Dogmas e axiomas definitivos que não observam a “desordem natural” de uma cultura como a nossa, a brasileira, estarão sempre fadados ao desparecimento precoce . Aliás , num período como o atual , marcado por uma profunda crise social e econômica, quando satisfazer os prazeres mais imeatos e fundamentais é a conduta próxima e comum a tantos quantos procurem ocultar a formidável depressão existencial a atingir toda a sociedade , torna-se impossível alguma concepção baseada em conhecimentos cuja profundidade negue o sentido de extensão pelo acúmulo e pela sucessão de instantâneos , pela soma , enfim, de ideologias e representações fragmentadas no tempo, mas reunidas na diversidade própria ao conhecimento inatingível , porque infinito.
Muito provavelmente, a revisão constante será o reconhecimento de que processo ocorre sempre por etapas, em admissão de fatos e circunstâncias supervenientes e imprevisíveis . Daí a sabedoria de quem possa identificar na multiplicidade o valor do conjunto, percebendo e respeitando igualdades , e promovendo diferenças de maneira tal a individualizá-las como característico como determinante de uma dada categoria de pessoas.
Eis, talvez, o maior pecado das elites neste país: generalizar . Porque temos um único idioma em tão vasta extensão territorial que é a nossa, não separados por dialetos regionais nem divididos sustancialmente por disputas étnicas, a falsa idéia de um singular “universalismo” tem sido o substrato para políticas globalizantese inaptas a enxergar o elemento determinante da nossa evolução ,ou seja, a “mestiçagem” e os seus frutos ou as suas expressões aparentemente impregnadas de indensatez - as culturas várias, os múltiplos estilos, a pluralidade da “linguagens” .
Pretende-se aqui - -e, via-de-regra, no mundo todo - - a uniformização como resposta aos anseios da sociedade. Ora, se nem angústias podem ser padronizadas , certo que nem as suas origens e causas nem as suas manifestações se apresentam de forma única, como crer em projetos de governo insensíveis à prolixidade de um povo como o nacional ? Muito antes dessa pretensamente inovadora era das negociações, onde os extremisnos são previamente condenados, quando a integridade cede espaço à aceitação da melhor ( e não menos cínica ) conveniência individual., há mais tempo do que essa hipotética “modernidade”, um americano do norte , empresário bem-sucedido em tudo o que empreendia, teve os seus dotes de Midas cabalmente arruinado num empreendimento aqui neste país, barroco por excelência.
Ford, querendo fazer frente à concorrência no mercado da borracha natural , pensou o óbvio: explorar o produto na Amazônia brasileira. E ,pagando salários muito superiores àqueles pagos pelos “coronéis” da região, recrutou caboclos do Norte e Nordeste que, além da melhor remuneração, foram abrigados numa “vila” pré-montada e trazida para cá sob o aparato de propiciar aos trabalhadores alojamento de primeiríssima qualidade , com a oferta de alimentação de país desenvolvido , isto é, protéica e vitaminada. Mas, para surpresa do empresário, duas “greves“ fizeram-no desistir da empreitada. Os caboclos culturalmente habituados à rede( costume dos antepassados indígenas) não suportaram dormir nas camas-turcas a que a “moderna” civilização de há muito está acostumada. E, depois, comeram com repugnância o que para cá trouxeram os norte-americanos como alimentos da mais rigorosa nutrição : queriam e exigiram os trabalhadores brasileiros o jabá, o charque, a carne-de-sol, com farinha .
Não bastasse, Ford não compreendera que os seringais desenvolviam-se à sombra das copas das grandes árvores nativas da Amazônia, e daí a sua boa qualidade . Porém, tendo estabelecido as esteiras de produção, no que se conhece por produção em série, o empresário pensou lograr êxito de igual forma de plantação de seringueiros . E foi o que fez : mandou derrubar as grandes árvores para poder plantar os deus seringais também em série . Fracasso .
Comenta-se que Ford, desestimulado, se perguntava que gente era essa que preferia dormir em redes, que rejeitava boa comida para engolir carne salgada ao sol .
O norte-americano , provavelmente, do Brasil só ouviu falar no Rio de Janeiro , culturalmente mais próximo aos Estados Unidos .
Passado o tempo, é outra a perplexidade : que governantes são esses , tão distanciados do barroco brasileiro , incapazes de perceber qual o real sofrimento do seu povo , mais próximos que estão do primeiro-mundo pelas supersônicas aeronaves do poder ?!(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 20 de dezembro de 2008
SEGUNDA-FEIRA, 5 DE JANEIRO DE 2009:"CARACTERES"
A insatisfação e a hostilidade determinam a reação contra as dificuldades impostas ao indivíduo pela existência de um processo de adaptação entre ambições pessoais e a pressão psicológica do meio externo.
Da antipatia, fruto de decepção e fracassos pessoais, das feridas morais advindas de setores coletivos é que se forja a atitude revolucionária, isto é, a rejeição ao “modo de viver” em voga. Assim, o revolucionário nasce no enfrentamento às instituições sociais, por serem estas a extensão de um problema anterior ainda não resolvido. Atacar os militares, enfurecer-se contra o Judiciário, condenar o Governo e sua “política corrupta”, são formas estabelecidas de um confronto unilateral, onde o militar, o juiz, o Presidente não invadirão a privacidade do ressentimento revolucionário.
Já resguardado, o caráter revolucionário adota, agora, fórmulas de salvação que, entende, erradicará os males que permeiam a sociedade. Mas, convencido do seu fracasso na aplicação prática de tais métodos, sabendo impossível a sua realização pelas atitudes isoladas e em respeito à lei, declara um novo mundo a partir do comportamento sugerido em protesto a experiências individuais, somado a idéias mais abstratas alcançadas por leituras, assembléias ou propagandas político-filosóficas. Dessa forma, na fase inicial da formação revolucionária, coexistem medidas de ordem geral - sempre utópicas - e medidas de cunho pessoal.
Diferenças essenciais, separam o indivíduo insatisfeito do rebelde, e este do revolucionário. O primeiro tem a característica do constante mau humor, criticando a tudo e a todos; o segundo vive para protestar as convenções; o terceiro não convive com nenhum regime social, por julgar-se condenado ao martírio, pela redenção da humanidade, enfim, por seu caráter universalista, onde acredita-se um mensageiro divino. Ao revolucionário não basta reformar a sociedade; quer ele ser o criador de uma outra, para o que precisa demolir as estruturas da anterior. Como um “Deus”, tem o destino traçado para a humanidade, ainda que nem todos queiram o beneplácito das suas inumanas concepções. Mais que obstinado, o revolucionário é escravo da necessidade de se fazer justiça. Aliás, injusto é, para ele, tudo aquilo que se contrapõe ao seu particular ideal de justiça.
