Contemporaneamente, assim como Pilatos, encontram-se, abrigados em suas fortalezas políticas, homens públicos que resistem em curvar-se diante da verdade. Parafraseando o antigo procurador romano, governantes de hoje também perguntam o que é a verdade. E, por não terem nem dignidade, nem princípios, burlam o tempo todo, artífices que são de sensacionais patranhas.
Sofismar é verbo da atualidade, quando multidões inteiras têm sido vítimas da arte de lograr. Onzeneiros profissionais, falsos líderes fustigam - da comodidade e segurança das suas tribunas - a intriga e a infâmia. Outra preocupação não há senão a de aturdir, no inconseqüente burburinho, a opinião pública. O vulgo, presa fácil da achincalhação, sempre um adventício em seu próprio território. A ambigüidade substituiu o caráter e a dissimulação pretende olvidar a verdade.
Apóstolos da incredulidade, os novos procuradores da plebe propagam, pela doutrina da sedução, o aliciamento dos incautos forjados na falsidade. Os crassos, em obediência desvairada, não percebem habitar o arrabalde do poder. E a pêta grassa país adentro, imiscuindo-se na honorabilidade nacional, em execrável e torpe conduta peculiar aos ignominiosos.
Saber o que é bom e trilhar o imprestável é característica dos egoístas que, por comodismo, tornam-se capazes de tudo, menos de seguir o equânime.
Pois, que tremebundo rincão o nosso! A vileza tem primazia sobre o decoro; a miserabilidade é a elegia da turbação a que foi subjugada a prole dos desafortunados. Proceres messiânicos prometem a abastança, na basófia dos insolentes! E, a mossa se faz sentir no litígio dos abjetos.
“Quid est veritas? A verdade não é de quem não tem a sua própria.
“Quid est veritas?” A evidência dos fatos revela, senão a verdade, todo o embuste para ocultá-la.
Há verdades históricas cujo conhecimento se impõe. Desprezar, duvidar, negar o valor das verdades históricas é assumir a insensatez ou a perversidade. Pois, carecemos de homens circunspectos, e padecemos de depravação.
Ou a necedade aprova o descalabro moral, por desconhecer o império da razão, ou a corrupção reprova o discernimento, por conhecer a impertinência da verdade na conquista da insânia coletiva. (Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
TERÇA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2009:"A PERDER DE VISTA"
De várias maneiras, andam descobrindo o Brasil. Há sinais de proximidade de terras, como há escrivães de plantão, sempre prontos à narrativa de tão auspicioso descobrimento. A cultura nacional, também, a cada dia é redescoberta, como segmento de raízes mais nobres. E, ainda que matemos, roubemos, julguemos e condenemos, somos fidalgos.
Em "Calabar, O elogio da traição", Ruy Guerra e Chico Buarque lembram, na voz emocionada do personagem Mathias: "Sabe, no fundo eu sou sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo. Além da sífilis, é claro. Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, meu coração fecha os olhos e, sinceramente, chora".
Mathias de Albuquerque, "governador e comandante supremo de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande" só faz lembrar uma certa hereditariedade, mesclada entre o atroz e o passionário, presente no caráter nacional. Pois, acrescenta a cantiga: "Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, /Ainda vai tornar-se um imenso Portugal. /Ainda vai tornar-se um Império Colonial".
Por isso esse Brasil, esse país colonial, descoberto aos poucos, essa "erva marinha", esse "rabo-de-asno" indicando a promissão que nunca chega. Coincidência ou não, Pascoal recebeu esse nome em virtude de ser o tal monte o primeiro ponto avistado pela maruja de Cabral, no dia de uma das oitavas da Páscoa; e hoje todos esperamos, ainda, que venha a ser uma Canaã, como de Deus fosse realmente brasileiro e nós os únicos de Abraão.
Porém, já é chegada a hora de darmos nome ao boi, isto é, ao povo destas plagas. Porque se somos assim tão pacientes, de qual adjetivo nos servimos? O "paciente-resignado", o "paciente-sofredor", o "paciente-manso", o "paciente-doente", ou aquele outro tipo, "o que recebe a ação de um agente"? Ou seríamos todos eles simultaneamente? O quê é bem mais provável, dada a aparente complexidade a permitir até uma "especialização sociológica" - os "brasilianists", estudiosos supostamente ilustres porque hipoteticamente examinam e entendem melhor do Brasil e dos brasileiros do que nós mesmos.
Essa nossa condição de colonos reflete-se, notadamente, nas fontes de inspiração aonde buscamos paradigmas à nossa evolução. Exemplos não faltam. como é o caso de legislações consideradas de primeiro mundo que procuramos imitar, sem, no entanto, a devida atenção para o contexto de quarto mundo em que vivemos e, portanto, a sua inadequadação.
