Tanto o conceito de objetividade quanto o de racionalidade não escapam a uma intervenção de valores ou normas éticas. No fundo, a racionalidade consiste na escolha dos meios mais aptos para atingir determinado fim. Com frequência, os fins são admitidos tacitamente, quer dizer, irracionalmente, de fato. E é essa admissão sem a crítica dos fins, desprovida de racionalidade instrumental e tecnológica, a responsável pela ilusão da existência dessa mesma racionalidade instrumental e tecnológica, supostamente isenta de toda e qualquer referência a um sistema valorativo, e, por consequência, neutra.
A análise crítica dos valores contidos no conceito de racionalidade leva-nos, de uma ou outra forma, ao exame da questão dos fins a que se propõem as pesquisas científicas. Então, percebe-se que muito das necessidades essenciais do ser humano foi praticamente relegada, que expressiva parcela de material, significativo conteúdo do conhecimento e a própria energia humana, são desperdiçados para a satisfação tão-somente de carências secundárias ou artificiais do homem e da sociedade.
(Caos Markus)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 4 de junho de 2011
TERÇA-FEIRA, 19 DE JULHO DE 2011: "A VERDADE CONDICIONAL"
Todas as verdades humanas, para terem significação cognitiva, são submetidas aos critérios de uma verificação experimental. A experiência humana em geral deixa-se confundir com a experiência científica em particular.Tudo se passa como se os métodos da ciência devessem ser universalmente válidos, e como se a preponderância das preocupações científicas e técnicas merecesse ser considerada enquanto verdade eterna. Semelhante atitude, que pretende submeter a totalidade dos valores à jurisdição da chamada verdade científica, está fundamentada em um juízo de valor prévio, praticamente impossível de ser racionalmente justificado. Porque não se pode procurar a verdade do mundo exclusivamente na ordem das essências físico-matemáticas. Além disso, os princípios das ciências, às quais reputa-se extremo rigor, necessitam ser criticados, revisados, reformulados; e sua validade não pode impor-se num sistema dogmático, revestido de pretensa dignidade sacrossanta. Diversamente, à sua "certeza" contrapõe-se um complexo de linguagens técnicas destinadas a evidenciar este ou aquele aspecto da realidade sempre mais ampla e de difícil compreensão.
Por tais motivos, nenhum discurso científico pode pretender alcançar e superar a verdade de tudo o que é. Cada discurso tem que remeter a outro, mais completo, no horizonte comum dos discursos parciais, entendido na retórica da realidade humana, tal qual pode o homem descobrí-la, no contexto de sua própria condição no mundo.
(Caos Markus)
SEGUNDA-FEIRA, 18 DE JULHO DE 2011: "O DIREITO À VIOLÊNCIA"
A avaliação moral de um ato violento é uma função do estatuto legal do ato, a extensão da motivação pessoal em confronto com a social, e o grau de responsabilidade individual refletida no papel da
autoridade. Essa aferição implica nas opções disponíveis para a pessoa, a base defensiva ou iniciada da violência, o grau de pertubação emocional, a grandeza de força e a intencionalidade no agir. Contudo, talvez o mais importante, quando se pretende analisar a conduta violenta, seja a atitude do indivíduo em relação aos objetivos da própria violência.
Porque há que se designar como violência, antes, a agressão em seu sentido destrutivo. Depois, novo aspecto, impõe-se constatar a existência de uma agressividade inata, que mostra-se suscetível de ser canalizada para fora de cada homem, e, uma vez fortalecida por diversidade de fatores, ser lançada em diferentes formas de destrutividade sobre outros homens, contra segmentos sociais ou instituições.
Partindo do ponto de vista de que exatamente nos abusos do poder repousam as fontes de inúmeras reações agressivas, torna-se evidente que nessas situações os critérios para a formação dos juízos de valor emanam igualmente do poder. Eis, diante de grotesca contextualização, o incessante questionamento na identificação do infratores que detêm o direito à violência.
(Caos Markus)
DOMINGO, 17 DE JULHO DE 2011: "RAROS ESPÉCIMES"
A maioria das democracias modernas pretende ser desprovida de classes, mas na realidade não o é. Não mais existe o "sangue real", a nobreza e os escravos, porém, certamente, temos classes altas, médias, baixas; apesar do fato de que quase todos se vêem a si mesmos como representantes da classe média. Em nível individual, nos deparamos com a procura de status, ascensão social, lutas pelo poder político ou por proteção; com o desejo de riqueza financeira e disputas pelo prestígio. Quer se trate de uma promoção, um marido, um lar, o ingresso numa universidade, um automóvel.... os seres humanos são indubitavelmente orientados para o status. Em algumas culturas, esse status pode ser deduzido pelo número de vacas ou de serviçais. Embora esse embate na conquista do prestígio raramente conduza a lutas abertas, algumas pessoas estão sujeitas ao aniquilamento ou à exploração, rumo ao topo. E a violência, assim, não é evitada, contudo, apenas indireta.