Quando, porém, esse indivíduo se dá conta de suas limitações, corre ao encontro de um grupo com o qual possa partilhar seus magnânimos propósitos.
É nesse momento que trai os seus princípios, adotando, então, dentro de uma hierarquia organizacional, normas de conduta que nada diferem das observadas em instituições convencionais, objeto permanente de sua ação devastadora. Esse ordenamento próprio possibilita-lhe a manutenção de sua qualidade de “libertador”, resguardado de quaisquer opiniões adversas à sua nobre causa, pois que conquistou o ápice de seu magnificente projeto, e, agora, na posição de “líder”, fala em nome da emancipação do povo oprimido. O “iluminado” passa a ser o representante máximo das massas, fortalecido e protegido pelo prestígio do clã. Inaugurada a nova “instituição”, o próximo passo é a conquista do poder, quando a distância entre a atuação aparente e a real chega a seu auge. A cristalização dessa última instância em tudo espelha similaridade com o regime que se pretende depor, revestindo-se, inclusive, de feições partidárias, com plataforma política e programa de governo. Está moldado, de vez, o caráter revolucionário, a estabelecer os desígnios dos miseráveis.
DOMINGO, 4 DE JANEIRO DE 2009:"BAZAR DA PECHINCHA"
Todo homem tem o seu preço, é o que dizem. Se assim é eu penso então se sou tão enjoado a ponto de me supervalorizar e não me vender por aquele que julgo ser preço de banana, uma verdadeira ninharia. E olha que ando mesmo precisando muito menos do que o 'bendito é o fútil'. No entanto, movido pela vaidade, talvez, não sou de me contentar com pirulito na boca de criança, desses que fazem calar a boca de marmanjo chorão; quando creio que algo deva ser meu por direito, corro atrás.
Pelo jeito, muita gente anda se vendendo em baixa na cotação da auto-estima. Uma subespécie de inflação, é o que parece; o valor nominal da dignidade individual está defasado, e valor real nem se cogita. É dessa forma que órgão público virou entidade filantrópica, assistência social, caridade a que se agradece como o faz o mendigo por um prato de comida. Por isso esse péssimo hábito de se fazer de coitado para merecer o resto de comida; por isso essa coisa idiota de chamar de "doutor' qualquer um que esteja de traje esporte fino, na esperança de sobrar algum.
A miséria da república lotérica conseguiu fazer da outrora pirâmide social duas retas paralelas entre si, dando a impressão, própria à ilusão de ótica, de que nobreza e vassalagem caminham agora definitivamente juntas, encontrando-se ao final num só ponto de convergência. No caso, seria mais prudente olhar as múltiplas facetas do poliedro ao invés de apenas observar os dois lados da mesma moeda. Porque, cara ou coroa, a moeda ainda é do rei, tanto faz, tanto fez.
O leiloeiro oficial da desgraça alheia está batendo o martelo para quem dá menos, ou melhor, para quem se dá por menos. E quase sempre sob a promessa de que a peça ainda valerá muito quando mudar o dono do pregão, quer dizer, do parlamento, do governo, da presidência. Por isso, indigentes de todo o mundo, uní-vos! A palavra de ordem é 'abaixo o avesso do avesso', tudo pela transparência do telão auriverde nas praças da República ao som da alegria-alegria das batucadas afoxé regada a muita "pitu", que por sinal é camarão. Se somos tão afros por que ganhar dos escandinavos, não é mesmo?
Entre nós, ao ouvirmos a palavra "Não vim trazer a paz à terra mas a luta. Quem não for por mim, será contra mim", a atribuimos a algum cântico gregoriano-petista, nessa que insiste em ser a nossa vocação para imitar Victor Hugo, em "Os Miseráveis". Imitar é muita lisonja, mais corretamente deveríamos entender "papagaiar". Mas, tudo bem, dizem sempre que o Brasil é um país de contrastes pela sua enorme extensão territorial, um país continental, enfim. E isso, convenhamos, não é mentira, pois num mesmo telejornal marinho - esse também chamado de "doutor" -, quarenta minutos gritam Brazzziiilll!!, enquanto cinco minutos murmuram o aumento em quinze por cento na mortalidade infantil brasileira. Ou melhor, brasssiiillleeeiiira ... ....
Ora bolas! A gente devia é ouvir um tango de Piazzola e descongestionar o nariz com receita sob prescrição médica de Maradona. Não, não é nada disso, eu estou meio confuso, Sócrates que é médico, assim como Tostão. A gente nem precisa de remédio para emagrecer nesse nosso joguinho que não é de quatro em quatro anos, que é de todo santo dia, até mesmo em dia santo, porque a gente não vale nem um vintém. Afinal, eu ando mesmo é pensando em preencher cheque de 01 pataca, que equivale a 320 réis. Será que o Banco do Brasil aceita? E se não aceitar? Eu terei de explicar que é moeda antiga, de prata, com lastro garantido. E, sinceramente, eu não admitirei que ninguém me chame de meia pataca, pois como já disse, o meu preço é bem maior. Não adiantará me dolarizar, eu não aceitarei empreguinho de procurador no labirinto das secretarias de diretorias com secções e departamentos das intendências municipais. Eu quero é ser ministro no Parlamento da Comunidade Européia, ainda que sendo americano do sul do equador, um 'botina amarela' herdeiro da nobiliarquia dos cafezais que morreram com o barões nas cidades mortas lobatenses.
Eu fui criado nos preceitos da T. F. P. - a Tradição, Família e Propriedade. Agora a propriedade acabou, a família acabou, a festa acabou... E agora José? O que fazer? Somente restou a Tradição e esse meu nome escrito em sangue azul. Pois, vendo o meu nome para algum novo rico que precise justificar a propriedade com a tradição que ele não tem.
Quem dá mais? Eu ouvi 10.000?! Quem dá mais? Alguém disse 25.000!
É pouco. Observem que não é um nominho qualquer, descende de Fernão Dias, é nome de logradouros, de ruas, avenidas e marginais nesse beco sem saída da minha vida inteira.
Eu ouvi 50.000? Quem dá mais? É nome com estirpe, dos fundadores da cidade, ou quase isso. Quem adquirir esse nome o terá garantido em certidão pública, com direito a criar nova dinastia.
Ah! Raimundo... Mundo, vasto mundo... Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, mas não uma solução! Vocês querem dinheiro?! Vocês querem dinheiro?! Então cuidado, porque não existe bicho papão, mas existe papa-tudo na telinha da TV, baú "vem que aqui tem".
