O primeiro passo da crítica pragmatista à noção de verdade do idealismo e do realismo se direciona à ideia de que toda proposição implica uma asserção de sua própria verdade. A proposição é uma hipótese relativa a algum estado de coisas e é de sua natureza ser duvidosa, incerta quanto à sua verdade. A assertiva que a proposição faz de sua própria verdade é condicional, pois consiste meramente num meio de iniciar atividades de investigação que testarão o valor de sua reivindicação. Com efeito, a verdade somente pode existir mediante o teste da reivindicação e os atos subsequentes por ele prescrito. A teoria pragmatista da verdade pretende desse modo representar fielmente o método da ciência, consideradas todas as proposições como provisórias ou hipotéticas até serem submetidas a testes experimentais, observado o empenho em organizar essas proposições em termos indicativos dos procedimentos necessários para testá-las,sempre consideradas as proposições asseguradas enquanto simples sumários de investigações e testes anteriores, sujeitas, pois, a revisões requeridas por novas investigações.
Trata-se de reconhecer a perenidade das proposições como referentes, sempre, a condições antecedentes, enquanto no pragmatismo ganham uma perspectiva de futuro. Tanto para o realista como para o idealista, a verdade é uma propriedade já previamente existente nas proposições, tornando-se assim irrelevante conhecer o que se faz com a proposição, a derivação do seu uso, as diferenças por ela acarretadas na experiência futura. Noutro sentido, as proposições têm caráter hipotético e experimental, e por isso são provisórias: apenas serão verdadeiras se tal for o resultado do processo de investigação na busca de aferição da sua verdade. Em outras palavras, as proposições só serão vistas como verdadeiras se as consequências futuras do processo de investigação de sua verdade assim indicarem.
Para o pragmatismo, enfim, todas as proposições contêm intrínseca e necessariamente uma referência ao futuro, de modo que sua verdade ou falsidade depende do sucesso ou do fracasso de sua finalidade. Assim, o maior rompimento do pragmatismo com o realismo e o idealismo consiste em mostrar o quanto o conceito de verdade não pode ser dado em si mesmo e tampouco aprioristicamente, isto é, não pode referir-se a um significado prévio ou antecedente. No entanto, parece haver nesse ponto de tensão concernente à teoria da verdade um motivo suficiente afirmativo do pragmatismo enquanto uma filosofia anti-realista. Ora, se o conceito de verdade do pragmatismo difere daquele do realismo, isso não quer dizer que a teoria pragmatista como um todo seja anti-realista. Deveras, esse argumento sustenta a própria teoria (caracteristicamente anti-realista) como pragmatista. Ou seja, faz de sua diferença com o pragmatismo original justamente o motivo de uma semelhança e, portanto, de uma razão a justificar a reunião desses pensamentos sob o mesmo nome.
(Caos Markus)
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