Não sei se é coisa da idade, por eu já não ser mais moço. a verdade é que jamais estive assim tão fatalista. Muito pouco eu acredito naquilo que leio nos jornais, ou ouço na TV e no rádio. A cada vez que um político, seja ele parlamentar ou ministro, declara a sua intenção de não prejudicar os trabalhadores, é exatamente no contrário que creio. Não é espírito prevenido nem nada parecido. É que gato escaldado tem medo de água fria.
Sempre que se fala em estabilização econômica, eu penso que vão estabilizar a nossa miséria e consolidar a riqueza deles. E tenho motivos para pensar assim. Afinal, temos trocado seis por meia-dúzia há tempo. “Mulher de malandro”, parece que aprendemos a gostar de apanhar e acreditar que foi a última vez. Rendidos aos proxenetas da política nacional, somos sistematicamente seduzidos pelas vãs promessas do dinheiro fácil, sem prévia análise do caráter desse jogo de seduções. Acostumados ao assombro pelos rótulos, qualquer nova “marca” de economia nas “prateleiras” dos salvacionistas planos ministeriais nos convence ao seu consumismo imediato. Não é um fascínio descobrir as engrenagens da "Selic" e outros intrincados índices?
Quanto mistério, quanto sigilo no ar professoral das eminências pardas! Mas, é mesmo necessário o silêncio quando o que se pretende é surpreender os incautos. Governo que é governo não governa, antes, baderna! Quanto menos um de nós - simples mortais - entender daquilo que nenhum entendimento tem, mais fácil se torna a “imortalidade” do poder.
Ando meio em dúvida se abro uma empresa de consultoria para assuntos estratégicos paragovernamentais, ou se monto um boteco. Pois, os grandes problemas do país encontram solução sempre mais simples em qualquer boteco mais ordinário. Não é preciso ser mais que um sujeito mediano, é totalmente desnecessário um intelecto privilegiado para entender de economia, a cada instante em que ela é reduzida a um mero cassino de roletas e bacará. Truco!!
Tal qual um jogo de azar, o blefe na - política econômica brasileira - é sinônimo da astúcia dos seus apostadores. Criar expectativa é um ótimo negocio. Para o parceiro, logicamente. E quem não tem cacife não pode jogar.
Ingenuidade seria exigir comportamento diferente dos dirigentes nacionais. Afinal, o brasileiro não está preparado para ser eleito, muito mais do que está para votar.
O que importa não é o voto do analfabeto, do menor com dezesseis anos; o que de fato preocupa é a candidatura de tantos quantos tenham sido “alfabetizados” em “idiomas” distantes da realidade nacional.
O povo é burro. É o que o próprio povo diz por aí. Ninguém se achando povo, todo mundo colocando a culpa num tão vago quanto falso e longínquo “outro”. “Outros” são despreparados, “outros” são desinformados, “outros” são alienados. Nunca a gente mesmo. Muito pelo contrário, o que ainda segura o Brasil é gente como a gente... ilustrada, capacitada, porém desprezada nessa total inversão de valores. Santa hipocrisia! Essa mesma hipocrisia que manda ao estrangeiro a própria pilhéria como marca de toda uma nação! Para depois sermos obrigados a ouvir como nossa referência: “É coisa de latino”.
Cada povo tem o governo que merece ou cada povo tem o governo que carece? No nosso caso insistimos em precisar eleger pessoas que representem a nossa confusão. Desse modo, um reduzido grupo de articuladores redefinem a nossa singular indefinição: ora estamos à direita, ora estamos à esquerda, em oblíqua visão de quem não a tem.
De que mal padecemos? Por que esta baixa auto-estima a exaltar insinceras qualidades de elites intelectuais supostamente ecléticas? Que crucial determinante obriga-nos à condições de vítimas desse que é o grande flagelo das civilizações, a ignorância? Há vocação para a estupidez?
Talvez haja alguma explicação no fato de que dentro de cada um de nós, sem exceção, existe um insolente em latência, aguardando - no ciclo “estímulo-resposta”- o momento para ressurgir. O que justificaria tanta aparente contradição. Pois, de que outra maneira entender o brasileiro que protesta mas faz igual? Certamente, o nível moral anda baixo. E nenhum plano econômico que evite priorizar o equilíbrio na distribuição da renda nacional conseguirá outra coisa que não seja a manutenção desse conflito. O acesso, pela melhoria do poder aquisitivo, a um padrão cultural de bom nível, poderá resgatar todo um povo, para colocá-lo além das fronteiras do absurdo e do caótico.
Porém, nada positivo pode-se esperar quando o lema parece ser “se hay gobierno, hay baderna”.
E não outra coisa é o que se vê na administração da economia brasileira: baderna.