O que eu não desejo, não quero de forma alguma, é ser mais um judas e me vender por tão pouco.
Bato o martelo. O leilão está suspenso. (Marcus Moreira Machado)
SÁBADO, 3 DE JANEIRO DE 2009:"BALAIO DE4 GATOS"
É muito difícil separar o joio do trigo, quando tudo parece ser joio fazendo um esforço enorme
para parecer trigo.
Nós brasileiros, promovidos a fidalgos, com direito a escolher em horário nobre da propaganda
eleitoral gratuita os mandatários da nação, somos isso sim forçados a assistir um espetáculo
muito pobre em imagem e total ausência de ação. Padronizados, reduzidos a insignificância que
talvez façam alguns por merecer, uma legião de candidatos desfila pela miséria nacional, ora
prometendo e ora prometendo que nada vai prometer, essa a estratégia ainda mais vazia do
palanque eletrônico com coreografia limitada pela Justiça Eleitoral.
Sob o pretexto de evitar o abuso econômico por partidos aquinhoados com verbas publicitária
oriundas de indeterminados e seletos grupos, o que de fato conseguiu a recente 'legislação' foi
entediar mais (como se isso fosse possível) o respeitável público superior a 180 milhões de
palhaços que acotovelam-se nas estreitas catracas do Gran Circo Brasil, todos a espera de
uma produção melhor cuidada.
Merecemos no mínimo cenas mais prazeirosas, compatíveis com o refinamento dramatúrgico de
um Renato Borghi ou de um Gerald Thomas. Afinal, por que tanta mediocridade? É necessário
repetir que o povo gosta de luxo? Então, somos ou não também 180 milhões de críticos?
Brasileiro que é brasileiro adora discurso - ouví-lo e fazê-lo. Temos esse dom dos artistas, a
criatividade, a verve. Se assim não fosse não seríamos tão imaginosos na assimilação da
compulsória convivência com duas moedas simultâneas, desafiando leis básicas da Economia e
fundamentais preceitos constitucionais. E, por isso tudo e mais um pouco, buscamos purpurina e
muito brilho, bastante longe do mínimo tamanho reservado ao formato três por quatro da
propaganda eleitoral, onde a imaginação foi suprimida, dando lugar a instantâneos que apenas
traduzem um sobrehumano esforço no sentido de convencer a platéia.
Se há algo de admirável no norte-americano é, certamente, a sua inegável democracia interna.
Os gringos não se envergonham de ser lobistas, quando isso deva ser o mais correto e sincero
num político. Cá entre nós, o mesmo procedimento é condenado como conduta desonesta. Um
absurdo! O parlamento não deveria existir se não existisse para grupos exercerem pressão uns
sobre outros. Negar essa sistemática é ser o verdadeiro populista demagogo: aquele que não
assume a benéfica qualidade de corretor dos interesses nacionais, vendendo o seu peixe por um
bom preço, não é político, porque não sabe o que é 'polis'. E, no caso, todo bom político-corretor
(ou lobista) necessita de espaço, como qualquer outro camelô que na Praça da Sé expõe e vende
o seu artigo colocando a boca no trombone. Eis o desafio: informar e formar opiniões. No
momento, a novela política está mais assemelhada aos melodramas mexicanos, sem nenhuma
graça, sem nenhum encanto.
Diante de tanta pretensão descabida, os candidatos a alguma coisa por esse país afora não
conseguiriam nem um trocadinho se dependessem de sua 'arte' para ganhar a vida, como fazem
alguns repentistas no Nordeste brasileiro ou alguns negros nos subúrbios novaiórquinos. De ôlho
no texto, via de regra esses candidatos mais parecem um bando de estrábicos, com a visão
dividida por entre as extremidades da telinha da tv, perdendo toda a espontaneidade, mal
acostumados com aparições mais próprias aos atores e jornalistas.
Mal produzidos, mal dirigidos, os candidatos a ator televisivo morreriam de fome não fosse a
oportunidade de também se mostrarem nos chaveirinhos, canetas, bóttons e uma infinidade de
bugigangas do tipo 'é de graça eu também quero'. Sozinhos no picadeiro, esses artistas
mambembes são arrelias de pouquíssima bilheteria, co-produzidos pelo zelo da falsa democracia
que pretende dar a ilusória igualdade de oportunidades a petistas e dentistas, a adélias e
centopéias.
Essa idéia meio socialista de querer acreditar que todo homem é igual impregnou legisladores e
juristas pátrios! E, como tudo o que nós brasileiros consumimos o fazemos com atraso de pelo
menos vinte anos, ainda não descobriram que 'competitividade' é a trajetória salutar dos
competentes. Essa visão esteriotipada coloca num balaio de gatos atores da megalomania e neo-
colonizadores do ideário nacional. Se com tanta parafernália outra meia dúzia de gatos pingados
tem mesmo o que mostrar à nobreza do nobre horário, imediatamente sucumbe à sonoplastia
sofrível de 'jingles' sem inspiração, de respiração ofegante a cada pausa dos discursos
concretistas. Marchinhas cederam a 'raps' de sarjeta no esgoto do esgotamento cívico da
incivilizada nação brasileira, lombardis e cidmoreiras de alto-falantes rodoviários disputam
barulho com o contra-regras.
Raríssima oportunidade de assistirmos um bom tele-teatro... e mais mediocridade! Tem-se a
impressão de estar numa sala dos milagres, com retratinhos mil, todos espalhados e criando um
cenário de pagador de promessas.
Nem nós nem eles merecíamos essa pobreza, já tristes que estamos em meio a tanta miséria
insistente em fazer desse povo um outro triste espetáculo!
Tiraram-nos o pão, agora tiram-nos o circo.(Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 2 DE JANEIRO DE 2009: "VERBO".
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
QUINTA-FEIRA, 1 DE JANEIRO DE 2009: "CRÍTICA" (ao texto "Mal")
QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2008: "CRÍTICA" (ao texto 'Renascença')
TERÇA-FEIRA, 30 DE DEZEMBRO DE 2008: "CRÍTICA" (ao texto 'Estibordo e Bombordo')
O toque percussivo dos atabaques em saudação aos ancestrais, são ritos de iniciação do ritual do existir, claro, tão certo, evidente. Visto que os caminhos percorridos dão conta de um mar de águas navegadas por quem sabe da vida uma exigência de coexistência em si, sendo que não cabe em outro lugar que não seja livre, onde dentro de dois, só há Um. Unicidade.(anônimo)
SEGUNDA-FEIRA, 29 DE DEZEMBRO DE 2008: "CRÍTICA" (ao texto 'Binômio').
