O sistema das capitanias hereditárias, instituídas no Brasil por D. João III, representava a terra dividida em "senhorios dentro do senhorio do Estado"; uma aparência nitidamente feudal. No entanto, apenas aparência, pois quem recebia a terra -o donatário- não exercia plenamente o domínio do solo; sofria limitações, obrigado a doar uma parte do que recebera. Essa parcela, a 'sesmaria'.
Capitanias e sesmarias, juntas, eram as faces marcantes da economia, no início da colonização sistemática brasileira, marcada pela administração baseada na grande propriedade territorial, ou seja, no latifúndio.
Importa observar que no Brasil a sesmaria foi deturpada em conceito e prática. Porque 'sesmaria' (derivada de 'sesmo', ou 'sexmo, quer dizer, 'sexto') designava 'limite', sendo sesmeiros não os que recebiam a terra, porém, os funcionários encarregados de distribuir as terras desocupadas, ou aquelas cujos proprietários não as cultivassem.
Nota-se que na verdadeira concepção, muito antes de 1530, anteriormente às capitanias no Brasil, já havia preocupação com isto que hoje conhecemos por "terra improdutiva".
À época de D. João III, vigente era então a velha "lei das sesmarias" (incorporada, com prejudiciais alterações, pelas 'Ordenações do Reino Português'). O beneficiário da doação recebia a terra não aproveitada pelo dono.
Nessa compreensão, percebe-se que no intuito de impedir-se a concentração de terra improdutiva, a terra ociosa, os sesmeiros -na Europa- já faziam Reforma Agrária. No Brasil, todavia, uma vez alterados conceito e organização originais, ainda sofremos a prejudicial consequência dessa modificação estrutural, qual seja, a concentração de terras.
(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
domingo, 30 de dezembro de 2007
sábado, 29 de dezembro de 2007
SEGUNDA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2007: "O VELHO NEO-LIBERALISMO".
Sob o pretexto de substituir o 'paternalismo' e o 'intervencionismo' do Estado na economia, o neo-liberalismo , mesmo apregoando uma visão pretensamente contemporânea e adequada do Estado mínimo, peca, e muito, diante de afirmações como a de seu maior expoente, o Nobel de Economia, Milton Friedman. Pois, segundo o renomado e laureado economista, a filosofia liberal acredita na liberdade de o indivíduo usar ao máximo suas capacidades e oportunidades, de acordo com suas próprias escolhas.
Neste aspecto, é de se indagar: é sempre possível que o respeito à escolha individual ocorra sem necessidade alguma de garantia pelo Estado? De que maneira alguém, nascido e criado à margem da sociedade, ou à beira da miséria, poderá afirmar ter feito a sua própria escolha?! Como um assalariado, à mercê da terceirização e da automação das indústrias, pode -seguramente- fazer a sua opção?!!
Não é só, entretanto.
Os neo-liberais ainda asseveram que o indivíduo deve ser limitado somente à obrigação de não interferir na liberdade de outros indivíduos poderem fazer também a sua 'própria escolha'.
Aparentemente, jamais se viu tanta democracia! Todavia, todos sabemos, aparências enganam.
De sã consciência, a pergunta que se impõe: de que forma se garante tal 'liberdade', quando mais livre é o que mais fortuna possui?
Se na desigualdade econômica pudesse existir igualdade de condições, a confirmar, por seu turno, a cada um o direito a escolha própria, mais correta seria então a afirmação de que o miserável é miserável por sua livre opção! Contudo, diversamente, dúvida alguma se tem sobre a 'liberdade' dos neo-liberais: privativa, ela é exclusiva deles próprios, de quem pôde escolher o 'melhor' sem interferência do Estado. Um Estado assim ausente porque 'pertencente' a reduzido número de pessoas afortunadas que utilizam-no como proteção dos seus particulares interesses.
Via de consequência, de 'neo', de novo, só conhecemos o velho, o retrógado retocado; aquele que, adornado com sofisticação, só quer a mesma dominação da maioria pela minoria, tornando a conhecidíssima 'pirâmide social' a mais neo-idéia de se repetir os erros do passado.(Marcus Moreira Machado)
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
DOMINGO, 30 DE DEZEMBRO DE 2007: "ARTE E PALAVRA".
A palavra possui a fantástica condição de fazer existir o que nós percebemos inexistente, mas que, através dela, adquire status de 'realidade' peculiar.
Esse fenômeno evoca alguma coisa ainda por vir; atrai para o contato com a existência, tal qual esta é comumente conceituada.
Verifica-se que há uma relação entre 'existência' e 'obra de arte', quando se parte da existência assim considerada. E por uma inicial aproximação, parece simples dizer que a obra de arte é sempre uma 'coisa'. Todavia, o que é chamado 'obra de arte' contém a característica de formar vigoroso vínculo com a 'palavra'. Possivelmente, o que se pode encontrar de mais essencial na obra de arte é o fato de ela ser uma 'coisa que fala'. Ela apresenta um 'falar' diferenciado.
Ora, de modo geral, se diz que o artista 'cria'. Contudo, não bastará que ele pegue o seu material e 'produza' algo. Porque, se o artista pretende 'criar' uma obra de arte, o 'produto' final tem que 'falar'. Afinal, ele deseja dizer alguma coisa através de sua composição. A 'fala' da sua obra é a própria voz do autor.
