(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
QUINTA-FEIRA, 25 DE FEVEREIRO DE 2010:"NO CENTRO DO EGO"
No homem atual tanto a liberdade como a capacidade de pensar caíram de nível. As condições materiais a que estão submetidos os homens de nosso tempo o reduzem a tal ponto que a sua vida psicológica se acha fortemente prejudicada, e, mais ainda, a sua capacidade de fazer cultura. A luta pela vida, proveniente da insegurança do sistema econômico que torna a sobrevivência difícil, obriga as pessoas a se agregarem em número cada vez mais crescente em aglomerações de trabalho. O desligamento do ser humano para com aquilo que é o seu próprio chão constitui um atentado e uma violência contra a liberdade e, daí, contra a cultura. Esta sofisticação da atual vida urbana, com todo o seu moderno sistema de produção, roubou do homem a ligação com a natureza que é essencial à cultura. O excesso de ocupações é a regra básica na vida da maioria das pessoas. Os indivíduos não vivem mais como seres humanos, mas apenas como trabalhadores. E as consequências disto dentro do campo educativo são visíveis. Os pais não conseguem dar a devida assistência aos filhos, deixando de propiciar-lhes o seu natural desenvolvimento. Desta forma, os indivíduos, colaborando com o processo de produção ou sofrendo-lhes as consequências, tornam-se cada vez menos habilitados à cultura; tornam-se dispersivos, incapazes de fazer desenvolver a si mesmos.
Há um fenômeno em nossos atuais meios de comunicação de resultado altamente lesivo para o desenvolvimento da cultura. É a ação reflexa que os indivíduos - já dispersivos e incapazes de concentração - exercem sobre aqueles órgãos. Em vez de proporcionarem cultura, eles sucumbem à lógica de demanda: servem apenas a clientes sedentos de futilidades. Perdido o hábito de exercer a capacidade reflexiva e de criação, o indivíduo cria uma barreira em volta de si mesmo, impedindo a sua expansão enquanto ser. Passa, então, a viver com esta barreira. No trato com o semelhante resulta uma conversação em terceira pessoa. Dá-se valor a um assunto, não porque ele tem significado, mas porque ele é a notícia do momento. Não se procura aprimorar uma idéia e sim passá-la adiante. As pessoas não se encontram para se verem envolvidas diante de um ideal comum, mas para uma conversa sem maior comprometimento.
O trabalho especializado de hoje não fornece uma visão do todo. O trabalhador não tem mais o sentido de sua unidade, pois conhece apenas um aspecto daquilo que ele mesmo faz. O perigo espiritual das especializações atinge, de maneira particular, o ensino. Os encarregados de instruir a juventude já não possuem aquela visão universal que os habilite a fornecer aos jovens a conexão entre os vários ramos do saber.
Na impessoalidade do relacionamento humano, a primeira grande consequência é a total desumanização. Esta impessoalidade é fruto do isolamento. As pessoas se esbarram uma nas outras, mas realmente não se encontram. Falta, assim, muito pouco para a completa desumanização da vida. E isto é muito prejudicial para a cultura.
A necessidade de que estabeleçamos uma nova visão do mundo, a partir de nós mesmos se faz urgente, como urgente é romper com as interpretações vigentes, com a desnorteada realidade que nos cerca. É preciso revigorar princípios e idéias gastas, ultrapassadas. A regeneração da cultura só ocorrerá quando em cada um dos indivíduos se formar uma nova concepção de vida, para, em seguida, alcançar a orientação da coletividade. Sempre onde a coletividade exerce mais influência sobre o indivíduo do que este exerce sobre ela, instala-se a decadência. Sociedades - capitalistas ou socialistas - que desprezaram o raciocínio individualizado, conheceram ou conhecerão a tragédia da desorganização social, sucumbindo suas culturas.
É dentro de cada um, única e exclusivamente, que pode surgir o sentido da vida.
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