DOMINGO, 28 DE DEZEMBRO DE 2008: "CRÍTICA" (ao texto 'Temos Vagas')
SÁBADO, 27 DE DEZEMBRO DE 2008: "CRÍTICA" (ao texto 'Fidelidade')
Indiferente ao ser o vir a ser revestido de rótulos, julgamentos, imaginação fantasiosa de uma cama feita a deleite(só não se sabe de qual prazer)Mal sabe, percebe ou enxerga que nada há além de dois dividindo morte em vida. Sociedade!! Como se diverte,rindo de tudo que é tão pequeno, ridículo, a fim de assegurar a tal "organização".Tua formação não permite integridade do ser sendo, dinâmico, construtor dentro de erros e acertos, sem dizer-se está pronto e acabado. Acredito em uma vida longe de uma idealização a bailar com divindades sem por um segundo pensar ser o Deus, mas sim sentir um Deus em si. Apagada as luzes, no escuro sem crença em alvorada ou crepúsculo. Contudo sempre mantida a integridade.(anônimo)
SEXTA-FEIRA, 26 DE DEZEMBRO DE 2008: "CRÍTICA" (Ao texto 'Volta sem ida')
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
QUINTA-FEIRA, 25 DE DEZEMBRO DE 2008: "VOLTA SEM IDA"
Por que essa idéia fixa de que o presente é tão marcante e passará, inevitavelmente, para a posteridade? Somos todos incapazes de lembrar que o pretérito sempre foi conjugado no futuro. E queremos acreditar que o último, o mais recente golpe é o derradeiro e o decisivo. Nada é definitivo, isto sim, como nada é definido, com certeza. Mas, não! tolos que somos enxergamos o auge naquilo que ainda é o primeiro passo, tanto quanto professamos o apocalipse no que não passa de um tumulto. É a ansiedade típica do homem político, onde tudo deve ter uma séria e grave por existir.
Nessa linearidade, tornamo-nos visionários de fatos corriqueiros, na defesa intransigente da arrogância peculiar à nossa pequenes. Pois, então, tudo prometemos - o que os outros não cumpriram e o que também não cumpriremos. Um caminho curto para a discordia, e todos discordando por pura retórica. Alternadamente, pessoas, grupos sucedem-se uns aos outros na prerrogativa da verdade inconteste; simultaneamente dizem as mesmas coisas em linguagens aparentementes diferentes, uns acredianto que agora é a sua hora e a sua vez, outros na pausa dos que em breve estarão de volta. Não entende-se quem realmente já esteve e se já esteve; não se sabe quem retorna e se retorna mesmo.
Políticos vão, políticos vem. Todos, qual mariposas, gravitam em torno da ofuscante luz do poder. Há os que pretendem irradiar luz própria, clareando a caminhada de quem almeja mas não sabe respirar mas aliviado. Há outros, aqueles que viram arcos-íris e vestem-se de camaleão, no inverno crepuscular das gentes opacas. Que diferença substancial pode distinguir este que assume um governo e aquele que o deixa? Nenhuma. Somente um lapso de tempo os separa, pois que nos bastidores se revezam em protagonista e figurante, a apresentarem a peça que os aplaudirá, a assistida por uma platéia que jamais perde uma encenação do seu próprio enredo. Quem deixou o segundo ato no pano de fundo, prepara a nova maquiagem do "avant-premier"; quem volta nunca se foi Se não parece assim é porque o trabalho do contra-regras ilude, em sons mixados, os discursos escritos pelo único autor - o povo. Mas, o povo. . . ! O povo não percebe a troca de cenário, habilmente manipulada para o show continuar. Entre ovações e apupos, êxtase e delírio, pranto e gargalhada, dá o povo o colorido do moto contínuo.
Ah! como gostaria de ouvir ópera. Rigoleto, Tosca. . . qualquer coisa que não desviasse a minha i-n-t-e-n-ç-ã-o, uma ária de Bach, talvez, ou Stravinsky, na "Sagração da Primavera". . . tudo que me permitisse jamais crer na retórica, tudo o que me fizesse prostrado pela apoteose.
Como eu queria não assistir esses seriados melodramáticos da política nacional, onde chora hoje este que rirá amanhã. Ou, pelo menos, não ler o livro repetido da "Volta dos que não foram", e não me expor à chateação de dizer: votei em você na última eleição, agora voto em seu "adversário", só porque ele faz cara de adversário.
Espere aí, lembrei de uma coisa. Fulano não foi seu secretário, oito anos atrás? Você disse, eu tenho certeza, que ele era o melhor! Espera mais um pouco.Você aí, secretário. Já não foi também oponente do vice do seu Prefeito?
Afinal, você nunca precisou de partido, pois tinha quantos queria, na hora em queria.
Sabem, vocês me constrangem. Continuo achando que já assisti mil vezes o seu filme, "A volta dos que não foram". Tá legal, o problema é todo meu, e só a mim cabe resolver. Não vale a pena perder o sono quando, tranquilo, ronca o povo esfomeado mas contente. Clic, desligo o vídeo. Amanhã, só por curiosidade, confirmo se aquele do quinto escalão volta - mais uma vez - ao primeiro time.
Boa noite. Durmam com os anjos, que o diabo está a solta. E boa sorte pra nós todos, viciados que somos nesse jogo de azar que é governar e ser governado.
Enfim: T R U C O! ! ! (Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2008:"EM AULA DE HISTÓRIA"
Um aluno do curso de suplência, já casado e pai de dois filhos, bastante questionador, pretendeu confrontar a suas idéias e os seus argumentos com os do seu professor, eu, no caso.
Eu sempre entendera que se alguém estivesse deveras comprometido com a Educação somente poderia autodenominar-se professor se de fato professasse algo. O contrário disso, aquela condição em que o indivíduo é meramente uma extensão do quadro-negro, aonde ele deposita um conhecimento alheio retirado dos compêndios, não mereceria, jamais igual designação. O título, então estaria restrito a tantos quantos pudessem e quisessem enxergar na figura do professor uma similaridade com a de um ourives: assim como este último, e lapidar a pedra que por si só já é fundamental, reunidos todos os atributos da excepcionalidade, destacando-se pela potência, também aquele outro - o professor - deveria identificar, reconhecer as potencialidades inerentes a cada aluno individualmente, estimulando, apenas, o seu aprimoramento convicto de que a pessoa humana readquire essa humanidade que a faz tão singular através do desenvolvimento da sua virtualidade. E, nesse sentido, não se trataria de propugnar por teorias rousseaunianas, quer dizer que “o homem nasce bom, a sociedade o perverte”. Não seria e não será a hipótese da discussão sobre as origens da índole. No entanto, por demais confessável, é, sempre, a investigação das causas e dos fatores determinantes da estirpe de um povo. E, inquestionável, a cepa se forja pela Educação, e essa, em consonância com a raiz latina do vocábulo, não é outra coisa se não “conduzir”, compreendendo-se, pois, a maior ou menor maturidade de uma nação a partir dos propósitos que a conduzem.
