"E o quê é a verdade?!" -exclama Nietzsche- senão "um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que após longo uso parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias ? As verdades são ilusões, das quais se esqueceu o quê são...".
Inegável, de fato, o 'homem intelectual' tornou-se uma criatura dada a explicações, na forja dos seus próprios cânones. Por isso, a conscientização das massas populares é pura mistificação, porque impede o despertar de uma consciência particular, singular. E não por outra razão, é necessário dispensar à política tratamento tal que não venha ela prejudicar a vida do espírito, vez que a pluralidade (pressuposto a ser assumido, em síntese, pela imaginação, no 'diálogo' do pensamento) sofre ameaças, desde o início da modernidade, como bem esclarece Hannah Arendt.
Assim como jamais existiu na História sublevação pela concordância, certamente, nunca será viabilizada a 'liberdade' sem o precedente de sua motivação, qual seja, o pré-questionamento da 'condição humana.
O homem libertar-se-á quando disser 'não' ao 'sim' a que foi adestrado repetir sistematicamente. Quando, por fim, 'pensar', ao invés de 'idolatrar'. Porque é no diálogo do pensamento que está a gênese do amor. Anárquico que é, o amor rompe as imposições que insistem em confinar os sentimentos nos limites da indução.
"A alma quer mesmo o quê quer: tem o seu próprio conhecimento, sentada, infeliz, na superestrutura da sua explicação, qual um pássaro que, coitado, não sabe de que lado vai voar".
Será no gênio da loucura que a cada um de nós resgataremos as profecias das verdades insondáveis.
Personalíssimos. poderemos então comungar a vida em sua apoteose transcendental, pois a verdade não será sempre a primeira, totalitária, e sim a do "senso comum que possibilita partilhar o mundo com nossos semelhantes".
'Pensar' será -na pluralidade- comprometer-se apaixonadamente com a vida, divindade única na temporalidade existencial. O contrário, é preferir a morte adiada, no culto ao deus projeção de si próprio, como se isso minimizasse o 'absurdo' da imensurável dimensão humana.(Marcus Moreira Machado)