(Marcus Moreira Machado)
REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
SEGUNDA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 2009: "TERRÁQUEOS"
Esperar de um projeto político a redenção da humanidade é crer na improvável hipótese da existência de alguns poucos homens melhores que os demais. Nesse caso, ainda é mais prudente traduzir "carisma" por uma "faculdade sobrenatural"; e, definitivamente, nesse sentido nenhum líder a tem. Quando muito, aqui e ali despontam dirigentes mais hábeis em psicologia das massas, o que de fato é mais carreado para a manipulação pura e simples do que para a condução honesta e progressista. A advertência de Thomas Merton, em "A Montanha dos Sete Patamares" é, no momento perfeitamente cabível: "continua a ser... ingênuo supor que membros da mesma espécie humana, sem haver mudado nada a não ser suas mentalidades, possam dar uma volta súbita e produzir uma sociedade perfeita, quando nunca puderam no passado produzir nada a não ser a imperfeição ou sequer a menor sombra de justiça".
E, mesmo em se tratando de alguma mudança operada no estado psicológico de homem contemporâneo, essa evolução não significa exatamente progresso. Antes, o que se constata é a sua redução aos estreitos limites do egocentrismo, a gerar a mais significativa frustração do indivíduo perdido em si mesmo. Por isso "o paradoxo da solidão moderna... em que aqueles que só amam a si mesmos odeiam estar consigo mesmos".
Se há alguma esperança concreta, ela não reside na ignorância. Olvidar a trajetória do ser humano na terra, toda marcada por laivos e conspurcações, é reafirmar uma falsa superioridade da raça, em obliterada presunção. Pois, os fatos históricos não admitem a inocência, sendo mesmo o registro da perfídia como que o nosso único atributo. Passados já tantos séculos de civilização, desprezamos, ainda, a "civilidade" como regra primeira da cidadania. Opostamente, tem havido constância no predomínio da barbárie, quando a crueldade é dissimulada em ordenamentos que nada têm de sociais, porque não propiciam a extensão de vantagens particulares à sociedade inteira.
Seria a mais cândida inocência uma pessoa pretender conhecer bem a História "a ponto de supor que após todos esses séculos de sistemas sociais corruptos o imperfeito possa eventualmente se desenvolver algo perfeito e puro"? Até onde o poeta conseguiu enxergar mais que o político? Pois, no dizer de Raul de Leôni, "... a vida passa... efêmera e vazia/Um adiamento eterno que se espera,/Numa eterna esperança que se adia...". Temos notoriamente sido alimentados de uma esperança desacreditada até mesmo pelo mais inspirado bardo. Então, a dor não necessariamente deve ser uma forma de adquirir conhecimento, pois que se isso fosse uma verdade já teríamos povos amadurecidos, em meio a tanto disparate a manter a humanidade em permanente flagelo. Realmente, "deve haver uma sabedoria além daquela que se aprende através do sofrimento...".
Fulton J. Sheen, com muita propriedade, já se ocupara em discernir o mal que a todos nos aflige, quando, no definir o sexo, o egoísmo e a necessidade de segurança como "três fogueiras inseparáveis, postas a arder dentro da condição humana", afirmou não existir qualquer culpa necessariamente associada a estes impulsos diferentes e dominantes, e, concluiu, o mal só ocorre quando há desordem.
Obviamente, percebemos essa desordem ao defrontarmo-nos com o gigantismo das nossas instituições - a projeção de nossa megalomania. Uma inferioridade sublimada está oculta em nossas insólitas obras, todas muito mais voltadas para um cálido estratagema de dominação do que direcionadas ao aprimoramento da moral e do espírito.
O humano isolamento é uma experiência profunda e intimamente vivida. Assim como em Franz Kafka, as mesquinhas preocupações cotidianas da manutenção de empregos e dos lucros também escapam às leis do espaço e do tempo, "tornando-se como que símbolos de uma realidade transcendente". E uma indescritível sensação de pesadelo e mal estar é por todos nós experimentada, em invitável metamorfose.
Tudo o que se nos afigura por demais desesperador está a exigir um novo "corpo", uma nova "forma", algo mais fantástico que nos devolva a cada um de nós, depois do enorme pesadelo experimentado no dia-a-dia.
A desorientação tem sido o mau roteiro da atualidade - imaginamos seguir adiante, quando, atônitos, ainda caminhamos em círculos, sem plausibilidade alguma de evolução caracterizada por progresso real. Adiamos a maioridade da raça humana no planeta Terra, ocupados que estamos em reafirmar a convicção em poderes inexistentes.
Já que se disse que o homem é um projeto que não deu certo. Porém, quem o disse foram outros homens, acreditando-se imbuídos de redefinir o juízo de valores de nossa civilização. Deveriam eles, no entanto, ouvir o conselho de Laurita Mourão: "O julgamento humano é sempre periférico e pensa-se na parte exterior das atitudes sem atentar para o profundo sentido da dor que não aparece".
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