neurótica, ou, se for o caso, "neurotizada".
Somente o "marginalizado" é capaz de reassumir a família em novo padrão, correspondente às mudanças operadas na sociedade politicamente organizada. Porque sabe ele da necessidade de modificá-la, justamente por ter sido dela banido, inconformado com o cinismo da sua estrutura. Superada a revolta, é ele quem norteará um modelo para o amor emancipado, transgredindo a debilidade dos retrógrados valores anteriores. Fala-se aqui de ruptura. De um rompimento renovador que assegure o livre pensar para o gesto do amor. A família individual, então, "deixará de ser a unidade econômica da sociedade".
Se "eros" e "tanathos" são em nossos dias as vozes mais ouvidas, certamente o são em razão de um veemente declínio moral da humanidade. Após a derrocada final daquela que erroneamente conhecemos por "sociedade moderna", um novo critério moral aproximará homens e mulheres, pais e filhos, irmãos e irmãs, um critério forjado no amor e no afeto recíprocos.
Modificadas as relações de propriedade, normas próprias de conduta regularão uma família aonde o amor seja o único moral. A família - isso é inegável - tem progredido ou se modificado na mesma medida do maior ou menor progresso, da maior ou da menor modificação da sociedade. E hoje entre nós a filosofia de vida tem sido aquela tão bem descrita por Abílio Guerra Junqueiro - a filosofia do porco; devorar. E é o mesmo poeta português quem acrescenta: "Mas, como semelhante compreensão da vida e do destino do homem é por demais inconfessável, esconde-se a chaga em linhos brancos".
Negar um Estado e um regime repugnantes, que se propagam através da chamada "célula mater" da sociedade, a família, é recusar a dominação para proclamar a liberdade e o amor com signos de uma nova era. (Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JULHO DE 2009:"ATROFIAMENTO"
A ejaculação verbal precoce é tão prejudicial quando a impotência mental. Mas, acostumados às conspirações de alcova, há quem não se dê conta de que outro é o mundo em que vivemos, onde o que se discute não são as pessoas e sim a diversidade de concepções que elas possam ter a respeito das instituições que as governam. E, também inaceitável, não há que se confundir cada um de nós com a própria norma que criamos para um concenso. Porque divergir não é confrontação; é, antes, acréscimo que se faz á discussão necessária ao futuro antecipado. Quem sabe, fazer a hora é mesmo fazer acontecer? Ou o conforto do eterno regresso tem passagem garantida na manutenção da ordem pela conveniência?
O grande problema - e talvez o único da humanidade é terem nascidos os homens com atrofiamento de um dos órgãos sensoriais, o da audição; parece que ouvindo mal também falam mal. Se é o cérebro estimulado pelo ouvido, é surpreendente que ainda exista gente com a faculdade de pensar. Não raro, quer-se impedir a voz, como se as palavras tivessem o poder de ferir uma integridade até então não conhecida. Definitivamente, não é possível ofender a honra de quem não a tem, não se pode afrontar a dignidade de quem jamais a conheceu, porque nunca a exercitou. Porque esses sentimentos adquirem-se potencialmente, porém somente são desenvolvidos pela disposição ao seu exercício. (Marcus Moreira Machado)
DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009:"UM OUTRO APÊNDICE"
Lang, melhor que ninguém, discerniu a família neurótica, um apêndice enfermo de uma sociedade ainda mais doente. Ela, que deveria se prestar à estrutura pessoal de cada um de seus membros, ao descumprir esse seu primordial papel, traz a desagregação como motivador principal da angústia.
Muito distante de sua origem, nem a urbanidade nem a cordialidade suprem a ausência do amor, hoje uma característica marcante da hodierna "família". Assim, ser preterido nas íntimas relações familiares é estar "marginal" e, consequentemente, angustiado.
