REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
SEGUNDA-FEIRA, 1 DE MARÇO DE 2010:"DEPAUPERADOS"
Em nenhum tempo, os contrastes entre o rico e o pobre foram tão resolutos, tão violentos como presentemente. Os economistas que afirmam nas suas obras científicas que o pauperismo é tão velho como a humanidade, socorrem-se de sofismas. Há pobreza absoluta e pobreza relativa. A pobreza absoluta é a do homem que não pode inteiramente satisfazer suas necessidades reais, ou somente as satisfaz de maneira insuficiente, isto é, aquelas que se originam de suas funções vitais orgânicas, dificultando-lhe por consequência a alimentação suficiente, a qual quando a obtém, é com sacrifício do repouso e do sono de que seu organismo tem necessidade para não definhar prematuramente. A pobreza relativa, pelo contrário, é a impossibilidade de satisfazer as necessidades artificialmente criadas, que não são condições necessárias da vida e da saúde, e que o indivíduo não sente e não compreende senão comparando seu modo de vida com o dos outros. Cada indivíduo julga-se pobre à sua maneira; o operário, se não pode fumar ou beber aguardente; a lojista, se não pode vestir-se de seda e cercar-se de uma mobília supérflua; o homem de profissões liberais, se pela aquisição de um capital não pode libertar-se do cuidado inquietador de acautelar o futuro de seus filhos ou o decanso de seus últimos dias. Esta pobreza é evidentemente relativa, no sentido da lojista, por exemplo, parecer rica ao operário, e do professor julgar magnífico o modo de vida que ao aristocrata, criado na abundância e gozando de todas as comodidades, pareceria pobre; mas esta pobreza também é subjetiva, enquanto só reside na imaginação do indivíduo e não arrasta de maneira alguma o enfraquecimento real das condições necessárias da existência, e com ele o definhamento do organismo. Em uma palavra, não é pobreza fisiológica. Ora, o velho Diógenes já mostrou que podemos passar bem, quando satisfazemos facilmente as necessidades do corpo. À pobreza absoluta ou fisiológica não aparece como fenômeno constante senão em consequência da civilização elevada e enferma. No estado primitivo e mesmo em grau inferior de civilização, ela é inconcebível. O homem primitivo não se submete humildemente à miséria, luta com ela e vence-a, ou então sucumbe prontamente.
A pobreza absoluta é igualmente inconciliável com a civilização que não transgrediu ainda o ponto de vista das necessidades físicas. A civilização elevada, finalmente, condena à pobreza absoluta uma multidão deveras numerosa, favorecendo o engrandecimento das cidades em detrimento da população rural, o desenvolvimento da grande indústria em prejuízo da produção animal ou vegetal, e, criando um proletariado que não possui uma única polegada de terreno, o impele para fora das condições da existência natural do homem, e terá de morrer de fome no dia em que deparar fechadas as fábricas e as oficinas.
O proletariado atual das grandes cidades não tem antecedentes na história; é produto da nossa época. O proletário moderno é mais miserável do que era o escravo na antiguidade, porque não é alimentado por um senhor, e se tem sobre este a vantagem da liberdade, devemos confessar que esta liberdade é principalmente a de morrer de fome.
Não é no comunismo que se deve procurar a solução dos problemas econômicos; ele só é estado natural nos organismos coletivos muitos inferiores, e não pode de maneira alguma aplicar-se a uma forma mais elevada da vida como é a sociedade humana. Não é somente para o homem, mas também para a maior parte dos animais, que a posse individual constitui estado natural. O modo de vida que torna necessários a previdência e o cuidado do futuro conduz à expansão do sentimento da propriedade e ao desenvolvimento do instinto de adquirir uma posse própria.
Forçoso é voltar a tratar da renovação da organização econômica. Um só princípio fundamental deve dominar a sociedade, e este princípio tem de ser o individualismo. A posse é organizada individualmente. Àquele para quem tal estado não é o alvo ideal do desenvolvimento social, não há outra coisa a fazer senão resolver-se por outro princípio, a solidariedade. Da escolha dependerá a ruína ou o aprimoramento da organização social.
(Marcus Moreira Machado)
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