Há ainda outra maneira de se "traduzir" a palavra 'criar', mais ligada à forma de entender a 'existência'. Assim, quando o artista se coloca diante do seu material, não está simplesmente frente a objetos que ele vai 'utilizar' a fim de codificar uma mensagem. Mais que isso, o artista se coloca ante um 'mistério'. Mistério justaposto à acepção do termo 'criar'.
O 'material' já guarda, em seu cerne, a 'produção' ainda não realizada. O que nele já está 'fala' alguma coisa que seria importante deixar mais explícita. Aguarda, apenas, na condição de 'não-existência', o chegar a existir concretamente. Concretude que virá pelas mãos do 'criador'.
Esse é o 'mistério' da arte: o artista é, por assim dizer, usado pelo seu material. Ele mesmo nada diz, porém, coloca-se a serviço dessa 'fala', para que ela se torne mais patente. É o artista quem ouve algo desse mistério, tornando-o então acessível para outras pessoas, no sentido de explicar a 'fala oculta' da coisa.
(Marcus Moreira Machado)
SÁBADO, 29 DE DEZEMBRO DE 2007: "POESIA DA FÉ". "
Entre 1388 e 1358 antes de Cristo, no Egito do politeísmo, ninguém menos que um faraó -Amenotep IV-; marcado por aquela 'loucura' que confina com o gênio, um visionário, 2000 anos à frente de seu tempo; com extrema clareza ousou revolucionar a religião da sua época. E foi tão radical que começou mudando o seu próprio nome: tornou-se "aquele com quem Aten está satisfeito", ou seja, Akhenaten -o que tentou extinguir todos os deuses egípcios, simbolizando no disco solar (Aten) o próprio Criador, o fulgor e o vigor da vida. Akhenaten construiu "A Cidade do Horizonte", 'Akhetaten', libertando-se da hostilidade e do peso das tradições de Tebas. O faraó morreu amaldiçoado por seus contemporâneos, mas viveu o seu ensinamento, pela eternidade afora.
Dos seus hinos religiosos, um fragmento ainda hoje indica a verdadeira POESIA DA FÉ: "Para criar toda a Tua obra, modelas as estações/ O inverno traz-lhe a frescura/ E o calor (é o verão que produz)/ Fizeste o céu distante para que nele Te ergas/ E para avistar tudo que elaboraste/ Enquanto era o único presente/ Assomando em Tua forma qual Aton Vital/ Ao nascente, brilhando ao longe e retornando/ Produzes a beleza da forma ao Teu sabor apenas/ Metrópoles, cidades e povoações/ À beira de rios e estradas reais/ Todos os olhos Te descortinam/ Pois Tu és Aton (ou 'Senhor') do dia sobre a terra".(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
SEXTA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2007: "PECHINCHA NACIONAL".
Neoliberalmente falando, cá em 'Brazil', as mulheres fazem renda. E todas essas mulheres rendeiras -providas de TVs, liquidificadores, micro-ondas, etc., etc.- mui felizes estão na reedição nacional de "Alice no país das maravilhas".
Eu, de 'Fernando' em 'Fernando', assim meio "gabeira", fico com nenhum deles. Porque, afinal, mesmo sendo louco por ti, "nuestra América", "foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez em sua mão" ...
Terra firme!!
Nesta terra à vista, em liquidação de pechincha liberal, dos camelôs da idiotice globalizada... 'soy macho, pero no hay que ser duro sin perder la ternura; hay que ser la ternura una "persona non grata" , compañero!'.
(Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 27 DE DEZEMBRO DE 2007: "POLÍTICA CATÓLICA".
A partir da semântica, através da identificação pelo étimo; no resgate da acepção original dos vocábulos; infere-se, não raro, o quê ensaios e teses muitas vezes afirmariam senão depois de superada a inicial premissa de suas anteriores teorias. Nesse contexto, por exemplo, não será simples ilação constatar-se a proximidade (pelo conteúdo essencial) entre "democracia" e "catolicismo". Ora, se desnecessário esclarecimento sobre a expressão política do primeiro termo, convém, no entanto, melhor entendimento do teor do segundo.
Afinal, por 'católico' deve-se compreender o 'universal'. Assim, nota-se que há em comum nas duas significações um igual sentido, propugnando ambas por conceitos de efetiva similitude -sempre na promoção da "igualdade" entre os homens, quer pela "vontade consciente da maioria", quer pela amplitude na abrangência característica da 'universalidade'. O que equivale dizer que "catolicismo" e "democracia" co-existem por meio de intersecção.
A adoção de 'instrumentos' a fim de se professar um credo baseado na confirmação de "preceitos democráticos" -como é o caso dos meios de comunicação, ou seja, a mídia em geral- impõe como prática mais imediata a 'lisura', se de fato a pretensão for a de criar hábitos condizentes com exclusivo fim, qual seja, o de propagar doutrina e dogma religiosos. Entretanto, comumente, o que se confirma é o conluio com quem faz da 'comunicação' odioso meio de mal disfarçada "chantagem". Pois, não obstante se dizendo religiosos, querem o "reino de César"; e de 'católico' somente incentiva o sentido do "universal" voltado às sua egocêntricas ambições pessoais.(Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
QUARTA-FEIRA, 26 DE DEZEMBRO DE 2007: "DO BEM À ESQUERDA, DO MAL À DIREITA".