Pois bem, àquela época eu já era crente nessa acepção, quase mesmo um devoto, buscando difundir entre os meus alunos a importância, a grandeza de uma sociedade sustentada no conhecimento ilimitado, no saber humilde na reflexão constante e no questionamento como verdadeira propulsãodo progresso humano. Tratava-se de nunca permitir o desaparecimento daquela que eu, particularmente, venerava e chamava a “idade do por que”, isto é, a fase em que a criança de tudo quer saber, não se contenta com meia-resposta, e aprimora seu poder de indagar, esmiuçando com que a dissecar em infinita multiplicidade a secções de um ordenamento aparentemente rígido, inflexível , imutável.
Em assim sendo, dei ouvidos ao dito aluno que me perguntava: professor, você é a favor da pena de morte?
Diante da minha resposta desfavorável à pena de morte, o aluno quase que indignado redarguia aquilo que imaginava ser contra senso da minha parte: como eu poderia pensar dessa maneira, logo eu que aparentava ter uma mente aberta, não condicionada pela moral de uma sociedade “massacrante e hipócrita”.
Lembro-me de que respondi, inicialmente devolvendo-lhe eu também uma pergunta: e você, meu caro é contra ou a favor do aborto?
E ele me respondeu: “mas, é lógico que sou contra o aborto! Ninguém pode tirar a vida de ninguém!”
Como o aluno não se desse conta de sua própria resposta, eu pude acrescentar: “Mas se você é a favor da pena de morte e contra o aborto, como é que fica? Quer dizer que você deixará uma criança nascer, crescer, e depois, se essa criança se tornar um delinqüente, você decretará a pena de morte para ela? De quem é o contra senso?! Meu ou seu?!! Então, por que você não “mata” essa criança de uma vez, impedindo-a de nascer, pelo aborto?
Ele, o aluno, meio confuso, não se deu por vencido, o que achei ótimo. E me lançou de supetão uma nova pergunta, dessa vez um tanto acusativa: “quer dizer então que você é a favor do aborto?”
No que eu respondi: “Quando eu lhe disse que era contra a pena de morte você não me denunciára por uma resposta que não sabia de antemão qual seria. Agora, de fato, você pretende ter como resposta juntamente aquela que lhe seja favorável a não precisar reconhecer a sua incoerência pela fragilidade dos seus argumentos. Se eu lhe responder que sou favorável ou contrário ao aborto, tanto faz tanto fez, que você não quer é admitir que nunca tinha verdadeiramente refletido sobre temas tão controvertidos, aceitando pelo mesmo condicionamento social recriminado, o preconceito a respeito da suposta validade da pena de morte.
Naquela noite, eu fiquei sem meu precioso cafezinho do intervalo. Eu e o meu aluno continuamos a aula de
história no pátio do Colégio, perguntando, perplexos os dois, o que era história?(Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA, 23 DE DEZEMBRO DE 2008:"ZARATRUSTA"
Ao gosto dos mais eruditos, assim compara a expressão latina: "Nec solo nostro imperio milita re credimus, ilos, qui gladiis, clypeis, et thoracibus nituntur, sed etiam Advocatos: militant namque causarum patroni, que gloriosae vocis confisi munimine, laborantium spem, vitam, et posteros defendunt."
Obviamente, como nem o Português ainda dominamos, e de cultura somos ainda mais pobres do que outras carestias várias, melhor mesmo é assumir a ignorância e identificar a fonte da latinada: "Dicionário de Latim Forense", de Amilcare Carletti. Trata-se de uma dessas obras com que determinados sujeitos gostam de usar e abusar com "adjetivo', pensando impressionar magistrados que se dão por felizes quando têm tempo de ler, em rebuscadas linhas de 'portugueis tupiniquim', as 'exordiais', os 'embargos infringentes' e aflitivos da montoeira enorme de processos e processos, e mais processos. Assim, como de médico e de louco, como de advogado e de tapado todo mundo tem um pouco... está na hora de termos, também, um pouco de tradutor e intérprete, e passar para o povaréu, que se impressiona com qualquer coisa - sempre que dita com ar professoral -, o significado da aguçada observação do filósofo (será mesmo?), autor das belas palavras, que são lindas justamente porque a sua beleza consiste no efeito, na impressão, muito mais que realmente pela expressão. Mas, vamos lá: "Não acreditamos que no nosso império militem somente aqueles que se tornam fortes (no manuseio) das espadas, nos escudos, nas coraças, mas também os advogados; porque militam os defensores das causas, os quais confiando no auxílio da palavra gloriosa, defendem a esperança dos atormentados, e a vida e a posteridade."
Êta beleza! De posse de uma carteira da O. A. B., das prerrogativas do advogado (mais encontradiças no Estatuto da O. A. B.), e de um comentário em latim, como é o caso desse belo exemplar, qualquer um do povo poderá sentir-se convicto de estar cumprindo o honroso mister de distribuir... arrogância e prepotência. E daí? Quem não tem cão caça com gato, e quem não tem dinheiro gasta com poder. E é por esse e outros motivos semelhantes que eu sinto falta da Alice da minha infância pobre no interior do meu agreste e recôndito ser. No país da fantasia, estória era só o que a minha mãe me contava, parece que já antevendo o meu estado delirante, vítima de hipersinestesia, notívago e insone. Hoje, de olhos abertos, arregalados, minha vigília é para não crer em fábulas econômicas, em onomatopéias discursivas, em ideologias desvairadas de ilhas fantásticas.
Então, sôfrego, procuro a verdade nos antigos poetas alemães, nihilistas quase sempre, porém jamais intolerantes. É quando encontro num Wertheimer Von Krause, por exemplo, a esperada explicação para o sentimento universal traduzido pelos germânicos como 'Wille zur Macht', isto é, a afirmação do poder do "Eu". Pois, sob o pretexto refutável do estabelecimento de uma sinarquia, os sengos são forçados à convivência com a sorna da mais nova sóbole, grandiloqüente, porém nada mais que a aglutinação de somelgas sinagelásticos ocultando, em formidável simulacro, o destino de sinuelo reservado a tantos quantos obedeçam o seu sinistrismo.
Impressionante!! O que não é capaz de fazer um homem obstinado com a falsa idéia da fama!