As designações "pai", "filho", "irmão", "irmã", não são simples títulos honoríficos, mas, ao contrário, implicam em sérios deveres recíprocos, perfeitamente definidos, comenta Friedrich Engels, a respeito da família tribal na Índia e na América. E, acrescenta, se se desenvolveu uma sociedade superior à família, isso foi devido somente ao fato de que a ela se incorporaram famílias profundamente alteradas.Pois, a família, como hoje a conhecemos, não se baseia em naturais condições, mas sim econômicas, sendo mesmo o ápice da propriedade privada a triunfar sobre a propriedade comum primitiva. Por assim ser, é também "a forma celular da sociedade civilizada, na qual encontra-se a natureza das contradições e dos antagonismos que atingem seu pleno desenvolvimento nessa sociedade". Assumir, dentro dessa célula, a "marginalidade" poderá ser a busca de uma nova identidade, fora dos restritos limites da família incapaz. Incapacidade, aliás, derivada de distorções próprias aos padrões morais que sabe insustentáveis, mas que menor risco, no entanto, oferecem diante do comprometimento necessário ao ato de amar. (Marcus Moreira Machado)
SÁBADO, 25 DE JULHO DE 2009:"OS PÉS NO BRASIL"
Em reprise para todo o país, a novela que tem emocionado dezenas de gerações de espectadores: “A Descoberta do Brasil”. Em horário nobre, a fidalguia lusitana encena a virilidade da ibérica península, mescla de mouros e romanos, na personagem do aventureiro benfazejo. São cinco séculos de arroubos a enaltecer a “ilha” em que se plantando tudo dá. Vera Cruz de ontem, descoberta no acaso premeditado; ocaso do pau asiático brasil, que no Mundo Novo ganhou letra maiúscula; pouco caso dos “selvagens” que saborearam sardinha em bispo. Oh! Álvares...Outro Pedro também diria fico, pelo bem do povo e - óbvio - facilidade geral da majestade. Pedra amarela minando na derrama, esquartejando alferes, separando a Marília do Dirceu.
Caramuru, salvo pela sua magreza, cevado pelos Tupinambás, nos dá um lindo capítulo, fundando tão nobre estirpe ao desposar Paraguaçu. Mas, quantos outros naufrágios, quantos sobreviventes ainda teremos? Estandartes bandeirantes preando os bichos do mato, buscando preciosas pedras para além das Tordesilhas. Todas as raças, todos os credos, na baía, nos planaltos de todos os santos. Dê ouro para o bem do Brasil, para o bem da Inglaterra, para o bem de quem nos quer tanto bem. E Pedro, o segundo? Pobre menor abandonado, refém da cobiça além-mar! Leopoldina virou trem, virou marquesa a consorte filial, honrado a índole lisboeta.
Santa Maria! Pinta e Nina quase passam por aqui. E se passassem? Deixavam inscrições rupestres para Caminha plagiar, quem sabe. Coisa louca! Maria, a rainha, coitada, interditada enquanto o sexto João sacava no Brasil o seu próprio banco. Portos abertos, escancarados, ancorando o comércio do comum mercado europeu. Mauricéia desvairada ainda deve a Nassau o requinte cultural nas plagas americanas do Recife. Hereditárias capitanias, hereditárias manias de retaliação. Heróis dos latifúndios, é sua a glória do desenvolvimento e do progresso; apesar de todas as vicissitudes decorrentes dos azares históricos, esta terra ainda há de tornar-se um imenso Portugal, há de ser um império colonial, mas mãos de intrépidos desbravadores descendo da bacia do Tietê o Paraíba do Sul, cruzando a serra da Mantiqueira, rumando Jundiaí e Moji, além do Salto de Urubupungá, para alcançar o interior; construindo a geografia no novo continente, vilas ricas expandirão vastidões pelas sendas mato-grossenses, unindo o amazonico planalto à foz do lendário rio, pelo Topajós, Tocantins e Madeira. Quando esplendor! Portugal é espanhol? Sessenta anos de hispânica coroa, a dividir a riqueza nacional!Quem descobriu o Brasil? Quem meteu os pés no brasil? A Europa cá veio dançar valsas vienenses e ainda trouxe d’África o lundu, temperado com pimenta do reino. Quando açúcar com café nas usinas e nas lavouras dos senhores engenhosos! A Ásia cabe aqui. Venham todos, queremos vocês. Venham genoveses, florentinos, o Bráz vos espera. Venham sírios - libaneses mascatear, no sertão que vira mar, rios de dólares. Nós somos um povo gentil, coroação e braços abertos para o mundo. Temos norte e nordeste, sul e sudeste, noroeste e sudoeste este imenso. Somos presidencialistas, somos parlamentaristas, republicanos e monarquistas. Somos qualquer coisa, somos todas as coisas a um só tempo, porque - pluralistas - não discriminamos ninguém. Venham! o trono está vago a qualquer tempo, pois há quinhentos anos rendemos homenagens, não seria agora que inventaríamos ser brasileiros...! (Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 24 DE JULHO DE 2009:"ECLESIAS"
Irreligioso que sou, entendo como verdadeiro o significado de “eclesias” para determinar o sentido de Igreja, ou seja, um sentimento e uma conduta de dentro para fora de nós mesmos. E vejo assim que se “sem a justiça, os Estados não passam de bandos organizados de ladrões”, como asseverou Santo Agostinho, e se entre nós o clamor geral é pela justiça, esta só se fará presente quando indentificarmos todos, em ações positivas, aquilo que deverá vir de dentro para fora de nós mesmos. O que vale dizer que Igreja e Estado, instituições autônomas, urgem ser revitalizadas em suas “práxis”. Não podemos mais nos esconder sob o manto das estruturas políticas dessas organizações sem incorrermos no risco de discursar no vazio, de clamar no deserto.