Aqui tudo é virtual. Tudo existe como faculdade, mas sem exercício atual ou efeito atual. Pois, não se diz que o Brasil tem uma inigualável riqueza potencial? E o que é isso senão uma realidade intrínseca, porém não revelada? Esse conformismo de que somos o país do futuro, de que somos o futuro do país, essa a grande potência e tudo o mais, somente nos projeta para o passado, numa constante "redescoberta". Talvez isso explique a megalomania, típica dos inseguros, característica de um sentimento de inferioridade que se procura esconder.
É a espera do porto seguro, das boas relações com os "amistosos nativos", ainda que tenhamos nos tornado selvagens, em nova edição da antropofagia. Por acalentarmos a idéia de que vivemos num paraíso é que, a cada dia, é maior o inferno, nesse ritual de sangue e tragédia que tem marcado a inglória nacional. promovendo o infortúnio e a insegurança como norma de conduta.
Não há terra à vista. Nem mesmo a mais insignificante bodelha a indicar prosperidade. Se algum contemporâneo escriba relata a fecundidade de uma nova Cabrália, o faz para exclamar: "aqui em se plantando. . . tudo se dá. Como que ainda dominado pela entidade maléfica de anhangá, a nação brasileira vive do prosaico, reciclando a sua história, à bordo de um aquidabã supostamente intrépido, todavia, reduzido à decadência e ao fracasso.
"Quando me encontro no calor da luta / Ostento a aguda empunhadura à proa / Mas o meu peito se desabotoa / E se a sentença se anuncia bruta / Mais que depressa a mão cega executa / Pois que senão o coração perdoa". Versos que expressam dualidade, retratam a propensão quase que natural, a índole, por assim dizer. dessa raça ambígua. Hesitamos, certamente, entre "um sereno jeito" e o "golpe duro e presto", na "distância” entre “intenção e gesto".
De fato, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso arraial. E, no elogio da traição, não mais distinguirá herói de traidor, no moto perpétuo do recomeço, mais ensaiando que principiando. O rabo-de-asno deverá deixará de ser erva marinha para ser daninha, anunciando baderna à vista. E aquela teoria de que o Brasil foi descoberto por obra do acaso será então definitivamente confirmada, porque não pelo mesmo motivo é que se faz tão pouco caso; o descaso não é descoberta" e sim a mais extravagante "invenção".
O Brasil dos viajantes quer ser mesmo deles; não apenas pintura de Debret ou Rugendas, o país insiste em não passar de itinerário na "Viagem Pitoresca ao Brasil", subsidiando a antropologia com um fato manancial iconográfico. Afinal, com fauna e flora assim tão exuberantes, tão exóticas, seria, a priori, até compreensível que, em espetacular processo de simbiose, nascesse uma "sui generis" espécie humana, parasitariamente vivendo sobre o topo de outras mais elevadas.
E, com ‘avencas na caatinga’, e ‘alecrins no canavial’... Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal !
SEGUNDA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2009:"PERMISSÃO"
DOMINGO, 28 DE JUNHO DE2009:"OPOSIÇÃO"
O subconsciente não critica o que absorve, como faz o consciente. Diversamente, ele assimila as informações enquanto efeito da apresentação repetitiva, e não em virtude da 'racionalidade'. Não há, assim, qualquer expressiva influência subliminar numa mensagem vista ocasionalmente. Todavia, quando submetido (condicionado), dia após dia, a uma informação subliminar, a tendência é de nela acreditar, a menos que a realidade não se oponha, com clareza, a essa "crença". (Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 23 de junho de 2009
SÁBADO, 27 DE JUNHO DE 2009:"BEATITUDE"
NINGUÉM CONSCIENTIZA NINGUÉM.
SÓ O MEDO PODE SUSCITAR ALGUMA
ESPERANÇA.
É PRECISO 'SENSIBILIZAR'
PELO TERROR AO CAOS.
E, AINDA ASSIM, TÃO-SOMENTE PARA
'JUSTIFICAR' A VIDA NA TERRA,
MUITO MAIS DO QUE ACREDITANDO
EM ECO SUGESTIVO DE AÇÕES
MASSIVAS DA POPULAÇÃO,
VEZ QUE ESTA SE DELEITA
COM OS PRAZERES DO CONSUMO
SEM CRITÉRIO,
NA ORGIA CONTEMPORÂNEA
BEATIFICADA PELOS OLIGOPÓLIOS,
LÍDERES DO MARKETING HEDONISTA.
(Marcus Moreira Machado)
domingo, 21 de junho de 2009
SEXTA-FEIRA, 26 DE JUNHO DE 2009:"HÁBITOS"
Talvez, nada seja provável quando tudo é apenas possibilidade.
Porque, poder ainda é faculdade, à mercê do querer de quem pode decidir.
Muitas vezes, não se decide, mesmo se desejando. Porque provar do possível é permitir-se.
E não estamos habituados a permissões, senão as que nos são outorgadas.
(Marcus Moreira Machado)
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