Lang, melhor que ninguém, discerniu a família neurótica, um apêndice enfermo de uma sociedade ainda mais doente. Ela, que deveria se prestar à estrutura pessoal de cada um de seus membros, ao descumprir esse seu primordial papel, traz a desagregação como motivador principal da angústia.
Muito distante de sua origem, nem a urbanidade nem a cordialidade suprem a ausência do amor, hoje uma característica marcante da hodierna "família". Assim, ser preterido nas íntimas relações familiares é estar "marginal" e, consequentemente, angustiado.
As designações "pai", "filho", "irmão", "irmã", não são simples títulos honoríficos, mas, ao contrário, implicam em sérios deveres recíprocos, perfeitamente definidos, comenta Friedrich Engels, a respeito da família tribal na Índia e na América. E, acrescenta, se se desenvolveu uma sociedade superior à família, isso foi devido somente ao fato de que a ela se incorporaram famílias profundamente alteradas.Pois, a família, como hoje a conhecemos, não se baseia em naturais condições, mas sim econômicas, sendo mesmo o ápice da propriedade privada a triunfar sobre a propriedade comum primitiva. Por assim ser, é também "a forma celular da sociedade civilizada, na qual encontra-se a natureza das contradições e dos antagonismos que atingem seu pleno desenvolvimento nessa sociedade". Assumir, dentro dessa célula, a "marginalidade" poderá ser a busca de uma nova identidade, fora dos restritos limites da família incapaz. Incapacidade, aliás, derivada de distorções próprias aos padrões morais que sabe insustentáveis, mas que menor risco, no entanto, oferecem diante do comprometimento necessário ao ato de amar. (Marcus Moreira Machado)
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