REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
TERÇA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2010:"CONDUZIR E INDUZIR"
Para Sócrates como para Platão pouco progresso advém da comunicação direta do conhecimento. Para eles importante era a capacidade de pensar, criando mentes capazes de formar conclusões corretas, de encontrar a verdade por si mesma. Na definição de Platão, o homem é o “caçador da verdade”, sendo sim importante a busca e não a posse do saber.
Também pensadores modernos enaltecem a verdade desse mesmo princípio, como se observa na ponderação de Jean Paul Richter: “Não é o fim, mas o movimento que nos faz feliz.” A ruptura dessa apologia é consequência do exagerado realismo verificado na educação com o progresso científico. De fato, o utilitarismo do conhecimento atual tem menosprezado a importância do autodesenvolvimento como princípio fundamental no processo de aprendizagem. E, sem dúvida, nesse sentido, o papel da escola é cultivar virtudes intelectuais. Pois, o que é “disciplina, senão a antítese de “doutrina”? O professor, assim, é detentor, de um corpo sistematizado de conhecimento, enquanto os alunos apropriam-se da parte dessa doutrina que mais condiz com as suas necessidades individuais.
É nesses contexto que, mesmo sendo a escola um reflexo do meio social de onde se originou, pode a sociedade ser reformada a partir da instituição educacional. Mas, é sempre a educação democrática que viabiliza essa reforma, através do reconhecimento de habilidades, resultantes da prática inteligente e continuada, e pelo estímulo do conhecimento e da compreensão, pela observação e pensamento reflexivo.
Em toda a história da educação há muito se tem procurado atender à educação de alguns, mas pouco se fez pela educação de muitos. A igual oportunidade para todos, sem segregação de alunos em escolas à parte, só é possível se observada como regra a função democrática da escola. Havendo separação dos poucos favorecidos com uma educação especial, prejudicada fica a solidariedade do corpo social. Ao contrário, evitando-se a segregação, o processo educacional alcançará a socialização e a humanização dos futuros membros da sociedade, ao tempo em que todos estejam aprendendo juntos, podendo, também, aprender a viver juntos pela convivência direta na mesma instituição. Aliás, um sistema educacional de caráter verdadeiramente democrático é aquele que reconhece a educação como direto natural de todos, dando a cada indivíduo a oportunidade de progredir no sistema, limitado apenas pela sua habilidade e pela sua operosidade.
A escola , enquanto instituição intelectual, não deve, jamais, distrair-se de sua função precípua nos seus esforços de suplementar outras instituições. Para tanto, necessita considerar três aspectos do pensamento: o material, o espiritual e o humano. Adestrar é uma coisa, educar é outra. Como educação entende-se a soma da experiência individual com a experiência social. Um país que faz uso apenas do conhecimento instrumental, em detrimento da formação, está, quando muito preparando mão-de-obra, sem, contudo, iniciar seu povo no exercício da cidadania. E como falar em civilização, levando-se em conta somente o adestramento?
Já alguém afirmou que “toda educação é auto-educação” e que o estudante aprende por meio “das suas próprias atividades”. Se este princípio for posto em prática nas leituras, nas observações e nas reflexões sobre elas, o estudante terá a oportunidade de experimentar essa “auto-educação”, pois conhecimento é algo mais do que uma recepção passiva de informações minuciosas. A própria personalidade é forjada no desenvolvimento de atividades e idéias adquiridos com a auto-educação.
O ser humano, vivendo em sociedade organizada, sob a responsabilidade do Estado, tem, pelo próprio progresso a que está destinado, o direito natural à educação formal na escola, uma vez que não é outra a compreensão de sociedade civilizada. E a escola, como instituição formal de educação, tem um importante papel a desempenhar no desenvolvimento social do aluno; nela o ideal a atingir é a busca do conhecimento, entendida como comunidade que deve ser, e privilegiando, sempre, o crescimento mental do estudante.
O que é preciso, inegavelmente, é redefinir a palavra “intelectual”, apropriando-se do amplo sentido que tem, para que, finalmente, a escola assuma o seu papel de instituição intelectual.
(Marcus Moreira Machado)
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