Os seres humanos inventaram rituais incríveis a fim de se sentirem na liderança. Tentam adquirir propriedades, dividem-nas criteriosamente, e estabelecem rígido monopólio sobre imensa parcela dos bens materiais,
Genericamente, os indivíduos tendem a ligar-se a seus entes consanguíneos, seu lar, seu grupo étnico, sua escola, seu partido político. Qualquer investigação dessas fronteiras rapidamente revela elaboradas defesas.
Ora, se animais dominantes são, em geral, maiores, mais fortes e mais velhos que os seus subordinados, mantendo prioridade na escolha dos alimentos, dos parceiros e do território, através de hierarquia responsável pela diminuição dos conflitos, de forma a canalizar a agressividade para fins construtivos; já aos homens a sobrevivência das melhores não é a lei.
Diversamente, os seres humanos discutem sobre espaços e propriedades sem que para isso seja necessário subscrever teorias de um instinto territorial. Em tais discussões, são dispensáveis quaisquer pressupostos acerca de mecanismos subjacentes, sem admitir-se, jamais, que esse comportamento reflete resquícios de mecanismos encontrados em animais.
Nem 'bom selvagem' nem 'besta-fera', somos de fato (e por direito auto-concedido) raros espécimes da Natureza, mesmo considerando os 6,5 bilhões de pessoas na face da terra.
(Caos Markus)
SÁBADO, 16 DE JULHO DE 2011: "CENOGRAFIA DA RENDA NA EDUCAÇÃO"
Por demais sabido, em qualquer sociedade, existe uma forte relação entre o grau de instrução e o nível de renda. Quando poucas pessoas têm acesso a educação básica completa, de qualidade, e a maioria dos alunos abandona a escola após cursar apenas algumas séries, a maior parte da população é condenada a ter uma baixa produtividade e, por consequência, renda inferior.
Num sistema assim, somente uma elite privilegiada pode competir por bons empregos de alta remuneração, ou desenvolver a capacidade de criar atividades lucrativas por si mesma.
Nas economias de mercado com distribuição de renda mais equitativa há maiores oportunidades de mobilização da poupança para investir-se em efetivo desenvolvimento, num cenário onde resta evidente o apoio político ao crescimento a longo prazo. Em tais condições, as políticas de renda certamente são mais eficientes no que tange à distribuição. Mas como nessas economias existe grande variação da renda, as melhores remunerações tendem a ser, proporcionalmente, mais altas nos segmentos beneficiados pela sua concentração. É difícil imaginar um crescimento econômico sustentado sem o correspondente acréscimo da capacidade produtiva de todo o contingente populacional. Utilizando o compromisso do Poder Público com a educação básica, a fim de avalizar uma mensagem de comprometimento junto à grande massa dos trabalhadores em geral, homens e mulheres, o Governo, além de promover progresso econômico, terá assegurada sua legitimidade perante a nação. Neste processo, agilmente se mobilizam as poupanças indispensáveis ao lastro da esperada evolução. E como poupanças só são assim mobilizadas de maneira voluntária, quando isso ocorre, elas tendem a incorporar-se naturalmente ao processo democrático de desenvolvimento, em vez de impostas por qualquer Estado autoritário.
Aliás, nem poderia ser diferente, considerando uma outra realidade: qualquer 'autoritarismo' mal esconde o ser reprimido que o exerce.
(Caos Markus)
SEXTA-FEIRA, 15 DE JULHO DE 2011: "EXCLUSÃO, O VIÉS DA INCLUSÃO"
Sem outros fatores, muito dificilmente seria mantida uma relação de poder, marcado pela violência simbólica, com base apenas na 'autoridade'. Entre essas outras determinantes, destacam-se a dos 'critérios participativos', quais sejam, aqueles que constituem a díade 'dentro/fora'; ou, simplesmente, 'quem é incluído' ou 'quem é excluído'; e, dessa maneira, nos conduz a uma outra modalidade de 'neutralização'. Portanto, uma forma de poder em que o objetivo da 'neutralização' não é propriamente o endereçado. Pois, não são neutralizadas as possibilidades de ação do destinatário; outro é o seu efetivo rumo. Opera-se no modo pelo qual a diversidade de opiniões alheias é reduzida favoravelmente à concentração do poder deliberativo com a minoria.
Hoje, através da noção socioligica da 'inclusão', imagina-se que todo mundo deva ter uma possibilidade de êxito sem depender de seu status social.
Outrora, vale lembrar, na sociedades tradicionais , a 'família' era 'incluída' na comunidade por meio da comunicação. Então, proporcionalmente grande, impunha-se a importância da condição social, do status.
Ora,inegavelmente, as desigualdades existem.
