Há um território comum à razão e à fé. É preciso demarcar com precisão esse 'espaço', a fim de impedir que a razão o ultrapasse, e assim ela possa desenvolver-se plenamente dentro desses limites.
Tal domínio -o do ser- é, em primeiro lugar, a realidade do mundo sensível. A razão pode conhecê-la.
Com efeito, o conhecimento racional provém inicialmente dos sentidos. Da sensação, o intelecto abstrai a individualidade das coisas, e delas retira a matéria, obtendo por resultado as formas.
Operação em que atuam, mais certamente, dois tipos de intelecto: o 'possível' -que recebe dos sentidos as imagens das formas; e o 'agente' -responsável pelo conhecimento determinado das formas. O segundo, pois, 'atualiza' o primeiro, isto é, dá-lhe existência, antes 'negada' na abstração.(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 5 de janeiro de 2008
DOMINGO, 6 DE JANEIRO DE 2008: "UNIÃO CRIADA".
Estamos em regime não de Cosmos, mas de Cosmogênese. Não o 'Espírito' por evasão fora da 'Matéria', e nem justaposto, porém, emergindo dela.
É a "união criada", ou "união criadora".
Presente no Catolicismo, essa já era a concepção, três mil anos antes, na filosofia do Samkhya, com o "nada criável". Ou, o próprio Deus 'unindo-se'.(Marcus Moreira Machado)
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
SÁBADO, 5 DE JANEIRO DE 2008: "CERTEZA RACIONAL DA FÉ".
Acontece o mesmo com a 'certeza' da fé como com qualquer outra 'certeza': é racional e, por consequência, 'razoável'. Ela é científica, isto é, demonstrada aos olhos da razão; é 'absoluta', da mesma maneira que toda 'verdade' é 'absoluta'. E o inteiro edifício da fé funda-se 'sobre fatos'.
Os apóstolos, primeiros pregadores da fá cristã, foram testemunhas, apenas. Eles testemunharam 'fatos'. E o Cristianismo repousa sobre os 'fatos' do Cristo no Evangelho, em primeiro lugar; e, depois, sobre os 'fatos' dos apóstolos.
Ora, nada mais simples e a um só tempo racional, científico e absoluto do que a 'certeza de um fato'. No caso, a certeza dos 'fatos evangélicos'. Realidade essa que para alguém combatê-los, suscitando controvérsia acerca da sua existência, será necessário afastar-se por completo de todas as regras da lógica.
Os feitos de Sócrates e de Cesar, de quem ninguém duvida, estão menos provados do que os de Jesus Cristo. E no mesmo sentido, seria um absurdo não crer nos fatos, ou pelo menos nos fatos principais, da vida de Cesar e de Sócrates.
Pois, igualmente extraordinário seria duvidar desses 'fatos evangélicos' que tiveram por testemunha um povo inteiro, composto ainda mais de inimigos do que de amigos.
A 'certeza da fé' não se baseia unicamente, porém, na 'certeza histórica': tem ainda por fundamentos a 'certeza moral' e a 'certeza da consciência'.
É possível alguém estar convencido sem crer. No entanto, a luz transcendente da fé vem juntar-se à convicção natural que a alma (psique) adquiriu por um estudo consciencioso. A 'razão', iluminada, vê-se confirmada pela fé.
A fé, como um telescópio que auxilia o olho nu, tem luz própria, distinta da luz da ciência, ainda que esteja intimamente unida com ela.
Conclui-se que a 'razão' do humano ser, sendo uma e indivisível, deve, sob pena de desaparecer, admitir as 'verdades certas' nas quais se baseia a 'certeza racional da fé, pelos mesmos motivos que essa 'razão humana' admite as verdades matemáticas ou as verdades do testemunho dos sentidos.
A 'certeza da fé' não é por forma alguma arbitrária nem supersticiosa. Pelo contrário, ela é plenamente racional e soberanamente razoável; possui o 'caráter lógico' a presidir todas as operações da razão e da ciência.(Marcus Moreira Machado)
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
SEXTA-FEIRA, 4 DE JANEIRO DE 2008: "LIAME".