Para ser sincero, não sei a quem cabe minha reflexão, ou se ela é mesmo reflexão. Talvez não seja mais que uma advertência, a mim e a todos quantos se batem pelas intenções. Ou, se nada disso, Zoroastro estava mais certo, ao afirmar o renascimento pelo caos.
(Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2009:"GESTUAL"
Vivo assediado por pessoas bem intencionadas. Eu mesmo sou deveras bem intencionado, mesmo sabendo que entre intenção e gesto há uma distância muito grande.
Já acreditei em muita coisa, até em Nietzsche, que em pouca coisa acreditava. Procurei uma verdade mais permanente, que não a de “um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antroporfismos... enfatizadas poética e retoricamente”. Nos “arquétipos” de Jung procurei explicação para o primata que de quando em quando se revela em cada um de nós, na barbárie que todos cometemos dia após dia. Aderindo à teoria economicista, pensei encontrar refúgio na história, e nela poder intervir, não como coadjuvante e sim protagonizando-a.
Sociólogo de botequim, exaltei Durkheim no tempero existencialista de Camus, negando valores e inventando outros tantos.
Não fui o único; não sou o único. Muitos quiseram - e ainda insistem em querer - a paz, substituindo os horrores e a infâmia das guerras pela majestade do amor. Utopia, acreditávamos, não existia; era questão de tempo. Como o tempo insistia em não chegar, ouvimos Krishnamúrti, desistindo, então, de um aprendizado que nos libertasse da nossa miséria, renunciando a ensinamentos vários sobre o caminho libertador de um pensamento ou de uma prática qualquer; procuramos revelar-nos a nós mesmos, a fim de que pudéssemos ver o que éramos e depois esquecer-nos; enfim, pretendêramos sair do ego, chegar à criatividade pela visão do nosso vazio e descobrir, simultaneamente, o amor.
Balela, muita balela! Nossas boas intenções nada mais fizeram que ocultar a omissão dos nossos gestos.
Ainda hoje, não damos esmolas para não estimularmos a mendicância, e condenamos à morte os miseráveis como exemplo, no cínico e absurdo contraste entre a suposta indolência dos despossuídos e a obstinação dos bem sucedidos.Se sou incapaz de gestos, não mais quero me capacitar com intenções. Seguir a máxima de São Tiago: “Pratica tua fé com obras”, deveria ser a única boa intenção de todos quantos proclamam um mundo melhor.
(Marcus Moreira Machado)
quinta-feira, 16 de julho de 2009
QUARTA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 2009:"PERIFÉRICO"
A desordem social ao defrontarmo-nos com o gigantismo das nossas instituições - a projeção de nossa megalomania. Uma inferioridade sublimada está oculta em nossas insólitas obras, todas muito mais voltadas para um cálido estratagema de dominação do que direcionadas ao aprimoramento da moral e do espírito.
O humano isolamento é uma experiência profunda e intimamente vivida. Assim como em Franz Kafka, as mesquinhas preocupações cotidianas da manutenção de empregos e dos lucros também escapam às leis do espaço e do tempo, "tornando-se como que símbolos de uma realidade transcendente". E uma indescritível sensação de pesadelo e mal estar é por todos nós experimentada, em invitável metamorfose.
Tudo o que se nos afigura por demais desesperador está a exigir um novo "corpo", uma nova "forma", algo mais fantástico que nos devolva a cada um de nós, depois do enorme pesadelo experimentado no dia-a-dia.
