Ah, língua pátria! Bem pior que "inconstitucional" é "inconstitucionalissimamente".
Ah, cidadão pátrio! Que não se diga que não há nacionalidade no berço em que nasceste! A tua origem parece sempre mais marcada pelo exercício livre de um maior culto: o culto à malandragem..
Você tem o direito natural de se equivocar e não mais distinguir, entre Constituição e provimento, as diferenças, em não mais discernir os poderes da lei maior e os privilégios de uma ordem de serviço. Afinal. é graças a isso tudo que ao judiciário tem restado a triste tarefa de reciclar o lixo em que se tornou a sociedade, marcada pela insensatez e pelo disparate.
Enquanto isso, pelo país afora o que se observa é uma "legislação" paralela, oriunda de um "código" étnico e moral fundamentado na irracionalidade, no abuso e na conseqüente discórdia; é o saldo devedor da poupança alimentando dia-a-dia pela omissão e seus maiores males - a cupidez e a pândega. E, onerado o Estado, decreta-se, então a falência das suas instituições, consagrando-se como direito inalienável a parvoíce sem distinção de cor, acima de qualquer credo e abaixo, porém, de uma real convicção, sendo certo que a única persuasão íntima é a de que somos também nós uma e várias constituições, num infinito plural de inconsciência pré-desordenadas.
(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2009:"AUTOR DO DIREITO"
Você tem o direito de ir e vir; você tem o direito de permanecer calado; você tem garantida, indistintamente e independentemente de sua cor, de sue credo, de sua consciência, de seu pensamento, e de sua convicção filosófica ou política, a sua liberdade, a sua propriedade, a sua expressão artística, intelectual ou científica.
Das duas uma, ou três: ou você tem direitos demais, porque além de todos aqueles outros ainda se acha no direito de não ter dever algum; ou você nem sabe o que é direito, e por isso segue o seu próprio, ainda que por causa disso outros como você façam o mesmo; ou você não deveria nem ir e nem vir, porque você, ficando sempre num lugar só, é um perigo menor, porque calado você diz menos besteira e, por conseqüência, evita o prejuízo maior de manifestar, sem distinção de qualquer natureza, "filosofias", "políticas" e "credos" tão inconscientes e inconsistentes.
Sendo você uma daquelas pessoas que leu tantas vezes quando pode ou conseguiu o livro do Fernando Moraes, "A Ilha", provavelmente já se tornou a própria, e, do alto da casa "cultura" forjada na atividade intelectual alheia (pelo seu sagrado direito de imitar a tudo e a todos; também este inviolável), é justamente contra a propriedade e a favor da segurança, entendo esta última de maneira peculiarmente privada.
Como para você "asilo" é muito mais um abrigo para os desvalidos e psicopatas, ou contrário de um lugar onde se protege a família, você acaba por discordar da inviolabilidade dos manicômios e dos albergues noturnos, propugnando pela liberdade do livre exercício do direito de resposta ainda não constituído aos loucos genericamente expurgados da sua convicção, da sua honra, da sua intimidade, da sua imagem e semelhança. E, para tanto, quer internações coletivas para assegurar o livre exercício dos cultos religiosos que, por serem assim tão "cultos" quanto você é, deverão professar as suas liturgias no claustro e no anonimato, sempre com o direito de resposta proporcional às entidades civis e militares. Certamente, você dirá que leu Basaglia, confundindo-o com um jurista italiano; e não menos certo, você defenderá que, pelo princípio constitucional da "função do orgasmo", do dissidente de Freud, é livre a criação de associações e conjunções inspiradas em Reich.
Pelo seu direito de herança - que você exercerá até os tribunais de últimas instâncias -, definitivamente qualquer trabalho, ofício ou profissão não estará subordinado às qualificações profissionais, e sim, nos termos da sua lei, à livre locomoção no território nacional dos bóias-frias sujeitos à fiscalização do aproveitamento econômico para resguardar o interesse público de iminente perigo.. E, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico do país, você acredita que tem o direito de receber dos órgãos públicos informações do seu interesse particular, desde que a lei assegure a participação individual em obras coletivas.
