Se o mundo nasceu de um amor criador divino, se a evolução é de fato um processo de 'amorização', é claro que o amor é o primeiro e até o único mandamento dado ao homem. Mandamento nada fácil de obedecer, face a dificuldade em amar concretamente, sinceramente, o próximo. A hostilidade, com efeito, parece ser algo adquirido ainda no nascimento de cada um de nós.
Ora, não basta ser irmão em 'algo', mas será sempre em 'alguém' que se poderá experimentar a fraternidade. Trata-se de uma exigência capital: perceber a alegria que nasce do amor, maior que ele mesmo, no outro; sentir-se presente na humanidade através do humano alheio. Importa em bem orientar essa 'potência' de amar, não desperdiçando-a em gestos estéreis, quando ela é possibilidade ilimitada, incansável, de contato pelo espírito. Pois que o amor traz perspectivas de superação indefinida, numa significação realmente cósmica, de encontro com o Universo que avança sobre cada um e em todos nós. De outro modo, o homem, sequioso em saciar tão-somente, numa coisa pequena, uma paixão que se dirige ao 'todo', logrará preencher -pela materialidade ou multiplicidade crescentes de suas experiências- um desequilíbrio fundamental, apenas.
Dessa reserva sagrada de energia, o amor, é que se nutre a evolução espiritual. Assim, a identidade humana de cada indivíduo só se completa na do outro, vez que -energia- não se confina, ao contrário, se expande.(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
SÁBADO, 23 DE FEVEREIRO DE 2008: "O PODER DISSIPADO".
A fim de se alcançar o interior sublime , o poder sempre disponível ao homem (muito embora, com maior constância ainda, frequentemente reprimido), é a força a qual chamamos -sem a devida importância- 'amor'.
Para atingir esse centro divino faz-se necessário modelar uma concepção dinâmica do amor.
A física moderna nos ensina que a matéria, em última análise, nada mais é que 'energia'. Este encontro de 'forças' é tão presente em Freud quanto na filosofia hindu.
Porque o 'amor' é a mais universal, a mais formidável e misteriosa das energias cósmicas. Depois de seculares ensaios, as instituições sociais a represaram e canalizaram exteriormente. Utilizando esta situação, os moralistas procuram regulamentá-la -sem ultrapassar, aliás, em suas construções, o nível de um empirismo elementar, em que arrastam as influências de concepções obsoletas sobre a 'matéria' e os vestígios de antigos tabus. Socialmente, finge-se ignorá-lo, quer na ciência, quer nos negócios, nas assembléias, quando, falsamente, este empirismo está em toda parte. Imenso, tomado pela ubiquidade, e sempre insubmisso, causa a impressão de surpresa por compreender e captar esta força original. Sentindo-a, os moralistas deixam-na correr por todos os lugares, debaixo de nossa civilização, pedindo-lhe, apenas, que nos divirta ou que não nos prejudique, tudo como se fosse mesmo possível à humanidade prosseguir vivendo e crescendo sem interrogar sinceramente acerca do que ela deixa perder de 'verdade' e de 'força' em seu extraordinário poder de amar.(Marcus Moreira Machado)
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
SEXTA-FEIRA, 22 DE FEVEREIRO DE 2008: "UNICIDADE IMATERIAL".
Na nascente de todo o real há um ente que possui a plenitude do ser. A sua concepção está baseada no ser cuja experiência nos é mais próxima, qual seja, a 'consciência'. Mas essa consciência é um ato e não uma substância. Da mesma maneira, o ente a que se atribui superioridade, do qual provém todos os demais seres, é também ato; porém é 'ato puro', enquanto a nossa consciência é ato variegado de potência e, por isso, ato limitado. Assim é que , de início, inconscientes vivendo, a nossa consciência só emerge de uma realidade criada sem ela, aos poucos. Após, o corporal é predominante, nos situando no mundo com o qual estabeleceremos relações; limitando-nos, por efeito.
O 'ato puro', diversamente, advém de uma base onde impera o nada, no sentido de que tudo que ele é provém dele mesmo; ele próprio se fixa, é o seu próprio criador, sua razão de ser, em diversificação de fórmulas para expressar um início absoluto.
O ser de tudo que não é ele, consiste em integrar o seu ato. Este verbo nos reconduz ao imaterial, pela 'participação', evocando, enfim, a unicidade.(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
QUINTA-FEIRA, 21 DE FEVEREIRO DE 2008: "AUTOCRÍTICA, A CENSURA DA UNANIMIDADE".
Determinadas coerções sobre o psíquico individual são feitas de maneira semelhante, no domínio psicológico e na intenção comum de uma unanimização. Assim, a confissão pública é prática observada comumente em muitas ordens religiosas, tanto quanto obrigatória em sociedades comunistas. Nos dois casos, a autocrítica sistemática é igualmente aplicada.
Uma mesma analogia é constatada na ação de cada indivíduo em relação à sua própria mentalidade. Os atos de humildade são exigidos nas ordens religiosas (pelo envio temporário do religioso ao nível mais baixo da ordem, tendo ele já atingido o ápice da hierarquia); e, também, nos sistemas comunistas, um chefe de seção é rebaixado regular e temporariamente aos graus mais inferiores da hierarquia social.
