O título de "cidadão" remonta aos primeiros dias do mês de outubro de 1774. Nasceu das seguintes circunstâncias: Beaumarchais, tendo um processo com um conselheiro, pleiteou em pessoa a sua causa ante o Parlamento, apelando pela primeira vez à opinião pública.
"Sou um cidadão -declarou o autor de 'O Casamento de Fígaro'- isto é, nem financeiro, nem abade, nem cortesão, nem favorito, nem nada que se possa chamar Poder... Sou um cidadão, quer dizer, alguma coisa de novo, desconhecido, ainda inaudito em França. Sou um cidadão, isto é, o que os senhores deviam ser há duzentos anos e hão de ser dentro de vinte, talvez..." A defesa de Beaumarchais obteve grande êxito. A datar desse momento, o título de "cidadão" foi adotado por todos aqueles que se considerassem espíritos livres.
Hoje, passados já mais de 200 anos desde a declaração daquele verdadeiro precursor da Revolução Francesa, Beaumarchais, as expressões 'cidadão' e 'cidadania' são usadas, muito frequentemente, em significação não condizentes com a sua mais ampla valorização. E, pior, têm seus significados impropriamente vinculados ao conceito de 'democracia', como se esta devesse corresponder, de imediato, ao 'Estado de Direito',
Porque, de fato, a 'cidadania', isoladamente', é a relação entre entre o indivíduo e o país no qual ele vive. A 'cidadania' depende, pois, da nacionalidade do dito 'cidadão'.
No Brasil, por exemplo, a palavra 'nacionalidade' é utilizada para distinguir brasileiros de estrangeiros, ou a fim de determinar a que país um estrangeiro está ligado legalmente.
Nota-se, entre nós brasileiros, a melhor compreensão de 'cidadania' (a independente de idade, cor, raça), aquela consagrada ao ser humano enquanto gênero; essa "cidadania" não é a exata tradução da contida no nosso texto constitucional.
Ainda que necessariamente respeitadas as proporções, aqui temos o havido na Antiguidade, no denominado "berço da democracia", a Grécia,
Sem embargo, no Brasil, 'cidadão' ainda é título concedido, outorgado, quando, ao contrário disso, a única real cidadania obtem-se através do seu auto-reconhecimento, assumida então por quem possa intitular-se 'cidadão'.
(Caos Markus)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sábado, 5 de novembro de 2011
SEXTA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2011: "EMANCIPAÇÃO E CONFLITO"
Com muita frequência, toda pessoa absolutamente severa consigo mesma arroga-se o direito de ser também rigorosa ao extremo com as demais, vingando-se mesmo nos outros indivíduos pela dor cujas emoções não pode manifestar, reprimindo-as.
Ora, a angústia não deve ser contida, pois quando tolhida, quando o indivíduo não se permite ter tanta angústia quanto esta realidade merece, então, provavelmente, desaparecerá grande parte do efeito destruidor dessa angústia camuflada e desviada.
A compaixão, diferente, encontra sua força no fato de estar ligada a um ser particularizado, único, não podendo por isso ser generalizada. Trata-se de uma tristeza mimética, que compartilha igual sofrimento; levada, portanto, a desejar o fim dessa tristeza.
Muitos se esforçam ao máximo para livrar da miséria um ser pelo qual sentem compaixão.
Assim abordada, a emancipação nunca é possível em termos gerais.
Somente há emancipação do indivíduo, na medida em que nele se concentra o conflito entre a autonomia da razão e as forças obscuras e inconscientes dominando essa mesma razão.
(Caos Markus)
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
QUINTA-FEIRA, 24 DE NOVEMBRO DE 2011: "AD"
Há quem desenha resenhas sem confiná-las em formatos, distinguindo 'morfo' na mais ampla acepção de variada gama de concepções, onde o aonde tem, alhures, destinação. Arquétipos modelares são frequentemente inovados, prevalecendo mescla de inauditos e inusitados (co) ementários. Sem procrastinar, interstícios são todos oxigenados por riqueza vocabular, em tradução simultânea do pensar cunhado por étimos jamais restritos a alguma tradição. Nem orto nem heterodoxo, mas (para)doxal.
Por isso e isto, miro a quem ("ad") antevejo. Nisso e nisto, eis minha admiração.
(Caos Markus)
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
QUARTA-FEIRA, 23 DE NOVEMBRO DE 2011: "VARIÁVEIS DA LINGUAGEM NA FORÇA DOS DIALETOS"
Não raro, a suposta "pronúncia correta" ignora as variantes presentes em diversidade de dialetos, impondo por norma a fala da classe dominante.