Como sua pretensão é atender a função social, você e seus amigos-da-onça poderão reunir-se pacificamente para garantir a utilidade pública, decretando por pequena propriedade rural toda fazenda em que trabalhe a família dos seus colonos, admitindo, então, a pena de morte ou trabalhos forçados, conforme o caso, aos que não sejam condenados em caráter perpétuo à prestação alternativa.
Por remuneração superior do serviço extraordinário, jamais haverá fundo algum inferior a indenização compensatória equivalente à participação na gestão das estatais, como forma de remuneração a pessoas que, como você, visem a melhoria de sua condição social.
Você tem até o direito de chamar a Constituição de "Constituinte", porque, afinal, quem sabe se não tem razão, pois se a lei fundamental, a magna carta, começou a ser elaborada na década passado, promulgando foi, mas ainda hoje não está de todo concluída, fragmentada por um também longo processo revisional visto e revisto de acordo com a oportunidade (ou seria aportunismo?) político, você também tem mais esse "direito" - a de confundir o substantivo feminino com o adjetivo. Assim sendo, e como você tem, a cada eleição ao Parlamento, delegado poderes a outrem para que constitucionalize vez por todas o que é de direito, sem que no entanto regulem-se definitivamente os direitos do cidadão, bem como os seus deveres em relação ao Estado, por que não você mesmo ser também um constituinte (dessa vez, no substantivo) e "redigir" o seu direito consuetudinário, nascido na tradição dos seus péssimos costumes e maus hábitos?!!!(Marcus Moreira Machado)
SÁBADO, 14 DE FEVEREIRO DE 2009:"O REAL E O IMAGINÁRIO"
Propaga-se entre nós brasileiros a confusão gerada pelo excesso de verdades. Todos têm o monopólio das certezas incontestes sobre o que julgam ser a sofismável mentira dos seus opositores. Padecendo de um mínimo pragmatismo a conferir veracidade aos múltiplos conceitos estruturados em supostas ideologias, observa-se pelo país afora a difusão de exclusivismo de todo afastados de necessária praticidade. Á respeito, Carlos Eduardo Guimarães, comentando a obra do existencialista Albert Camus, observou: "A verdade é comprovada sua capacidade de realização".
Exatamente o contrário dessa concepção filosófica é a constatação da incipiente política nacional, quando a multiplicidade de interpretações despreza a importância da efetiva transformação. A retórica populista substitui entre nós a praxis inovadora. E, dessa forma, a verdade, de tão relativa, assume caráter de instrumento de manipulação, desconsiderando a seu respeito o conselho de Jorge Luis Borges, poeta e intelectual argentino, quando adverte: "Não exageres o culto da verdade; não há homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes". No Brasil, mente-se por minuto, mas quer-se fazer acreditar em tudo o tempo, em "ilusionismos" típicos dos nigromantes. A pluralidade de partidos oferta não a garantia de participação e sim a certeza de alienação.
O que se nos parece é que o desvario político procura na incoerência afastar daquele processo tão bem definitivo por Gerard Lebrun, quando "a imaginação não é um delírio permanente e merece mais do que ser deixada por conta de uma patologia do erro ou de uma psicologia de associação". Exatamente o oposto, o erro está incorporado ao nosso imaginário, nele encontrado absurdas referências para esquivar-se de um maior comprometimento com a realidade possível. Sendo "o esquecimento uma das formas da memória, o seu porão, a outra cara secreta da moeda", a intelectualidade das elites políticas do país apostam em que o "porão" da nossa história deva ser sobrecarregado, considerando-o o melhor lugar para sepultar as idéias mais genuínas. Assim, perde-se qualquer elo de ligação entre passado, presente e futuro, pois que não se percebe que "quando um estado intelectual foi acompanhado por um sentimento vivo, um estado semelhante ou análogo tende a suscitar o mesmo sentimento… e quando estados intelectuais coexistiram, o sentimento ligado ao estado inicial, se é vivo tende a se transferir para outros".(Marcus Moreira Machado)
SEXTA-FEIRA, 13 DE FEVEREIRO DE 2009:"AMOR E ANARQUIA"
De fato, hoje o homem intelectual tornou-se uma criatura dada a explicações. Somente por isso, a conscientização das massas populares é pura mistificação, porque impede o despertar da consciência individual. Não por outro motivo, é preciso dispensar a política um tratamento tal que ela não venha a prejudicar a vida do espírito, pois a pluralidade - pressuposto a ser assumido de forma resumida pela imaginação no diálogo do pensamento - vem sendo ameaçada desde o início da modernidade, como bem esclarece Hannah Arendt.
