REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
TERÇA-FEIRA, 15 DE DEZEMBRO DE 2009:"VIAGEM AO CENTRO DO UNIVERSO"
Situada na origem da literatura grega. a epopéia homérica da "Odisséia", inspirada no labor e nos perigos, possui momentos de rara exaltação do ser humano e da dignidade que imagina-se o seu maior atributo. E é na recepção de Ulisses pelos Féaces que essa característica fica registrada, quando Alcino, interrompendo o aedo, ao perceber que Ullisses derramava de suas pálpebras comoventes lágrimas, adverte: ... 'todo homem, nobre ou miserável, possui, desde nascença, um nome, que os pais lhe deram ao vir ao inundo. Dize, pois, qual a tua terra, o teu povo, a tua cidade. para que nossas naus dotadas de inteligência lá te reconduzam.'
Decorridos séculos na história da civilização não apenas Ulisses é um mito, mas também a humanidade parece ser exclusivamente legendária, tendo perdido, ao longo do tempo, o seu real sentido. Hoje, Dizimados por milhares de guerra sucessivas, o 'homem' é simultaneamente vítima e algoz da sua própria cupidez.
A 'guerra', um fenômeno político social, como ensina J. B. Magalhães. 'foi outrora fator essencial para impulsionar os progressos da civilização... A partir, porém, do momento em que os progressos da civilização deram à humanidade consciência de que constituía um todo fundamentalmente homogêneo... a guerra deixou de ser fator estimulante da evolução'. Dessa maneira, se a moral na época de Homero esteve reduzida à admiração pela bravura guerreira por um lado, por outro também foi alicerçada na fidelidade à amizade, na reprovação da malidicência, da traição, da covardia e da arrogância.
No entanto, o que dizer da moral contemporânea? O que comentar sobre uma civilização que, a despeito de suas realizações científico-industriais, tem eleito como básico elemento da -sua suposta prosperidade a guerra, e dela, como alvo, o 'homem'?!
Os orientais, notadamente os chineses, acreditam no ser humano vocacionados para a Paz, atribuindo à supremacia dos seres divinos o destino da humanidade, recomendando, então. os ensinamentos dos seus sábios a resignação como norma de conduta. Essa 'filosofia' um tanto peculiar magistralmente foi ilustrada por Pearl Sydentricker Buck, a primeira mulher no continente americano a ser agraciada com um Nobel, o de Literatura. Em seu romance "A Estirpe do Dragão, narração da história da família de Ling Tan, um humilde lavrador chinês que vê sua terra ser assolada pela guerra, e sem entender a atrocidade, serenamente aceita o acontecimento, Pearl Buck diz, através do personagem: "Os deuses fizeram-nos, os seres humanos, de carne macia que pode ser ferida facilmente, porque eles nos destinaram, para o bem e não para o mal. Se eles fossem capazes de ver o que os homens fariam uns contra os outros, ter-nos-iam dado cascos, corno os das tartarugas, nos quais pudéssemos esconder as nossas cabeças e todas as outras partes macias do corpo."
A sabedoria oriental é antes de tudo uma advertência à estupidez que sistematicamente tem desfigurado a raça humana. Insensatos, preferimos privilegiar a ancestralidade beligerante dos primórdios da civilização humana, decaindo sempre, ao invés de procurarmos apressar o destino a todos nós reservado pela Criação - a comunidade supranacional apartidária, unida no congraçamento de diferenças étnicas, econômicas e culturais.
O sideral espaço por nós já encontrado, por mais grandioso, ainda é exíguo, se comparado à uma outra imensidão em quase nada explorada: a nossa alma. A viagem para o interior da grande morada espiritual vem sendo há muito adiada, pois nenhum ser extraterreno imaginável poderá assemelhar-se à estranha criatura residente no âmago de nós mesmos, o que certamente pressentimos e queremos evitar. Mas, inevitável, aproxima-se o momento da decisão, quando, para não sucumbirmos, necessariamente escolheremos a paz como exclusiva condição da nossa sobrevivência.
"Esperança" tem sido compreendida como um exagerado otimismo de pessoas desprovidas de senso da realidade. E, definitivamente não é isso! Na esperança existe um ponto e um prazo marcado, um lugar e um tempo determinado. Sensatez. então, será aguardarmos o triunfo da única soberania - o governo da equanimidade, a primazia do altruismo e o império da benevolência.
Mas, haverá êxito nesse projeto se existir disposição em construí-lo, ânimo em vê-lo além do mero esboço, vontade em percebê-lo além da nossa humana fragilidade, como um desígnio divinal, traçado por mãos mais habilidosas, num intento superior aos planos débeis dos estratagemas que tão somente tem assegurado a cada um de nós a própria perplexidade diante do que se nos afigura inaudito.
A religião, assim, consagrará o 'homem' como templo do 'homem', em perfeita sincronia com o Deus que quer habitar a sua criação. fecundando toda uma raça que, agora renitente, não é dona de nada a não ser da saga inspirada na presunção da maioridade.
Esperança, deveras, é a ambição de todos quantos crêem na possibilidade como promessa a ser cumprida, porque lúcida, porque consciente, porque sincera.
(Marcus Moreira Machado)
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