Em frenesi, franzi o cenho, buscando a senha dos contatos imediatos do terceiro grau na equação do primeiro. Porque aritmeticamente falando, não é fácil a compreensão de enigma fundamentalista com trajetória numérica em progressão geométrica muito além do duplo sentido.
Saibam os incautos que todos o somos.
Conheçam os sábios que o indubitável é sempre questionável, segundo o livre convencimento adquirido através de provas refutáveis. Afinal, ninguém pode afirmar um conceito sem antes ter uma tese. O que faz de todo tratadista um festejado preconceituoso.
Por isso esse nó na garganta, essa eloquência sempre consentida, mas jamais admitida se o grito é de alerta.
Aliás, não cabe mais qualquer ingenuidade no trato particular da coisa pública. Porque é público e notório o alto teor de fumaça no fogo das paixões, dessas que por si só arrasam sistemas econômicos inteiros, levando consigo ímpios governantes ao calor abrasador da purgação.
Ora, dos pares sabe-se a contumaz troca de figurinhas! E terminado o álbum de família, restam as imagens pálidas em preto e branco extraídas no passado negativo de toda a presente história.
Vã esperança! Vão os homens esperançosos lutando em vãos alcunhados lacunas, tão próprias às tréguas meditadas na pré-inflexão do túnel do tempo.
Ide em paz nesta terra de gigantes, que a perfeição é uma meta na concepção de Davi, na aversão de Golias.
Quem fica já foi num dia mais veloz, menos atroz. Que a nossa
piedade é um outro gigante desumano fazendo-nos acreditar que de tudo podemos ser redimidos, ainda que tenhamos cometido falta grave contra os mais nobres sonhos ante os menores obstáculos.
No dia-a-dia, tudo é noite impedindo a clareza de certeza visionária. Porque dos sentidos resta o tato adestrado do cego, muito além dos ouvidos moucos, mesmo aquém dos loucos.
Varonis têm encantos femininos que não residem em genitália alguma. E os seus desejos, não raro, são relativamente satisfeitos no regozijo do poder na polis. E não por outro motivo, se mil vidas alguém tivesse, nelas todas buscaria o prazer na dor, incapacitado à liberdade, apto à clemência, submisso à indulgência.
Então, eis que , premeditada a dança, quem dança conforme a música canta desafinado, no bizarro jogo de cintura desproporcional ao real modelo do dominador. Porque a minha, a sua, a nossa consciência, não admitem plural, nesse tamanho sempre singular que cada um pode ter de si mesmo.
'Além fronteiras' é precisa ambição no desdém da pirataria mental.(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
QUINTA-FEIRA, 3 DE JANEIRO DE 2007: "OLHARES".
Que me perdoem os bons, mas falarei dos maus, ainda que estes últimos estejam no meio daqueles.
Porque -apenas seta- não sou sequer alguém que pretende no fim a meta. Isso, eu sei, me faz delirante no caminho, imaginando ver o que de fato há na idéia que faço existir.
Que mal me perdoem todos aqueles a quem o bem eu faça. Pois deles eu não deveria fazer eternamente gratos à minha solicitude impensada.
E aos crentes que porventura me vêem nessa paisagem, perdão nenhum. Nada viram senão o limite que podiam.
Olhares desenham vozes. Ouví-los é falar cada traço dessa composição...
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
QUARTA-FEIRA, 2 DE JANEIRO DE 2008: "SOCIEDADE CIVIL E DOMÍNIO POLÍTICO".
Período ainda recente da história política brasileira, foi na década de 80 que a participação popular -notadamente, através dos Conselhos ('Comunitários' e 'Populares')- assegurou a retomada da democracia representativa, num contexto onde puderam as práticas sociais melhor expressar o que até então consolidara-se como um vago, indeterminado conceito de 'cidadania'.
Cumpre observar que esses canais democráticos de participação popular sempre serão tão mais fortes quanto menos "liberais" e "populistas" forem os projetos políticos em voga. E essa disposição é válida no transcorrer da história da civilização humana, pelo mundo afora, em várias sociedades.
Conselhos Operários ou Conselhos de Cidadãos, articulados no sistema de produção ou atuando diretamente no cenário econômico e social da política nacional, a instituições de auto-gestão expressam, certamente, o grau de maturidade de um povo e do seu governo. Porque, percebe-se, o alheamento cede lugar à opinião ou à deliberação emanadas da voz e do clamor dos agentes diretos e centrais da prática política, quais sejam, os representantes mais próximos da comunidade; e nesta, a liderança imediata dos seus segmentos.