Quando se tem por certa a premissa de que "os fins justificam os meios", nenhuma dúvida haverá de que uma simples preposição jamais passará de mera hipótese. Porque "a verdade dôa a quem doer" nunca é base justificável para 'chagas abertas' em nome da 'cura'. Isso, em ocorrendo na política, é o mesmo que defender a eutanásia como o melhor remédio ao restabelecimento da saúde.
Ainda que sob o critério do joio de um lado e o trigo à parte, qual pessoa pode sinceramente representar o 'bem' a ponto de personificá-lo em si própria? E quem condenável é no 'mal', por aquele que -defensor de 'bem' incerto- credita a essa indeterminada tutela o rito da violência predeterminada?
Trocando em miúdos, em nome do 'bem', nada a ele é contrário? Inclusive o 'mal'? E, visceralmente, quem foi que disse que na esquerda 'jacobina' mora o 'bem' e na direita reside o 'mal'?
Muito perigosamente, quando o 'bem' é apregoado pelos maus a fim de declarar guerra ao 'mal', eis que (nem à esquerda nem à direita) restam apenas homens dependentes do norte da bússola política desviada pelo imã do "carisma". E, atraiçoados, de sobra, a estes homens todos os meios empregados para os fins já perdidos no caminho.
É quando a violência do "mocinho" revela-se exatamente o quê ela é: violência!
É quando, então, Gertrud Stein não mais declama "uma rosa é uma rosa é uma rosa..."; porém, ouvimos lamentos de que espinhos não são promessa de flores no campo. Por isso... por que não a séria advertência, "olhai os lírios do campo"?!
Esquerda, volver! Arriba, muchachos! Acima é que a razão está. Acima de nós que abaixo nos quedamos, sempre que, por omissão na ação ou na reação, do 'omitir-se' fazemos o nosso juízo. Porque, caminhando e cantando, em meio a tanto desencanto, braço forte ergue cada um à luta, já que duro e presto é o golpe, sempre que do 'bem' "há uma grande distância entre intenção e gesto".(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
TERCA-FEIRA, 25 DE DEZEMBRO DE 2007: "DE QUEM NASCE E DE QUEM RENASCE".
"Jamais jurar; nem pelo céu , pois este é trono de Deus; nem pela terra, pois nesta ele repousa os pés. Mas que se comunique com os outros -dizendo 'sim', 'sim'; 'não', 'não'. Pois o que a isto exceder provirá o mal". Assim disse Jesus aos seus discípulos, em clara referência de que enorme era o seu apreço ao Segundo Livro de Enoc -naquele tempo conhecido como "Livro dos Segredos de Enoc". Porque neste, eis que palavras muito semelhantes ao do Cristo se repetem: "Nenhuma jura faço, nem pelo céu nem pela terra (...) Se não existe verdade nos homens, que jurem pelas palavras -'sim', 'sim; ou então, 'não', 'não' ".
A certeza de Jesus de que Deus era o seu pai está presente naquilo que asseverou aos seus mais próximos seguidores, tal qual o fez Enoc. E, decorrência natural dessa convicção, Jesus proclamaria, adiante, "um novo dia", o do reinado de Deus sobre a terra. Por isso, orando, impressionado: "-Venha a nós o vosso reino". E ao rogar, o ungido, o Cristo, em verdade, já sabia presente este reino divino. Porém, não ignorava que a percepção desse reinado ocorreria gradualmente. Certo de que para cá viera missionário, a fim de, ensinando, agir em "prol de seu Pai", o Homem da Galiléia logo observara que nenhum grande amor pela humanidade seria consumado através da ira; razão pela qual em breve tempo passou a enxergar os homens todos como inocente crianças, a quem o melhor e didático exemplo seria o da paz mantida a qualquer preço, ainda que alto fosse o seu valor, mesmo que o pagamento culminasse na sua própria crucificação.
Da manjedoura à cruz, do nascimento à paixão, o que se vê é alguém vendo muito além de nós mesmos. É alguém de nome muito conhecido entre os judeus -'Jesus', 'Josué', no hebraico. É pessoa que, por acréscimo, fora chamado também 'Emanuel'; e não sem razão, pois algo mais que a divina presença, mas aquela que liberta e salva... qual outro sentiria dó, a piedade sentida por Jesus ao ser inquirido por seus companheiros sobre quem sentaria à direita e quem à esquerda dele, quando todos chegassem ao Reino ?!
Afinal, foi nessa compreensão que Jesus olhou e ouviu a tolice de palavras pronunciadas por gente que ainda por muito tempo prometeria em vão, vivendo num mundo onde, "crianças", gastariam séculos e séculos no aprendizado de elevada estatura moral e mental. E como todo mestre que crê, que verdadeiramente professa, JESUS CRISTO SE FAZ MENINO novamente, a cada ano, PARA QUE NÓS OUTROS, AS SUAS CRIANÇAS, NÃO ESQUEÇAMOS O QUE JÁ APRENDEMOS, e para que reiniciemos uma "novo período letivo", na lição diária do reino, que, por tão próximo, temos dificuldade em ver perto de nós.
(Marcus Moreira Machado)
domingo, 23 de dezembro de 2007
SEGUNDA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2007: "TRÍADE".
Salvação e libertação aparentam diferenças entre si, da mesma maneira como pecado e crime são entendidos diversamente. Também distinção é sugerida nas concepções de alma e espírito. Por isso, muito do que se ensina sobre 'um outro reino', além deste mundo que conhecemos, busca divulgar a crença de que o sofrimento da humanidade, ou o padecer dos miseráveis, dos marginalizados, são destinos jamais modificáveis. Nessa compreensão, pelo 'pecado' deveríamos esperar a 'salvação'; e pelo 'crime', a 'liberdade'. Por que?