Alguns indivíduos são mais dotados num campó que outros, Os graus de desigualdade podem ser muito pronunciados, havendo uma substancial diferença entre 'inclusão' e 'exclusão'. Diferença observada enquanto porduto da 'educação funcional': se há uma 'diferenciação funcional' limitada, a tendência é o 'aumento da diferença entre inclusão e exclusão'.
Via de consequência, a 'exclusão' pode ser uma técnica política, pelo viés da 'inclusão'.
(Caos Markus)
terça-feira, 31 de maio de 2011
QUINTA-FEIRA, 14 DE JULHO DE 2011: "DIVERGÊNCIA NA DIFERENÇA"
Caminhamos para uma diferenciação crescente na divisão do trabalho. O conceito de 'diferenciação' contém estratégica ambiguidade, porque trata-se de uma diferenciação de sistemas e não de tecnologia. É preciso, com efeito, enfocar a limitação da noção de 'diferenciação', pois um sistema pode ter sua existência relacionada apenas com determinado meio ambiente. A diferenciação do sistema supõe o exame da sociedade em geral, acrescido da análise do meio ambiente inserido em uma sociedade definida. Impõe-se, inicialmente, examinar o meio ambiente através de seus diversos contextos. Pois, a exemplo, se mudarmos o sistema político alteraremos o meio ambiente econômico.
Ora, a sociedade é diferenciada em famílias, segmentos etc. Cada unidade possui seu meio ambiente natural. São diferenças dentro de uma sociedade e não entre sociedades.
A diferenciação funcional da sociedade constitui, nota-se, o ponto alto de sua discussão. As características mais gerais e incisivas da sociedade atual consistem na implementação de um sistema diferenciado e funcional. Não se trata de uma organização da produção, como também não diz respeito a espécie qualquer de racionalidade, seja formal, legal e burocrática. E, finalmente, não guarda referência a um domínio particular da ciência e da tecnologia. Muito embora tudo isso comporte, em certa medida, verdades, ainda assim, identificação essencial constata-se mesmo na diferença funcional, visto ser básica condição à existência do desenvolvimento especial e, por conseguinte, da sua concretude no sistema legal, político e científico.
(Caos Markus)
QUARTA-FEIRA, 13 DE JULHO DE 2011: "INTERSUBJETIVIDADE"
Fazendo um paralelo com Freud (considerando sua busca, através da meta-comunicação, dos problemas que afligem o paciente enquanto vítima do próprio inconsciente), também Marx assim procedeu, mas o fez em relação à estruturas sociais. Razão pela qual é possível afirmar que ambos permitem sustentar o conceito de dominação e ideologia como consequência do processo de comunicação pertubada, não obstante isso tenha mais clareza no terreno da psicanálise, enquanto menor é a sua evidência na abordagem marxista. Na verdade, a crítica inicial a Karl Marx é formulada quanto a ausência de um pensamento suficiente para prevenir a redução positivista da teoria do conhecimento, justamente ao reduzir o ato de auto-produção do gênero humano ao trabalho, impedido de compreender o seu próprio modo de proceder. Ou seja, Marx tinha tudo para caminhar nessa direção, contudo, de maneira análoga a Hegel, abandonou uma concepção peculiar (a da comunicação), reduzindo a ação comunicativa ao agir instrumental, sob a denominação de 'praxis social'.
Por isto mesmo, é preciso reconstruir o materialismo histórico, refazê-lo com absoluta fidelidade à sua intenção. E no caso, portanto, esse projeto equivocadamente abandonado (o da teoria da comunicação) poderá se constituir no próprio materialismo histórico renovado. As estruturas da intersubjetividade são tão constitutivas para os sistemas sociais quanto as estruturas da personalidade.
(Caos Markus)
TERÇA-FEIRA, 12 DE JULHO DE 2011: "GANHOS"
No fundo, todos os grandes nomes, quer expoentes de doutrinas políticas várias, quer notáveis defensores e/ou opositores de correntes filosóficas diversas; todos eles pensam o mesmo, quando, ao aceitarem se calar para deixar suas obras falarem, sabem que as suas teorias não podem ter outro objetivo senão o de descrever o cenário do horror, da carnificina ou da catástrofe sobre a qual se desenrola, desde sempre, a história da humanidade.
Estão de acordo, sim, para pensar que seus dogmas sempre condenaram o mal, expressamente. É nessa reciprocidade que suas obras encontram seu mais autêntico poder.
Ora, existem outros engajamentos, outros deveres a respeito do mundo, além do "engajamento" ao estrito "dever" político. E certo é que, por isso mesmo, passando de uns a outros, não apenas todas as vertentes só têm a ganhar com a permuta, mas, e o mais importante, maior ganho não haverá senão o evoluir do próprio pensamento humano.
(Caos Markus)
Assinar:
Postagens (Atom)