Que fale agora Von Krause: "Spielzeug nicht geeignet für Kleinkinder unter 3 Jahren. Die Kleinteile könnten verschluckt oder eingeatmet werden". Afinal, as impressões álgicas multiformes - de compreensão, distensão, avulsão, ardor - são todas derivadas das chamadas sensibilidades profundas, motivo pelo qual as idéias dualistas de Goldscheider frutificaram em concepções que explicam a dor como sendo essencialmente uma reação talímica, produzida de vez em quando tardiamente na escala zoológica, compreendida entre os fenômenos afetivos e não entre as senso-percepções.
Difícil o entendimento? Só para quem não conhece a profundidade do pensamento germânico contemporâneo, sem dúvida alguma a marcar toda a doutrina política da atualidade, tal a influência na Psicologia das massas, invariavelmente impregnadas de lúdicas estratégias do 'marketing'.
Mas... já é hora de assumirmos novamente o quase sempre ingrato ofício de 'tradutor', e dar ciência à massa ignara (que também não sabe o que isso significa) da filosofia de um vago Wertheimer Von Krause, tão incerto quanto alegórico. Pois já não mais faz sentido a mensagem subliminar burlesca, o 'dito pelo não dito' que também nada disse. Se tanto lutamos pela emancipação do nosso povo, e pedimos 'diretas-já', e exigimos a deposição dos fraudulentos que conspurcavam a nação aviltada, se o nosso passado é de glórias, gloriosamente admitiremos a nossa ignorância, em primeiro e definitivo passo para o aperfeiçoamento moral do idioma luso-latino-franco-germânico-anglo-brasileiro-ianomâni, abolindo as fronteiras dos galicismos, anglicismos, e todos os demais 'ismos' que enodoam a cultura nacional de Pindorama.
Assim falou Zaratrusta! E assim falou Von Krause: "Brinquedo não apto para menores de 3 anos. As peças pequenas poderiam ser ingeridas ou aspiradas".
Agora, enobrecidos pela cultura popular do 'kinder over', já podemos respirar aliviados, todos bastante convictos de estar cumprindo, também, o honorável mister de distribuir gratuitamente a presunção característica da idiossincrasia bandeirante. E não se fala mais nisso!(Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 2008:"PETER PAN"
À noite, na cama, eu fico pensando se toda a nossa vida não passa de um interminável ensaio para um show; que nunca vai se realizar. Atores competentes, levamos a sério o ofício de representar a tragicomédia das nossas existências. E mesmo não passando quase sempre de figuração, acreditamos (ou queremos acreditar, seria o mais correto) que as nossas personagens devem merecer destaque, em reconhecimento à pretendida excelência de nossas interpretações. Isso para não falar de tantas vezes em que a pretensão é ainda maior, justificando sermos o dramaturgo, o diretor, o cenógrafo. o coreográfo, o contra-regras, e até, o seleto público da farsa nossa de cada dia.
Restritos num conhecimento que não vai além dos limites do próprio umbigo, não obstante planejemos longas temporadas nesse que é verdadeiro teatro de horror e efeitos especiais - o supostamente complexo, e taxativamente leviano, jogo de seduções a que intitulamos moderna sociedade, somos, apenas, os 'doces bárbaros'; sofisticados, mas bárbaros.
Com muita propriedade e aguçado espírito crítico, não errou Joseph Heller ao definir a hipocrisia numa única expressão: "Ninguém governa, todos representam". Embora comentasse o 'establishment' americano, o autor de "Ardil 22" e "Gold Vale Ouro", reúne algumas citações que valem como mostruário do valor (ou da falta dele) nas relações humanas. Extraído de um conto de Bernard Malamud, o comentário sobre a experiência judaica - "Se você, alguma vez esquecer que é judeu, um cristão logo tratará de lhe lembrar"- traduz o desprezo com que os homens se tratam.
Nesse palco iluminado em que vivemos de 'doirado', o 'script' é o da fantasia fingindo ser realidade, o da realidade pretendendo o surrealismo, o encontro do passado e futuro na impossibilidade do presente. A sonoplastia revela apenas um longínquo som - a voz débil de uma consciência ainda mais. Porque, encenando a mesma peça, "A Sobrevivência e a Seleção das Espécies", há séculos e séculos ritualizamos o espetáculo da vida, condicionando-o a show de variedades atrozes. E matamos, e condenamos ao extermínio pela fome, ostentando em luz neon o cínico título de 'civilizados'.
'Proibida para maiores', a arte do 'vale tudo' não tem autoria apócrifa: sua autenticidade encontra-se na mentalidade espartana a nortear ainda hoje 'centuriões' adestrados para o genocídio. Com entrada franca apenas para 'menores', obviamente.
Aprendizes de feiticeiro, movidos por 'complexo de Midas', encenamos a alquimia da vida eterna na terra, como reedição de 'faraós', 'czares' e 'césares' reinando sobre a própria incompetência e avareza. Cristãos ou não, judeus ou muçulmanos, invariavelmente iniciamos o 1º ato com a advertência: "O meu reino é esse mundo". E, ao cair o pano, acrescentamos: "Se a casa do pai tem várias moradas, essa é minha", sem dar conta de que a fantochada em cartaz reduz a títeres tão prosaicos 'artistas'.
A contemplação do mau caráter, em detrimento da força moral, já no século XIV era motivo de preocupação por parte de Giovanni Boccacio, um dos maiores nomes da literatura italiana, ao lado de Dante e Petrarca. Em o "Decamerão", escrito entre 1348 e 1353, obra que reflete a crise das concepções do mundo religioso, Boccacio, através de 'Elisa', uma das jovens refugiadas num local solitário para fugir à peste que assolava a Europa, critica: "... Atualmente, o que mais estimado se faz, o mais honrado... o que é engrandecido com prêmios de alto valor, é exatamente aquele que diz mais palavras abomináveis, ou que pratica os atos mais vergonhosos. Isto é a grande, e digna de lástima, vergonha de nosso tempo; e constitui prova bastante convincente de que as virtudes, ao sumirem da terra que habitamos, abandonaram os míseros mortais na lama dos vícios".
Não por menos, quase um milênio antes, o grego Diógenes, filósofo bastante admirado pelo Imperador Alexandre Magno, renunciando em extremo aos bens materiais o à ganância, de pronto respondeu ao monarca que lhe prometia dar qualquer coisa que desejasse: "Não me tires o que não me podes dar". Referia-se o maior vulto da Escola Cínica. Diógenes, à luz do sol, com a qual estava se aquecendo, uma vez que o imperador, à sua frente, fazia-lhe sombra.