O castigo e a punição seriam respostas necessárias a todo aquele que não se conforma?! Ou tais idéias servem para limitar indivíduos em suas aspirações!? Afinal, vocação maior do ser humano, a sua libertação é um processo integral, envolvendo-o em 'corpo', 'alma' e 'espírito'! E como precisa alimentar o corpo, igualmente necessitam de alimento a sua alma e o seu espírito.
É por acreditarmos na conjugação do homem, reunidas em tríade, suas três 'faces', unificadas as partes que o compõem, que professamos a sua efetiva participação política, individual e coletiva, na determinação do seus próprios destinos, rompendo com a falsa noção de predestinação à pobreza material, desvinculada da emancipação social. É por convicção na libertação do homem, através da mobilização do povo -em reconhecimento de que a "salvação implica a totalidade do mundo de Deus"-; é pela incontestável certeza de que "fomos criados exatamente para isso -para receber a vida de Deus em nosso espírito, viver essa vida e expressar o próprio Deus em nosso viver"; é ainda na identificação de que "totalidade não significa uma grandeza fechada em si mesma, mas uma relação da realidade que se funda em Deus como o sentido pleno e a radical plenitude de ser; é por tudo isso que propugnamos no homem a sua integridade, só conquistada mediante a perseverança de quem almeja um mundo melhor, neste plano que também é de Deus.(Marcus Moreira Machado)
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
DOMINGO, 23 DE DEZEMBRO DE 2007: "PORVIR".
Em sua conduta, os animais são determinados por aquilo que existe. Todavia, o homem é determinado por aquilo que não existe ainda. Aquilo que não existe ainda é 'sonho', é 'projeto', é 'imagem'. E é expectativa, perspectiva de futuro. Uma perspectiva que pode ter nesse 'ainda' sua força maior.
Quando isso acontece, pode-se dizer que o homem é caracterizado pelo que 'não existe', mas que 'pode' existir ou 'pode' ser. Nesta acepção do termo, existência é aquilo que não existe, mas que pode existir.
Contudo, o quê ainda não existe, neste sentido, 'aparece' de alguma forma. A virtualidade não surge como um puro vazio; possui sua forma de se apresentar. E justamente para apreender essa virtualidade, o homem é um 'sonhador'. Ele imagina algo, espera coisas, deseja e dá 'forma' para isso. É uma forma dada para o que ele reconhece que não existe -ainda.Mas pode existir concretamente, pode adquirir a concretude se o seu projeto é passível de execução. Tanto quanto pode também existir como simples possibilidade.
(Marcus Moreira Machado)
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
SÁBADO, 22 DE DEZEMBRO DE 2007: "O ENSINO PROCESSADO".
Em seu pioneirismo, Piaget se destaca pela identificação do ensino como efetivo processo. 'Processo' nos seus aspectos de 'bilateralidade'; ou até mesmo de 'trilateralidade'.
Com Piaget, rompe-se o condicionamento tão próprio à idéia preconcebida de educação, forjada apenas no étimo do vocábulo, isto é, significando "condução".
Por isso, a conjugação do 'individual' com o 'coletivo'.
O grande mérito de Piaget: ele não exalta oprimidos e não enaltece opressores; antes, dá ênfase à intersecção do singular no plural, possibilitando que as identidades não sejam construídas a partir da "condução", mas possam, sim, ser auto-reconhecidas através da 'orientação'.
(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
SEXTA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2007: "FOME DE QUÊ?"
Hoje, sob o mito da 'unanimidade', o homem perde, ao que parece, a sua distinção de 'humano ser'. E sucumbe a ícones avassaladores na destruição do 'indivíduo'.
Tudo em nome de um não comprovado 'coletivo'.
À sua singularidade preservada, e à da mais verdadeira pluralidade, qual seja, a sua 'família', do Cristo são as palavras: "- A fome não é do pão, mas da verdade".
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
QUINTA-FEIRA, 20 DE DEZEMBRO DE 2007: "PRIMARIEDADE".
Na concepção defendida por Santo Tomás de Aquino, cada homem deve possuir um 'intelecto agente' e um 'intelecto possível', que, juntos, constituirão a sua 'alma individual', 'a forma de seu corpo'. Por efeito, só a individualidade da alma faz conceber o homem como dono dos seus próprios atos. A responsabilidade, pois, será sempre individual.
Daí, definir a 'perfeição' ainda não implica na sua existência. Porque 'definição' é uma idéia, e nada garante que essa idéia possa existir na realidade.
O ponto de partida, então, é o mundo sensível, percebido pelos sentidos. Estes indicam que o mundo é dotado de movimento. Mas... Nada se move por si. E a origem do movimento deve ser causada; e, se não se pretender estender a série das causas ao infinito (o que não explicaria o movimento presente), é preciso admitir uma causa absolutamente imóvel e primeira.
O mesmo raciocínio valerá para a 'causa' em geral. As coisas são ou causa ou efeito de outras, não sendo possível ser causa e efeito ao mesmo tempo. Assim, deverá haver ou uma sucessão infinita de causas (o que seria um absurdo), ou uma causa absolutamente primária e não 'causada'.