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
QUARTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2009:"MOCINHO E BANDIDO"
Muito do que se supõe 'ideologia' nada mais é do que a total ausência de idéias, a conferir aura de humanista àquele que não possui 'lastro próprio'. Nesse caso, é bastante sugestivo o desprezo de Henry Miller às pessoas que costumam adotar os problemas do mundo. Diz Miller que "o homem eternamente preocupado com a condição humana ou não tem problemas próprios, ou se recusou a enfrentá-los". ressalvando "os poucos emancipados que, tendo refletido sobre as coisas, estão autorizados a se identificar com a humanidade".
O narcisismo está definitivamente acima do altruísmo. E, por isso, é a egolatria a determinante na vida das pessoas, muito embora confessá-la é tirar um certo brilho da pretendida 'genialidade', perseguida como o maior dos objetivos. Não por outra razão tanta gente quer libertar o mundo de uma tão vaga quanto questionável tirania; ser herói ainda vivo é ter o reconhecimento exterior, uma vez que o interior é por demais inaceitável, por tratar-se de um 'juiz' muito mais impiedoso - a própria (in)consciência.
Ocupar-se da liberdade alheia, buscando o que nem sempre esteja de fato faltando a outrem, tem sido uma inadmissível covardia do vampirismo político dos nossos tempos. Na falta da sua própria liberdade, o líder tem alardeado uma 'tirania' merecendo a próxima eliminação, mesmo sendo totalmente desconhecida ou pressentida pelas 'vítimas'. Trata ele de buscar na liderança a 'escravização' de que precisa para ofuscar a sua própria escravidão, presa de si mesmo.
Mas, por saber que encontrará toda uma legião pronta a ser escravizada por mais alguém, porque incapaz de lidar com os seus próprios problemas, o líder não encontra grande dificuldade em dominar os que sempre existiram para o domínio. Provavelmente, eis a explicação para o 'exército de frustrados' pronto a atacar a harmonia e promover o caos. Sócios de Deus, entendem-se como tal na conclamação de Thomas Jefferson: "resistência aos tiranos é obediência à Deus". E em nome do combate à tirania é que perseguem o particular endeusamento, na obediência cega dos discípulos da prepotência.
Entre nós parece não haver gente de carne e osso e sim homens que só acumulam virtudes. Certamente, Oscar Wilde, ao dizer que 'o pecado aumenta a experiência humana', não se referia a brasileiros que apenas fazem propaganda da sua imaculada honradez, baseada, invariavelmente, na luta pelas liberdades individuais, pelo Estado de Direito, e pelo direito das minoria, num clima de apocalipse espetacular.
Diógenes, o filósofo grego da Escola Cínica, no Brasil não acenderia a sua tocha na procura de um homem honesto, antes compraria fogos de artifícios para comemorar o encontro com os virtuosos e varonis públicos homens. A escolher: os que depois do doce exílio na Sorbone voltaram para casa, capacitados pelas acadêmicas aulas ministradas na gloriosa "resistência francesa" das barricadas intelectuais; os que venceram a fome e a miséria do agreste nordestino, e por isso só já são os eleitos; os que citaram Webber, Durkheim e Kant, merecendo respeito por isso; os que citaram Antonio Conselheiro e Padim Ciço, esforçando-se sempre para não ser apenas mais um deles.
Bonita camisa, Fernandinho! Aonde eu fui amarrar o meu jegue, êta cabra da peste!
Não pense no que o seu país pode fazer por você mas sim no que Kennedy fêz pelo Vietnan.
Abraão Lincoln foi o salvador da raça negra, e por isso Ray Charles fez tanto sucesso; Tolstoi profetizou um mundo sem ódio, esse o motivo do arrependimento ineficaz pela bomba em Hiroshima; Ghandhi foi vanguardeiro de uma nova era, de paz, essa a razão da mortandade do Zaire.
O mundo está repleto de pessoas bem intencionadas. E o Brasil mais ainda. É muita gente se achando no dever de nos salvar do perigo iminente que se avizinha e avança sobre nós de forma impiedosa - ou pelos baixos salários que recebemos ou pelo pouco que ainda temos e corremos o grave risco de até sem isso ficar, pela 'socialização' da sagrada propriedade privada. Enfim, há muito 'mocinho' para pouco 'bandido'.
Ou de fato ninguém tem os seus próprios problemas, a ponto de ter assim tanto tempo de ser abnegado e pretender redimir a raça humana na face da terra, ou o mundo já está sensivelmente melhor, dada a enorme quantidade de 'redentoristas' que se entendem autorizados a se identificar com a humanidade.
A Igreja quer nos salvar, a política idem; os artistas e os filósofos não têm outra inspiração senão o nosso resgate para uma vida que eles imaginam ser os únicos a perceber. Mas ninguém, ninguém mesmo tem a delicadeza de nos perguntar se queremos todos ser salvos. Ou melhor, se precisamos ser salvos de um perigo que não existe a não ser na cabeça de quem precisa de perigo para justificar o despropósito da sua própria existência.
