Há limites objetivos em muitos campos: cada um tem qualidades diferentes. Nossa história acumula experiências, crenças, procedimentos que podem, em parte, ser modificados, porém, como roteiros internalizados, são sempre os primeiros a ser mobilizados diante de cada nova situação.Tendemos a repetir processos, escolhas e procedimentos. Somente quando estamos preparados para um salto de qualidade na aprendizagem, com a experiência, com a vida, podemos afastar-nos, um pouco, das escolhas prévias.
É possível mudar, mas não é tão fácil para a maioria. Há muitas alterações apenas aparentes: separar-se de alguém é uma mudança, contudo, pode ser mais aparente do que real, se levar a novas escolhas próximas das anteriores, ou se repetir, na sequência, padrões familiares. Algumas pessoas aprendem e mudam; outras, aparentando um real aprendizado, repetem modelos.
Percebe-se a complexidade da transformação nas iniciativas diante de decisões postergadas, não consumadas. Se o valor da vida ou a relação afetiva são muito fortes, é possível a efetiva mutação. Uns mudam para sempre, deixam o patamar anterior e agem de forma diferente, enquanto outros o fazem temporariamente e, diante de outras circunstâncias, retornam a ocorrências passadas.
Há algumas ilusões no processo de transformação: trocar de ambiente, pressupondo imediata renovação em nossas vidas, é iniciativa a ensejar, sem dúvida, um componente (no outro lugar escolhido) que possa contribuir para atenuar conflitos ou facilitar algumas situações; contudo, o contrário não ocorre, isto é, o ambiente por si só não nos modifica, porque sempre partimos levando conosco os nossos valores, crenças, percepções e formas de escolher e avaliar; com uma determinada relação entre pensamento e ação.
Expressiva parcela de indivíduos quer de fato mudar. A grande maioria, entretanto, não consegue, e dificilmente o fará. Uns porque vivem na defensiva, fechados, e não estão internamente prontos para isso. Outros, porque, embora o desejam, limitam-se à vontade, não atuando, efetivamente, na construção do novo.
Muitos fingem socialmente uma condição de felicidade inabalável, a conquista de uma estabilidade financeira, profissional e emocional. Ocultam a sete chaves os seus problemas, como se simular pudesse ser um lenitivo. E fazendo disso um lema inconsciente, passam a acreditar nessa acomodação, prestigiando-a, valorizando-a, mesmo sem prestígio e valor algum.
Há quem transfira às autoridades as decisões do seu bem-estar social, responsabilizando-as tão-somente, enquanto se eximem de qualquer culpa diante de certas derrotas. Esperam de líderes a solução não só dos problemas coletivos, mas, principalmente dos individuais. E a sociedade privilegia a média, a "normalidade", suscetível a degenerar facilmente em mediocridade. Muitas pessoas possuem toda a informação e o conhecimento necessários às mudanças, e, conscientemente, fazem tentativas parciais, não focando continuamente o processo, passo a passo. Elas iniciam entusiasmadas, desistindo, logo adiante.
Então, permanecem sempre no mesmo nível. Mais tarde, recomeçam e desistem. Analogamente, lêem mais ou menos, entendem menos que mais e não se atrevem a falar. Não aprendem realmente. E paulatinamente, criam resistência à aprendizagem, pela soma de tentativas fracassadas.
Não acreditando intimamente no seu potencial, nem que vá ser bem-sucedido, não são poucos a manter imagem contrária. Apesar de almejarem mudança, são insatisfeitos, irritados com os parceiros, punindo tanto os que estejam em seu convívio quanto, principalmente, intimamente, a si próprios.
Diante de qualquer problema, recolhem-se aos seus casulos, não entram em polêmica, nem procuram o novo; se "defendem". Não almejam desafios nem exploram as contradições e possibilidades. São conservadores, mantendo intactos os seus valores, tradições e formas de agir; têm dificuldade visceral em mudar. Fazem qualquer coisa para ficar onde estão. A "segurança" é o seu grande valor. A tradição, sua bandeira.
Assumir as suas circunstâncias, admitindo-as ou negando-as, eis o critério indispensável à qualidade das mudanças.
(Caos Markus)
Nenhum comentário:
Postar um comentário