Há em nossa cultura um ponto comum entre os envelopes formais dos sintomas e os modelos psicopatológicos que tentam apreendê-los.
Esse ponto comum não é nada além do que um desmentido do Outro ao qual o sintoma se endereça e que, de certa maneira, ele inclui.
O lugar do Outro na fabricação dos sintomas e em seu endereçamento mantém-se como o ponto cego, tanto nos novos diagnósticos psicopatológicos quanto nos modelos heurísticos voltados para sua inteligibilidade e tratamento.
O desmentido procederia tanto da substância de uma civilização quanto das formas de expressão de suas patologias. E é o adicto que vem hoje testemunhar, como mártir, esta solidariedade entre uma forma de civilização e suas patologias, o niilismo de nossa modernidade.
Se cada cultura tem a patologia mental que merece e a psicopatologia que lhe convém, o que é hoje da nossa, que não cessa de insistir sobre as perturbações do comportamento e suas determinações neurogenéticas?
O que é hoje dessas psicopatologias, e dos sofrimentos que elas supostamente diagnosticariam, enquanto reveladoras da substância ética da cultura da qual elas emergem, e que elas contribuem, em retorno, para recodificar?
Há em nossa cultura um ponto comum entre os envelopes formais dos sintomas e os modelos psicopatológicos que tentam dar conta deles.
Este ponto comum não é outro do que o de um desmentido do Outro para qual o sintoma se endereça e que, de certo modo, ele inclui.
O lugar do Outro na fabricação dos sintomas e no seu endereçamento mantém-se como o ponto cego, tanto dos novos diagnósticos psicopatológicos como dos modelos heurísticos que visam sua inteligibilidade e tratamento.
Este desmentido parece proceder tanto da substância de uma civilização como das formas de expressão de suas patologias.
Este impasse sobre o lugar do Outro no sintoma me parece predispor os indivíduos à reificação dos outros e deles mesmos, a esta coisificação pela qual eles expressam preferencialmente seu sofrimento e da qual, em retorno, eles contratransferencialmente se tornam as vítimas no jogo dos diagnósticos e dos cuidados que os tomam a cargo. Para dizer de outra forma, se os sintomas atualmente são diagnosticados preferencialmente dentro do modelo das patologias do agir, isso talvez se deva menos à natureza dos indivíduos que os expressam do que aos vetores da civilização que participam em sua construção.
Porque há uma verdadeira isomorfia entre os envelopes formais dos sintomas pelos quais os sofrimentos psíquicos e sociais se exprimem e os modelos heurísticos que os teorizam: negação do Outro para o qual se endereça a queixa, negação da realidade interior do sujeito, assim como de seus parceiros, negação da representação mental, do sentido e da história, negação dos afetos em proveito das experiências emocionais e dos desempenhos comportamentais.
É menos a violência que aumenta do que nosso limiar de tolerância social que se reduz, e isto tanto mais que, na solidão extrema de nossa cultura hiperindividualista e empresarial, a "almofada" social que a amortizava se torna cada vez menos eficiente. Há um apagamento antropológico dos sofrimentos psíquicos e sociais em proveito de uma concepção da psiquiatria muito associada à segurança pública.
Fazendo isso, essa medicalização dos desvios que não acredita mais no cuidado, nem no caráter redentor da punição e no que a sanção implica como perdão e como promessa, essa medicalização do desvio social fabrica também populações de excluídos nas quais ela localiza os determinantes neurogenéticos das violências.
A exemplaridade das dores individualizadas, projetada segundo o modelo das empresas em liquidação de bens, mascara o retorno do conceito de "classes perigosas", no seio das quais o indivíduo é um exemplar da espécie.
(Caos Markus)
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