(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
SÁBADO, 13 DE FEVEREIRO DE 2010:"ABALOS"
O jornalista e escritor comunista norte-americano John Red (destacadamente recomendado por Lenine, ao recordar os primeiros dias da "Revolução de Outubro", na Rússia) faz referência à diversidade das organizações russas à época, entendendo, assim, necessário defini-las e esclarecê-las. Nessa oportunidade, comenta sobre o "S. R.", os 'Socialistas Revolucionários de Direita': "... adotaram a atitude política dos mencheviques e trabalharam de comum acordo entre si. Terminaram por representar os camponeses ricos, os intelectuais e as populações politicamente deseducadas de longíquos distritos rurais...".
O livro "10 Dias que Abalaram o Mundo". considerado por Krupskaia uma verdadeira epopéia, de tal forma consagrou o seu autor, Reed, a ponto dele ter sido sepultado ao pé do Muro Vermelho do Kremlin, uma honra ímpar para os revolucionários de então. Deveras singular, o livro tem o mérito de ter sido escrito por escrupuloso jornalista, por demais envolvido, talvez, com o objetivo de sua reportagem, ou seja, dar cobertura jornalística a momentos cruciais da História, 'dias em que os bolcheviques, à frente dos operários e soldados da Rússia, apoderaram-se do poder do Estado e o puseram nas mãos dos Sovietes.' Assim é que, procurando explicar os "bastidores" da Revolução Bolchevique, John Reed, em comparação com a Revolução Francesa, e citando Carlyle, para quem "o povo francês distingue-se, acima de todos os outros, pela faculdade de esperar", afirma então que o povo russo também estava acostumado a esperar desde o reinado de Nicolau, o Santo. Segundo o jornalista, "daí por diante, com intermitência, continuou a fazer filas". E, lamenta: "Não se pode fazer idéia da situação desses pobres homens que ficavam o dia inteiro nas ruas frígidas de Petrogrado, em pleno inverno russo! Nessas filas de homens, à espera de pão, ouvi muitas vezes palavras de descontentamento que, apesar da sua índole, as multidões russas deixavam escapar...".
O comentário de um militar da época é bastante significativo na explicação daquele que se considerou o grande movimento revolucionário do proletariado. Diz ele, um tanto indignado: "... Kerensky abriu as portas aos inferiores, a qualquer soldado capaz de passar num exame. É natural que muitos, muitos mesmo, estejam contaminados pelas idéias revolucionárias...". E manifesta, a seguir, a sua vontade de sair da Rússia e entrar para o exército norte-americano.
É de merecer destaque, também, a consideração feita pelo autor no prefácio do livro "10 Dias que Abalaram o Mundo": "Os trabalhadores russos reconhecem que nossas instituições políticas (americanas) são preferíveis às deles, mas não querem trocar um despotismo por outro (o da classe capitalista)...".
Pois bem. Pelo exposto até aqui, é de se notar que a Revolução Bolchevique, a exemplo da Revolução Francesa, encontrou um campo fértil de propagação na extrema miséria em que se encontrava o seu povo indigente, vítima do despotismo dos tzares. Mas, daí a dizer que tudo girou em torno do consenso é, no mínimo, leviandade. Ao contrário, era tamanha a diversidade de matizes ideológicos por ocasião das eleições para a Assembléia Constituinte realizadas em Petrogrado, antecedendo a vitória revolucionária de um partido pequeno - os dos bolcheviques, que em certas cidades da província o número de grupos políticos chegou até quarenta. Dessa maneira, os mencheviques compreendiam todos os naipes socialistas, convencidos de que a sociedade devia chegar ao socialismo por evolução natural e que a classe operária devia começar por conquistar o poder político; e o Partido Socialista Revolucionário (os já citados "S. R.") originalmente era o partido das organizações de combate, ou seja, dos terroristas. Diferença substancial entre eles é que para os "SR" a supressão da propriedade privada da terra deveria ocorrer mediante indenização nos seus proprietários.
Já nesse momento não é preciso muito raciocínio para entendermos que agora, em 1994, em um país que não pode dizer ter realmente conhecido as agruras de uma guerra (como a Primeira Guerra Mundial, envolvendo diretamente os russos ), mas que antes é mais um co-partícipe da crise internacional que torna vulnerável até mesmo economias de países ditos do Primeiro Mundo, agora mais do que nunca alguns "socialistas revolucionários de direita", egressos de malfadados grupelhos sindicais, pretendem promover a penúria do povo brasileiro como pretexto para uma plataforma eleitoral supostamente respaldada no consenso popular. Maximizando os problemas nacionais, como se eles fossem independentes, desvinculados do panorama político-econômico mundial, buscam esses retrógrados a formação de organizações populares a partir de grosseira imitação dos antigos 'sovietes'.
Querendo reeditar Reed, confundem jornalismo com ficção e, impregnados do mais legítimo "latin lover", se intitulam protagonistas da 'libertação', pensando também em 'Abalar o Mundo'. Porém, política não se faz apenas com intenções, sejam elas boas ou más. E postular a presidência do Brasil não é o mesmo que organizar convenções e reuniões através do outrora "Presidium" soviético, quer dizer, comitê da presidência.
Temos filas em bancos, é verdade. Mas algum dinheiro ainda há neles, não justificando um modelo híbrido de governo, como o apregoado pelo Partido dos Trabalhadores, no Brasil. Afinal, cavalo relincha e asno zurra.
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