(Marcus Moreira Machado)
QUARTA-FEIRA, 19 DE DEZEMBRO DE 2007: "A RENDIÇÃO DO PENSAR"
Somos induzidos a pensar dentro de uma lógica predefinida, não ditada por 'leis de mercado', mas regida por sutis mecanismos de controle social. Portanto, urge observar o que é esse 'pensar', porque há nisso -implícito!- um 'modo de pensar', próprio da esfera desse controle.
Pensar, como condicionados estamos, é pensar segundo regras estabelecidas; e constitui-se exatamente na impossibilidade de pensar além dessas "normas" de padronização. Por isso, o limitado 'registro do real', no qual os homens 'pensam' e 'agem' segundo as imposições dificilmente perceptíveis, pois que a todos pretendem restringir a reles reflexos de cenas, que se projetam como palavras derradeiras.
(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
TERÇA-FEIRA, 18 DE DEZEMBRO DE 2007: "A CONSCIÊNCIA QUE SE CONSTRÓI".
Não há natureza humana. Há uma 'condição humana'; e esta passa a existir desde que o homem vem ao mundo.
Se formulada em caráter geral, à pergunta "o que é o homem?", apenas é possível a resposta: nada. O homem nada é enquanto não fizer de si alguma coisa. Exatamente por isso 'ele é para para si', no sentido de ser aquilo que 'fizer de si'.
Aqui, é retomada a idéia de 'projeto', quer dizer, a existência é um projetar-se, um impulsionar-se para o futuro.
O projeto existencial não implica a 'subjetividade' no sentido tradicional, pois nem mesmo se pode dizer que o ego seja a essência predefinida do ser humano. O homem tem, isso sim, uma 'dimensão subjetiva' que é a própria 'projeção de si'; e pode ter plena e autêntica consciência disso.
Essa a sua distinção, o que o difere das 'coisas', onde ele alcança maior dignidade, na medida em que responde pelo seu próprio ser.
(Marcus Moreira Machado)
sábado, 15 de dezembro de 2007
SEGUNDA-FEIRA, 17 DE DEZEMBRO DE 2007: "COMOÇÕES".
DOMINGO, 16 DE DEZEMBRO DE 2007: "ALMA, TRAMA DO DESTINO".
A alma é a forma do corpo, segundo Aristóteles. É o original do movimento desse corpo e a meta ou o propósito final dele.
Como substância dos seres vivos, essa forma chamada 'psique' influencia e, com certeza, comanda o corpo ; é mais autenticamente uma parte do 'animal' do que é o próprio corpo. Mas ambos, alma e corpo têm os mesmos interesses.
A alma, no entanto, ela mesma é sem corpo. Portanto, não pode ser localizada num órgão, numa célula ou num gene, diversamente -por exemplo- de uma meia, cuja forma pode ser encontrada na lã. Por isso, ante a sua intemporalidade, ninguém é privado de compreender que "a beleza da alma é mais difícil de ser vista que a beleza do corpo". Confirmada em sua fulgência, a todos será oportuno considerá-la uma inteligência ativa , formando e 'tramando' o destino de cada um.
Nesse sentido, a 'limitação' reside nos enredos que embaraçam-na, movido adiante o nosso caráter por força dos grandes mitos. Conhecê-los, deles assimilando um senso, é mesmo necessário, a fim de que tenhamos visão dos nossos esforços épicos, das nossas alianças malfeitas, das nossas tragédias.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
SÁBADO, 15 DE DEZEMBRO DE 2007: "CONSTRUINDO O INFINITO".
Apoiando-se uns nos outros, nossos cérebros, em sua complexidade, são construções jamais acabadas, ou, construções universais.
Este infinito situa-nos dentro da criação. Pois, se o ilimitado cosmo nos supera pelas suas dimensões, se o 'nada' nos causa grande temor pelo seu 'vazio', o quê falar desta nova forma de infinito? Em direção a quê, e a quem nos conduz?
Na Antiguidade e na Idade Média, os homens se consideravam reis e o centro da criação; minimizavam extremamente o infinito sideral e relegavam à ignorância os mundos exteriores.
Escapava-lhes ao conhecimento a escala de grandezas na comparação da terra e dos astros. Via de consequência, percebiam a si mesmos no limite da sua típica ilusão de ótica.
Já com o darwinismo, os homens foram vistos como filhos do macaco, desprovidos de interesse, efeito do acaso, sem outro objetivo na terra, senão a igual finalidade dos demais exemplares do reino animal. Inversamente, uma outra ilusão de ótica, resultante da soma de excessivo materialismo com 'simplicidade' inoportuna.
Contemporaneamente, o homem -fundamento e fonte da reflexão- pode colocar-se no centro de qualquer coisa.
Será, todavia, situando-se no universalmente ordenado, que este homem estará de fato construindo o infinito.
(Marcus Moreira Machado)
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
SEXTA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 2007: "LAÇOS DA CAMARADAGEM".
Saindo da mesquinha solidão para se fazer solidário de um grupo, de um país, o homem conhece a salutar experiência da permuta. Então, se transmiga para uma obra que, por mais modesta possa ser, possui a garantia de durar mais que ele próprio.
O intercâmbio, em seu resultado positivo do direito à participação, ensejará, por efeito, a unidade humana, convencidos os co-partícipes desse processo de que a comunidade humana como um todo indivisível deve ser amada. É luta, sim. Mas, luta contra todos os fanatismos que nos impedem de ver que somos 'humanidade'.
Nessa experiência, não surpreenderá o desgosto pela política tal como ordinariamente é praticada, em razão de seu "jogo" muitas vezes imoral, ou mesmo amoral;
sanguinolento, não raro, permeado de polêmicas criminosas.