Com frequência, mensagens impregnadas de conotações alusivas a ideologias várias preenchem livros que escassamente fazem alguma referência ao operário, e demasiado amiúde da família de classe média, entidade onde à figura materna não faltam predicados, embora submissa ao personagem paterno, voltado ao lazer enquanto a esposa "administra o lar". Uma família distante das condições reais de vida da maioria da população da América Latina e, de resto, das populações de muitos países mundo afora. Nessa instituição padronizada, a criança ideal de classe média é elevada à categoria de modelo de identificação para as demais crianças.
Os conteúdos ideológicos da classe social dominante não apenas se transmitem no ensino de História ou Geografia; não somente permeiam as páginas dos livros de leitura em geral, pois, inclusive na transmissão das noções aparentemente neutras, no ramos pretensamente menos ideologizados do processo de ensino-aprendizagem, como é o caso da apresentação do código alfabético, surge, imperativa, a ideologia. Entretanto, em termos linguísticos, um idioma não é senão o meio de comunicação entre falantes de dialetos diferentes, dentro de uma mesma família linguística, e, face o rigor da verdade, todos nós falamos uma variedade dialetal de determinada língua. Resta claro que o reconhecimento dos dialetos não envolve a ausência de normatividade, porque para haver um dialeto, impõe-se a preexistência, por um lado, de uma regra linguística (o dialeto ao qual se confere prestígio, identificado com a língua); e, por outro, os modos de fala desviantes (os demais dialetos). A separação não está representada pela oposição entre ausência e existência de normatividade. A questão é saber quem decide, e em nome de quem; qual será o dialeto a receber maior relevância no âmbito da valorização social. E neste sentido, a História, desde a Antiguidade Clássica até nossos dias, é transparente, inequívoca: o que foi identificado como língua, nacionalmente, é o modo regulador da fala da classe dominante no centro político do país. Porque a história das linguagens é uma histórica política, e a da distinção entre língua e dialeto é uma narrativa das vicissitudes da dominação interna. Não por outro motivo, uma língua é fruto de um dialeto munido da força de um exército.
(Caos Markus)
TERÇA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2011: "FAMÍLIA, AUTORIDADE E AUTORIA"
Mais acentuadamente no curso do século XIX, com fortes reflexos nas 5 primeiras décadas do século XX (e ainda agora remanescente); ao mesmo tempo em que o princípio da 'autoridade paterna' regia a 'instituição familiar' (sob o fundamento da necessidade do provedor econômico), às mulheres (excluídas do processo na relação capital-trabalho) somavam-se as crianças; umas e outras submissas, sob o jugo de uma 'moralidade' castradora. Essa 'autoridade', contudo, possuia maior significância (hoje ignorada), posto que representava 'ser autor de algo'; sentido a atribuir ao homem (na condição de provedor) a responsabilidade por seus dependentes, sem confundir-se o encargo com 'posse do poder' (este, via de regra, sem a tal contrapartida, desonerados os seus detentores do cumprimento de qualquer obrigação, ontem e hoje). Assim, ao pai também cabia prover os 'padrões morais' de sua época, na competência e dever de mostrar o caminho então entendido como a mais correta referência a ser seguida; sinalização à prole, principalmente, que por seu turno repassaria mais tarde aos seus descendentes os valores recebidos.
Atualmente, face a 'integração' acrítica do indivíduo na sociedade, desde a sua etapa 'global' até o estágio da 'globalização'; ante a dissolução da entidade familiar (se comparada aos padrões anteriores); e frente ao consequente abandono desse mesmo indivíduo, à mercê da universalidade de novas instituições; faz-se necessário designar à 'família' outro significado, qual seja, o de um "espaço" destinado à preservação da 'autonomia' (sem confundí-la com 'independência').
Em nossa contemporaneidade, o pai obedece fora de casa, consoante uma "racionalidade" absolutamente "irracional". Todavia, ainda reina em casa.
Diversamente do que se passa na vida pública, agressiva e concorrencial, na 'família' contemporânea as relações não são medidas pelo valores do mercado. Nela, os indivíduos não se contrapõem como concorrentes em disputa pelo emprego, pelo capital ou lucro. Nesta 'família', o homem continua mantendo, sim, a possibilidade de agir, mas não apenas como uma função ou um negócio.
A 'família' atual não conduz à autoridade burguesa (a autora da estrutura seletiva e excludente), como muitos querem crer. Ela constitui-se em prenúncio (remoto, entretanto preexistente) de uma condição humana aperfeiçoada, somente não mais perceptível em razão da transição ('crise'), da passagem de um para outro estágio da civilização, mensurável através da História, apenas.
(Caos Markus)
SEGUNDA-FEIRA, 21 DE NOVEMBRO DE 2011: "TRANSCENDÊNCIAS: DO GÊNERO À ESPÉCIE"
Sobeja e continuamente em debate -sabe-se inquestionável- a industrialização intensiva já não é mais a expressão por excelência do progresso. Em contraposição ao conceito de natureza como objeto disponível e manipulável para a exploração, erguem-se a arte e a gratuidade da estética dignamente desfrutada.