Preocupação dos grandes gênios na história da civilização humana, infelizmente a reflexão não parece ser ocupação da maioria de nós, todos bastante distraídos com o entretenimento da dissimulação. Pretender dons divinos, fingindo onipotência, onipresença e onisciência que não possui, é demonstração da estereotipia reducionista do homem na face do planeta Terra; com a diferença de que há causas aparentes para a repetição indefinidamente prolongada das atitudes que o tornam protagonista do seu próprio malogro. A causa maior, sem dúvida, não é falta de conhecimento e sim a ausência de Deus.
Na apoteose da 'superioridade' da raça, a deificação do ser humano evitou a transcendência de fato, anterior a qualquer experiência, para garantir a supremacia do relativo.
Agora, findo mais um 'ato', intérprete e personagem se confundem no enredo trágico do seu destino, num show que - já estou certo - vai continuar, porque insistimos, ainda, na pobre vocação para uma alma mambembe, afastada da magnanimidade e voltada para o egotropismo.
Na coxia, alguém insiste que o show não pode parar. Ninguém o vê, mas todos o obedecem.(Marcus Moreira Machado)
DOMINGO, 21 DE DEZEMBRO DE 2008: "CRÍTICA" (ao texto 'Falando Sério')
"...PERCEBER A LUZ CALMA QUE DESPERTA O DIA AO ALVORECER... ATÉ A ESPERADA HORA DO TEMPO QUE NÃO PASSE..."
".... VELAR O SEGREDO DA MADRUGADA..."
A intenção é velar o silêncio da madrugada, entretanto deixando-se adormecer bem rapidinho, "só para sonhar e o outro ver", perceber a luz calma que desperta o dia ao alvorecer, permanecer ainda em unicidade até a esperada hora do tempo que não passe...(anônimo)
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
SÁBADO, 20 DE DEZEMBRO DE 2008:'IDADE DA RAZÃO"
Nem tudo está perdido. Não se pode e nem se deve crer que as pessoas não mudem, jamais, de opinião, e assim com o passar dos anos, passem a observar sob prismas antes ignorados ou desprezados o que até então julgavam por pronto e acabado, insuscetível de reavaliação. Afinal, aos oitenta para uns, aos trinta para outros, a vida fica mais velha e mais sábia, revelando-se mesmo surpreendente no que pode oferecer, e menos exigente do que se supunha. Irredutível nem será bom sinônimo convicto, pois superveniência é, de fato, a ocorrência plausível para o comum mortal. Não sem motivo, no decorrer dos anos, é surpreendente o caminho que se nos apresenta um dado instante para, em seguida, quase atônitos, nos depararmos com súbita nova rota do anterior percurso.
E tudo que se nos afigurava como certeza é substituído, fazendo ruir idéias e ideologias aparentemente sedimentadas em indestrutível amálgama, forjando-se, a partir daí, conseqüente sucessão de possibilidades, como num alerta ao destino indefectível.
Uma pequena dose de bom senso obriga uma resposta imediata à fragilidade inerente a cada um de nós seres humanos; nenhum questionamento, por sério e oportuno, compreenderá conclusões inevitáveis. Dessa forma, não há exatamente alternância de opiniões, porém acréscimos pré-conceitos circunstanciados e efêmeros. Pois, definitivamente, a regra é a indefinição e a sabedoria é a exceção.
Acreditar-se pleno, crer-se íntegro, quando se desconhece os desígnios impróprios á nossa natureza limitada, é superestimar uma capacidade subordinada a intervenções do imponderável. Da nossa essência sabemos muito pouco, conhecimento esse que nos reduz a meros espectadores, ainda que a nossa pretensão seja alcançar do infinito as suas fronteiras. Ora, semelhança não será, jamais, igualdade; e o muito conquistado pelo homem em toda a história de sua civilização não foi mais que a simples manipulação de conhecimentos básicos. Criaturas, eis o que somos; criadores, o que ingenuamente pretendemos ser.
A negação da nossa humanidade como exclusivo atributo a cada homem na face da terra tem-se operado através da transposição dos valores positivos alcançados em séculos marcados pelas guerras e pela mais franca injustiça social, em desprezo á luta pela civilização, substituindo-a pela barbárie originária, num paradoxo entre evolução e progresso. No entanto, é justamente em nome do aprimoramento que a megalomania se instala, na procura de uma tão vaga quanto inútil perfeição do homem, pretensamente elevado à condição de criador.
Enquanto a tecnologia assume patamares jamais imaginados, conferindo à raça humana uma duvidosa característica situada entre a genialidade e a supremacia, perde o homem, de forma abrupta e cruel, a sua própria "alma", em espetacular derrocada do aperfeiçoamento moral que paulatinamente vinha sedimentando como atributo distintivo da sua real singularidade; maravilhado com as múltiplas possibilidades de transformação da natureza a partir da sua intervenção, não atenta, porém, para o perigoso distanciamento entre o progresso da técnica e o retardamento do espírito, já escravo de si mesmo, ignorante e imperdoavelmente alheiro à instalação do mais insidioso descalabro moral.
Sistemas e formas de governo que não considerem a distribuição das efetivas melhorias, conseqüentes da investigação científica sistematizada, correrão, independentemente de cor partidária por cunho ideológico, risco crescente de morte prematura, corroídos na fragilidade de estruturas não comprometidas com a fraternidade universal como projeto pioneiro de vida concreta. Alimentar a revolta é duvidar da insanidade como efeito imediato da segregação; e se há hoje algo a temer, sem dúvida pouco se compara ao impérvido social fundamentado na restrição à grande maioria, impedida de compartilhar das benesses para as quais contribuiu confinada agora ao submundo da demência típica dos excluídos.Mudar de opinião, reavaliando teses antes formuladas na exacerbação e na arrogância será perseguir uma sabedoria que, muito embora além de nós mesmos, é seguramente mel melhor modelo de sociedade, porque respaldado nos limites de quem, eterno aprendiz, enxerga na prudência o caminho mais seguro a ser percorrido, afastando-se prematuridade deveras inconciliável com progresso humano.(Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 19 DE DEZEMBRO DE 2008:"FALANDO SÉRIO"
Agora falando sério, eu queria não falar. Eu queria nem sequer precisar falar. Ficar quietinho em meu canto, tendo mil idéias e não colocando nenhuma em prática, num mundo meio altista, particularíssimo e indevassável.
Já dei de mim o que eu nem sabia que tinha. Quis dividir sonhos com quem não admitia sonhar; construí moinhos de vento para quixote nenhum botar defeito. Mas, fantasias... só as com muito brilho e purpurina, no Carnaval.
