Desde tempos imemoriais, a idéia da libertação política brota inapelavelmente na mente popular. A constância da dominação do homem pelo homem, no passar dos séculos, faz irromper o conceito da liberdade identificada no antagonismo, na dualidade dos opostos: 'licença' e 'tirania'.
Rebelar-se contra a escravidão dos subjugados, na busca do estabelecimento dessa 'liberdade' -a liberdade política- tem sido o moto-perpétuo de parcela da raça humana, sempre a combater o jugo do conquistador.
Não por outra razão, é a liberdade espiritual quase sempre confundida com a liberdade política, dando-se então às reformas morais poder que elas jamais possuiram.
Ao tempo do Cristo, no reino de Cesar, não foi diferente. Dois grupos adversários mantinham contrárias opiniões acerca do rei. Os Herodianos (sectários de um 'partido político') externavam respeito e submissão à Cesar e à autoridade romana (ainda que romanos não fossem eles próprios; porém, tal "amizade" buscava o fortalecimento da Casa de Herodes, no intuito de, uma vez sequazes da Roma pagã e do próprio Cesar, alcançarem também a majestade de um príncipe herodiano. Os Fariseus (igualmente prosélitos de um 'partido político'), alcançaram, à época, o apogeu do poder; e puritanos, respeitosos à lei judaica e obedientes aos seus costumes, negavam a supremacia da autoridade romana (teriam até tentado matar Herodes, pois que pretendiam o governo do mundo, sob o modelo da sua religião, defendida ardorosamente no 'partido').
As diferenças não impediram, entretanto, A SOMA DE FORÇAS DOS DOIS GRUPOS a fim de CONSPIRAREM CONTRA JESUS -numa demonstração do ódio que ambos os grupos nutriam por quem "ameaçava" (conforme assim acreditavam herodianos e fariseus) os seus objetivos (pobres) de "liberdade política", em misto de 'libertação' e 'opressão', simultaneamente.
JESUS já fôra tentado, no alto da montanha, a uma CARREIRA POLÍTICA. Em vão, obviamente. Porque 'o político deveria servir o Divino e não o Divino ao político'.
O Cristo, recusando ser aclamado rei, foi às montanhas.Contudo, nada disso foi suficiente para os dois partidos políticos. E, por demais notória a submissão dos herodianos ao governo de Roma, coube aos fariseus a missão de colocar em prática a trama contra Jesus, assim o fazendo não pessoalmente, mas através de alguns dos seus jovens discípulos -no objetivo de causarem impressão de disputa entre eles e os herodianos; confronto a ser "julgado", então, pelo Messias.
Sob o pretexto de que ao Nazareno restasse declarar se certo ou errado estavam os herodianos (concordantes em pagar tributo à Roma), perguntaram a Jesus quem tinha razão.
A resposta, imperativa: "-Seus hipócritas! Por que me tentais?"
O Mestre compreendera que qualquer das respostas somente serviria para colocá-lo CONTRA O POVO, ou passar a idéia de que concordava com o jugo do invasor coletor de impostos, ou de verdadeiro traidor de Cesar.
Ato contínuo, pediu-lhes fosse mostrada a moeda do tributo. Pergunta e resposta sucessivas, conhecidas, merecem ser relembradas.
"-De quem é esta imagem e esta inscrição?". À resposta "-É de Cesar", acrescentou: "-Dai, pois, a Cesar o quê é de Cesar, e a Deus o quê é de Deus".
Jesus, dessa maneira, novamente afirmava que a liberdade política NÃO ERA A ÚNICA LIBERDADE.
Aos herodianos, o "Dai a Deus"; aos fariseus, o "Dai a Cesar". Porque o Cristo viera para resgatar os direitos de Deus; pois, se todos os homens procurassem antes o Reino de Deus -e a sua Justiça!- o restante sobreviria como efeito dessa busca. A liberdade política, inclusive.
Por todas essas razões, Jesus não contestou a conjuntura política.
Afinal, a vontade humana não é traída de fora, jamais; porém, pode ser enganada de dentro, pela liberdade de uma decisão que, reproduzida, molda a corrente do costume.
Já decorridos mais de 2000 anos, NOVOS HERODIANOS e MODERNOS FARISEUS afirmam possuir (na mesma hipocrisia de outrora) na prometida liberdade política "A VERDADE (QUE) VOS TORNARÁ LIVRES".
Conspirando, também, SOMAM TENDÊNCIAS, provisoriamente -"trabalhando" em 'partido único', governados por sua própria tirania, apregoando reforma moral e olvidando a espiritual... chamando a Cesar o quê é de Deus!!!
Marcus Moreira Machado