O ideal de uma cooperação na complementaridade das diferenças tem ressonância de larga amplitude, onde só não há lugar para um implacável inimigo -o totalitarismo que exclui a liberdade das consciências.
Ainda assim, será preciso descobrir , por trás do assecla, o homem verdadeiro que subsiste, para decifrar uma possível comunicação com ele, de maneira a incluí-lo na permuta. Porque do outro lado, onde está instalado o ódio, é lá que necessário se
faz colocar o amor.
Na camaradagem, certamente, o laço humano é constituído pela comunhão da vida, através de valorosos gestos, humildes, que unem os homens uns aos outros, e faz nascer uma sadia e feliz cumplicidade. Não se trata de tolerância mútua, porém, da fraternidade dos homens que vinculam-se no dom comum a algo mais vasto do que o ser pessoal. É o encontro de todos com a semelhança, na idéia do Homem a honrar a si, em cada indivíduo.
(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
QUINTA-FEIRA, 13 DE DEZEMBRO DE 2007: "CONJUGANDO FUTURISMO".
Pelo sim, pelo não, nem sim nem não.
Certamente, isso não significará algum 'talvez'. É convicção: a de não fazer nada, seja ação ou omissão. E se (uma chance entre mil) dúvida pretender causar desconforto -do tipo "é impossível não se considerar omisso quando a escolha é a de sequer ser percebido"-, em caso assim tão atípico, bastará a certeza de que toda atipicidade é mesmo episódio isolado, muito mais chegado a mal-estar agudo do que padecimento crônico a durar ou perdurar eternidade afora.
Essa tomada de consciência evita qualquer necessidade de posicionamento sobre tudo o que se imagina. Aliás, até impede a imaginação de se manifestar onde não é bem-vinda. E o único efeito desse estado de ausência permanente será o da paz que não reclama existência própria. Ou, que 'pelo sim, pelo não', nem sabe nem jamais saberá desses opostos. Ou ainda, que haveria afirmação e negação em confronto, no objetivo inadequado de provocar conflito existencial.
Porque essa lengalenga de "ser ou não ser", "penso, logo existo", serviria tão-somente para recordar a neurose de, vindo não se sabe de onde, estar agora aqui, desconhecendo aonde cada um irá. Aonde iria, isto sim, se a vida já fosse conjugada no indicativo. Mas, contudo, entretanto, porém e todavia, futurismo ou é coisa de vanguarda ou é ofício de cigana. O passado é para terapia de regressão. O presente não possui tempo a fixá-lo em lugar próprio. Então... nem sim nem não, muito pelo contrário é que... de forma alguma... não!
Pensando bem (excepcionalmente pensando), a fim de se afastar evento casual, que seja suprimida a interjeição. Sem ela, pelo sim ou pelo não, nunca um ponto de exclamação insinuará advérbios ou adjetivos supostamente incontestáveis. Liberta do cativeiro das conjecturas, toda a conjugação terá acesso ao que não poderia sem o modo condicional. Este, bastante valioso na salvaguarda do nosso bem mais precioso -o de em todos os tempos, minimalistas, sempre responder precedido de um 'se'. Assim: "- Eu conjugaria. Se... eu conjugaria".
(Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
QUARTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 2007: " DEUSES QUE CRIAMOS".
A teoria do eterno retorno, apregoada pelos nihilistas a partir de Nietzsche, não é de toda inaceitável: sem nenhum melhor critério, estamos a voltar à sucessão de episódios que -bem o sabemos- só fizeram difundir a negação da supremacia humana na terra.
Essa 'insustentável leveza do ser' já foi comparada à fragilidade da própria história, que "é tão leve quanto a vida do indivíduo, insustentavelmente leve, leve como uma pluma, como uma poeira que vai desaparecer amanhã", no dizer de Milan Kundera.
A cada novo instante, mais submissos estamos todos, em severa subordinação à nossa espetacular insignificância diante daquela que, ainda hoje, nos é deveras incompreensível -a mente humana.
Buscando reduzir o assombro, projetamo-nos como os deuses que criamos, onipotentes, onipresentes e oniscientes. E não percebemos que 'todo querer não é outra coisa que uma procura de compensação, que um reforço visando sufocar o sentimento de inferioridade'.
A sombra dessa projeção indica exatamente o nosso reduzido tamanho, e a nossa incapacidade à reflexão mais séria acerca da existência da humanidade e do seu destino desde o livre arbítrio e suas atuais nefastas consequências.
(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
TERÇA-FEIRA, 11 DE DEZEMBRO DE 2007: " ANDANDO EM CÍRCULOS".
Se não desejamos que a inquietação e a rebelião da juventude destruam as estruturas sociais contemporâneas, devemos então empreender esforços para que as chamadas 'ciências humanas' se libertem dos grilhões do subjetivismo cartesiano, e se livrem do espírito possessivo da tecnocracia moderna proveniente dessa filosofia.
Só a partir daí, no desenvolvimento dessas ciências, num relacionamento com o mundo absolutamente modificado, livre, humano, elas estarão aptas a colaborar na superação da "alienação-em-si-mesmo" dos homens da atual sociedade industrial.
Enquanto não lograrmos conquistar um relacionamento fundamentalmente livre frente ao espírito tecnocrata -despótico em sua natureza- , os seres humanos, em sua imensa maioria, sempre andarão em círculos.
