REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
TERÇA-FEIRA, 16 DE FEVEREIRO DE 2010:"O FIM DA RETA"
É chegado o dia que pais e filhos se odeiam entre si, em que irmãos se matam sem piedade alguma; é chegada a hora em que o ódio domina a tudo e a todos, na mais evidente demonstração de que o mal venceu como a qualidade mais desprezível, porém mais forte nos ímpios em que se revelaram definitivamente os homens de má vontade. A fraternidade tão desejada por uns poucos e tão vilipendiada pela excelsa maioria, oculta, essa sob o manto da hipocrisia das pusilâmines, não é agora nem sonho nem ideal e, ainda menos, uma esperança no coração das pessoas contaminadas pelo germe da traição, contagiadas pela cólera dos ensandecidos.
As religiões, as doutrinas econômicas, aos planos políticos, os governos e os governantes, todos, de atitudes várias, de conceitos diversos, todos, sem exceção alguma, unem-se apenas pelo sórdido propósito da destruição das almas, em torno da submissão do espírito aos prazeres da luxuria e do consumo indiscriminado. Os líderes somam um maior número que os liberados; cada um, em cada região, em cada cidade, em cada rua, prega o único culto e a exclusiva devoção - vociferar, blasfemar , em tresvariamento típico dos alienados. É chegado o dia em que os loucos de todos os gêneros são a única espécie do gênero humano, em que a humanidade comprometida somente com o narcisismo, voltada para a egolatria, adora a si mesma mais que a qualquer outra divindade, morta essa, aliás, ferida a golpes sucessivos da arrogância, da presunção e da indiferença, lesada pelo infortúnio promovido por essa raça singular, que não enxerga nada além das guerras, da infâmia e da barbárie.
O mundo acabou. A vida já não é nem um projeto ou um simples esboço; tanathos celebram o seu triunfo contemplando os cadáveres dos mortos-vivos, em que séculos de atrocidades conseguiram, enfim, transformar toda civilização humana sobre a Terra.
Hoje, as crianças deixaram a pureza original combalidas e ao mesmo tempo incitadas pela desmoralização desenfreada das propagandas perniciosas na televisão, pela nudez desavergonhada como apelo sexo compulsivo, sucumbidas ao poder destrutivo das drogas e extasiadas pelo torpor aliamente do crime.
Os jornais nada mais informam, antes, alardeiam o sem número de ofertas de produtos nocivos à saúde física e mental; a imprensa, também ela, ou principalmente ela, é agora o veículo de transmissão da demência e estampando diuturnamente as marcas e as seqüelas da submissão do amor e da paz à chaga permanente dos assassinatos, dos estrupros, dos roubos e dos seqüestro. E os profetas da nova era arvoram-se em capatazes do senhor único e venerado, defendem-no como algozes que são, a mando da crueldade, a serviço do império da maledicência, pagos com sangue e os gemidos atrozes das vítimas da nova Babilônia; Sodoma e Gomorra não conheciam de tudo o que seriamos capazes; não imaginavam o palco de horrores em que veria a humanidade enredada, presa fácil da própria cupidez, subjugada ao mais inegável aviltamento comoresultado imediato das suas mesquinhas ambições.
O mundo acabou. Tal qual modernas hienas, deveram-nos uns aos outros, num frenesi de orgia, consumando o hino ao deus mau da ignorância, numa elegia de infindáveis estrofes, todas rimadas pelo timbre da dor, pelo som da voz dilacerada dos povos agonizantes. O mundo acabou. O fausto desda última ceia é a antrofagia dos comensais é disputando entre si a carne humana na podridão dos corpos corroídos pelo descaso.
É chegado o dia em que homens não vislumbram outra coisa que não seja a sua vez primeira e derradeira de participar do caos, como protagonista da cena mais hedionda, do enredo mais espetacular - o da própria morte, em auto-devoração, flagelando-se até a inconsciência final, desacreditando mesmo na existência de uma espiritualidade a poder animar e guiar a sua vida peregrina.
A dúvida seria uma salvação, se ela existisse. Mas, irreversível o mundo de fato acabou; porque ninguém mais duvida , ao contrário a insensatez tem feito com que um número maior de pessoas tenha a mais absoluta certeza sobre a verdade, da mesma maneira como ninguém duvida a respeito da liberdade e da felicidade. Vivemos ( ou morremos? ) num mundo em que se leva a sério tudo o que definitivamente não o é. E assim, não por um outro motivo somos forçados a pensar que verdadeiramente o mundo acabou, pois que não falta jamais, gente para crer então desconexas e fúteis palavras quando ditas ( ou escritas, no caso ) com ar proverbial. Então, seu mundo não acabou, certamente começou a acabar , só porque alguém disse e alguém fez questão de ouvir e acreditar.
(Marcus Moreira Machado)
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