Pois, como jamais houve na história da humanidade uma revolução consentida, não haverá libertação que não seja uma consequência do questionamento filosófico da condição humana.
O Homem libertar-se-á quando disser não ao “sim” a que foi adestrado repetir sistematicamente; quando, enfim, pensar ao invés de idolatrar. No diálogo do pensamento está a gênese do amor. O amor, anárquico que é, rompe todas e quaisquer imposições que teimam em circunscrever os sentimentos nos limites da indução.
“A alma quer mesmo o que quer: tem o seu próprio conhecimento, sentada, infeliz, na superestrutura da sua explicação, feito um pássaro que, coitado, não sabe de que lado vai voar”. É no gênio da loucura que resgataremos, a cada um de nós, as profecias das verdades insondáveis.
Personalíssimos, poderemos comungar a vida em sua apoteose transcendental, porque a verdade não será nunca a primeira, totalitária, e sim a de “um senso comum que possibilita partilhar o mundo com nossos semelhantes”.
“Pensar”, na pluralidade, será comprometer-se apaixonadamente com a divindade única da existência terrena - a vida.
Não se permitindo conhecer a pluralidade, o homem se recusa a compreender, afastando-se da plenitude da vida e preferindo a morte adiada, em culto ao deus-projeção de si mesmo que minimize o absurdo da imensurável existência humana.
A moderna idade é, portanto, tão antiga quanto o ser humano, da mesma forma como dele é a capacidade humana de iniciar.
QUINTA-FEIRA, 12 DE FEVEREIRO DE 2009:"EMBLEMAS"
O homem contemporâneo sofre, tragado pelo impacto da multiplicidade de alternativas em um processo consumista.
Sob a pressão subliminar de ideologias várias, que insistem em se fazer parecer distintas umas das outras, as sociedades buscam atingir, passo a passo, a sofisticação tecnológica, concluindo - todas elas - com a supressão da liberdade do seu único imprescindível componente - o “pensar”. E é o pensamento uma atividade do espírito, a subsidiar a capacidade de compreensão; compreender é, por sua vez, promover reconciliação entre o homem - um estrangeiro - e este mundo onde ele vive. Assim, “uma vida não compreendida não é uma vida plenamente vivida”.
O que se observa, no entanto, é a presença constante de nomes, sempre indicando tendências e qualificações: o perfeito caminho da iconolatria; o exato instantâneo da idiotice institucionalizada; a hora e a vez dos “cretinos fundamentais”.
Como adverte Saul Bellow, em “O Planeta do Sr. Sammler”, “é preciso ser um verdadeiro maníaco para insistir em querer ter razão. Ter razão é, afinal, apenas uma mera questão de explicações”.
Mas, a “razão” não é um princípio recente. E, somaticamente, o “homo-sapiens” quer resistir, embora já bastante fragilizado; transfigura-se, então. E agora, novamente e apenas “homo-erectus”, sofre dores primitivas num cenário moderno.
Submisso, não compreende o homem contemporâneo a relatividade dos conceitos emblemáticos. Curva-se à verdade.