A idéia de que entre os homens há somente uma possibilidade de relacionamento -a dos vitoriosos em êxtase do poder destrutivo e a dos vencidos em desamparo- é concepção fundada nos conceitos de potência e impotência, baseada na hipótese de transposições de poder ou, quando muito, em diminuição de poder. Insistir na exclusividade dessa via é condenar a si e a todos a percorrer incessantemente e sem sentido algum uma circunferência absurdamente linear.
(Marcus Moreira Machado)
domingo, 9 de dezembro de 2007
SEGUNDA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2007: " LARANJA MECÂNICA".
Há quem goste de dormir com o ruído da água caindo de uma goteira durante a noite.
Há os que entoando mantra quase saem do corpo, em viagem astral.
Há também gente que, ao som repetitivo de uma campainha, quase vira bicho buscando a guloseima nas mãos do seu adestrador.
Enfim, há de tudo nesse mundo de Deus.
Principalmente, há quem enxergue no condicionamento a melhor fórmula de "convencimento" do ser humano, já então reduzido a simples número, no que se convencionou chamar 'psicologia de massas'.
Existe a sabedoria, contudo, dos que ensinam o efeito contrário daquele desejado, sempre que o exagero extrapola a pretensão inicial.
Estes são os que recomendam não se usar muito perfume, sob pena de se exalar mau odor, e não suave fragrância.
No Brasil, ignorando a sabedoria dos mais velhos e apostando no "marketing" da 'laranja mecânica'; investindo "pesado" na alienação do eleitor; partidos políticos usam e abusam do "mantra" dos seus "alto-falantes".
E qual o pingo da goteira varando a madrugada, o eleitor é forçado a ouvir um mote, no compasso de ladainha, ritmado de maneira a condicioná-lo, como quem procura atingir o seu subconsciente.
Repete-se e repete-se o nome do candidato, tudo como se água mole em pedra dura tanto batesse que ainda furaria.
Descascar essa laranja e ver o quê ela tem por dentro é obrigação da consciência, dos que não saem no meio do filme para comprar pipoca, sem conhecer o real motivo dessa inesperada e inadiável vontade.
(Marcus Moreira Machado)
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
DOMINGO, 9 DE DEZEMBRO DE 2007: " DA PAZ TOTALITÁRIA".
Na identidade do povo consigo mesmo e da sociedade com o Estado, não há oposição.
A coincidência e a fusão entre indivíduo, sociedade e Estado são ideologicamente produzidas. O objetivo: que tudo seja 'um'.
É esse o agir do totalitarismo.
A atitude encontrará respaldo no direito.
Por efeito, a paz criada pelo direito será o nome escolhido pelo vencedor ao silêncio dos vencidos, para fazê-la passar por definitiva.
(Marcus Moreira Machado)
SÁBADO, 8 DE DEZEMBRO DE 2007: "DA LIBERDADE ENCARNADA".
A revolta sempre é franca e livre. Todavia, a liberdade que o revoltado defende não é a liberdade abstrata e absoluta. Ele sabe que entre o fraco e o forte, a liberdade oprime; e da lei, com efeito, é que virá a liberação.
A liberdade revoltada supõe limites para preservar o valor humano. Assim, a revolta contesta o poder que permite a um 'superior' violar o limite do proibido.
Admitir a liberdade sem restrições, sem limites, é aceitar a morte. O revoltado protesta contra a morte.
Liberdade assim é injustiça: a revolta é permanentemente contra a injustiça. O revoltado empreende esforços para uma ação digna do homem. Ele sabe que para ser fiel ao homem tem que ser obstinado, a fim de poder afirmar a justiça; o que torna os limites absolutamente indispensáveis.
(Marcus Moreira Machado)
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
SEXTA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2007: "DIALETOS DA DIALÉTICA".
Da mais aprimorada concepção sobre as causas primárias no decorrer da natureza e da sociedade, nasceu a 'dialética', máxima resultante do conceito desenvolvido por Hegel, o filósofo alemão que emprestou a sua teoria para Karl Marx no estudo dos doutrinadores socialistas, a resultar no que viria a ser intitulado 'socialismo científico'.
Nessa 'dialética hegeliana' presentes estão a 'contradição' e o 'antagonismo', como essência mesmo da evolução, pois que no efeito do constante movimento decorrente da imediata 'negação' seguinte à 'afirmação', o 'progresso' instalar-se-ia como sucessão natural e aprimorado novo elemento.
Já para Max Nordau, "a oposição entre os governos e os povos, a cólera dos partidos políticos uns contra os outros... tudo isso representa as manifestações da moléstia geral da época". Para Nordau, não só o coletivo é portador desse mal, mas também cada indivíduo se encontra enfermo, contagiado pela "doença" a qual jamais busca analisar em suas reais causas.
Entre Hegel e Max Nordau, a dialética do primeiro parece confirmar -às avessas- a natural decadência apregoada tacitamente pelo segundo. Porque 'afirmação' e 'negação', ou 'situação' e 'oposição', seriam todas pólos do antagonismo, nas contradições naturais do ser humano, presentes na evolução desta singular espécie, que em nome da paz é devota da guerra.
Ora, em concepção desprovida de comprometimento com o estudo da verdade transcendente a qualquer espécie de fronteira, o que de fato se confirma é a 'variedade' confundida com 'pluralidade'. E nesse distúrbio, o prevalecimento do dialeto na dialética, reduzindo-a aos regionalismos mais próprios ao "idioma". Tudo como se realmente fosse indispensável provar o possível, na confirmação de possibilidades individualizadas que se demonstram "mais corretas" porque traduzidas através do poder.
