(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
SÁBADO, 20 DE FEVEREIRO DE 2010:"EFEMÉRIDES"
“Eu sou eu mais as minhas circunstâncias”, asseverou o filósofo. Pois, certo é que em dado momento uma particular situação é exigente em uma conduta singular e aparentemente contraditória àquela outra, verificada em condição diferente. Ser, então, incoerente é muito mais atributo da personalidade que debilidade moral. Não é certo que adolescência sucede à infância? E para cada idade não existe uma relação de conveniência entre uma coisa e qualquer desejo? E que o valor de uma coisa implica em comparação e preferência?
A “desejabilidade”, se livre da utilidade normativa, fundamenta o valor; o hedonismo, não confundido com devassidão, é determinante na fixação do valor de riquezas. No entanto, no desprezo aos prazeres, a valorização da posse relega a própria vida a valor secundário, forjando circunstâncias a prevalecerem sobre o ego. Daí o desafio de Proudhon à aparente contradição: “Sendo a riqueza composta do valor das coisas possuídas, como se explica que uma é tanto mais rica quanto as coisas estão por mais baixo preço?”
O que se nos parece é que a riqueza de uma nação não deveria ser constituída tal qual a riqueza de um indivíduo, isto é, pelos valores das suas posses. Mas, quando suprime-se a relatividade do conceito de riqueza, impondo-se padrões de utilidades, certamente até mesmo a moral e a ética adquirem valor secundário, uma vez reduzidas a mero reflexo de circunstâncias artificializadas..
Certamente vivemos numa sociedade paradoxal, onde o que de fato pode e deve ser mais útil tem menor valor. Pois, aqui considera-se mais uma forçada reserva de dólares que uma lauta refeição, ou mesmo simples pão com manteiga. O vago conceito de raridade desse ou daquele item acaba por privilegiar muita coisa que não se pode prazerosamente consumir. O supérfluo não existe, isso é inegável. Desnecessário será tudo aquilo que não proporcione efetivo deleite; uma tela de Rafael somente tem importância se corresponde ao fascínio de um amante da pintura, e uma coleção de “souvenirs” por preço algum será vendida quando o seu dono a entende como valorizada propriedade. É a relatividade daquele mencionado conceito de riqueza.
Henry Ford, quando pretendeu competir no mercado da fabricação de borracha natural, instalando em muito hectares de terras do Norte brasileiro uma formidável “cidade” pré-montada, não soube sequer entender a “desejabilidade” como fundamento do valor. Ao querer introduzir os conceitos supostamente civilizados de moradia e habitação, Ford não valorizou a típica rede de dormir dos caboclos, bem como o jabá e o charque como iguarias nativas; houve revolta. O progressista empresário quedou-se em perplexidade, exclamando ser impossível para ele conceber a idéia de um povo que, embora alimentado com o que havia de mais proteico e vitaminado nos E.U.A. , não obstante habitando em moradias de excelente padrão para os norte-americanos, ainda se rebelasse, desconsiderando até mesmo o elevado salário (para os padrões locais) que recebia.
Percursor da Organização Científica do Trabalho, pioneiro na implantação das esteiras para a produção em série, empreendedor que abominava a filantropia, enaltecendo as vantagens de bem remunerar a mão-de-obra, Henry Ford não soube, porém, identificar e distinguir as riquezas, para ele estrangeiras e sem valor, mas para os nortistas brasileiros de infinito valor, porque prazeirosas.
Um conceito objetivo e realista de utilidade é aquele que - fundamentado nas qualidades de uma coisa - determina o seu valor de uso. E essa qualificação há que ser considerada pela “ofelimidade”, isto é, na relação de conveniência entre a coisa e o desejo. A Psicologia, nesse caso, trará recursos à Economia, quando questionará o ser humano antes de ser ele tratado como consumidor padronizado.
Trazer bem-estar à população de um país - no caso como o Brasil - será respeitar as suas crenças e os seus hábitos; será admitir que um “disc-laser” é tão importante quanto um pequeno rádio à pilha para o torcedor nos estádios; será permitir a convivência entre as sabedoria e o conhecimento; será coexistir o erudito com o popular, em reconhecimento da alma humana concebida como unidade, no dizer de Kant.
Preocupar-se com o bom desenvolvimento de um povo exige o não aniquilamento da sua personalidade, através da harmonia do inconsciente compromisso entre o primitivo instinto com o consciente adquirido por influência das forças sociais.
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