E o que é a verdade? exclama Nietzsche, senão “um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são...”.(Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 11 DE FEVEREIRO DE 2009:'DESVARIO"
As campanhas políticas, insensatas, não demonstram outra coisa a não ser a disseminação do mais puro ódio, no vale-tudo que lhes é peculiar. Toda e qualquer sociedade organizada políticamente deveria encontrar na negação do ódio a sua suprema máxima. Não é o caso brasileiro, contrariando o pensamento de Nietzche, ao recomendar que "vale mais parecer do que odiar e temer; vale mais perecer duas vezes que se fazer odiar e temer". E, condicionados às vãs promessas do imediatismo, evitamos o essencial em razão do fascínio que desperta-nos o supérfluo, confirmando que "a consciência de existir é muito rara… que a massa dos homens concentra-se nos objetos deste mundo que condicionam sua felicidade". Nesse momento, é em Ernst Bloch que reencontramos maior vigor quando, afirma o pensador, "a verdade não reside apenas naquilo que é, mas principalmente naquilo que ainda não é, mas será. Pois, complementa Leonardo Boff, "o que é, funda tradição; o que ainda não é, mas será, significa a verdade plena.
Forjados num frio "racionalismo", os homens públicos que supostamente dirigem essa nação, via de regra, têm muita "filosofia", porém quase que nenhum sentido, desconsiderando que "as certezas da sensibilidade são conquistas definitivas". Em nome do povo, é o próprio povo oferecido em sacrifício aos deuses do Olimpo em que se tornou a representação popular, e' o que é pior, a auto-imolação tem sido usual como maneira de expiação dos nossos "pecados" eleitorais.
O desatino há que ser combatido ao buscar-se a recuperação das estruturas políticas do Brasil. Não podemos admitir a insanidade reinante, sob pena de elegermos o tresvairamento como norma de conduta no país afora. Substima-se a capacidade de discernimento de uma forma um tanto generalizada; no entanto, ainda restam alguns lampejos de lucidez, reflexos de escassa, porém vigorosa sensibilidade de uns poucos abnegados dirigentes nacionais, quer seja na administração da coisa pública, quer seja na iniciativa privada.
De resto, o comportamento no dia-a-dia mais faz lembrar um menino maravilhado com as infinitas possibilidades de imagens nos caleidoscópio, todas surpreendentes, porém fugazes. Nomes despontam a todo momento como a mais lídima expressão do cenário político nacional; entretanto, nos bastidores sussurros conspiradores tramam o destino do país, num anonimato discreto e confortável.
São os "fulanos-dos-anzóis-carapuças", sobejamente conhecimentos embora impopulares, mas cujos nomes não se pronunciam, pois que são os verdadeiros artífces ou prestidigitadores daquela que impropriamente se convencionou denominar "economia política" brasileira.(Marcus Moreira Machado)
TERÇA-FEIRA, 10 DE FEVEREIRO DE 2009:"ANTROPONARQUIA"
Imaginei-me num filme de ficção científica, onde um olho eletrônico, conectado com um sistema de computadores ligados aos supermercados, sondava os meus ganhos e a minha contabilidade. A cada vez que eu obtinha um maior rendimento financeiro, o dito olho "denunciava-me" aos empresários, e eis que eles, de pronto, simultaneamente, majoravam os seus preços, obrigando-me a um constante maior esforço, a um redobrado trabalho. E então, verdadeira bola de neve, eu me via envolvido numa gigantesca trama dos especuladores para transformar a mim, e de resto todos os consumidores, em espécie inédita de biônicos, programados por impulsos elétricos a gerar lucros espetaculares, alijados de raciocínio, apenas condicionados ao consumo e ao trabalho, ao labor e aos gastos.
Legião de famintos, em meu devaneio centenas de milhares desses biônicos principiaram à singular mutação, metamorfoseando-se, todos , em raros espectros, consumidos eles próprios num fausto banquete servido aos convivas em carrinhos de "self-service". Os comensais haviam atingido, então, o ponto alto de suas carreiras de exploradores, saboreando a carne já inumana de seus antigos fregueses. Darwin fôra muito mal interpretado; entenderam os negociantes selecionarem a própria espécie eliminando-a.
