(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
domingo, 24 de janeiro de 2010
QUINTA-FEIRA, 4 DE FEVEREIRO DE 2010:"IRREALISMO"
Rendidos estamos. Não temos mais que uma cultura de “almanaque”, consagrando o banal, ritualizando fórmulas decadentes de salvação individual ou coletiva. Somos tão descartáveis quanto as informações que consumimos todos os dias.
Valorizar a cultura seria, no mínimo, medida profilática, a prevenir males cruciais como a fome, a miséria, atualmente combatidos quixotescamente como causa da violência, origem da desagregação social, quando não são mais que reflexos de caos anterior.
Quando se trabalha com fenômenos sociais não se pode esperar a precisão da informática ou a certeza dos laboratórios; em sociedades múltiplos aspectos concorrem para maior possibilidade de dúvidas do que para probabilidade de acertos; o organismo social, quando doente, requer mais do que boa vontade, mais que otimismo, carece de conhecimento, e conhecimento prático. O que se verifica em ciências políticas e econômicas no Brasil é justamente o distanciamento da realidade mais óbvia. Opiniões diversas são apresentadas como “sui gêneris”, impressionando pelo ineditismo, mas todas por demais fantásticas para poderem ser pragmáticas. Talvez, por que não, não se queira mesmo resolver coisa alguma. Então, buscar alternativas, sempre, seja forma de ocultar a premeditação no desinteresse político; pois quem não pode ou não consegue crer na hipótese do “lucro” garantido pela miséria alheia?
No labirinto das teorias governamentais estamos a esperar um corajoso e apaixonado Teseu, a desafiar o Minotauro pelo amor à Ariádne. E como quem não tem nada briga por pouco, a violência fermenta a convulsão social em barbárie coletiva, por ninharias, por quinquilharias que em nações civilizadas não passam de lixo.
Estamos também virando lixo! E o que é pior: não degradável. Vermes vorazes, encontramos na podridão da cultura brasileira, amesquinhada e aviltada, o putrefato alimento de nossas sórdidas paixões. Alguns já marginais, outros ainda marginalizados, em breve seremos todos párias; reduzidos a ínfima casta, excluídos da sociedade, devoraremos uns aos outros em antropofagia de “guerreiros” modernos.
1984 já passou. Orwell talvez não soubesse que na Revolução dos Bichos os brasileiros não seriam metáforas, mas os próprios bichos.
O esforço de alguns (não poucos!) homens para derrubar outros e subir pelos seus cadáveres traduz a profunda angústia por que passamos, mergulhados no canibalismo e nos atos selvagens da modernidade social, matando e sendo mortos, odiando e sendo odiados, subjugados, enfim, à lei não escrita, porém impiedosa da sobrevivência.
Se ao menos acreditassem os nossos dirigentes no ciclo-reflexo de causa e efeito, poderiam os homens de governo renunciar à trama de atividades direcionadas a garantir privilégios de grande farsa, consagrando, então, todo o seu tempo e energia exclusivamente na reabilitação do país. No entanto, é forçoso admitir que nem mesmo a lei do Karma (a cada ação corresponde uma reação) prospera no Brasil. Mais contribuintes que cidadãos, somos vitimados por formidável desestabilização social, onde não há acordo entre “técnicos” econômicos e a legião de “devedores” por eles afetados, ferindo-se o mais elementar princípio de democracia. O mecanismo de manipulação abusiva dos vários índices que têm regulado a vida financeira do Estado influi decisivamente na saúde do organismo social, sem que se considere não haver causa que possa ser desvinculada de seus efeitos.Ponderar os efeitos reais das ações pretéritas, entender os seus resultados acumulados, será a maneira mais razoável de corrigir a rota e prognosticar as formas de futuras atividades. No mais, necessitaremos do pessimismo como um alerta permanente.
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