Em brevíssimo período -dois meses-, ainda no século XIX, em curso o ano de 1871, através das 'Oficinas da Comuna', pretenderam os operários parisienses imprimir modelo nas relações 'capital-trabalho',pelo qual, desde 'jornada de trabalho' até 'fixação de salários', a participação dos trabalhadores era organizada em comitês.Tal pioneira experiência levou o nome de 'Comuna de Paris', uma singular auto-gestão operária. Porém, seria em 1917, com a criação dos 'sovietes' da São Petesburgo de 1905, que operários, soldados e intelectuais, juntos, participariam no desempenho de funções antes exclusivas do Estado. Uma gestão participativa, indubitavelmente.
Articuladas do lado de fora do aparelho estatal -como em demais exemplos observados nos 'Conselhos de Fábricas' (Alemanha, 1918/1923) ou nas 'Comissões Internas de Fábricas' (Itália); e mesmo nos Estados Unidos da América, ainda que nesse país a meta dos Conselhos sempre tenha sido a 'integração' e não a 'emancipação'- essa instituições podem ser a base de um Estado de feição nova, concebido a partir da experiência e do envolvimento daqueles que melhor conhecem no dia-a-dia os seus problemas, podendo, por isso mesmo, indicar a sua solução.
No Brasil atual, vê-se a implantação de conselhos que deveriam fomentar perspectiva de avanço da sociedade civil na busca do domínio político. E como prática social interventiva, essa seria então a ação dos Conselhos de Saúde, dos Conselhos Agrícolas, dos Conselhos de Segurança, dos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, etc., etc. Formas de organização social a buscar atendimento às carências do setor que representam, resgatando à população o sentido concreto da sua existência, identificadas as classes sociais da sua composição, acima da abstração a que resta confinada face a um Estado que, mistificando-a, quer, na despolitização dos múltiplos segmentos, negar a existência dessas classes, em negação, via de consequência, dos conflitos de interesses marcantes nos diversos grupos sociais.(Marcus Moreira Machado).
domingo, 30 de dezembro de 2007
TERÇA-FEIRA, 1 DE JANEIRO DE 2008: "REFORMA AGRÁRIA NAS SESMARIAS".
O sistema das capitanias hereditárias, instituídas no Brasil por D. João III, representava a terra dividida em "senhorios dentro do senhorio do Estado"; uma aparência nitidamente feudal. No entanto, apenas aparência, pois quem recebia a terra -o donatário- não exercia plenamente o domínio do solo; sofria limitações, obrigado a doar uma parte do que recebera. Essa parcela, a 'sesmaria'.
Capitanias e sesmarias, juntas, eram as faces marcantes da economia, no início da colonização sistemática brasileira, marcada pela administração baseada na grande propriedade territorial, ou seja, no latifúndio.
Importa observar que no Brasil a sesmaria foi deturpada em conceito e prática. Porque 'sesmaria' (derivada de 'sesmo', ou 'sexmo, quer dizer, 'sexto') designava 'limite', sendo sesmeiros não os que recebiam a terra, porém, os funcionários encarregados de distribuir as terras desocupadas, ou aquelas cujos proprietários não as cultivassem.
Nota-se que na verdadeira concepção, muito antes de 1530, anteriormente às capitanias no Brasil, já havia preocupação com isto que hoje conhecemos por "terra improdutiva".
À época de D. João III, vigente era então a velha "lei das sesmarias" (incorporada, com prejudiciais alterações, pelas 'Ordenações do Reino Português'). O beneficiário da doação recebia a terra não aproveitada pelo dono.
Nessa compreensão, percebe-se que no intuito de impedir-se a concentração de terra improdutiva, a terra ociosa, os sesmeiros -na Europa- já faziam Reforma Agrária. No Brasil, todavia, uma vez alterados conceito e organização originais, ainda sofremos a prejudicial consequência dessa modificação estrutural, qual seja, a concentração de terras.
(Marcus Moreira Machado)
Assinar:
Postagens (Atom)