Viver talvez seja um grande perigo que devemos todos experimentar, muito mais sem medo de sofrer do que sem medo de ser feliz. Porque, afinal, felicidade e disco voador têm algo em comum: pouca gente viu, mas muitos querem acreditar que existe.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
TERÇA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2009:"APOSTOLADO"
Contemporaneamente, assim como Pilatos, encontram-se, abrigados em suas fortalezas políticas, homens públicos que resistem em curvar-se diante da verdade. Parafraseando o antigo procurador romano, governantes de hoje também perguntam o que é a verdade. E, por não terem nem dignidade, nem princípios, burlam o tempo todo, artífices que são de sensacionais patranhas.
Sofismar é verbo da atualidade, quando multidões inteiras têm sido vítimas da arte de lograr. Onzeneiros profissionais, falsos líderes fustigam - da comodidade e segurança das suas tribunas - a intriga e a infâmia. Outra preocupação não há senão a de aturdir, no inconseqüente burburinho, a opinião pública. O vulgo, presa fácil da achincalhação, sempre um adventício em seu próprio território. A ambigüidade substituiu o caráter e a dissimulação pretende olvidar a verdade.
Apóstolos da incredulidade, os novos procuradores da plebe propagam, pela doutrina da sedução, o aliciamento dos incautos forjados na falsidade. Os crassos, em obediência desvairada, não percebem habitar o arrabalde do poder. E a pêta grassa país adentro, imiscuindo-se na honorabilidade nacional, em execrável e torpe conduta peculiar aos ignominiosos.
Saber o que é bom e trilhar o imprestável é característica dos egoístas que, por comodismo, tornam-se capazes de tudo, menos de seguir o equânime.
Pois, que tremebundo rincão o nosso! A vileza tem primazia sobre o decoro; a miserabilidade é a elegia da turbação a que foi subjugada a prole dos desafortunados. Proceres messiânicos prometem a abastança, na basófia dos insolentes! E, a mossa se faz sentir no litígio dos abjetos.
“Quid est veritas? A verdade não é de quem não tem a sua própria.
“Quid est veritas?” A evidência dos fatos revela, senão a verdade, todo o embuste para ocultá-la.
Há verdades históricas cujo conhecimento se impõe. Desprezar, duvidar, negar o valor das verdades históricas é assumir a insensatez ou a perversidade. Pois, carecemos de homens circunspectos, e padecemos de depravação.
Ou a necedade aprova o descalabro moral, por desconhecer o império da razão, ou a corrupção reprova o discernimento, por conhecer a impertinência da verdade na conquista da insânia coletiva.
“Não servir sem independência a justiça, nem quebrar da verdade ante o poder”, aconselhou o mestre Ruy Barbosa, em “Orações aos Moços”. Quizera ele descobrir o que era a verdade? Parece-nos que o eminente jurista reverenciava a verdade, curvando-se a ela como a um ente supremo. Assim demonstra, quando recomenda: “Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis”. Lamentavelmente, agora apenas ouvimos a proclamação do impropério, quando a harmonia é tragada pela pusilaminidade daqueles que escamoteiam as verdades históricas e, com elas querem sepultar tudo o que é magnânimo. (Marcus Moreira Machado)
SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2009:"FUTURO SEM ACASO"
Coniventes ou não, os governos de países subdesenvolvidos têm permitido que esses se tornem "plataformas de exportação", expressão utilizada por Celso Furtado para explicar a estratégia dos países desenvolvidos que, procurando se instalar em áreas onde os salários são baixíssimos, empreendem a reconquista do mercado interno a partir do corte do custos de produção. Proclamar severo combate aos oligopólios sem observar a natureza da concorrência oligopolista, será sempre discurso sem conteúdo, desatento ao modo como as grandes empresas, através dos "holdings", procuram expandir-se pelas nações pobres. Diversamente, o incentivo fiscal e tributário às pequenas empresas é forjar a imprescindível "identidade econômica" de que precisa não apenas o Brasil, mas todos os países hoje dependentes das nações economicamente desenvolvidas.
A contradição que se verifica nas nações do mundo subdesenvolvido, coexistindo, lado a lado, abundância de matérias-primas, poderosa força de trabalho, e a extrema pobreza traduzida pala mendicância e prostituição, é, deveras surpreendente. Mas, identificados os males, cabe reconhecer as suas causas; não há cabimento, no caso, para o fatalismo que apregoa total carência de infra-estruturas que permitam o desenvolvimento gerador de riquezas, pois essa condição de prosperidade não nasce por si só, antes depende das decisões governamentais específicas, no sentido de preparar um futuro.
Mais outra vez cumpre notar que o elemento fundamental desse processo de emancipação é o "conhecimento", não o transferido, mas sim o adquirido.
O futuro, dessa maneira interpretado, não será obra do acaso, porém o desdobramento planejado passado que o previu.(Marcus Moreira Machado)
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