Nestes últimos tempos, o homem não se sente satisfeito consigo mesmo, e deseja renovar-se. Mal suporta o fato de os liames do passado o prenderem e sustentarem.
Ele responsabiliza o Estado social pelo mal-estar que o incomoda, como também pela servidão ou todos os horrores que deve sofrer.
Com alguma ingenuidade, vincula a sua ideologia a esse Estado social, sonhando então com uma revolução a ser desencadeada pela modificação do regime e da pessoa.
Há os que aconselham, para depois impor, uma internacional proletária e um homem proletário, cuja dupla característica seria uma solidariedade de massa, estendida até as raízes do sentimento e do espírito, e uma atividade limitada à terra, acompanhada pela integral eliminação de toda oligarquia e de todo valor 'sobrenatural', inclusive Deus e a partir de Deus. É o suficiente este último ponto, para grave reflexão.
O homem reduzido a si próprio sofre tal amputação que, em verdade, deixa de existir; e nessas palavras já existe tão grande absurdo que ela mesmas se destroem por si, logo que proferidas. Pois, como o que não é coisa alguma por si mesmo poderá reduzir-se 'a si próprio'? Todavia, o erro não deixa de produzir os seus frutos, e ameaça os povos com a mais 'aperfeiçoada', isto é, a pior das selvagerias.
Por outro lado, impõe-se reconhecer que o mundo chegou a tal estado de desordem social e de baixeza mental a ponto de não ser mais suportável, ou, na melhor das hipóteses, não poderá suportar-se por longo tempo. Então, por que não se propor um homem, senão novo, ao menos renovado?
Não o cidadão comum, nem o discípulo de uma igreja (compreendido como alguém que faz questão apenas da exterioridade dessa instituição); nem o operário nem o burguês; tampouco o "fariseu". Contudo, o 'homem' que deixa de ser tudo isso, passando a ser o contrário, desaparecendo dentre qualquer dessas categorias.
Por concepção, que seja 'universal'. Porque, assim, não poderia constituir um governo de classe e nem dele participar, sem compromisso algum com forma de regime e de governo; inversamente, dominando ambos, impondo-se-lhes a sua efetiva liberdade.
Esse homem continua a ser livre porque considera as coisas que o poderiam impedir de ser livre como 'coisas acessórias', contingentes, suspeitas e, afinal, frívolas. Esse homem reconhece no valor a existência. E por isso suprime toda tirania, posto que destrói a própria legalidade. É a mística que se transforma, daí, em política, sem que haja razão para deixar de ser mística. Diversamente, a lei ou a experiência mais bem deduzida ou conduzida sempre deixa a inteligência inerte, desembocando, com o uso, numa gelada burocracia, desprovida do valor intrínseco à existência real.
(Caos Markus)
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