A desorientação tem sido o mau roteiro da atualidade - imaginamos seguir adiante, quando, atônitos, ainda caminhamos em círculos, sem plausibilidade alguma de evolução caracterizada por progresso real. Adiamos a maioridade da raça humana no planeta Terra, ocupados que estamos em reafirmar a convicção em poderes inexistentes.Já que se disse que o homem é um projeto que não deu certo. Porém, quem o disse foram outros homens, acreditando-se imbuídos de redefinir o juízo de valores de nossa civilização. Deveriam eles, no entanto, ouvir o conselho de Laurita Mourão: "O julgamento humano é sempre periférico e pensa-se na parte exterior das atitudes sem atentar para o profundo sentido da dor que não aparece".
(Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2009:"SUBLIMAÇÃO"
Olvidar a trajetória do ser humano na terra, toda marcada por laivos e conspurcações, é reafirmar uma falsa superioridade da raça, em obliterada presunção. Pois, os fatos históricos não admitem a inocência, sendo mesmo o registro da perfídia como que o nosso único atributo. Passados já tantos séculos de civilização, desprezamos, ainda, a "civilidade" como regra primeira da cidadania. Opostamente, tem havido constância no predomínio da barbárie, quando a crueldade é dissimulada em ordenamentos que nada têm de sociais, porque não propiciam a extensão de vantagens particulares à sociedade inteira.
Seria a mais cândida inocência uma pessoa pretender conhecer bem a História "a ponto de supor que após todos esses séculos de sistemas sociais corruptos o imperfeito possa eventualmente se desenvolver algo perfeito e puro". Até onde o poeta consegue enxergar mais que o político? Pois, no dizer de Raul de Leôni, "... a vida passa... efêmera e vazia/Um adiamento eterno que se espera,/Numa eterna esperança que se adia...". Temos notoriamente sido alimentados de uma esperança desacreditada até mesmo pelo mais inspirado bardo. Então, a dor não necessariamente deve ser uma forma de adquirir conhecimento, pois que se isso fosse uma verdade já teríamos povos amadurecidos, em meio a tanto disparate a manter a humanidade em permanente flagelo. Realmente, "deve haver uma sabedoria além daquela que se aprende através do sofrimento...".
Fulton J. Sheen, com muita propriedade, já se ocupara em discernir o mal que a todos nos aflige, quando, no definir o sexo, o egoísmo e a necessidade de segurança como "três fogueiras inseparáveis, postas a arder dentro da condição humana", afirmou não existir qualquer culpa necessariamente associada a estes impulsos diferentes e dominantes, e, concluiu, o mal só ocorre quando há desordem.
Obviamente, percebemos essa desordem ao defrontarmo-nos com o gigantismo das nossas instituições - a projeção de nossa megalomania. Uma inferioridade sublimada está oculta em nossas insólitas obras, todas muito mais voltadas para um cálido estratagema de dominação do que direcionadas ao aprimoramento da moral e do espírito. (Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 2009:"EVOLUÇÃO OU PROGRESSO?"
Esperar de um projeto político a redenção da humanidade é crer na improvável hipótese da existência de alguns poucos homens melhores que os demais. Nesse caso, ainda é mais prudente traduzir "carisma" por uma "faculdade sobrenatural"; e, definitivamente, nesse sentido nenhum líder a tem. Quando muito, aqui e ali despontam dirigentes mais hábeis em psicologia das massas, o que de fato é mais carreado para a manipulação pura e simples do que para a condução honesta e progressista. A advertência de Thomas Merton, em "A Montanha dos Sete Patamares" é, no momento perfeitamente cabível: "continua a ser... ingênuo supor que membros da mesma espécie humana, sem haver mudado nada a não ser suas mentalidades, possam dar uma volta súbita e produzir uma sociedade perfeita, quando nunca puderam no passado produzir nada a não ser a imperfeição ou sequer a menor sombra de justiça".
E, mesmo em se tratando de alguma mudança operada no estado psicológico de homem contemporâneo, essa evolução não significa exatamente progresso. Antes, o que se constata é a sua redução aos estreitos limites do egocentrismo, a gerar a mais significativa frustração do indivíduo perdido em si mesmo. Por isso "o paradoxo da solidão moderna... em que aqueles que só amam a si mesmos odeiam estar consigo mesmos".Se há alguma esperança concreta, ela não reside na ignorância!!! (Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 13 de julho de 2009
SÁBADO, 18 DE JULHO DE 2009:"BORDA"
domingo, 12 de julho de 2009
SEXTA-FEIRA, 17 DE JULHO DE 2009:"SIGNIFICÂNCIA"
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