Ainda que, sob o mal-estar que a todos nos aflige, fosse provável estirpar a tragédia que de cada um de nós ceifa a própria vida... democraticamente...
(Marcus Moreira Machado)
QUINTA-FEIRA, 6 DE DEZEMBRO DE 2007: "MITHOS PATERNUS".
Com a derrubada do Muro de Berlin (este, por si só um emblema), outros mitos também caíram. Contudo, como nós os humanos não podemos viver sem ícones -eis que todas as nossas entidades morais são representadas em alegorias, apegados que somos à herança das convenções sociais forjadas na idolatria e, por isso, inibidoras da verdade com substrato filosófico-, ato contínuo, criamos novos signos que pudessem justificar "nova ordem" no quase eterno duelo entre o bem e o mal (estes, conceitos arquitetados igualmente na iconolatria). A rigor, 'ordem' mais uma vez "revitalizada", contemporaneamente sofisticada -tudo na falsidade própria ao sofisma que, pela afetação, oculta o natural enquanto expressão mais imediata da realidade, imprimindo-lhe caráter de subordinação à burla, encobrindo-o e deturpando-o.
Com efeito, na pregação "de esquerda" pós-muro, o quê se viu, o quê se vê é a "neo-parede" do enredo habitualmente paternalista: o "mithos", a alegoria supressora do real, utilizada em nome da "verdade próxima", no advento do "frater patruelis", onde a fraternidade se limita à somatória de 'primos co-irmãos' pelo lado paterno.
De resto, o "frater" suscitando o "pater", na consolidação do "paternus" a decidir a estirpe humana, e a construir o seu "patrimônio moral".
Tudo na mal disfarçada ira dos que da "mater" somente querem matrimônio que lhes assegure linhagem e dote. Porém, jamais professando-a como "magister". Porque nada mais dela querem. E com ela nada desejam aprender.
(Marcus Moreira Machado)
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
QUARTA-FEIRA, 5 DE DEZEMBRO DE 2007: "ESTADO DE JUSTIÇA".
No torvelinho do frenesi social -com o derrame de leis, decretos e atos normativos- a normorragia, 'fenômeno' já trivial no Brasil, não mais causa surpresa.
E é nesse ambiente que, não raro, um espírito de VULGARIDADE MÍTICA e AUTOCIENTÍFICA reflete o menoscabo à dignidade do homem e afronta aos seu mais sublimes ideais.
Porque contrariamente aos fundamentos essenciais à justiça, o próprio direito foge ao primordial entendimento de sua isenção num contexto igualmente real, tanto quanto a realidade que o permeia.
Afinal, é o que se espera -como afirma o brocárdio latino, "ubi societas, ibi jus"-, onde há sociedade, aí estará a justiça !
Ora, o denominado "Estado de Direito" só tem razão de ser enquanto abertura de perspectivas para um 'Estado de Justiça', fazendo da 'verdade jurídica' exata expressão de justiça, em dever correspondente aos mandamentos do justo.
Diversamente, a norma que carrega um contra-valor é a própria negação do direito, constituindo-se no 'anti-direito'.
Por isso, quando a lei assume -no momento de interpretação e aplicação do direito positivo- foros de verdade quase absoluta (em especial, com referência a dogmas e axiomas), essa mesma lei apenas consagra o injusto.
(Marcus Moreira Machado)
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
TERÇA-FEIRA, 4 DE DEZEMBRO DE 2007: "SANTA BABEL DO PAU-BRASIL".
No 'despertar dos mágicos', quando 'eros e civilização' comungam, em pleno enlace com os propósitos arquétipicos do genoma humano; no florescer do 'Novo Homem' -já fortalecido do 'eterno regresso' e emancipado em alvorada irrompida irrompida na gênese da metamorfose absoluta; "mutatis mutandis"; eis que da hierarquia horizontal os ícones coordenam geométrica progressão, projetando da seleção cataclísmica a espécie incondicional -fúlgida em sua singular incandescência.
Do amálgama rude, em absoluto, a projeção infinitamente permeada de conjecturas plasmadas em conclave dos mitos siderais.
E na transcendência, a supressão da contemporaneidade: nem pós nem prós, porque exaltar e ascender à magnificência não é ou será dos sentidos múltipla organização.
Santa Babel, em tua resplandecente altivez Pau-Brasil, eis decifrados vocábulos antes jamais ficcionados em neologismos antológicos. À tua santidade, castos coloquiais e eruditos informais rendem homenagens, pois que sabem todos da eternidade dos teus dias, das glórias cosmológicas nas órbitas galácticas interplanetárias.
Por ti a loucura reverente alcançará a final abdução. E convictos de que a razão pura está altruisticamente ao largo da aurora boreal -impávida e colossal- , erguemos nossos braços fortes, em esplêndido berço adormecido no seio dessa intrínseca natureza, origem do brado de ordem e do progresso vertiginoso, nesse 'espetáculo do crescimento'.
És tu, ó! Santa Babel, da inconsciência revelada na insanidade aflorada na epiderme... O germe, enfim, da inocência perdida!
(Marcus Moreira Machado)
sábado, 1 de dezembro de 2007
SEGUNDA-FEIRA, 3 DE DEZEMBRO DE 2007: "RECRIAÇÃO DO MUNDO".
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