Na força das concepções de Agostinho, a catolicidade repercutiu na visão de uma Igreja como corpo político, de onde encontramos a origem do poder temporal dos papas, e também a compreensão do Estado como fruto de ordem divina. Curiosamente, à época, a cidade fazia muitas coisas que contemporaneamente são feitas pelo Estado. Os problemas sociais achavam-se a cargo da administração da cidade ou correspondente organização municipal. A regulamentação do comércio era atribuição das corporações em comum acordo com o conselho. Competia à Igreja o cuidado dos pobres. O conselho velava ainda pela proteção dos muros da cidade; superatento aos seus deveres sociais, o conselho também era o superintendente das provisões nos depósitos de víveres municipais, com a finalidade de garantir abastecimento nos anos de escassez. Esses depósitos ou armazéns existiam em quase todas as cidades, durante o século XV. Havia tabelas de preços para a venda de todas as comodidades, suficientemente altas para habilitar qualquer artesão a ganhar bem a vida, e para dar ao comprador uma garantia de qualidade dos bens vendidos. A cidade era também o capitalista principal; como vendedora de pensões vitalícias ou de adiantamento sobre heranças, fazia as funções de banqueiro de crédito ilimitado. Em troca conseguia os recursos para as construção das fortificações e para as eventualidades, com a compra do direito de soberania das mãos de algum príncipe sem dinheiro.Na sua maior parte, essas cidades européias eram repúblicas aristocráticas independentes, ou quase independentes. Muitas admitiam uma vaga suzerania da parte da Igreja, ou do Imperador, ou de um rei. Outras eram partes de reinos, ou mesmo as capitais de duques ou reis. A mais completa e esplêndida expansão dessa próspera vida de cidade dos fins da Idade Média ocorreu mesmo na Itália.
(Marcus Moreira Machado)
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