Um fosso separa os dois extremos, do ponto de vista da unanimização preservada: conventual, de um lado; comunista, de outro. No primeiro , o consentimento total das consciências e de todo o ser físico e moral é dado espontaneamente; no segundo, para a maioria dos membros, uma coerção policial extrema e impiedosa exige a imediata adoção da solução coletiva.
Na direção de uma autocrítica, como produto da censura da unanimidade, confirmam-se, todavia, em ambos os casos, os meios extremos que as coletividades severas e integrais exercem sobre seus sujeitos. A meta, sempre a mesma: alcançar e manter a coletivização psíquica total dos indivíduos e, consequentemente, a coletivização de toda a sua atividade econômico-social, em supressão do sujeito, substituído pelo objeto da pretensão.(Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
QUARTA-FEIRA, 20 DE FEVEREIRO DE 2008: "COMPAIXÃO, UMA DIALÉTICA DA LIBERDADE".
Otimista, o marxismo não teme, conforme o contexto, evocar uma racionalidade, uma concepção positivista da ciência, ou até mesmo um irracionalismo voluntarista da violência, em teorias que se aliam à técnica totalitária da tomada e da conservação do poder, ou seja, à recondução da dominação. Em antagonismo a uma história deduzida diretamente do conceito do materialismo histórico, sugestiva é a proposta de resgatar uma outra história, na qual as sequelas do sofrimento do passado permaneçam presentes em seus feitos. A tradução do sofrimento em concepções universais e abstratas torna-o sem voz, desprovido de significado. Não se trata da piedade piegas de um suposto revolucionário qualquer, mas sim da real compaixão. É, então, o verdadeiro revolucionário compreendendo a conexão entre compaixão e política. Aquele, ao contrário, exalta o sofrimento do povo e, ao mesmo tempo, o submete à mais cruel repressão.
Se a compaixão é um compadecimento, a sua efetiva identificação se perfaz com a angústia do indivíduo face o sofrimento alheio. Porque a compaixão encontra sua força no fato de estar unida a um ser particular, único, não podendo, assim, ser generalizada. Ela é uma tristeza que reconhece e compartilha o mesmo sofrimento dos demais, sendo levada, portanto, a querer o seu próprio fim.
A emancipação não é possível em termos gerais, tão-somente. Diversamente, pela compaixão, surge a liberdade do indivíduo, na medida em que é nele que se concentra o conflito entre a autonomia da razão e as forças obscuras e inconscientes que invadem esta razão.(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
TERÇA-FEIRA, 19 DE FEVEREIRO DE 2008: "RAZÃO QUE CONTROLA".
A racionalidade que separa sujeito de objeto, corpo e alma, 'eu' e mundo, natureza e cultura, acaba por transformar as paixões, as emoções, os sentidos, a imaginação e a memória em inimigos do pensamento. Cabe ao sujeito, destituído de seus aspectos empíricos e individuais, ser o mestre e conhecedor da natureza; ele passa a dar ordens à natureza, que deve aceitar a sua anexação ao sujeito e falar sua linguagem -a linguagem da matemática e dos números. Só assim a natureza poderá ser conhecida, isto é, 'controlada', dominada; o que não significa ser 'compreendida' em suas dissonâncias em relação ao sujeito e nos acasos que ela torna manifestos. Os acasos da natureza são incontornáveis, porque constituem um obstáculo resistente ao exercício triunfante da razão controladora. A ciência, se domina a natureza, o faz extirpando, matematicamente, por meio de estatísticas, os acasos. Entretanto, isso não é o suficiente para controlar a vida em suas incoerências.(Marcus Moreira Machado)
domingo, 17 de fevereiro de 2008
SEGUNDA-FEIRA, 18 DE FEVEREIRO DE 2008: "EVOLVER A EVOLUÇÃO".
Por demais sabido, só o homem é dotado de um cérebro onde nasce a 'reflexão'. Ele se dirige, evolui segundo a 'sua' vontade, onde quiser e como quiser.
Todavia, até o estágio do surgimento da reflexão, da sua encarnação no espírito humano, do aparecimento da consciência criadora neste espírito, tem-se a impressão de que a evolução da vida era dirigida do exterior, rumando ao objetivo bem determinado de aumentar a concentração da consciência, mas, de qualquer maneira, sem reflexão. Esta evocação dá a idéia de uma busca, de interminável sucessão de tentativas e abandonos.
A partir do momento em que advém a reflexão, e, mais singularmente, após os grandes feitos produzidos pelo intelecto, ao contrário, parece que por meio dela é que o aperfeiçoamento da evolução humana deve prosseguir. Trata-se da imperiosa necessidade de alterar, de evolver a própria evolução, em desenvolvimento através de outros parâmetros.
A reflexão -da qual o homem é a base de sustentação- sucederia, definitivamente, ao instinto de conservação e de progresso que conduzia a evolução da vida sobre a terra, explicando então o significado para o ser humano ter sido criado à imagem de Deus, e porque o seu Criador descansou no sétimo dia.(Marcus Moreira Machado)
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