REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
SEGUNDA-FEIRA, 15 DE FEVEREIRO DE 2010:"MENINADA"
Disseram-me que eu não deveria mais escrever para adultos. O argumento: não existem mais adultos e sim marmanjos. Vaticinei um mundo em tudo utópico, e já era chegado o momento de lidar com o presente, recomendaram-me. Um tanto curioso, eu indaguei no que se constituia o presente, e obtive como resposta: as crianças. O fundamento de tal assertiva estava no fato de que a criança é bem menos - ou quase nada - condicionada,, motivo pelo qual ela aceita mudanças, porque, afinal, ela mesmo está em plena e constante transição.
Ponderei. Não achei errônea a consideração., De fato, a criança de tudo quer saber e em tudo quer palpitar; no mínimo poderíamos dizer que o infante possui o que o marmanjo já perdeu - o senso crítico. A real dificuldade para mim que também já sou marmanjo, é entrar no mundo infantil. Mais que isso, eu admito, o meu temor é ter que "entrar no mundo", coisa que a molecadinha tira de letra. Porém, como o meu lado travesso ainda vive comigo, eu adoro desafios, como toda e qualquer criança, aliás. Eu acho um grande barato coisa mal feita, isto é deixar alguém extremamente irritado, só por deixar, dizer "não" quando quase todo o mundo nem sabe porque é que está dizendo "sim", e outras coisas do género. Até já fui em psicólogo, só para tentar descobrir o motivo da minha imaturidade. No entanto, o meu maior divertimento foi deixar a terapeuta nervosa com os problemas dela. Rí, rí muito, rí adoidado, até que ela me mandou plantar favas. Aí eu rí mais ainda, porque achei uma loucura a psicóloga perder as estribeiras com o paciente. Eu pensei com os seus botões: eu sou mesmo paciente, tenho muito mais paciência que essa psicanalista raquítica
Mas, porém,, entretanto, conduto, todavia... Embora assim meio meninão, sou "pai de família", vivo num mundo de gente séria que fala bonito e quer impressionar. Como eu poderia deveras impressionar as crianças? Trapezista, mágico, palhaço, conseguem isso com a maior das naturalidades. Eu não sou nada disso! Só sei fazer graça da própria desgraça, e a criançada não quer saber de coisas tristes, mesmo em forma de piada. Ser ou não ser... Ó dúvida cruel! Ser e não ser ao mesmo tempo, Ser metade, ser pela metade.
Minha mulher me disse que eu sou carinhoso, mesmo com essa cara meio fechada que tenho. Ela prestou atenção em algo que eu mesmo não dera conta: que eu havia afagado a cachorrinha dos meus filhos. Daí que prestei sais atenção nessa coisa de carinho. De fato, a tal da cachorrinha é uma graça, com um jeito de criança querendo agrado, sentindo falta da gente., Logo eu que nunca pensei em ter cachorro, gato e companhia limitada em minha casa., Mas, não, é para menos. Um bichinho que só quer brincar, que não pretende ser outra coisa na vida senão um bichinho... Alguém pode perguntar a um animalzinho qualquer o que ele deseja deseja ser quando crescer? Ele nem deve ter alguma consciência do que é, e parece gostar bastante de ser o que é. Isso não é admirável?
Porque, vamos falar a verdade, nós que somos gente de carne e osso vivemos inventando de ser isso e mais aquilo durante a vida toda, e somos um bocado tristes, sem sabermos brincar nem nada. Não que a gente deva virar cachorro ou gato ou passarinho. Porém, ser feliz em ser o que é sem se preocupar com o que se é ou com o que se devia ser, é uma boa idéia, não?
Eis que, então, por hoje eu descido: também não vou fazer nenhum esforço para impressionar ninguém. Quem sabe alguém até me leve mais a sério, ainda que não dando o braço a torcer. Faz mal não. Essa é uma outra decisão: cada um que concorde consigo mesmo, de verdade, e nós todos estaremos de acordo uns com os outros. Não é melhor assim? Não é mais feliz assim?
Que tal todos nós esquecermos de tanto fingimento, dessa mania doida de que para ser adulto é necessário ter cara de adulto, jeito de adulto, pose de adulto? Que tal pararmos de ser marmanjos e darmos uma tremenda gargalhada, do tipo daquela que não se podia dar na igreja durante a missa, quando nem a primeira comunhão ainda havíamos feito? Isso não é mais possivel? É sim. É perfeitamente possível. É só a gente parar de beliscar os nossos filhos num lugar que não é permitido rir. Vamos rir com a vontade de rir que eles têm; eles não têm essa vontade à toa, é engraçado à beça fazer o contrário quando não se pode. E não?
Pelo menos por hoje, eu estou plenamente convencido a não escrever para adultos. Posso até não conseguir escrever para as crianças de verdade, mas vou mentir para mim mesmo um pouquinho e fazer de conta que nada mais é da minha conta, que assunto de gente grande não me interessa mais, que afinal de contas o mundo não é tão complicado assim. E nem vou precisar me esforçar muito. Faz já um bom tempo que venho suspeitando de que nada é tão sério e nem precisa ser. Crianças brigam pela manhã e estão juntas brincando à tarde, sem necessidade de pedir perdão ou de ser perdoada. Os marmanjos, ao contrário, perdoam, são perdoados, e não param mais de brigar; brigam tanto que até matam de verdade.
Verdadeiramente, hoje eu quero pelo menos ser um pouco mais eu mesmo - uma criança sorridente.
(Marcus Moreira Machado)
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