Se ainda abro a minha boca (fecha-te, Sésamo!), é bocejo de muita preguiça.
Agora seriamente falando, eu quero acreditar só no que é verdadeiramente possível, e a curto, curtíssimo prazo. Não se trata de desencanto, mágoa ou qualquer coisa parecida. Alguns momentos de felicidade é o suficiente. Suficiente para mim, obviamente.
Não cresci nem diminuí. Talvez, eu esteja encontrando o meu real tamanho ou, quem sabe, o tamanho do meu mundo. O meu “Pequeno Mundo”, como em Hermann Hesse, procurando descobrir por que os homens vivem quase sempre perto da escuridão em cujas sombras podem se perder. Quem sabe, na cosmovisão possamos todos alcançar aprimooramento social e individual.
Aquela história de que hoje é dia da caça, amanhã é do caçador, é sinônima da outra - quem espera sempre alcança. O que vale dizer: se eu me deixar ser caçado, esperando, ainda alcançarei, caçando. Meramente frases de efeito, cujo impacto se dilui na relatividade de nossas existências. Assim, nem vale mais um pombo na mão, nem vale dois deles voando. Nada de pombo! Chega de tímida esperança!
Por que não aceitar, no recato, a mansidão da vida por si mesma, assim meio Gibran, poética e liricamente falando (e fazendo)?
Se for para gritar palavras de ordem, então abaixo todos os inúteis discursos redentores, de todos os credos, de todas as cores e matizes ideológicos!
E, também nem quero mais exclamar. Ato falho, vez ou outra cometerei a imprudência de clamar no deserto: vício, só isso.
Aguardar, em premeditado silêncio, a voz que vem do coração. Sabendo que ela certamente virá, porque é o que costuma fazer e o que sabe fazer. Se ouvidos moucos não a ouvem, que meus não sejam eles. Ouvirei Taiguara mais uma, mais outras vezes, sempre que o drama insistir em duelar com o meu amor. E, mais do que tudo, é exatamente isso o que pretendo fazer - amar. Amar, acima de tudo, além de tudo, e por isso tudo.
Agora falando sério, eu queria nem falar. As minhas melhores palavras foram ditas nas piores situações, para pessoas que não foram nem isso; para gente que também queria falar, mas não de si e para si, e sim às multidões que qualquer coisa ouve e a tudo aplaude.
“Ouça um bom conselho, que eu lhe dou de graça, é inútil dormir que a dor não passa”. Um outro sono, de sonho feito de encontros imediatos, na mais pura empatia. Para que o pote no final do arco-íris, se o ouro está a nossa frente, bem ali nas múltiplas cores?
Ainda quero perguntar. E não me preocupar com resposta alguma. É possível, estou convencido disso, satisfazer uma perplexidade com sucessivas indagações ( a cada novo momento uma expectativa a menos).
Nem política do corpo, nem política ambiental, nem política. É preciso um pouco menos de tanto mais a andar por aí, insistindo que eu, que nós temos muito pouco de tudo. Por que não decidirmos nós mesmos o que e o quanto nos basta?
Volto para onde jamais eu deveria ter saído, para a primeira e única descoberta que eu fiz: volto para mim, em tudo o que nele há em ti. Guardo a amizade do amigo que é coisa pra se guardar, conhecendo-me nas fronteiras que imaginei, no valor pequeno que toda fronteira tem.
Eu tenho a casa no campo, e não mais me importo em querê-la. Tanto a quis para, afinal entender que a casa e o campo não eram senão pretextos de um incerto querer. Pretender não é um trecho de caminho?
Vou voltar, sei que ainda vou voltar.Por enquanto, agora falando sério eu queria não falar.(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
QUINTA-FEIRA, 18 DE DEZEMBRO DE 2008:"VERGONHA"
Eu quero morrer na praia, insistindo que a onda é minha. Eu sou muito mais que teimoso, bastante o suficiente para dizer que ganhei. Não sei de que, mas certamente ganhei; se tem de existir um perdedor, então que ele não seja eu. Entregar o jogo não tem cabimento. Torcida para vaiar é o que nunca falta; porém, festejar aquele temendo gol de placa, dizendo "é isso aí garoto... pisa fundo, estamos com você", é algo muito raro, porque todo mundo quer ser artilheiro nessa pelada de várzea que é a vida mesquinha dos provincianos. Mais fácil é a galera sentir-se forte e varonil com o chute que dá no suposto adversário.
Que espírito é esse, o que anima os medíocres a confinar em inaudito exílio todos quantos não são conformados com a peleja do faz-de-conta?! Por que essa mentalidade tacanha a querer expurgar em covarde assepsia?! Como explicar que, ao vestir a carapuça feita sob encomenda, a velhacaria não se dê conta de sua pequenez?!
Ah, meu amigo de fé, meu irmão camarada...! Você estaria ao meu lado para o que desse e viesse, sempre que eu lhe dissesse apenas o que lhe fosse aprazível aos seus ouvidos sensíveis e aos seus lábios delicados que encerram essa sua língua ferina de alcoviteiro nato. Não é assim, hein?! Que nada, você está sempre pronto para dizer que eu sou um inconseqüente, que só sei agredir todo mundo, de graça, por pouca coisa... Mas, o que você não quer e não pode admitir é a inconveniência das minhas palavras quando elas vão contra os seus mais vis interesses, todos aqueles que lhe garantem um duvidoso prestígio junto aos seus pares.
Se há algo de que eu já esteja muito cansado é de ter que considerar que no fundo, no fundo todo mundo é bom. Definitivamente, não sou escavadeira nem arqueólogo para ficar revirando tanta podridão até achar algo que preste, alguma coisa de real valor. E se você me critica por aí, dizendo que, além de você mesmo, ninguém me tolera, que eu sou mal visto por fulanos e sicranos das mais altas patentes... Se tudo isso que você diz a meu respeito é dito na minha ausência, perceba o quanto eu incomodo por não ser aquilo que você tem certeza que é - um adulador de primeira, que só faz o joguinho sujo do compadresco político-partidário, político-profissional, político-político, sempre pretendendo assegurar o seu lugarzinho no banho de sol do cativeiro a que está submetida a sua consciência, condenada à prisão perpétua pelos donos da razão aos quais você vendeu a sua própria.
Se eu faço tanta questão de 'ofender', de 'agredir', é porque no raso, no raso eu não preciso procurar o que fede: você! Você é mal cheiroso, 'troca de roupa e não toma banho', fingindo esperteza que não possui, asseverando o que não conhece, conspirando o próximo golpe, o imediato conchavo... ... ... (Marcus Moreira Machado)
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