Em minha fantasia não era mais possível divisar a realidade, pois que o cenário espetacular de um hiper-mercado exibia aos mutantes peças de coxas inteiras com fêmur e restos de tíbia à mostra; vasilhames descartáveis acusavam a validade de estranho suco, um xarope esbranquiçado cheirando a fel que, segundo a composição estampada no rótulo da garrafa, era mistura de leucorréia com hemoglobinúria, pigmentada e aromatizada com bilirrubina. Secções de importados promoviam a carne estrangeira enlatada a partir da matéria-prima nacional.
Não havia mais dúvidas, o consenso da ignorância havia triunfado. A "lei de Gérson" de há muito fôra abolida, e vigorava agora norma exemplar da sobrevivência humana, ditada pelo que se convencionou denominar "antroponarquia", regulada pela extinção do excedente humano, que uma vez exportado, renovava o câmbio, em inovadora heterodoxia econômica e monetária. Esse novo governo proclamava a virtude de ter sido o único a resolver o problema angustiante da fome no país: o poder do homem era atributo peculiar aos donos de oligopólios, cartéis e konzers. Conseguira o novo regime reformular o princípio da "periodicidade das crises" na livre concorrência, agastando-as da relatividade a que estavam sujeitas quando por ocasião de desequilíbrio entre produção e consumo. Afinal, não cometera erro algum aquele renomado cientista social que preconizara a inevitabilidade da concentração comercial e industrial como decorrência de uma lei "universal e absoluta". Triunfara, certamente, a inspiração profética daquele revolucionário das massas.
Na mais simbólica alucinação, eu vi a prodigalidade, a dilapidação e a incúria, celebradas como ícones da nova ordem. O luxo, procedente de um exagerado amor de si mesmo, fêz desaparecer qualquer atitude caritativa para com o próximo, pois que próximo não mais existia. A magnificência passou a significar, desde então, vício e imperfeição moral, nunca mais se empregando os grandes capitais disponíveis para oferecer em abundância trabalho lucrativo. Ao contrário, o próprio salário readquirira o conceito de simples mercadoria, em respeito à observação deformada do pensamento de Cobden, onde "quando dois patrões correm atrás de um operário, o salário sobe; quando dois operários correm atrás dum patrão, desce o salário". No caso, a "antroponarquia" devolvera aos poucos homens de verdade - os especuladores - o mundo que lhes pertencia, restituindo-se-lhes a acepção correta do vocábulo derivado do latim "speculator", ou seja, "descobridor". E, pois, quem "descobre" tem por merecidas as honras de "chefe-de-Estado".
Meu delírio presenciava o inaudito-afirmava-se como realidade, ouvindo-se em alto e bom tom um novo hino, de todo inspirado em neo-malthusianos: "O homem que nasce em um mundo já ocupado, se sua família não tem meios com que o alimentar e nem a sociedade necessita do seu trabalho, não lhe cabe direito de reclamar alimento: ele é demais sobre a terra. No grande banquete da Natureza não há lugar para ele; ela manda-o marchar e não tardará em executar sua ordem".
Prevenindo-se da tragédia vizinha, conseqüência da diferença entre o crescimento em progressão geométrica da população e o aumento das subsistências em progressão aritmética, a nova casta dos "naturais"- os dignos representantes da espécie, por excelência - confundia-se com a própria Natureza. Dessa forma, a liceidade de qualquer meio que conseguissem restringir a natalidade alcançou também no eugenismo e na esterilização meios eficazes no controle da demanda populacional.
Recobrando, agora, a consciência, não sei mais se foi pura demência passageira, ou se de fato algo de profético me fêz ver que, domados pela ignorância, estamos a consentir a derrocada final da existência humana na terra. Loucura ou não, algo de estranho me acontece quando eu vou ao super mercado fazer compras.(Marcus Moreira Machado)
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