Em número sempre crescente, são muitas as pessoas a desenvolverem atitudes pré-estabelecidas, principalmente em público, transformando-se em personagens de si próprias, quer motivadas pela atividade profissional quer em função de variadas circunstâncias sociais. Repetindo os mesmos modelos, atendendo expectativas alheias, denotam previsibilidade, tanto no desempenho quanto no caráter, progressivamente distanciando-se de quem são realmente.
Há indivíduos rindo constantemente em público, aparentando ser engraçados. Mas, eles serão também assim na intimidade de suas vidas? Preservarão a igual atitude, rir de si mesmos, em sugestiva visão positiva do mundo? E qual tratamento dispensarão àqueles -familiares ou vizinhos- cuja rotina mais os aproximam?
Diante de inúmeras possibilidades de tornar-se visível, qual o limite do real e da figuração? Muitos vivem personagens tão fortes e intensos, a ponto de, aos poucos, construírem uma personalidade sem distinção entre o 'representar' e o 'ser'. Estão convictos da presença dos papéis "vividos" com absurda habitualidade. Transformam-se em seus próprios personagens.
Todos representamos socialmente alguns modelos, nos comportamos de uma forma parcialmente diferente em público, se comparado aos nossos procedimentos na privacidade. Se, contudo, basearmos nossas crenças nos comportamentos sociais, acima dos pessoais, viveremos afastados das idiossincrasias peculiares às individualidades, enaltecendo o superficial, apenas sufocaremos o nosso 'eu' profundo, então já envolto em camadas de ficção. Se introjetamos esses intérpretes, em pouco tempo, seremos os protagonistas dessa representação sem enredo nem autoria.
Hoje, a construção da identidade pessoal é muito mais complexa. É fácil deslumbrar-nos com o sucesso pontual conquistado em momentos profissionais ou sociais, para, em seguida, querermos transferi-lo a situações absolutamente descabidas.
Analisar se estamos frequentemente representando, se nos ocultamos de nós próprios nos vários espaços pelos quais transitamos, implica num importante processo de aprendizagem: evoluir na direção da simplicidade, da coerência, da transparência entre quem somos e o que comunicamos, entre o contexto pessoal e o social. Viver ficções atuando em papéis circunstanciais, isto nos impede de aprender, principalmente, a crescer enquanto indivíduos realizando-se na sua própria dimensão, reconhecendo-se no plausível, sem temer o intangível.
(Caos Markus)
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