Na dimensão estética delineiam-se as potencialidades liberadoras da imaginação, a produzir e criar, contra a civilização repressiva. Porque a arte transcende as determinações de confinamento ao espaço e tempo, impondo-se vitoriosa sobre a morte. Um outro princípio de realidade contém significância na arte, muito além da submissão à produtividade, superando o fragilizado fundamento assentado no desempenho da competitividade no trabalho conjugado à renúncia ao prazer.
Sob o império de nova concepção, ou caminha-se agora em busca da reconciliação do homem com a natureza, tanto exterior quanto interiormente, no restabelecimento da História da Civilização, ou admite-se a autofagia como o próximo e derradeiro gesto da humanidade. E, vale refletir, na ruína, ausente o estético, restará por arquétipo modelo único de criação, o "ser" que -reproduzido- sequer terá consciência do seu legado, esse mesmo a impulsioná-lo na renovação do estoque de indivíduos semelhantes. O gênero, então, cederá lugar à espécie.
(Caos Markus)
terça-feira, 1 de novembro de 2011
DOMINGO, 20 DE NOVEMBRO DE 2011: "RAZÃO E OBEDIÊNCIA: RESTRIÇÕES AOS DIREITOS HUMANOS"
Os meios de comunicação de massa são exatamente o oposto de tudo o que possa ser verdadeiro fruto do pensamento, considerado presente apenas na obra cultural, consistente em estímulo ao discernimento, à visão, ao raciocínio.
As imagens publicitárias, o "enredo" televisivo ou veiculado pela mídia eletrônica, limitam -por seu acúmulo de conteúdos acríticos-até mesmo a livre imaginação. Tudo é convertido em entretenimento: guerras, massacres, genocídios, greves, hecatombes, enfermidades, cerimônias religiosas.
Por outro lado, a cultura é o perfeito aprimoramento dos próprios direitos humanos. Diversamente, num mundo onde o intelecto é desprezado, tratada a reflexão como antagônica e inimiga, a 'razão prática' ocupa lugar central na sociedade.
Cultura é pensamento e reflexão. E 'pensar' é, definitivamente, o contrário de obedecer.
Com efeito, a indústria cultural produz restritivamente um simulacro de participação. Todavia, assegurar o direito à cultura é garantir o direito de acesso aos bens culturais, tanto quanto a compreensão desses bens será o ponto de partida para a transformação das consciências.
(Caos Markus)
domingo, 30 de outubro de 2011
SÁBADO, 19 DE NOVEMBRO DE 2011: "A FACILIDADE DO IMEDIATISMO"
A cultura de massas é regressiva, uma psicanálise ao revés. Ela nem é cultura, e sequer é produzida pelas massas.
A sua norma é a novidade. Mas, de maneira a não pertubar hábitos e expectativas, atuando no imediatismo do legível e compreensível pelo maior número de espectadores ou leitores.
Ela evita a complexidade. E o faz oferecendo produtos à interpretação literal, ou seja, minimal mesmo.
Assim, a mídia efetiva um aprisionamento de múltiplos sentidos, reduzindo-os a um apenas, dirigindo-os à uniformidade e à exclusividade padronizada, através da demagogia da facilidade. Valendo-se da indústria cultural, os meios midiáticos primam pela absoluta falta de democracia, transmitindo suas "mensagens" sem conexão alguma com qualquer indício de elemento gramatical estruturado, afastados de todos os preceitos ortográficos inteligíveis sob a ótica da interpretação individualizada.
Nefasta consequência da alienante cultura de massas, a educação retorna à condição de valor partilhado por poucos iniciados, conhecimento reservado a uma elite.
Não lutar contra essa falsa cultura será sempre persistir na manutenção das injustiças sociais.
(Caos Markus)
SEXTA-FEIRA, 18 DE NOVEMBRO DE 2011: "PRECEDÊNCIA"
As essências das coisas transcendem ao plano empírico das nossas vivências, independentes deste universo pautado por sucessivas permutas e impregnado de ilusões. Preexistem no inteligível, na esfera da eternidade, da imutabilidade, do repouso, da perfeição e da identidade.
Tudo é precedido na forma, através do âmago eternizado, constituindo-se em modelo a ser copiado no perpassar do tempo histórico. Mundo cuja sensibilidade é fidedigno retrato do inteligível, devendo realizar, nessa percepção, as ideias estruturadas na abordagem do compreensível.
A História, afinal, desenvolve-se repetindo-se nas tragédias humanas, em trajetória rumo à derrocada irracional. Eis comprovado, todos os movimentos portadores de bandeiras libertárias redundaram em novas modalidades da constante opressão, habitualmente confundido-se o intenso louvor ao povo não apenas com a nociva ufania, porém (muito mais danoso!), com a cruel e irreparável opressão de tantos quantos foram somente pretexto do real propósito: dominação.
(Caos Markus)
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