Na atual conjuntura mundial, o cenário específico da sociedade brasileira é o desenhado por intenso e extenso processo de globalização econômica e cultural, conduzido pela expansão da economia capitalista, que se apóia, política e ideologicamente, no paradigma neoliberal.
A tendência mundial é impor a todos os países a minimização do Estado, a total priorização da lógica do mercado na condução da vida social, o incentivo a generalizações desprovidas de lastro.
Do ponto de vista de sua formação histórica, o Estado brasileiro se constituiu mediante uma modernização conservadora, configurando-se como forte mecanismo frente a uma sociedade civil frágil. Ele precede a nação, tornando-se um estado capitalista, economicamente,
e corporativo, socialmente . Os mecanismos da representação de interesses dos segmentos sociais se dão no interior da sua própria engrenagem. Mesmo no segmento burguês, do empresariado, ela ocorre pelas câmaras setoriais e não por meio da própria sociedade civil. O modo corporativo é uma forma de absorver a auto-consciência da sociedade civil, obstruindo a formação de uma consciência ético-política.
A supremacia da classe no poder se dá por dominação e não pela direção político-ideológica.
No concernente à educação, prevalece a teoria do capital humano, ou seja, a da preparação de mão-de-obra para o mercado de trabalho. Por sua vez, a ideologia neoliberal encontra apoio teórico em teses filosóficas, pretendendo explicar a convivência social numa suposta nova era, a de uma pós-modernidade, caracterizada pela hipotética superação das grandes teses fundamentais da modernidade.
No contexto da cultura brasileira contemporânea, o ensino universitário tem sua importância proclamada tanto pela retórica oficial quanto pelo senso comum predominante no seio da sociedade. Atribui-se-lhe significativa participação na formação dos profissionais dos diversos campos e na preparação dos quadros administrativos e das lideranças culturais e sociais do país, visto então como poderoso mecanismo de ascensão social, cabendo destacada valorização à educação oferecida pelas universidades públicas.
Introduzido no Brasil apenas na terceira década do século XX, aqui, o desenvolvimento da estrutura universitária foi marcado pela combinação de dois traços fundamentais: o caráter privado de sua dependência administrativa e a sua natureza de instituição isolada, como um resgate, a consolidar a tradição iniciada à época do Império, com as faculdades de Direito, Medicina e Engenharia.
Essa dupla tendência mostra a força do padrão segregacionista frente ao modelo universitário propriamente dito.
Depois de esperar séculos na criação de uma experiência de ensino superior minimamente sistematizada, só na terceira década do século passado ela vai se instalar e desenvolver, predominantemente sob essas duas configurações. De resto, fica a demonstração de uma realidade extremamente heterogênea do sistema de ensino superior no país, com diferenciadas organização e cultura. Heterogeneidade estrutural e instabilidade temporal, uma vez que esse segmento de ensino não encontrou ainda seu modo de ser, manifestando-se constantemente em processo de transformação, em metamorfose permanente.
E, sabe-se, a transfiguração, ou, a mudança contínua não cria modelos propriamente ditos.
Ao contrário, por seu latente caráter de dissipação, ocasiona o marasmo.
Dessa inércia, sequer se entrevê uma visão acadêmica, pressuposto indispensável a qualquer revisão não pontual, porém, sistematizada do ensino acadêmico.
(Caos Markus)